{"id":174801,"date":"2021-11-12T00:01:00","date_gmt":"2021-11-12T03:01:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=174801"},"modified":"2021-11-11T22:07:05","modified_gmt":"2021-11-12T01:07:05","slug":"este-gato-africano-selvagem-se-adaptou-surpreendentemente-bem-a-vida-em-uma-cidade-grande","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/redacao\/traducoes\/2021\/11\/12\/174801-este-gato-africano-selvagem-se-adaptou-surpreendentemente-bem-a-vida-em-uma-cidade-grande.html","title":{"rendered":"Este gato africano selvagem se adaptou surpreendentemente bem \u00e0 vida em uma cidade grande"},"content":{"rendered":"\n
\"Fonte:<\/a>
Fonte: Foto de Michael M no Pexels.<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Um caracal estava sentado na trilha \u00e0 nossa frente, parecendo calmo ao observar nosso grupo de tr\u00eas caminhantes subindo a encosta da montanha em uma noite quente de outubro.<\/p>\n\n\n\n

Os postes de luz da Cidade do Cabo piscaram abaixo, enquanto a parede rochosa da Table Mountain erguia-se de um lado. Ficamos parados, esperando que o animal recuasse. Em vez disso, ele trotou passando por n\u00f3s, a po\u00e7a de luz de nossos far\u00f3is baixos iluminando seu “casaco” cor laranja-queimado; olhos redondos e claros; e distintas orelhas grandes e pontudas cobertas por longos tufos pretos. Parando para uma breve olhada para tr\u00e1s, o felino de pernas compridas desapareceu nos arbustos.<\/p>\n\n\n\n

Soubemos imediatamente que era Hermes – um caracal habituado a humanos que costuma ser avistado por caminhantes e corredores em trilhas ao redor do Parque Nacional da Table Mountain, com mais de 24.000 hectares, que fica dentro dos limites da cidade da capital sul-africana. O caracal, que se acredita ter de quatro a cinco anos, tornou-se uma esp\u00e9cie de animal cartaz para a conserva\u00e7\u00e3o da vida selvagem na Cidade do Cabo, uma cidade na Pen\u00ednsula do Cabo cuja popula\u00e7\u00e3o cresceu de 1,1 milh\u00e3o em 1970 para 4,7 milh\u00f5es hoje. A metr\u00f3pole litor\u00e2nea, com sua montanha no meio da cidade, hospeda uma infinidade de vida selvagem urbana, de babu\u00ednos a cobras e pinguins.<\/p>\n\n\n\n

Gatos t\u00edmidos, geralmente noturnos, encontrados em v\u00e1rias paisagens da \u00c1frica e da \u00c1sia, os caracais n\u00e3o correm o risco de extin\u00e7\u00e3o. Mas os caracais na Cidade do Cabo s\u00e3o not\u00e1veis \u200b\u200bde outra maneira: eles s\u00e3o o predador do \u00e1pice da \u00e1rea, j\u00e1 que os leopardos foram ca\u00e7ados na Pen\u00ednsula do Cabo no in\u00edcio do s\u00e9culo 20. Nativos da pen\u00ednsula, caracais s\u00f3 recentemente foram registrados se aventurando em \u00e1reas mais urbanas, provavelmente atra\u00eddos por presas f\u00e1ceis de capturar, como os ratos vlei da \u00c1frica do Sul e galinhas d’angola, diz Gabriella Leighton, pesquisadora da Universidade da Cidade do Cabo que liderou um artigo recente sobre o comportamento do caracal. Os cientistas estimam que existam provavelmente cerca de 60 caracais na Pen\u00ednsula do Cabo.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEles s\u00e3o predadores oportunistas – eles pegam o que for mais f\u00e1cil\u201d, diz Leighton.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

\"Fonte:<\/a>
Fonte: Foto de Lohrelei no Pixabay.<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

\u00c0 medida que os impressionantes felinos se acostumaram com as pessoas, eles foram vistos em todas as \u00e1reas naturais da cidade, desde trilhas com tr\u00e1fego intenso at\u00e9 o Jardim Bot\u00e2nico Kirstenbosch e a popular Praia de Clifton ao p\u00f4r do sol.<\/p>\n\n\n\n

