{"id":174331,"date":"2021-10-21T09:29:55","date_gmt":"2021-10-21T12:29:55","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=174331"},"modified":"2021-10-21T09:29:58","modified_gmt":"2021-10-21T12:29:58","slug":"as-pegadas-pre-historicas-que-poem-em-xeque-ideias-sobre-origem-da-humanidade","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/10\/21\/174331-as-pegadas-pre-historicas-que-poem-em-xeque-ideias-sobre-origem-da-humanidade.html","title":{"rendered":"As pegadas pr\u00e9-hist\u00f3ricas que p\u00f5em em xeque ideias sobre origem da humanidade"},"content":{"rendered":"\n
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Quem deixou as pegadas em Creta? – PER AHLBERG<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Uma s\u00e9rie de pegadas descobertas por acidente na ilha grega de Creta deu origem a diversas quest\u00f5es fascinantes, algumas bastante pol\u00eamicas, sobre a origem da humanidade.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Conhecidos como pegadas de Trachilos, os vest\u00edgios foram encontrados em 2002 pelo paleont\u00f3logo polon\u00eas Gerard Gierlinski. S\u00f3 que recentemente um surpreendente estudo apontou que a descoberta de duas d\u00e9cadas atr\u00e1s representa a mais antiga evid\u00eancia conhecida de ancestrais humanos desse tipo.<\/p>\n\n\n\n

A pesquisa de uma equipe internacional, publicada em 11 de outubro na Scientific Reports, desafia a teoria mais aceita atualmente de que os homin\u00edneos (termo usado para descrever um grupo que inclui os humanos modernos, outras esp\u00e9cies extintas e todos os nossos ancestrais imediatos) surgiram e evolu\u00edram na \u00c1frica antes de qualquer outro lugar do planeta.<\/p>\n\n\n\n

Saindo da \u00c1frica<\/h2>\n\n\n\n

Paleont\u00f3logos apoiam amplamente a teoria de que a \u00c1frica \u00e9 “o ber\u00e7o da humanidade”.<\/p>\n\n\n\n

Segundo essa explica\u00e7\u00e3o, a humanidade evoluiu apenas naquele continente antes de uma “grande migra\u00e7\u00e3o” para o resto do mundo, que come\u00e7ou h\u00e1 menos de 2 milh\u00f5es de anos.<\/p>\n\n\n\n

Mas a equipe de pesquisadores liderada pelo paleont\u00f3logo sueco Per Ahlberg est\u00e1 colocando em xeque essa linha do tempo: eles afirmam que as pegadas de Trachilos t\u00eam 6 milh\u00f5es de anos.<\/p>\n\n\n\n

Isso tornaria as pegadas milh\u00f5es de anos mais velhas do que aquelas geralmente consideradas as primeiras evid\u00eancias diretas de um p\u00e9 semelhante ao humano usado para caminhar: as pegadas de Laetoli, descobertas na Tanz\u00e2nia em 1976.<\/p>\n\n\n\n

As descobertas no continente africano foram cruciais para montar nossa “\u00e1rvore geneal\u00f3gica”.<\/p>\n\n\n\n

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Cientistas que analisaram as pegadas de Trachilos afirmam que elas s\u00e3o quase 2,5 milh\u00f5es de anos mais velhas que a mais antiga evid\u00eancia de um p\u00e9 parecido com o de um humano, descoberta na Tanz\u00e2nia (foto) – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Al\u00e9m da pegada, foram achados diversos f\u00f3sseis pr\u00e9-humanos na \u00c1frica nos \u00faltimos 100 anos, que incluem o cr\u00e2nio do Sahelanthropus, que se estima ter vivido na \u00c1frica h\u00e1 7 milh\u00f5es de anos e que \u00e9 o homin\u00edneo mais antigo conhecido atualmente.<\/p>\n\n\n\n

A Europa, em compara\u00e7\u00e3o, teve muito poucas descobertas de f\u00f3sseis de ossos semelhantes. Ent\u00e3o, quem deixou as pegadas em Creta?<\/p>\n\n\n\n

Ahlberg fez parte da equipe que em 2017 publicou o primeiro artigo cient\u00edfico sobre as pegadas de Trachilos \u2014 o estudo de outubro de 2021 foi uma an\u00e1lise geol\u00f3gica das pegadas que apontou uma data mais antiga para elas, revisando sua idade estimada de 5,7 milh\u00f5es de anos para 6,05 milh\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

No artigo original, Ahlberg e colegas conclu\u00edram que os vest\u00edgios se assemelhavam a pegadas de homin\u00edneos, principalmente na forma como o h\u00e1lux (ded\u00e3o do p\u00e9) parecia estar pr\u00f3ximo \u00e0s outras digitais, diferentemente dos p\u00e9s de primatas como gorilas e chimpanz\u00e9s.<\/p>\n\n\n\n

