{"id":174872,"date":"2021-11-16T17:01:15","date_gmt":"2021-11-16T20:01:15","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=174872"},"modified":"2021-11-16T17:01:17","modified_gmt":"2021-11-16T20:01:17","slug":"baleias-comem-tres-vezes-mais-do-que-se-acreditava-anteriormente","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/11\/16\/174872-baleias-comem-tres-vezes-mais-do-que-se-acreditava-anteriormente.html","title":{"rendered":"Baleias comem tr\u00eas vezes mais do que se acreditava anteriormente"},"content":{"rendered":"\n
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As baleias-jubarte (retratada nesta fotografia tirada na Calif\u00f3rnia, nos EUA) excretam grandes quantidades de fezes ricas em ferro que s\u00e3o vitais para o ciclo de nutrientes do oceano.
FOTO DE\u00a0JOHN DURBAN<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Tudo come\u00e7ou com uma pergunta direta: quantos quilos de alimento as\u00a0baleias de barbatanas\u00a0comem?<\/p>\n\n\n\n

Como as baleias de barbatanas \u2014 subordem que compreende\u00a0baleias-jubarte,\u00a0baleias-francas,\u00a0baleias-azuis\u00a0e outras \u2014 se alimentam quase sempre a centenas de metros de profundidade, seus comportamentos n\u00e3o s\u00e3o f\u00e1ceis de serem observados. E n\u00e3o seria desej\u00e1vel e nem poss\u00edvel tentar responder a essa pergunta mantendo animais t\u00e3o enormes (as baleias-azuis, por exemplo, chegam a at\u00e9 30 metros de comprimento e s\u00e3o as maiores da Terra) em cativeiro para monitorar seus padr\u00f5es di\u00e1rios de alimenta\u00e7\u00e3o. Al\u00e9m do mais, algumas esp\u00e9cies se alimentam de maneira voraz por alguns meses, depois jejuam pelo resto do ano, o que dificulta ainda mais os estudos sobre a ingest\u00e3o de alimentos das baleias.<\/p>\n\n\n\n

\u201cIsso \u00e9 algo t\u00e3o b\u00e1sico que eu presumi que havia sido descoberto h\u00e1 30, 40 ou 50 anos, mas ningu\u00e9m nunca solucionou essa quest\u00e3o\u201d, diz\u00a0Matthew Savoca, pesquisador de p\u00f3s-doutorado na Esta\u00e7\u00e3o Marinha Hopkins da Universidade de Stanford, na Calif\u00f3rnia, e\u00a0Explorador da\u00a0National Geographic<\/strong>.<\/p>\n\n\n\n

Para Savoca, essa quest\u00e3o ia al\u00e9m da ci\u00eancia b\u00e1sica ou de curiosidade. A quantidade de alimento ingerido pelas baleias de barbatanas \u00e9 diretamente proporcional \u00e0 quantidade de dejetos que expelem. E as fezes das baleias desempenham uma fun\u00e7\u00e3o importante na produtividade do oceano, pois fornece energia e nutrientes valiosos para uma grande variedade de esp\u00e9cies marinhas.<\/p>\n\n\n\n

Recentemente, Savoca, com a ajuda de colaboradores de outros pa\u00edses, come\u00e7ou a se aproximar de uma resposta. A equipe implantou uma tecnologia de rastreamento avan\u00e7ada em baleias de barbatanas \u2014 que recebem esse nome devido ao material \u00e1spero em suas placas mandibulares, que prendem pequenas presas como,\u00a0krill\u00a0e zoopl\u00e2ncton \u2014 nos oceanos Atl\u00e2ntico, Pac\u00edfico e Ant\u00e1rtico. Eles tamb\u00e9m utilizaram drones para medir as concentra\u00e7\u00f5es de krill.<\/p>\n\n\n\n

Os resultados,\u00a0publicados em 3 de novembro no peri\u00f3dico\u00a0Nature,<\/em>\u00a0s\u00e3o impressionantes: as baleias de barbatanas comem muito mais do que estimado anteriormente. Uma \u00fanica baleia-azul, por exemplo, ingere uma m\u00e9dia de 16 toneladas de alimento por dia \u2014 aproximadamente o triplo do que os cientistas estimavam.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEste estudo mostra que as baleias de barbatanas t\u00eam um papel muito mais importante em nosso ecossistema do que pens\u00e1vamos\u201d, afirma\u00a0Sian Henley, cientista marinha da Universidade de Edimburgo, que n\u00e3o participou do estudo. Isso porque as 14 esp\u00e9cies conhecidas de baleias de barbatanas s\u00e3o fundamentais para mover nutrientes vitais como carbono, nitrog\u00eanio e ferro pelo oceano, principalmente por meio de seus excrementos.<\/p>\n\n\n\n