Muitos dos gatos – especialmente aqueles no norte, parte mais desenvolvida da Table Mountain (onde encontrei Hermes) – preferem ca\u00e7ar em torno da orla urbana, que inclui sub\u00farbios, estradas e vinhedos. Isso \u00e9 arriscado, no entanto, uma vez que essas \u00e1reas representam uma amea\u00e7a para os animais, especialmente sendo atropelados por carros – a principal causa de morte de caracais na Cidade do Cabo. Os gatos enfrentam outras press\u00f5es, em menor grau, de venenos, ataques de c\u00e3es e armadilhas, diz Laurel Serieys, bi\u00f3loga de vida selvagem da organiza\u00e7\u00e3o conservacionista Panthera, que fundou o Projeto Caracal Urbano da Universidade da Cidade do Cabo em 2014. A falta de diversidade gen\u00e9tica, devido ao desenvolvimento urbano que envolve o animal, tamb\u00e9m \u00e9 uma grande amea\u00e7a para o futuro do caracal na cidade, diz ela.<\/p>\n\n\n\n

Mesmo assim, os caracais \u201cpodem se adaptar \u00e0 atividade humana de maneiras que n\u00e3o eram esperadas\u201d, diz Serieys, como ajustar seu comportamento para evitar ser visto por pessoas em \u00e1reas movimentadas. \u201cFoi uma surpresa muito legal.\u201d<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

A pesquisa tamb\u00e9m mostra que os caracais da parte menos desenvolvida do sul da pen\u00ednsula tendem a evitar as periferias urbanas, mostrando como seu comportamento muda em diferentes ambientes.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 agora, a maioria dos Capetonianos deu as boas-vindas aos caracais, adotando pap\u00e9is de cientistas cidad\u00e3os ao relatar avistamentos de caracais (bem como animais mortos na estrada) para o Projeto Caracal Urbano. Embora alguns caracais tenham matado gatos de estima\u00e7\u00e3o, a pesquisa mostra que os caracais da Cidade do Cabo ca\u00e7am principalmente presas selvagens.<\/p>\n\n\n\n

Estabelecendo as bases<\/h4>\n\n\n\n

Antes de 2014, ningu\u00e9m havia estudado os caracais da pen\u00ednsula, diz Serieys, em grande parte porque as pessoas duvidavam que eles estivessem l\u00e1. Ela teve que convencer os Parques Nacionais da \u00c1frica do Sul a conceder a ela uma permiss\u00e3o para estudar uma popula\u00e7\u00e3o que eles n\u00e3o pensavam que existia na Table Mountain.<\/p>\n\n\n\n

Desde ent\u00e3o, Serieys e colegas aprenderam mais sobre os movimentos, dieta, gen\u00e9tica e amea\u00e7as dos gatos selvagens urbanos. Eles equiparam 26 caracais com coleiras de GPS, conduziram necropsias, montaram armadilhas fotogr\u00e1ficas pela cidade e coletaram fotos e v\u00eddeos de avistamentos de caracais pelo p\u00fablico.<\/p>\n\n\n\n

\u201c\u00c9 importante entrar em a\u00e7\u00e3o e aprender o que existe l\u00e1, e quais amea\u00e7as existem para esses animais\u201d, diz Serieys.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

At\u00e9 agora, os resultados mostram que as colis\u00f5es de ve\u00edculos foram respons\u00e1veis \u200b\u200bpor mais de 70% das mortes de caracais registradas na Cidade do Cabo entre 2015 e 2020. Veneno \u00e9 outro perigo: 92% dos caracais mortos que Serieys testou consumiram rodenticidas anticoagulantes, um medicamento frequentemente fatal.<\/p>\n\n\n\n

Caracais s\u00e3o apanhados em armadilhas para capturar presas menores ou s\u00e3o v\u00edtimas de c\u00e3es, que tamb\u00e9m podem transmitir doen\u00e7as como o parvov\u00edrus canino, de acordo com Serieys.<\/p>\n\n\n\n

