{"id":174459,"date":"2021-10-28T11:26:59","date_gmt":"2021-10-28T14:26:59","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=174459"},"modified":"2021-10-28T11:27:03","modified_gmt":"2021-10-28T14:27:03","slug":"cop26-na-contramao-do-mundo-brasil-teve-aumento-de-emissoes-de-co2-em-ano-de-pandemia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/10\/28\/174459-cop26-na-contramao-do-mundo-brasil-teve-aumento-de-emissoes-de-co2-em-ano-de-pandemia.html","title":{"rendered":"COP26: Na contram\u00e3o do mundo, Brasil teve aumento de emiss\u00f5es de CO2 em ano de pandemia"},"content":{"rendered":"\n
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Em 2020, emiss\u00f5es de gases do efeito estufa aumentaram quase 10% no Brasil- o pior resultado desde 2006. Desmatamento foi o maior respons\u00e1vel – REUTERS\/ADRIANO MACHADO<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Na contram\u00e3o do mundo, o Brasil teve um aumento de 9,5% nas emiss\u00f5es de gases poluentes em 2020, em plena pandemia de covid-19, segundo dados do Sistema de Estimativas de Emiss\u00f5es de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observat\u00f3rio do Clima. J\u00e1 a m\u00e9dia global de emiss\u00f5es sofreu uma redu\u00e7\u00e3o de 7%, por causa das paralisa\u00e7\u00f5es de voos, ind\u00fastrias e servi\u00e7os ao longo do ano passado.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A divulga\u00e7\u00e3o dos dados ocorre \u00e0s v\u00e9speras da COP26, a confer\u00eancia das Na\u00e7\u00f5es Unidas sobre mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, que acontece entre os dias 31 de outubro e 12 de novembro, em Glasgow, na Esc\u00f3cia. No evento, que re\u00fane l\u00edderes como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o premi\u00ea do Reino Unido, Boris Johnson, o Brasil vai tentar demonstrar que existe uma imagem “equivocada” no exterior de que o pa\u00eds n\u00e3o \u00e9 comprometido com a prote\u00e7\u00e3o ambiental.<\/p>\n\n\n\n

Mas o resultado do c\u00e1lculo de emiss\u00f5es para 2020 pode dificultar essa tarefa, j\u00e1 que indica que o pa\u00eds est\u00e1 na contram\u00e3o das suas metas de redu\u00e7\u00e3o de gases do efeito estufa. Segundo as novas estimativas do SEEG, o Brasil liberou 2,16 bilh\u00f5es de toneladas de g\u00e1s carb\u00f4nico em 2020, contra 1,97 bilh\u00e3o em 2019.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 o maior n\u00edvel de emiss\u00f5es em 14 anos \u2014 desde 2006. E o maior respons\u00e1vel foi o aumento no desmatamento em 2020, que foi grande o suficiente a ponto de compensar as redu\u00e7\u00f5es nas emiss\u00f5es causadas pela paralisa\u00e7\u00e3o da economia durante a pandemia.<\/p>\n\n\n\n

Na COP26, a delega\u00e7\u00e3o brasileira deve oficializar a meta de reduzir as emiss\u00f5es em 37% at\u00e9 2025, em 43% at\u00e9 2030 e alcan\u00e7ar a neutralidade de carbono em 2050 \u2014 quando todas as emiss\u00f5es s\u00e3o reduzidas ao m\u00e1ximo e as restantes s\u00e3o compensadas por captura de carbono da atmosfera.<\/p>\n\n\n\n

Durante o encontro, l\u00edderes de mais de 100 pa\u00edses v\u00e3o negociar novos compromissos para garantir a meta do Acordo de Paris de manter o aquecimento global em 1,5\u00b0C. Mais ainda n\u00e3o est\u00e1 claro como ser\u00e3o alcan\u00e7ados os objetivos clim\u00e1ticos do Brasil diante de dois anos consecutivos de aumentos no desmatamento, nos focos de inc\u00eandio e nas emiss\u00f5es de CO2.<\/p>\n\n\n\n

