{"id":174437,"date":"2021-10-26T12:57:25","date_gmt":"2021-10-26T15:57:25","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=174437"},"modified":"2021-10-26T12:57:28","modified_gmt":"2021-10-26T15:57:28","slug":"a-visao-distorcida-de-mourao-como-defensor-da-amazonia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/10\/26\/174437-a-visao-distorcida-de-mourao-como-defensor-da-amazonia.html","title":{"rendered":"A vis\u00e3o distorcida de Mour\u00e3o como defensor da Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a>
Em coletiva \u00e0 imprensa internacional, vice-presidente Hamilton Mour\u00e3o fez diversas afirmativas que n\u00e3o coincidem com os fatos conhecidos<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A poucos dias da 26\u00aa Confer\u00eancia do Clima (COP26), a primeira a ser realizada ap\u00f3s o in\u00edcio da pandemia e que reunir\u00e1 l\u00edderes globais em Glasgow, na Esc\u00f3cia, o governo brasileiro tenta convencer a imprensa internacional de que o pa\u00eds est\u00e1 comprometido com uma agenda ambiental.<\/p>\n\n\n\n

Embora os dados de monitoramento da Floresta Amaz\u00f4nica medidos pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe) mostrem que os dois primeiros anos do governo de Jair Bolsonaro foram marcados por taxas recordes de desmatamento dos \u00faltimos 12 anos, o vice-presidente Hamilton Mour\u00e3o afirma o contr\u00e1rio.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00f3s tivemos uma redu\u00e7\u00e3o pequena do desmatamento ao longo dos \u00faltimos dois anos. O pior foi em 2019. De l\u00e1 para c\u00e1, tivemos uma redu\u00e7\u00e3o que, dentro dos meus objetivos poderia ser melhor”, declarou Mour\u00e3o, que preside o Conselho Nacional da Amaz\u00f4nia Legal, numa coletiva de imprensa com correspondentes internacionais nesta segunda-feira (25\/10).<\/p>\n\n\n\n

Em 2019, a Amaz\u00f4nia sofreu 10,1 mil km2 de devasta\u00e7\u00e3o; em 2020 foram 10,9 mil km2. E a estrat\u00e9gia de combate adotada, com empenho das For\u00e7as Armadas, n\u00e3o tem inibido a ilegalidade. A falta de expertise dos militares, os custos elevados das opera\u00e7\u00f5es de Garantia de Lei e da Ordem (GLO) executadas por esses agentes e o quadro insuficiente de servidores qualificados nos \u00f3rg\u00e3os ambientais s\u00e3o apontados como causas para o insucesso. A conclus\u00e3o \u00e9 de uma auditoria feita pelo Tribunal de Contas da Uni\u00e3o (TCU), como foi debatida recentemente numa sess\u00e3o da Comiss\u00e3o de Meio Ambiente do Senado.<\/p>\n\n\n\n

Ainda assim, Mour\u00e3o alega que a fama internacional de antiambiental e negacionista que a atual gest\u00e3o adquiriu “n\u00e3o condiz com a realidade”. Ele diz creditar a oposi\u00e7\u00e3o pol\u00edtica ao governo Bolsonaro a “uma vis\u00e3o majorit\u00e1ria de esquerda em muitos pa\u00edses”. <\/p>\n\n\n\n

Outros motivos seriam uma contesta\u00e7\u00e3o \u00e0 “pujan\u00e7a” do agroneg\u00f3cio brasileiro e a press\u00e3o dos “bols\u00f5es sinceros por\u00e9m radicais” formados por ambientalistas, movimentos sociais e ind\u00edgenas, que levariam uma mensagem errada para fora das fronteiras.<\/p>\n\n\n\n

Em jurisdi\u00e7\u00e3o internacional, Bolsonaro foi acusado de crimes ambientais graves nos \u00faltimos anos relacionados. Existem pelo menos tr\u00eas den\u00fancias contra o mandante brasileiro no\u00a0Tribunal Penal Internacional em Haia, Holanda, por sua pol\u00edtica de destrui\u00e7\u00e3o da floresta. Numa delas, a Articula\u00e7\u00e3o dos Ind\u00edgenas do Brasil (Apib) alega que o presidente cometeu crimes contra a humanidade e genoc\u00eddio ao incentivar invas\u00e3o de terras ind\u00edgenas por garimpeiros e propagar a covid-19.<\/p>\n\n\n\n

Yanomamis e garimpo<\/h2>\n\n\n\n

Na coletiva online, que apresentou alguns problemas t\u00e9cnicos, levando os jornalistas estrangeiros a reclamarem da qualidade do \u00e1udio durante as respostas de Mour\u00e3o, o desrespeito aos direitos ind\u00edgenas tamb\u00e9m foi um tema recorrente.<\/p>\n\n\n\n

Questionado sobre o aumento das invas\u00f5es desses territ\u00f3rios por garimpeiros, o vice-presidente disse se tratar de uma “quest\u00e3o antiga” e que os n\u00fameros divulgados pelas lideran\u00e7as seriam exagerados.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o monitoramento feito pela Hutukara Associa\u00e7\u00e3o Yanomami, atualmente pelo menos 20 mil garimpeiros estariam em busca de ouro no territ\u00f3rio, que sofre uma nova onda de invas\u00f5es desde 2019. Outros indicativos do aumento da atividade ilegal estariam na abertura de estradas e no desmatamento no local, que os ind\u00edgenas acompanham por imagens de sat\u00e9lites.<\/p>\n\n\n\n

