{"id":174735,"date":"2021-11-09T19:29:46","date_gmt":"2021-11-09T22:29:46","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=174735"},"modified":"2021-11-09T19:29:48","modified_gmt":"2021-11-09T22:29:48","slug":"cop26-compromisso-global-para-encerrar-o-desmatamento-salvara-as-florestas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/11\/09\/174735-cop26-compromisso-global-para-encerrar-o-desmatamento-salvara-as-florestas.html","title":{"rendered":"COP26: compromisso global para encerrar o desmatamento salvar\u00e1 as florestas?"},"content":{"rendered":"\n
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O acordo global alcan\u00e7ado para acabar com o desmatamento na confer\u00eancia clim\u00e1tica da ONU em Glasgow foi bem-recebido, embora cr\u00edticos se queixem de que seja escasso em detalhes.
FOTO DE\u00a0JOSH COGAN, NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Na semana passada, o an\u00fancio de um\u00a0compromisso multinacional para acabar com o desmatamento at\u00e9 2030,\u00a0parece ser, \u00e0 primeira vista, motivo de comemora\u00e7\u00e3o. Mas h\u00e1 grande preocupa\u00e7\u00e3o de que seja mais uma promessa vazia e que, sem a\u00e7\u00f5es concretas, o desmatamento persista e at\u00e9 intensifique.<\/p>\n\n\n\n

O primeiro-ministro brit\u00e2nico, Boris Johnson, comemorou o pacto com um entusiasmo esperado. \u201cEsses formid\u00e1veis ecossistemas abundantes \u2014 essas catedrais da natureza \u2014 s\u00e3o os pulm\u00f5es de nosso planeta\u201d,\u00a0proclamou ele\u00a0em Glasgow, que sedia a COP26, c\u00fapula clim\u00e1tica da ONU deste ano, realizada at\u00e9 12 de novembro. \u201cVamos cooperar n\u00e3o apenas pela prote\u00e7\u00e3o das florestas, mas para garantir sua recupera\u00e7\u00e3o.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Segundo a organiza\u00e7\u00e3o n\u00e3o governamental World Resources Institute (WRI), se o desmatamento tropical fosse um pa\u00eds, seria o terceiro maior emissor de di\u00f3xido de carbono da Terra. Al\u00e9m disso, no c\u00f4mputo geral, as florestas do mundo s\u00e3o sumidouros de carbono, removendo\u00a0aproximadamente 7,6 bilh\u00f5es de toneladas\u00a0de carbono \u2014 cerca de 20% das emiss\u00f5es globais \u2014 da atmosfera a cada ano. Um acordo para eliminar essas emiss\u00f5es e proteger esse sumidouro de carbono seria uma conquista expressiva para a confer\u00eancia organizada pelo governo de Johnson.<\/p>\n\n\n\n

Seria ainda mais importante pois, de acordo com dados anunciados em 04 de novembro pela organiza\u00e7\u00e3o\u00a0Global Carbon Project, as emiss\u00f5es globais de CO2 de origem f\u00f3ssil devem crescer 4,9% em 2021 \u2014 percentual quase equipar\u00e1vel ao decl\u00ednio de 5,4% devido aos fechamentos causados pela pandemia de covid-19 em 2020. Ali\u00e1s, neste ano, espera-se que o uso de carv\u00e3o e g\u00e1s exceda os n\u00edveis anteriores \u00e0 pandemia.<\/p>\n\n\n\n

Alguns observadores receberam bem a declara\u00e7\u00e3o de Glasgow sobre as florestas, embora com mais cautela do que Johnson.<\/p>\n\n\n\n

