{"id":174441,"date":"2021-10-26T13:06:57","date_gmt":"2021-10-26T16:06:57","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=174441"},"modified":"2021-10-26T13:07:00","modified_gmt":"2021-10-26T16:07:00","slug":"vale-sagrado-pode-se-tornar-proximo-monumento-nacional-dos-eua","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/10\/26\/174441-vale-sagrado-pode-se-tornar-proximo-monumento-nacional-dos-eua.html","title":{"rendered":"Vale sagrado pode se tornar pr\u00f3ximo monumento nacional dos EUA"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a>
Trecho cientificamente inexplic\u00e1vel de tuias em pleno deserto de Nevada, nos Estados Unidos. Os povos ind\u00edgenas na \u00e1rea de Great Basin, ou a \u201cGrande Bacia\u201d, utilizam esse local como tradicional ponto de encontro e esperam que seja classificado como monumento nacional para sua preserva\u00e7\u00e3o.
FOTO DE\u00a0RUSSEL DANIELS<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em uma \u00e1rida bacia montanhosa denominada Spring Valley, a leste do estado de\u00a0Nevada, nos EUA, uma floresta perene isolada h\u00e1 muito tempo deixa ecologistas perplexos. Os cientistas afirmam que suas \u00e1rvores \u2014 com frondosos ramos verde-azulados alcan\u00e7ando mais de 12 metros \u2014 n\u00e3o deveriam existir ali.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEsse crescimento end\u00eamico de jun\u00edperos da esp\u00e9cie\u00a0Juniperus scopulorum,<\/em>\u00a0ou tuias, deveria ocorrer a uma altitude acima de 2,4 mil metros. Est\u00e3o crescendo a 1,5 mil metros\u201d, conta Kyle Roerink, diretor executivo da\u00a0Great Basin Water Network,\u00a0organiza\u00e7\u00e3o regional sem fins lucrativos de conserva\u00e7\u00e3o de \u00e1gua. \u201cA altitude, o solo e o\u00a0habitat<\/em>\u00a0n\u00e3o s\u00e3o favor\u00e1veis a essas \u00e1rvores. Ningu\u00e9m entende como surgiram, nem como sobreviveram.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Mas, para os habitantes nativos desse vale \u2014 os\u00a0shoshones ocidentais\u00a0\u2014 as tuias n\u00e3o s\u00e3o nenhum mist\u00e9rio. Esse local, chamado Bahsahwahbee, ou\u00a0Vale da \u00c1gua Sagrada, \u00e9 um monumento vivo \u00e0s centenas de ancestrais mortos durante\u00a0tr\u00eas massacres ocorridos no s\u00e9culo 19, dois liderados pelo Ex\u00e9rcito dos Estados Unidos e um por justiceiros.<\/p>\n\n\n\n

Os atuais anci\u00e3os dos povos, incluindo Rupert Steele das\u00a0Na\u00e7\u00f5es Confederadas da Reserva Goshute\u00a0e Delaine Spilsbury dos shoshones ocidentais, recordam-se dos relatos desses eventos.<\/p>\n\n\n\n

\u201cOs homens ca\u00e7avam e as mulheres coletavam alimentos\u201d, como faziam h\u00e1 milhares de anos, afirma Spilsbury sobre o terceiro massacre. \u201cMinha av\u00f3 e sua amiga tinham cerca de 10 anos e estavam longe do acampamento quando aconteceu. Quando voltaram, encontraram todos (os que permaneceram) mortos.\u201d Essas \u00e1rvores, conta ela, brotaram onde seus corpos ca\u00edram.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAs \u00e1rvores foram nutridas pela vida de nossos ancestrais\u201d, acrescenta Rick Spilsbury, seu filho. \u201cE foi a \u00fanica vida dos shoshones ocidentais que restou em Spring Valley.\u201d<\/p>\n\n\n\n

A fam\u00edlia Spilsbury participa de iniciativas de\u00a0prote\u00e7\u00e3o do local\u00a0\u2014 ainda utilizado para ora\u00e7\u00f5es, recorda\u00e7\u00f5es e encontros espirituais \u2014 h\u00e1 quase 30 anos. A cada ano, a luta intensifica. H\u00e1 d\u00e9cadas, as comunidades do deserto em r\u00e1pida expans\u00e3o no sul do estado cobi\u00e7am o len\u00e7ol fre\u00e1tico que mant\u00e9m vivo esse delicado ecossistema.<\/p>\n\n\n\n