As novas informa\u00e7\u00f5es, declarou Henley, tamb\u00e9m \u201cdemonstram que precisamos melhorar a prote\u00e7\u00e3o e gest\u00e3o do\u00a0oceano\u00a0nas maiores propor\u00e7\u00f5es poss\u00edveis, especialmente do Oceano Ant\u00e1rtico\u201d. As \u00e1guas que circundam a\u00a0Ant\u00e1rtica\u00a0s\u00e3o particularmente vulner\u00e1veis a impactos humanos,\u00a0em grande medida por causa das temperaturas elevadas provocadas pelas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas\u00a0e pela\u00a0pesca predat\u00f3ria, que interrompem a circula\u00e7\u00e3o natural de nutrientes, que tamb\u00e9m podem prejudicar o krill e outras fontes de alimentos das baleias de barbatanas.\u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 \u00a0 Isso \u00e9 muito prejudicial, pois as baleias que habitam essa regi\u00e3o do planeta ainda est\u00e3o se recuperando de s\u00e9culos de balea\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Conforme as baleias se recuperam, seu papel na reciclagem de nutrientes deve reiniciar o ciclo de nutrientes e estimular o aumento do n\u00famero de krills no oceano, afirma a cientista marinha.<\/p>\n\n\n\n

\u2018Melhor que nada\u2019 <\/h3>\n\n\n\n

Para estimar quanto as baleias de barbatanas comem, os cientistas analisaram previamente suas necessidades metab\u00f3licas com base em seu tamanho e n\u00edvel de atividade utilizando um animal intimamente relacionado ou de tamanho semelhante como refer\u00eancia. Por exemplo, para estimar o consumo de alimentos de uma baleia-azul ou de uma baleia-jubarte, os bi\u00f3logos apenas extrapolaram a quantidade de alimento ingerido pelas\u00a0orcas (ou baleias-assassinas).<\/p>\n\n\n\n

\u201cAo analisar o comportamento, ecologia e fisiologia desses animais, uma baleia-azul e uma jubarte s\u00e3o extremamente diferentes de uma baleia-assassina\u201d, diz Savoca. Ele admite que a tentativa anterior era \u201cmelhor do que nada, mas definitivamente n\u00e3o era uma boa estimativa\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Para realizar o estudo, a equipe de Savoca identificou 321 baleias divididas entre sete esp\u00e9cies da subordem de baleias de barbatanas: baleias-jubarte, baleias-azuis, baleias-comuns, baleias-da-groenl\u00e2ndia, baleias-minke-ant\u00e1rticas, baleias-de-bryde e baleias-francas-do-atl\u00e2ntico-norte.<\/p>\n\n\n\n

Savoca descreve as etiquetas \u2014 dispositivos equipados com aceler\u00f4metros, magnet\u00f4metros, GPS, sensores de luz, girosc\u00f3pios e c\u00e2meras fixadas no dorso das baleias com uma cola especial \u2014 como \u201ciPhones de baleia\u201d. Assim como nossos\u00a0smartphones<\/em>\u00a0contam quantos passos damos em um dia, os iPhones de baleia podem calcular as investidas que a baleia d\u00e1 e em que profundidade. As baleias de barbatanas geralmente pegam comida pulando ou acelerando na \u00e1gua em rajadas r\u00e1pidas, horizontal ou verticalmente, com a boca aberta.<\/p>\n\n\n\n

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Uma baleia-jubarte demarcada no estudo recente projeta seu corpo para fora d\u2019\u00e1gua para se alimentar. As baleias t\u00eam placas de barbatanas dentro da boca que filtram as pequenas presas.
FOTO DE\u00a0MATTHEW SAVOCA<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A equipe tamb\u00e9m utilizou drones para medir o tamanho da boca das baleias, o que permitiu calcular o volume de \u00e1gua que elas podem deglutir durante essas investidas. Um sonar para medir a densidade de krills que vivem no habitat<\/em> da baleia permitiu que determinassem quantos desses pequenos animais, parecidos com camar\u00f5es, a baleia poderia engolir a cada bote.<\/p>\n\n\n\n