\u201cN\u00e3o h\u00e1 caminho para zero emiss\u00e3o l\u00edquida sem abordar as florestas tropicais\u201d, afirmou\u00a0Julia Jones, cientista conservacionista da Universidade de Bangor, no Pa\u00eds de Gales. \u201cPor isso, a presen\u00e7a e colabora\u00e7\u00e3o de todos logo no in\u00edcio da confer\u00eancia, com a participa\u00e7\u00e3o de tantas pessoas, foram muito importantes.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Especialmente relevante, acrescentou Jones, foi o fato de as palavras estarem acompanhadas por \u201cinvestimento real\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Embora os detalhes do desembolso ainda n\u00e3o tenham sido definidos, a declara\u00e7\u00e3o inclui um\u00a0Compromisso Financeiro Global com as Florestas,\u00a0segundo o qual 11 pa\u00edses e a Uni\u00e3o Europeia se comprometeram a fornecer US$ 12 bilh\u00f5es em financiamento \u201cpara ajudar a expandir o potencial do manejo sustent\u00e1vel do solo e das florestas\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, o presidente Joe Biden\u00a0anunciou que discutiria com o Congresso a contribui\u00e7\u00e3o de mais US$ 9 bilh\u00f5es\u00a0at\u00e9 2030. O financiamento do setor privado acrescentar\u00e1 US$ 7,2 bilh\u00f5es, e 14 doadores governamentais e privados\u00a0prometeram US$ 1,7 bilh\u00e3o\u00a0entre 2021 e 2025 para \u201capoiar o avan\u00e7o dos direitos de posse florestal das comunidades locais e dos povos ind\u00edgenas e maior reconhecimento e recompensas por seu papel como guardi\u00f5es das florestas e da natureza\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Motivos para cautela<\/h3>\n\n\n\n

Mas h\u00e1 precedentes que sugerem que o novo compromisso deva ser recebido com uma grande dose de ceticismo. Em 2014, a\u00a0Declara\u00e7\u00e3o de Nova York sobre Florestas\u00a0tamb\u00e9m definiu uma meta de fim do desmatamento at\u00e9 2030, com uma meta provis\u00f3ria de redu\u00e7\u00e3o de 50% at\u00e9 2020. Um\u00a0estudo conduzido em 2019 constatou\u00a0que as taxas de perda florestal foram 41% mais elevadas nos anos seguintes a essa declara\u00e7\u00e3o do que nos anteriores, e que uma \u00e1rea do tamanho do Reino Unido foi perdida anualmente.<\/p>\n\n\n\n

E embora 40 na\u00e7\u00f5es tenham endossado a declara\u00e7\u00e3o de Nova York, os dois pa\u00edses com a\u00a0\u00e1rea florestal mais extensa\u00a0\u2014 Brasil e R\u00fassia \u2014 n\u00e3o estavam entre elas. Esses pa\u00edses estiveram, entretanto, em Glasgow, assim como o pa\u00eds com a quinta maior quantidade de florestas: a China. Ao todo, os 131 pa\u00edses que assinaram a declara\u00e7\u00e3o at\u00e9 o momento representam 90% da cobertura florestal da Terra.<\/p>\n\n\n\n

Mas algumas dessas assinaturas\u00a0despertaram ceticismo\u00a0\u2014 sobretudo a do Brasil. Desde que o presidente Jair Bolsonaro assumiu o cargo em 2019, as taxas de desmatamento do pa\u00eds\u00a0atingiram seu maior n\u00edvel em 12 anos, o que fez com que um grupo de acad\u00eamicos e ativistas ambientais\u00a0advertissem que, em julho, a floresta amaz\u00f4nica entraria em \u201ccolapso\u201d\u00a0se o mandato do presidente permanecesse.<\/p>\n\n\n\n

Dois dias ap\u00f3s o an\u00fancio da declara\u00e7\u00e3o, a Indon\u00e9sia \u2014 um dos pa\u00edses com mais florestas \u2014 pareceu recuar em seu compromisso.<\/p>\n\n\n\n