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Um amplo n\u00famero de f\u00f3sseis de homin\u00edneos foram achados na \u00c1frica desde 1920 – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“As pegadas dos primatas n\u00e3o humanos parecem muito diferentes; o p\u00e9 tem o formato de uma m\u00e3o humana, com o ded\u00e3o preso na parte lateral da sola e saindo lateralmente”, explicou o pesquisador sueco \u00e0 BBC. “Em compara\u00e7\u00e3o com nossos companheiros primatas, nossos ded\u00f5es do p\u00e9 est\u00e3o alinhados com o longo eixo do p\u00e9, eles n\u00e3o se projetam para um lado.”<\/p>\n\n\n\n

D\u00favidas e ceticismo<\/h2>\n\n\n\n

Como costuma ocorrer com trabalhos cient\u00edficos que desafiam as teorias amplamente aceitas na paleontologia, o estudo sobre as pegadas de Trachilos foi recebido com ceticismo por alguns paleont\u00f3logos.<\/p>\n\n\n\n

Aqueles que contestam os resultados questionam os m\u00e9todos usados \u200b\u200bpara analisar as pegadas. Parte dos especialistas, ali\u00e1s, levanta at\u00e9 a hip\u00f3tese de as pegadas n\u00e3o serem reais.<\/p>\n\n\n\n

O principal especialista em pegadas do mundo, o professor Matthew Bennett, da Bournemouth University, no Reino Unido, fez parte da equipe que estudava as pistas na Gr\u00e9cia, mas mesmo ele \u00e9 cauteloso em sua avalia\u00e7\u00e3o sobre datas.<\/p>\n\n\n\n

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H\u00e1 ainda muito mist\u00e9rio na hist\u00f3ria da evolu\u00e7\u00e3o humana, incluindo quando e onde n\u00f3s ‘separamos’ de outros primatas – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“S\u00e3o pegadas f\u00f3sseis muito intrigantes, provavelmente deixadas por um animal b\u00edpede, alguma forma de macaco”, explicou Bennett \u00e0 BBC. “Se as pegadas s\u00e3o de linhagem humana, a\u00ed \u00e9 outra hist\u00f3ria.”<\/p>\n\n\n\n

Para entender a hesita\u00e7\u00e3o de Bennett, precisamos lembrar mais uma vez a aus\u00eancia de ossos f\u00f3sseis de homin\u00edneos na Europa.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, a linha do tempo da evolu\u00e7\u00e3o humana est\u00e1 longe de ser uma quest\u00e3o simples.<\/p>\n\n\n\n

Os paleont\u00f3logos acreditam que os grandes s\u00edmios (orangotangos, gorilas, chimpanz\u00e9s e humanos) surgiram e se diversificaram durante uma \u00e9poca conhecida como Mioceno, de quase 23 milh\u00f5es a 5 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s.<\/p>\n\n\n\n

Mas h\u00e1 pouco consenso sobre quando os humanos “se separaram” deles.<\/p>\n\n\n\n

Cientistas encontraram evid\u00eancias de grandes macacos n\u00e3o humanos perambulando pela Europa, ent\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel que eles possam respons\u00e1veis pelas pegadas em Creta, explica Robin Crompton, professor e especialista em antropologia biol\u00f3gica da Universidade de Liverpool, no Reino Unido.<\/p>\n\n\n\n

“As pegadas certamente poderiam ser de homin\u00edneos, e isso \u00e9 certamente emocionante. Mas ainda h\u00e1 um grande ponto de interroga\u00e7\u00e3o que somente mais pesquisas e descobertas podem responder”, disse Crompton \u00e0 BBC.<\/p>\n\n\n\n

Por outras palavras, \u00e9 preciso encontrar mais ossos e pegadas na Europa.<\/p>\n\n\n\n

Qual a import\u00e2ncia das pegadas de Trachilos?<\/h2>\n\n\n\n

Ahlberg, pesquisador sueco que atuou no estudo sobre as pegadas em Creta, diz que n\u00e3o h\u00e1 d\u00favida de que nossa esp\u00e9cie, Homo sapiens<\/em>, evoluiu na \u00c1frica h\u00e1 cerca de 300 mil anos. Seu interesse est\u00e1 muito antes disso.<\/p>\n\n\n\n

“Isso (a origem africana do Homo sapiens) est\u00e1 muito bem documentado”, diz ele. “A quest\u00e3o aqui \u00e9 h\u00e1 muito mais tempo, se toda a linhagem humana se originou na \u00c1frica.”<\/p>\n\n\n\n

“Talvez n\u00e3o, como nossa pesquisa sugere que os primeiros ancestrais humanos podem ter vagado no sul da Europa, bem como na \u00c1frica Oriental”, acrescenta Ahlberg.<\/p>\n\n\n\n