Para reduzir atropelamentos de ve\u00edculos com caracais, em janeiro, a equipe do projeto instalou placas reflexivas de caracais ao longo de sete locais comuns de atropelamentos na Cidade do Cabo, embora ainda n\u00e3o tenham coletado dados para mostrar se est\u00e1 sendo efetivo para reduzir as mortes. A equipe tamb\u00e9m sugeriu que a cidade colocasse lombadas em locais frequentes de travessia de caracais.<\/p>\n\n\n\n

Protegendo pinguins amea\u00e7ados de extin\u00e7\u00e3o<\/h4>\n\n\n\n

Embora os animais dom\u00e9sticos representem menos de 4% da dieta dos caracais, de acordo com um estudo, alguns residentes da Cidade do Cabo n\u00e3o s\u00e3o a favor dos gatos selvagens em seu meio.<\/p>\n\n\n\n

Muitos capetoneses se adaptaram \u00e0 vida com caracais, mantendo seus animais de estima\u00e7\u00e3o dentro de casa \u00e0 noite ou erguendo \u201ccatios\u201d, espa\u00e7os fechados onde os gatos podem aproveitar o ar livre com seguran\u00e7a. Ambas as medidas s\u00e3o recomendadas pelo Projeto Caracal Urbano.<\/p>\n\n\n\n

\"Caracais<\/a>
Caracais aprenderam a viver escondidos da vista de todos ao longo da orla urbana, que inclui sub\u00farbios, vinhedos e estradas. Fonte: Foto de OliverMagritzer no Pixabay.<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em propriedades ecol\u00f3gicas da Cidade do Cabo – empreendimentos residenciais suburbanos que se promovem como ecologicamente corretos – alguns residentes exigiram a remo\u00e7\u00e3o de caracais da \u00e1rea, tanto em reuni\u00f5es de bairro quanto nas redes sociais.<\/p>\n\n\n\n

Pegar um caracal e solt\u00e1-lo em um novo local raramente funciona, de acordo com os bi\u00f3logos do Projeto Caracal Urbano, em parte porque outro caracal provavelmente o substituir\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

Isso \u00e9 exatamente o que aconteceu em 2016 na Praia dos Rochedos, um bols\u00e3o do Parque Nacional da Table Mountain em um sub\u00farbio ao sul da Cidade do Cabo, que abriga uma col\u00f4nia de 2.000 a 3.000 pinguins africanos amea\u00e7ados de extin\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Uma f\u00eamea caracal que havia encontrado a col\u00f4nia de pinguins foi capturada e translocada, e ela se estabeleceu em uma \u00e1rea pr\u00f3xima ao local de soltura. No entanto, sua prole masculina ent\u00e3o a substituiu na col\u00f4nia e evitou a captura por quase um ano, matando cerca de 260 pinguins. Ele acabou sendo translocado para uma reserva natural pr\u00f3xima na ba\u00eda, mas em poucos dias ele deixou a \u00e1rea protegida e foi atropelado por um carro.<\/p>\n\n\n\n

Felizmente, n\u00e3o h\u00e1 evid\u00eancias de que caracais busquem pinguins ativamente, mas quando eles cruzam uma col\u00f4nia, “\u00e9 como uma crian\u00e7a encontrando uma loja [de doces]”, disse Gregg Oelofse, chefe de gest\u00e3o ambiental costeira da Cidade do Cabo. A cidade trabalha com os Parques Nacionais da \u00c1frica do Sul em quest\u00f5es como a preda\u00e7\u00e3o do caracal na Praia dos Rochedos, uma vez que envolve a cidade e o parque.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto esperava por Oelofse no estacionamento da Praia dos Rochedos, observei os pinguins vagando pelos ve\u00edculos, aparentemente despreocupados com o tr\u00e2nsito ou com os humanos. Sua falta de instinto para o perigo terrestre – os pinguins africanos vivem principalmente em ilhas – \u00e9 um dos motivos pelos quais a col\u00f4nia desse local precisa de tanta prote\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Hoje em dia, se um caracal invade a col\u00f4nia de pinguins, o protocolo \u00e9 captur\u00e1-lo e realizar a eutan\u00e1sia, j\u00e1 que os pinguins s\u00e3o a prioridade de conserva\u00e7\u00e3o. No entanto, esse \u00e9 o pior cen\u00e1rio, Oelofse me diz, e a preven\u00e7\u00e3o \u00e9 o foco.<\/p>\n\n\n\n