“S\u00e3o n\u00fameros inflados”, tentou minimizar Mour\u00e3o. “Nossa avalia\u00e7\u00e3o \u00e9 menor, de 3 mil a 4 mil garimpeiros”, completou sobre a situa\u00e7\u00e3o na TI Yanomami que, onde, h\u00e1 poucos dias, duas crian\u00e7as morreram depois de serem dragadas por uma balsa de garimpo ilegal.<\/p>\n\n\n\n

Como parte da resolu\u00e7\u00e3o do conflito, o vice-presidente considera a libera\u00e7\u00e3o da explora\u00e7\u00e3o de min\u00e9rios nos territ\u00f3rios ind\u00edgenas, citando como bom exemplo a ser seguido na regi\u00e3o as atividades da Vale, em Caraj\u00e1s, no Par\u00e1. A mesma empresa est\u00e1 envolvida em dois grandes desastres ambientais e mortes ocorridos ap\u00f3s o colapso de barragens de rejeitos, em Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019, ambas em Minas Gerais.<\/p>\n\n\n\n

Um relat\u00f3rio recente que investigou barragens em opera\u00e7\u00e3o na Amaz\u00f4nia exp\u00f4s o perigo que essas estruturas representam para comunidades pr\u00f3ximas. O estudo, feito pela ONG Christian Aid, se concentrou em 26 barragens da Minera\u00e7\u00e3o Rio Norte (MRN), que det\u00e9m  a maior rede dessas constru\u00e7\u00f5es na floresta. A conclus\u00e3o \u00e9 que comunidades ribeirinhas e quilombolas que vivem no entorno seriam drasticamente afetadas em caso de falhas.<\/p>\n\n\n\n

Ap\u00f3s o rompimento das barragens da Samarco e Vale, a MRN revisou o n\u00edvel de risco de suas estruturas e, at\u00e9 o in\u00edcio de 2021, 11 delas foram reclassificadas de baixo para m\u00e9dio e alto riscos \u2013 sendo sete de alto risco, aponta o relat\u00f3rio.<\/p>\n\n\n\n

“A falta de transpar\u00eancia com que o processo de reclassifica\u00e7\u00e3o foi realizado aumentou muito a ansiedade e o medo das comunidades de um poss\u00edvel rompimento das barragens, que poderia ser fatal para suas fam\u00edlias e danificar irreversivelmente o meio ambiente, habitat e meios de subsist\u00eancia”, diz o texto, alertando para os perigos de novos empreendimentos de minera\u00e7\u00e3o na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Apesar de alega\u00e7\u00f5es de Bras\u00edlia, imagens da Amaz\u00f4nia em chamas correram mundo, comprometendo a reputa\u00e7\u00e3o do pa\u00eds<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Vis\u00e3o de futuro<\/h2>\n\n\n\n

Para a imprensa internacional, Mour\u00e3o comemorou a queda das queimadas na Amaz\u00f4nia. Depois da alta registrada em 2020, os focos de calor registrados pelo Inpe tiveram uma queda de 40% neste ano. <\/p>\n\n\n\n

Em sua vis\u00e3o sobre desenvolvimento sustent\u00e1vel da Amaz\u00f4nia, o vice-presidente inclui o asfaltamento da BR 319, que liga Porto Velho a Manaus. No caminho da rodovia, h\u00e1 diversas \u00e1reas protegidas e terras ind\u00edgenas como a dos povos Mura, Mundukuru, Apurin\u00e3, Paumari e Parintintin. <\/p>\n\n\n\n

“A estrada permitiria a melhora da log\u00edstica e permite que as for\u00e7as de seguran\u00e7a atinjam com rapidez \u00e1reas que estejam sendo atingidas pela ilegalidade”, alegou, como justificativa para a obra.<\/p>\n\n\n\n

Entre pesquisadores h\u00e1 um consenso baseado no ac\u00famulo de evid\u00eancias: estradas s\u00e3o propulsoras do desmatamento. Segundo estudos feitos pelo Instituto de Conserva\u00e7\u00e3o e Desenvolvimento Sustent\u00e1vel da Amaz\u00f4nia (Idesam), a BR-319 d\u00e1 aos criminosos acesso a vastas \u00e1reas intocadas. “At\u00e9 agora, o desmatamento da Amaz\u00f4nia brasileira esteve quase inteiramente confinado \u00e0 faixa nas bordas sul e leste da floresta,\u202fconhecida como o ‘arco do desmatamento’. O imenso bloco de floresta na parte ocidental do estado do Amazonas tem sido poupado devido \u00e0 falta de acesso”, comenta o Idesam, e alerta para o prov\u00e1vel boom.<\/p>\n\n\n\n

Em setembro \u00faltimo, uma s\u00e9rie de sobrevoos feitos pela Alian\u00e7a Amaz\u00f4nia em Chamas, parceria entre as organiza\u00e7\u00f5es Amazon Watch, Greenpeace Brasil e Observat\u00f3rio do Clima, mostrou que essa regi\u00e3o j\u00e1 est\u00e1 se tornando a nova fronteira do desmatamento. Segundo participantes da expedi\u00e7\u00e3o, a floresta tem sido consumida nessa regi\u00e3o pelo fogo, substitu\u00edda por pistas de pouso clandestinas e por grandes \u00e1reas para o cultivo de gr\u00e3os, como soja.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"