Juntando todas essas ferramentas, descobriram que os animais demarcados comiam de 5% a 30% do peso corporal em krill por dia. Estimativas anteriores sugeriam que as baleias de barbatanas consumiam diariamente menos de 5% de seu peso corporal.<\/p>\n\n\n\n

O mist\u00e9rio da aus\u00eancia dos krills<\/h3>\n\n\n\n

Essa descoberta tamb\u00e9m ajuda a resolver outro enigma, diz Savoca:\u00a0<\/strong>por que os oceanos da Ant\u00e1rtica n\u00e3o possuem krill em abund\u00e2ncia. As baleias de barbatana, predadores prim\u00e1rios desses min\u00fasculos crust\u00e1ceos, foram quase erradicadas durante o s\u00e9culo 20, uma era de ca\u00e7a industrial \u00e0 baleia que Savoca chama de \u201cuma das a\u00e7\u00f5es de exterm\u00ednio mais eficazes e eficientes da hist\u00f3ria da Terra\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Embora a captura de krill esteja se intensificando para a alimenta\u00e7\u00e3o de peixes e extra\u00e7\u00e3o de seu \u00f3leo rico em nutrientes, essa ind\u00fastria n\u00e3o \u00e9 grande o suficiente para explicar por que as \u00e1guas polares n\u00e3o est\u00e3o repletas dessa fonte vital de alimento para baleias, focas e muitos outros animais, de acordo com Savoca.<\/p>\n\n\n\n

No final da d\u00e9cada de 1980, o biogeoqu\u00edmico marinho John Martin\u00a0levantou a hip\u00f3tese de que a falta de ferro no Oceano Ant\u00e1rtico estava limitando o n\u00famero de fitopl\u00e2ncton, \u00a0\u00a0\u00a0fonte prim\u00e1ria de alimento para o krill. Plantas e animais precisam apenas de baixos \u00edndices de ferro, mas n\u00e3o podem sobreviver sem ele.<\/p>\n\n\n\n

Experimentos subsequentes mostraram que as fezes de baleia s\u00e3o alguns dos materiais mais ricos em ferro do oceano. Junto com a poeira do Deserto do Saara e outras fontes terrestres, essa fonte de ferro formou a base do ciclo do ferro do Oceano Ant\u00e1rtico. Ao comer e digerir o krill e depois eliminar esses res\u00edduos, as fezes flutuantes das baleias fazem com que o ferro das profundezas do oceano v\u00e1 para a superf\u00edcie, tornando o mineral \u00fatil para o min\u00fasculo fitopl\u00e2ncton, a principal presa do krill. Maior quantidade de fezes criam um ciclo alimentar positivo: quanto mais fitopl\u00e2ncton mais krill, ou seja, mais alimento para as baleias.<\/p>\n\n\n\n

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Uma baleia-jubarte nada perto de Tonga, no Oceano Pac\u00edfico.
FOTO DE\u00a0GREG LECOEUR, NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Com as popula\u00e7\u00f5es de baleias de barbatanas ant\u00e1rticas, principalmente de baleias-comuns e baleias-minke ainda em fase de restabelecimento, faz sentido que a popula\u00e7\u00e3o de krills ainda n\u00e3o tenha se recuperado, diz Savoca. Mas h\u00e1 sinais positivos:\u00a0o n\u00famero de baleias-jubarte no oeste do Atl\u00e2ntico Sul aumentou\u00a0\u00a0para 25 mil \u2014 de apenas 450 indiv\u00edduos contados em meados do s\u00e9culo 20.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o \u00e9 t\u00e3o simples assim<\/h3>\n\n\n\n

Emma Cavan, biogeoqu\u00edmica marinha do Imperial College London, elogia o estudo, mas ressalta que \u00e9 \u201cuma solu\u00e7\u00e3o muito simples\u201d dizer que \u201ch\u00e1 poucos krills s\u00f3 porque h\u00e1 poucas baleias\u201d. As mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e a pesca tamb\u00e9m desempenham o seu papel.<\/p>\n\n\n\n

Por exemplo, o clima est\u00e1 mudando mais rapidamente nas regi\u00f5es polares e as mudan\u00e7as resultantes\u00a0\u2014 como \u00e1gua mais quente e mais \u00e1cida \u2014 podem reduzir as popula\u00e7\u00f5es de fitopl\u00e2ncton.<\/p>\n\n\n\n

Mesmo assim, acrescenta Cavan, o estudo \u00e9 um forte lembrete de que os oceanos precisam das baleias e de seus res\u00edduos para permanecerem saud\u00e1veis.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"