Agora a fam\u00edlia Spilsbury e outros defensores buscam um novo aliado: o Servi\u00e7o de Parques Nacionais.<\/p>\n\n\n\n

Disputa pelo len\u00e7ol fre\u00e1tico<\/h3>\n\n\n\n

O\u00a0Servi\u00e7o de Administra\u00e7\u00e3o de Terras\u00a0(\u201cBLM\u201d, na sigla em ingl\u00eas) supervisiona mais de 5,6 mil hectares de Bahsahwahbee. Ao contr\u00e1rio das terras p\u00fablicas dentro dos limites do\u00a0Parque Nacional da Grande Bacia,\u00a0a apenas 13 quil\u00f4metros de dist\u00e2ncia, as terras do BLM n\u00e3o s\u00e3o administradas com o objetivo de serem preservadas, afirma Rick Spilsbury. \u201cNa regi\u00e3o, essa reparti\u00e7\u00e3o \u00e9 conhecida como Servi\u00e7o de Pecu\u00e1ria e Minera\u00e7\u00e3o.\u201d<\/p>\n\n\n\n

A reparti\u00e7\u00e3o pode autorizar o uso comercial do solo por empresas privadas para fins como\u00a0pastagem, explora\u00e7\u00e3o de petr\u00f3leo e g\u00e1s e direitos de uso da \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 d\u00e9cadas, a\u00a0Southern Nevada Water Authority\u00a0(\u201cAutoridade H\u00eddrica do Sul de Nevada\u201d, em tradu\u00e7\u00e3o livre, ou SNWA, na sigla em ingl\u00eas), ag\u00eancia governamental fundada em 1991, promove um plano para extrair bilh\u00f5es de litros de \u00e1gua dos p\u00e2ntanos j\u00e1 em decl\u00ednio em Nevada (incluindo Bahsahwahbee), bombeando-os a\u00a0Las Vegas\u00a0e comunidades circundantes no deserto. Diante dos protestos p\u00fablicos e contesta\u00e7\u00f5es judiciais de grupos comunit\u00e1rios e dos povos da regi\u00e3o, a SNWA\u00a0abandonou seus planos\u00a0de implantar uma adutora em Las Vegas em 2020.<\/p>\n\n\n\n

A vit\u00f3ria foi conquistada com dificuldade, mas a amea\u00e7a n\u00e3o desapareceu. A SNWA\u00a0ainda tem\u00a0autoriza\u00e7\u00e3o para extrair bilh\u00f5es de litros de \u00e1gua anualmente do len\u00e7ol fre\u00e1tico dos vales ao redor de Bahsahwahbee. Al\u00e9m disso, duas outras propostas de adutoras sob avalia\u00e7\u00e3o podem\u00a0reduzir os aqu\u00edferos da regi\u00e3o\u00a0em dezenas de metros, de acordo com\u00a0an\u00e1lises hidrol\u00f3gicas.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA amea\u00e7a da exporta\u00e7\u00e3o (de \u00e1gua) \u00e9 algo preocupante a comunidades ind\u00edgenas e pequenos propriet\u00e1rios rurais\u201d, observa Roerink. \u201cA ideia de drenar uma \u00e1rea para abastecer outra \u2014 implica basicamente que uma \u00e1rea \u00e9 mais importante do que outra.\u201d<\/p>\n\n\n\n

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Bosques de con\u00edferas foram reconhecidos como local cerimonial e memorial \u00e0s v\u00edtimas ind\u00edgenas norte-americanas dos massacres cometidos por soldados e justiceiros no s\u00e9culo 19.
FOTO DE\u00a0RUSSEL DANIELS<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Monte Sanford, consultor ambiental dos goshutes e dos shoshones ocidentais, revela que a tentativa de prote\u00e7\u00e3o das tuias tem sido uma batalha fora do comum. Em vez de lutar contra cada amea\u00e7a de urbaniza\u00e7\u00e3o que surge \u2014 como minera\u00e7\u00e3o, parques e\u00f3licos e capta\u00e7\u00e3o de \u00e1guas do len\u00e7ol fre\u00e1tico \u2014 os povos buscam uma medida mais permanente. \u201cPrecisamos parar de apenas reagir\u201d, comenta Sandford. \u201cPrecisamos proteger as tuias para sempre.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Ap\u00f3s um longo processo de requerimento, Bahsahwahbee recebeu a classifica\u00e7\u00e3o de\u00a0Propriedade Cultural Tradicional\u00a0em 2017, lan\u00e7ando o local no Registro Nacional de Locais Hist\u00f3ricos dos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