Desmatamento \u00e9 maior respons\u00e1vel por emiss\u00f5es<\/h2>\n\n\n\n
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SEEG\/OBSERVAT\u00d3RIO DO CLIMA<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em um ano em que milh\u00f5es de pessoas tiveram que trabalhar de casa, servi\u00e7os foram interrompidos e voos internacionais foram suspensos, era de se esperar uma redu\u00e7\u00e3o nas emiss\u00f5es no mundo. E foi o que aconteceu na maior parte dos pa\u00edses, mas n\u00e3o no Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Segundo os dados do SEEG, a polui\u00e7\u00e3o provocada pelo setor de energia diminuiu 4,5% no pa\u00eds durante a pandemia, mas os aumentos no desmatamento das florestas e nas emiss\u00f5es provocadas pela agropecu\u00e1ria foram grandes a ponto de anular essa redu\u00e7\u00e3o na polui\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica.<\/p>\n\n\n\n

“O setor de energia foi aquele que apresentou a maior queda percentual de emiss\u00f5es em 2020. Esse resultado \u00e9 um claro reflexo da diminui\u00e7\u00e3o de atividades emissoras devido \u00e0 pandemia de covid-19, quando foi necess\u00e1rio que as pessoas evitassem se deslocar”, explicou Felipe Barcellos, pesquisador do Instituto de Energia e Meio Ambiente, um dos autores do levantamento.<\/p>\n\n\n\n

“Destaca-se a diminui\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es nos transportes de passageiros. O consumo de combust\u00edvel na avia\u00e7\u00e3o caiu pela metade. A demanda por gasolina e etanol tamb\u00e9m diminuiu de maneira relevante.”<\/p>\n\n\n\n

Mas a categoria “mudan\u00e7as no uso da terra”, que engloba desmatamentos na Amaz\u00f4nia e no Cerrado, viu um aumento de 24% nas emiss\u00f5es em rela\u00e7\u00e3o a 2019, com a libera\u00e7\u00e3o de 998 milh\u00f5es de toneladas de g\u00e1s carb\u00f4nico na atmosfera. Isso \u00e9 reflexo, segundo o Observat\u00f3rio do Clima, do forte crescimento do desmatamento desde o in\u00edcio do governo Bolsonaro.<\/p>\n\n\n\n

Em 2020, o desmatamento na Amaz\u00f4nia foi o maior em 11 anos, alcan\u00e7ando 10.851 km\u00b2, segundo os dados oficiais do sistema Prodes\/Inpe. A perda de florestas e mudan\u00e7as no uso do solo s\u00e3o respons\u00e1veis pela maior fatia das emiss\u00f5es brutas brasileiras \u2014 46%, segundo os dados do SEEG.<\/p>\n\n\n\n

E a Amaz\u00f4nia \u00e9, segundo o relat\u00f3rio do Observat\u00f3rio do Clima, o bioma que historicamente mais tem emitido gases do efeito estufa, “decorrentes principalmente do avan\u00e7o da pecu\u00e1ria sobre as florestas”. Segundo o levantamento, em 2020, as emiss\u00f5es brutas na maior floresta tropical do mundo foram at\u00e9 sete vezes maiores do que no Cerrado, o segundo bioma que mais emitiu g\u00e1s carb\u00f4nico por desmatamento e pecu\u00e1ria.<\/p>\n\n\n\n

“O principal fator a explicar a eleva\u00e7\u00e3o (das emiss\u00f5es brasileiras) foi o desmatamento, em especial na Amaz\u00f4nia e no Cerrado. Os gases de efeito estufa lan\u00e7ados na atmosfera pelas mudan\u00e7as do uso da terra aumentaram 23,6%, o que mais do que compensou a queda expressiva verificada no setor de energia, que na esteira da pandemia e da estagna\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica viu suas emiss\u00f5es regressarem ao patamar de 2011”, diz trecho do relat\u00f3rio sobre emiss\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