Para isso, a cidade instalou uma cerca \u00e0 prova de predadores, junto com cilindros rolantes para dificultar o rompimento pelos caracais. At\u00e9 agora, ele tem se mostrado um sucesso em dissuadir os saltadores qualificados, diz ele.<\/p>\n\n\n\n

Usando seu telefone, Oelofse me mostrou fotos com armadilhas fotogr\u00e1ficas tiradas ao longo da cerca: Em uma delas, um caracal trota ao longo da cerca para longe da costa, como pretendido. Em outro, eu n\u00e3o conseguia ver nem mesmo o gato bem camuflado at\u00e9 Oelofse apontar um par de orelhas pontudas de tufos pretos cutucando a moldura.<\/p>\n\n\n\n

Sem espa\u00e7o para vagar<\/h4>\n\n\n\n

Como uma popula\u00e7\u00e3o isolada, os caracais tamb\u00e9m s\u00e3o amea\u00e7ados por seu polo gen\u00e9tico restrito. Serieys tem dados n\u00e3o publicados mostrando que os cerca de 60 caracais da pen\u00ednsula s\u00e3o consangu\u00edneos – algo que reduz a sa\u00fade da popula\u00e7\u00e3o local, eventualmente levando \u00e0 extin\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Isso ocorre porque a terra ao redor da Table Mountain foi desenvolvida a um ponto que a maior parte da vida selvagem agora \u00e9 restrita, n\u00e3o podendo mais se dispersar para dentro ou fora da montanha para ampliar seus reservat\u00f3rios gen\u00e9ticos.<\/p>\n\n\n\n

O \u00faltimo corredor vi\u00e1vel da Table Mountain \u00e9 uma faixa estreita ao redor da Ba\u00eda Falsa, mas tamb\u00e9m \u00e9 um local potencial para desenvolvimento residencial.<\/p>\n\n\n\n

\u201cQueremos manter esses corredores e cintur\u00f5es verdes, mas tamb\u00e9m temos que fazer concess\u00f5es para permitir que as comunidades [se desenvolvam]\u201d, diz Oelofse. \u00c9 parte da luta constante de “tentar encontrar um bom equil\u00edbrio” entre as pessoas e a vida selvagem.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Para o raro caracal que consegue chegar \u00e0 pen\u00ednsula vindo de fora da cidade, reivindicar uma \u00e1rea de vida e ent\u00e3o procriar ser\u00e1 \u201csuper dif\u00edcil\u201d entre os indiv\u00edduos j\u00e1 estabelecidos, diz Serieys.<\/p>\n\n\n\n

Os caracais da Cidade do Cabo, diz ela, \u201cainda t\u00eam muitos desafios pela frente\u201d.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic\/ Heather Richardson
Tradu\u00e7\u00e3o: Reda\u00e7\u00e3o Ambientebrasil \/ Maria Beatriz Ayello Leite
Para ler a reportagem original em ingl\u00eas acesse:<\/em>
https:\/\/www.nationalgeographic.com\/animals\/article\/this-wild-african-cat-is-adapting-to-life-in-a-big-city<\/a><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Caracais aprenderam a ca\u00e7ar nos limites urbanos da Cidade do Cabo, embora o predador enfrente muitas amea\u00e7as, como ser atropelado por carros. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":174820,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4132],"tags":[5019,5078,5080,2481,280,5003,4329,5077,5081,5082],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/174801"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=174801"}],"version-history":[{"count":31,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/174801\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":174856,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/174801\/revisions\/174856"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/174820"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=174801"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=174801"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=174801"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}