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Pegadas de Trachilos desafiam teoria mais aceita sobre a origem da humanidade – PER AHLBERG<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em vez de simplesmente refutar a hip\u00f3tese Saindo da \u00c1frica, Ahlberg diz que est\u00e1 trabalhando com a possibilidade de que nossos ancestrais possam ter se espalhado para a Europa antes do que acreditamos atualmente.<\/p>\n\n\n\n

“Tudo o que estamos dizendo \u00e9 que o alcance desses primeiros homin\u00edneos pode ser maior do que as pessoas est\u00e3o acostumadas a pensar.”<\/p>\n\n\n\n

Em 2017, mesmo ano em que o primeiro artigo sobre as pegadas de Trachilos foi publicado, a paleont\u00f3loga e professora alem\u00e3 Madelaine Bohme, da Universidade de T\u00fcbingen, ganhou as manchetes por conta pr\u00f3pria. Ela anunciou que a descoberta do “\u00faltimo ancestral comum” de humanos e chimpanz\u00e9s n\u00e3o foi encontrado na \u00c1frica, mas na Europa.<\/p>\n\n\n\n

Bohme e uma equipe de pesquisadores afirmaram que a criatura, batizada de Graecopithecus, viveu na regi\u00e3o dos B\u00e1lc\u00e3s h\u00e1 7,18 e 7,25 milh\u00f5es de anos, portanto mais velha que o Sahelanthropus, atualmente considerado o mais antigo ancestral humano a andar ereto.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 o momento, os restos de Graecopithecus consistem em um \u00fanico dente e uma mand\u00edbula, esta \u00faltima encontrada na Gr\u00e9cia, a 250 km de Creta.<\/p>\n\n\n\n

“Nossas investiga\u00e7\u00f5es n\u00e3o desafiam a hist\u00f3ria da evolu\u00e7\u00e3o humana depois de 5 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s, mas o que aconteceu antes disso”, argumenta Bohme.<\/p>\n\n\n\n

Ceticismo e ci\u00eancia<\/h2>\n\n\n\n

A pol\u00eamica provocada pelas pegadas de Trachilos tamb\u00e9m suscitou debate sobre como os cientistas lidam com uma hip\u00f3tese fora da curva.<\/p>\n\n\n\n

Apesar de suas hesita\u00e7\u00f5es sobre as pegadas de Trachilos, Robin Crompton, da Universidade de Liverpool, \u00e9 inflex\u00edvel ao afirmar que a rejei\u00e7\u00e3o como rastros de homin\u00eddeos por outros especialistas n\u00e3o ajuda em nada para o estudo das origens da humanidade.<\/p>\n\n\n\n

“Eles deveriam ser investigados, e n\u00e3o simplesmente descartados. Cientistas precisam manter a mente aberta”, disse ele.<\/p>\n\n\n\n

Madelaine Bohme concorda, observando que houve mudan\u00e7as de dimens\u00e3o s\u00edsmica nas teorias sobre as origens da humanidade.<\/p>\n\n\n\n

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A descoberta da Crian\u00e7a Taung na \u00c1frica do Sul h\u00e1 quase 100 anos ajudou a consolidar a hip\u00f3tese de que a humanidade evoluiu a partir da \u00c1frica – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A hip\u00f3tese da \u00c1frica, por exemplo, n\u00e3o se tornou imediatamente aceita pela maioria dos especialistas quando os restos mortais de uma crian\u00e7a conhecida como a Crian\u00e7a Taung, que viveu h\u00e1 2,8 milh\u00f5es de anos, foram encontrados na \u00c1frica do Sul em 1924. “Houve \u00e9pocas na hist\u00f3ria em que se acreditava que a humanidade poderia ter se originado em diferentes partes do mundo, e n\u00e3o na \u00c1frica.”<\/p>\n\n\n\n

Para ela, “ci\u00eancia sem ceticismo n\u00e3o \u00e9 boa ci\u00eancia, mas as pessoas precisam estar abertas a discuss\u00f5es. E sim, precisamos de mais investiga\u00e7\u00e3o e mais descobertas, mas ver colegas simplesmente descartando nossas descobertas \u00e9 algo totalmente diferente”.<\/p>\n\n\n\n

Per Ahlberg, ligado ao estudo das pegadas de Creta, parece estar particularmente irritado com cr\u00edticas de outros especialistas. “Isso ocorre s\u00f3 porque as pessoas est\u00e3o desesperadamente apegadas \u00e0 ideia da teoria Saindo da \u00c1frica que nossas reivindica\u00e7\u00f5es s\u00e3o vistas dessa forma”, afirma ele. “Nesse sentido, n\u00e3o estou preocupado com o que a comunidade paleontol\u00f3gica dir\u00e1 agora. Apresentamos as evid\u00eancias e apresentamos a defesa de nossa descoberta.”<\/p>\n\n\n\n

Para ele, “lutar contra a incredulidade das pessoas francamente \u00e9 desinteressante”.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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