O levantamento do Observat\u00f3rio do Clima existe desde 2012 e \u00e9 a principal refer\u00eancia nacional sobre emiss\u00f5es de gases do efeito estufa. Ele segue as diretrizes do Painel Intergovernamental sobre Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas (IPCC), \u00f3rg\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas, e toma como base dados oficiais do Minist\u00e9rio de Ci\u00eancia, Tecnologia, Inova\u00e7\u00f5es e Comunica\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Agropecu\u00e1ria tamb\u00e9m viu emiss\u00f5es aumentaram<\/h2>\n\n\n\n
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Agropecu\u00e1ria e manejo do solo, que inclui desmatamento, s\u00e3o respons\u00e1veis por mais de 70% das emiss\u00f5es no Brasil – GREENPEACE \/ DANIEL BELTRA<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

As emiss\u00f5es da agropecu\u00e1ria sofreram alta de 2,5% \u2014 o maior aumento desde 2010. Segundo o Observat\u00f3rio do Clima, isso ocorreu em parte porque a crise econ\u00f4mica reduziu em 8% o consumo de carne no Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Com isso, houve redu\u00e7\u00e3o no abate de animais e as cabe\u00e7as de gado aumentaram em 2,6 milh\u00f5es, o que, por usa vez, aumentou as emiss\u00f5es de metano pela chamada fermenta\u00e7\u00e3o ent\u00e9rica \u2014 conhecido popularmente como “arroto do boi”. Os autores do estudo reconhecem que houve grande avan\u00e7o no Brasil na implementa\u00e7\u00e3o de t\u00e9cnicas de agricultura de baixo carbono, mas defendem que \u00e9 preciso fazer ainda mais.<\/p>\n\n\n\n

“Esse crescimento (do uso de t\u00e9cnicas sustent\u00e1veis) ainda est\u00e1 aqu\u00e9m dos patamares necess\u00e1rios para que possamos ver a trajet\u00f3ria de emiss\u00f5es do setor ser modificada e demonstrar o real potencial que o Brasil possui em ser uma agropecu\u00e1ria de baixo carbono”, disse Renata Potenza, coordenadora de projetos do Imaflora, e uma das autoras da pesquisa.<\/p>\n\n\n\n

A agropecu\u00e1ria \u00e9 respons\u00e1vel por 27% das emiss\u00f5es brutas brasileira. Somadas, a polui\u00e7\u00e3o provocada pelo desmatamento e a causada pela agropecu\u00e1ria representam 73% das emiss\u00f5es do Brasil.<\/p>\n\n\n\n

“Para o Brasil, o melhor custo efici\u00eancia para reduzir emiss\u00f5es \u00e9 diminuir o desmatamento. \u00c9 a pol\u00edtica mais barata, mais intensa em redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es e n\u00e3o traz preju\u00edzos econ\u00f4micos. De 2004 a 2012, o Brasil reduziu em mais de 80% o desmatamento sem que isso afetasse o seu crescimento econ\u00f4mico”, disse \u00e0 BBC News Brasil Marcio Astrini, secret\u00e1rio-executivo do Observat\u00f3rio do Clima.<\/p>\n\n\n\n

Quarto maior emissor hist\u00f3rico?<\/h2>\n\n\n\n

Durante a COP26, pa\u00edses pobres e em desenvolvimento devem cobrar mais compensa\u00e7\u00f5es de na\u00e7\u00f5es ricas e destacar que elas falharam em cumprir o compromisso de contribuir com US$ 100 bilh\u00f5es por ano em a\u00e7\u00f5es para mitiga\u00e7\u00e3o das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