\u201cFor\u00e7ar a Indon\u00e9sia a alcan\u00e7ar o desmatamento zero em 2030 \u00e9 claramente inapropriado e injusto\u201d, escreveu Siti Nurbaya Bakar, ministra do Meio Ambiente do pa\u00eds, pelo Twitter em 03 de novembro. O desenvolvimento, prosseguiu ela, \u201cn\u00e3o deve ser interrompido em nome das emiss\u00f5es de carbono ou em nome do desmatamento\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Para aumentar a confus\u00e3o, Mahendra Sinegar, vice-ministro das Rela\u00e7\u00f5es Exteriores do pa\u00eds, negou no dia seguinte que o desmatamento zero fosse at\u00e9 mesmo parte do compromisso de Glasgow,\u00a0declarando \u00e0 ag\u00eancia de not\u00edcias Reuters que\u00a0seu pa\u00eds o interpretou como um compromisso com o \u201cmanejo florestal sustent\u00e1vel… e n\u00e3o como o fim do desmatamento at\u00e9 2030\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Isso destacou uma ambiguidade aparentemente n\u00edtida na declara\u00e7\u00e3o: qual o significado exato de seu compromisso de \u201cinterromper e reverter a perda florestal e a degrada\u00e7\u00e3o do solo\u201d?\u00a0Segundo uma interpreta\u00e7\u00e3o, por exemplo, a remo\u00e7\u00e3o de florestas pode n\u00e3o ser tecnicamente desmatamento se a terra n\u00e3o for utilizada para outros usos comerciais, ou se houver replantios de \u00e1rvores para, por exemplo, produ\u00e7\u00e3o de\u00a0pellets<\/em>\u00a0de madeira.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com Diana Ruiz, ativista s\u00eanior de florestas da organiza\u00e7\u00e3o n\u00e3o governamental Greenpeace, dos Estados Unidos, as afirma\u00e7\u00f5es da Indon\u00e9sia destacam que a declara\u00e7\u00e3o de Glasgow \u00e9 ampla em promessas e escassa em detalhes.<\/p>\n\n\n\n

\u201cN\u00e3o h\u00e1 clareza nem alinhamento entre os pa\u00edses signat\u00e1rios\u201d, disse ela. \u201cN\u00e3o h\u00e1 uma estrutura para o cumprimento das metas. Manifestar-se no cen\u00e1rio internacional e afirmar que os pa\u00edses v\u00e3o acabar com o desmatamento em um determinado prazo n\u00e3o considera as complexidades do processo. Como isso vai ser feito? Quais ser\u00e3o as metas? Quais ser\u00e3o as implica\u00e7\u00f5es para pa\u00edses como a Indon\u00e9sia e o Brasil, que est\u00e3o introduzindo pol\u00edticas que incentivam mais desmatamento e contradizem o que acabaram de prometer?\u201d<\/p>\n\n\n\n

Em vez de uma declara\u00e7\u00e3o ousada, Ruiz disse que as florestas precisam de a\u00e7\u00f5es en\u00e9rgicas na pr\u00e1tica.<\/p>\n\n\n\n

\u201cPor exemplo, a\u00a0Indon\u00e9sia n\u00e3o renovou sua morat\u00f3ria de \u00f3leo de palma. Poderia t\u00ea-la prorrogado\u201d, conta ela. Juntamente com a Mal\u00e1sia, a Indon\u00e9sia produz entre 85% e 90% do \u00f3leo de palma (azeite de dend\u00ea) do mundo. Sua morat\u00f3ria a licen\u00e7as para novas planta\u00e7\u00f5es em 2018 \u2014\u00a0a amea\u00e7a mais imediata \u00e0s florestas tropicais da regi\u00e3o \u2014\u00a0\u00a0terminou em setembro.<\/p>\n\n\n\n

Tamb\u00e9m \u00e9 digno de nota que, apesar do compromisso de apoiar os direitos ind\u00edgenas constante na declara\u00e7\u00e3o, ativistas ind\u00edgenas em Glasgow\u00a0protestaram que n\u00e3o estavam sendo inclu\u00eddos no processo e que foi adotada uma \u201cvis\u00e3o romantizada e simb\u00f3lica dos povos ind\u00edgenas\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Trazendo a mudan\u00e7a<\/h3>\n\n\n\n