\u201cFuncion\u00e1rios e servidores estaduais e federais geralmente precisam de uma narrativa, um mapa, ou algo al\u00e9m da alega\u00e7\u00e3o de import\u00e2ncia para um povo\u201d, conta Sanford sobre a classifica\u00e7\u00e3o, que acrescentaria mais etapas ao processo regulat\u00f3rio de qualquer projeto proposto.<\/p>\n\n\n\n

Em \u00faltima an\u00e1lise, a classifica\u00e7\u00e3o n\u00e3o pode garantir a prote\u00e7\u00e3o ou impedir o BLM de conceder servid\u00f5es ou direitos de passagem a projetos de urbaniza\u00e7\u00e3o, incluindo adutoras. \u00c9 por isso que os administradores do local buscam uma classifica\u00e7\u00e3o mais ampla \u2014 como\u00a0monumento nacional.<\/p>\n\n\n\n

Promovendo a prote\u00e7\u00e3o das tuias<\/h3>\n\n\n\n

No in\u00edcio deste ano, a assembleia legislativa estadual\u00a0aprovou uma resolu\u00e7\u00e3o\u00a0recomendando ao Congresso que considere manter o local sob a al\u00e7ada do\u00a0Sistema de Parques Nacionais, definindo-o como uma \u00e1rea de prote\u00e7\u00e3o pr\u00f3pria ou incluindo-o no Parque Nacional da Grande Bacia, nas imedia\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

No entanto o plano tem algumas limita\u00e7\u00f5es, adverte Sanford. Outros locais de import\u00e2ncia cultural, como o\u00a0Monumento Nacional Bears Ears,\u00a0no estado de\u00a0Utah, passaram por\u00a0roubos de t\u00famulos, saques\u00a0e\u00a0vandalismo.<\/p>\n\n\n\n

Devido ao risco em chamar tanta aten\u00e7\u00e3o a um local sagrado, Sanford ressalta que os povos locais desejam disposi\u00e7\u00f5es adicionais, como mais seguran\u00e7a e uma previs\u00e3o de gest\u00e3o conjunta entre o Servi\u00e7o de Parques Nacionais e os governos dos povos. A expectativa deles \u00e9 informar os visitantes de que Bahsahwahbee n\u00e3o \u00e9 um local de recrea\u00e7\u00e3o \u2014 \u00e9 \u201ccomo um cemit\u00e9rio importante\u201d, observa Delaine Spilsbury.<\/p>\n\n\n\n

Apesar dos avan\u00e7os recentes, h\u00e1 um longo caminho a percorrer. O pr\u00f3ximo passo \u00e9\u00a0defender a classifica\u00e7\u00e3o\u00a0para o Departamento do Interior e pedir apoio para prote\u00e7\u00e3o federal ao governo Biden. Sanford acrescenta que \u00e9 comum o governo federal dos Estados Unidos emitir licen\u00e7as a incorporadoras para a destrui\u00e7\u00e3o ou transfer\u00eancia de recursos culturais dos povos nativo-americanos. Sua ajuda ativa na preserva\u00e7\u00e3o de Bahsahwahbee seria uma mudan\u00e7a dr\u00e1stica em rela\u00e7\u00e3o ao padr\u00e3o adotado.<\/p>\n\n\n\n

\u201cQueremos preservar as \u00e1rvores\u201d, afirma Rick Spilsbury. \u201cGostar\u00edamos de compartilhar nosso legado com o resto do mundo para que possam aprender com ele. Desejamos poder visitar o local e refletir \u2014 apenas estar presentes ali e recordar. Acreditamos que o sistema de parques possa nos ajudar com essa iniciativa.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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