Por sua vez, EUA, Reino Unido e Uni\u00e3o Europeia tentam obter de grandes pa\u00edses emergentes, como Brasil, R\u00fassia, China e \u00cdndia, compromissos mais ambiciosos de controle do desmatamento e redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

A expectativa \u00e9 que o Brasil seja um dos pa\u00edses mais pressionados, por causa do crescimento do desmatamento e das queimadas da Amaz\u00f4nia nos tr\u00eas primeiros anos de governo Bolsonaro.<\/p>\n\n\n\n

Nessa queda de bra\u00e7o entre pa\u00edses ricos e em desenvolvimento, a responsabilidade de cada pa\u00eds pelo aquecimento do planeta ser\u00e1 medida, entre outras maneiras, pelo seu volume atual e hist\u00f3rico de emiss\u00f5es. Integrantes do governo brasileiro reiteradamente usam o argumento de que o Brasil n\u00e3o \u00e9 um grande poluidor, para defender que cobran\u00e7as de metas ambiciosas para controle clim\u00e1tico devem ser dirigidas a pa\u00edses ricos.<\/p>\n\n\n\n

Diferentes pesquisas que n\u00e3o levam em conta desmatamento na contabilidade de emiss\u00f5es colocam o Brasil na s\u00e9tima ou sexta posi\u00e7\u00e3o no ranking de emiss\u00f5es, como respons\u00e1vel por cerca de 3% do total de CO2 na atmosfera.<\/p>\n\n\n\n

“O NDC (documento em que pa\u00edses apresentam metas clim\u00e1ticas) do Brasil \u00e9 mais ambicioso do que o de v\u00e1rios pa\u00edses do G20. O Brasil responde por menos de 3% das emiss\u00f5es globais e nosso compromisso inclui uma meta n\u00e3o s\u00f3 para 2030, mas tamb\u00e9m uma meta de curto prazo, para 2015, o que permite melhor monitorar as a\u00e7\u00f5es de mitiga\u00e7\u00e3o”, diz texto que a delega\u00e7\u00e3o brasileira vai apresentar na COP26, a que BBC News Brasil teve acesso.<\/p>\n\n\n\n

Mas\u00a0um estudo, que leva em considera\u00e7\u00e3o pela primeira vez o desmatamento\u00a0ao contabilizar a libera\u00e7\u00e3o hist\u00f3rica de CO2, p\u00f5e o Brasil em quarto lugar no ranking de emiss\u00f5es desde 1850. A China, gigante emergente que s\u00f3 pretende come\u00e7ar a reduzir suas emiss\u00f5es a partir de 2030, \u00e9 apontada como o segundo maior emissor de gases do efeito estufa no acumulado hist\u00f3rico, atr\u00e1s dos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

O levantamento foi feito pelo think tank<\/em> internacional Carbon Brief e leva em conta dados de emiss\u00f5es de queima de combust\u00edvel f\u00f3ssil, mudan\u00e7as no uso do solo, produ\u00e7\u00e3o de cimento e desmatamento de 1850 a 2021. Pesquisas anteriores consideravam no c\u00e1lculo as emiss\u00f5es decorrentes de queima de combust\u00edvel, sem incluir a polui\u00e7\u00e3o provocada pela destrui\u00e7\u00e3o de florestas.<\/p>\n\n\n\n

“O Brasil tem um papel importante na discuss\u00e3o clim\u00e1tica n\u00e3o apenas por causa da Amaz\u00f4nia, mas porque \u00e9 um dos maiores emissores do mundo. Atualmente, ele est\u00e1 em sexto lugar em emiss\u00f5es e \u00e9 o quarto maior em emiss\u00f5es hist\u00f3ricas, apesar de ainda ser um pa\u00eds em desenvolvimento com desafios para redu\u00e7\u00e3o de pobreza”, afirmou \u00e0 BBC News Brasil Carlos Rittl, especialista em pol\u00edticas p\u00fablicas da Rain Forest Foundation, ONG ambiental da Noruega.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"