\u00c9 poss\u00edvel reduzir e at\u00e9 interromper o desmatamento. As taxas globais de desmatamento\u00a0v\u00eam diminuindo\u00a0a cada d\u00e9cada desde seu pico na d\u00e9cada de 1980; nos \u00faltimos 30 anos, houve um aumento cont\u00ednuo na cobertura florestal das florestas temperadas. A Costa Rica\u00a0paga produtores rurais para proteger florestas.<\/p>\n\n\n\n

Como resultado da press\u00e3o conjunta do Greenpeace Brasil e do Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal, o Brasil havia obtido suas\u00a0menores taxas de desmatamento na Amaz\u00f4nia\u00a0entre 2009 e 2014, antes que crises pol\u00edticas e econ\u00f4micas, seguidas por pol\u00edticas do governo Bolsonaro, as fizessem voltar a aumentar.<\/p>\n\n\n\n

Por outro lado, os n\u00fameros preliminares do novo relat\u00f3rio do Global Carbon Project oferecem not\u00edcias muito promissoras. Os pesquisadores do projeto haviam estimado anteriormente que as emiss\u00f5es de carbono do desmatamento e outras mudan\u00e7as no uso do solo aumentaram cerca de 35% desde 2000. Mas uma revis\u00e3o nessa estimativa substituiu esse aumento por uma redu\u00e7\u00e3o<\/em> aproximadamente na mesma medida, sobretudo porque a expans\u00e3o de cultivos para \u00e1reas de florestas tropicais, no Brasil e em outros locais, aparentemente foi menor do que se acreditava anteriormente.<\/p>\n\n\n\n

Se os novos n\u00fameros forem confirmados, isso significaria que a produ\u00e7\u00e3o global de CO2\u00a0pode ter permanecido basicamente est\u00e1vel na \u00faltima d\u00e9cada\u00a0\u2014 apesar do aumento nas emiss\u00f5es neste ano passado o in\u00edcio da pandemia. De qualquer forma, a pesquisa \u00e9 mais uma indica\u00e7\u00e3o da grande diferen\u00e7a que faria o fim do desmatamento.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAs florestas s\u00e3o importantes por dois motivos\u201d, explicou Jones. Um deles \u00e9 que o carbono que est\u00e1 preso nelas \u00e9 liberado quando as florestas s\u00e3o derrubadas. O outro \u00e9 o carbono absorvido do ar pelas \u00e1rvores a cada ano \u2014 compensando assim algumas das emiss\u00f5es humanas.<\/p>\n\n\n\n

Em termos l\u00edquidos, afirma Jones, as florestas em todo o mundo absorvem mais carbono do que emitem. Mas algumas regi\u00f5es \u2014 por exemplo a\u00a0Amaz\u00f4nia brasileira, e at\u00e9 mesmo\u00a0alguns Patrim\u00f4nios Mundiais da Unesco\u00a0\u2014 atualmente produzem mais carbono do que absorvem. Isso, observou Jones, \u201c\u00e9 bastante grave\u201d.<\/p>\n\n\n\n

O potencial de desastre \u00e9 mais acentuado em florestas que crescem em solos turfosos ricos em carbono, que podem conter ainda mais carbono do que as pr\u00f3prias \u00e1rvores que esses solos sustentam. Essa \u00e9 uma das raz\u00f5es pelas quais a segunda maior floresta tropical do mundo, na Bacia do Congo, recebeu bastante aten\u00e7\u00e3o em Glasgow, e para a qual governos e doadores privados\u00a0prometeram US$ 1,5 bilh\u00e3o. Estudos recentes conclu\u00edram que a turfa cobre\u00a04% da \u00e1rea florestal da bacia\u00a0e\u00a0cont\u00eam tanto carbono quanto os 96% restantes.<\/p>\n\n\n\n

\u201cN\u00e3o h\u00e1 como negar que, em escala global, precisamos que as florestas de turfa na Bacia do Congo permane\u00e7am em p\u00e9\u201d, afirmou Jones. \u201cElas prestam um servi\u00e7o imprescind\u00edvel \u00e0 humanidade.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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