{"id":174968,"date":"2021-11-18T08:46:04","date_gmt":"2021-11-18T11:46:04","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=174968"},"modified":"2021-11-18T08:46:06","modified_gmt":"2021-11-18T11:46:06","slug":"como-aquecimento-global-pode-estar-por-tras-de-200-mil-casos-de-doenca-renal-no-brasil","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/11\/18\/174968-como-aquecimento-global-pode-estar-por-tras-de-200-mil-casos-de-doenca-renal-no-brasil.html","title":{"rendered":"Como aquecimento global pode estar por tr\u00e1s de 200 mil casos de doen\u00e7a renal no Brasil"},"content":{"rendered":"\n
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Cuidar dos rins num cen\u00e1rio de aquecimento global exige as mais variadas a\u00e7\u00f5es, que v\u00e3o desde atitudes simples at\u00e9 pol\u00edticas p\u00fablicas complexas. – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Um estudo que analisou dados de centenas de cidades brasileiras ao longo de 16 anos sugere que o aumento de 1 grau Celsius na temperatura m\u00e9dia pode elevar em quase 1% o risco de interna\u00e7\u00f5es por doen\u00e7as que afetam os rins.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O\u00a0um estudo feito pela Universidade de S\u00e3o Paulo (USP) e pela Universidade Monash, da Austr\u00e1lia avaliou os registros de sa\u00fade de 1.816 cidades brasileiras entre 2000 e 2015.<\/p>\n\n\n\n

No per\u00edodo, foram registradas mais de 2,7 milh\u00f5es de interna\u00e7\u00f5es relacionadas a problemas nesses \u00f3rg\u00e3os, como pielonefrite (um tipo de inflama\u00e7\u00e3o), fal\u00eancia renal aguda e doen\u00e7a renal cr\u00f4nica.<\/p>\n\n\n\n

O trabalho, rec\u00e9m-publicado no peri\u00f3dico especializado\u00a0The Lancet Regional Health – Am\u00e9ricas<\/em>, sugere que 7,4% de todas essas interna\u00e7\u00f5es, ou 202 mil casos de crise renal, podem ser atribu\u00eddas diretamente ao aumento da temperatura.<\/p>\n\n\n\n

A t\u00edtulo de compara\u00e7\u00e3o, 202 mil pessoas equivalem aproximadamente a popula\u00e7\u00e3o inteira de cidades como Ara\u00e7atuba (SP), Lauro de Freitas (BA) ou Passo Fundo (RS).<\/p>\n\n\n\n

Aquecimento global e desidrata\u00e7\u00e3o<\/h2>\n\n\n\n

Embora o estudo seja de associa\u00e7\u00e3o e n\u00e3o permita estabelecer uma rela\u00e7\u00e3o direta de causa e efeito, os autores especulam algumas poss\u00edveis explica\u00e7\u00f5es para a liga\u00e7\u00e3o entre aumento da temperatura e mais doen\u00e7as nos rins.<\/p>\n\n\n\n

“De forma geral, os problemas renais podem acontecer por causa da desidrata\u00e7\u00e3o, que est\u00e1 relacionada ao aumento na temperatura”, explicam os m\u00e9dicos Yuming Guo e Shanshan Li, professores de sa\u00fade ambiental e sa\u00fade p\u00fablica da Universidade Monash e autores principais do artigo.<\/p>\n\n\n\n

Eles responderam por e-mail a algumas perguntas enviadas pela reportagem da BBC News Brasil<\/p>\n\n\n\n

A mec\u00e2nica \u00e9 relativamente simples: no calor, o suor ajuda a manter a temperatura corporal est\u00e1vel. Mas a perda de l\u00edquidos pode dificultar o trabalho dos rins, que sofrem para cumprir a sua miss\u00e3o de filtrar o sangue e manter o equil\u00edbrio de diversas subst\u00e2ncias essenciais para nossa sobreviv\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

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Com 12 cent\u00edmetros e 150 gramas, os rins s\u00e3o respons\u00e1veis por uma s\u00e9rie de fun\u00e7\u00f5es vitais, como a filtragem do sangue – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Esses \u00f3rg\u00e3os, ent\u00e3o, podem passar por crises agudas e deixam de funcionar como deveriam ou sofrem com infec\u00e7\u00f5es e inflama\u00e7\u00f5es decorrentes de todo esse desgaste.<\/p>\n\n\n\n

O trabalho rec\u00e9m publicado ainda observou que a sa\u00fade renal de alguns grupos acaba mais afetada pelo aumento da temperatura. Os que mais sofrem com a subida do calor s\u00e3o as mulheres, as crian\u00e7as com menos de 4 anos e os idosos com mais de 80 anos.<\/p>\n\n\n\n

Para o patologista Paulo Saldiva, professor da Faculdade de Medicina da USP e um dos cientistas brasileiros que assinam o estudo, dois fatores ajudam a explicar essa maior vulnerabilidade, especialmente nos extremos da vida.<\/p>\n\n\n\n

“Indiv\u00edduos muito jovens ou muito idosos costumam ter o ‘termostato’ do corpo, que envolve receptores na pele respons\u00e1veis por perceber o calor, imaturo ou desregulado. Com isso, o organismo n\u00e3o aciona muito bem os mecanismos que regulam a temperatura”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, \u00e9 necess\u00e1rio ofertar \u00e1gua continuamente para pessoas dessas faixas et\u00e1rias, pois a percep\u00e7\u00e3o de sede \u00e9 diferente e se modifica ao longo da vida.<\/p>\n\n\n\n

Sem a vontade de beber \u00e1gua (ou sem a possibilidade de pegar um copo por conta pr\u00f3pria, no caso dos beb\u00eas), o risco de desidrata\u00e7\u00e3o fica ainda mais alto. E essa sequ\u00eancia de caracter\u00edsticas e particularidades dessas idades prejudica, mais uma vez, os rins.<\/p>\n\n\n\n

Uma ‘epidemia’ silenciosa<\/h2>\n\n\n\n

A m\u00e9dica Andrea Pio de Abreu, diretora da Sociedade Brasileira de Nefrologia, classifica as doen\u00e7as renais como um problema de sa\u00fade p\u00fablica oculto no pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

“No Brasil, uma em cada dez pessoas tem doen\u00e7a renal e muitas nem sabem disso, pois n\u00e3o apresentam sintomas e nunca fizeram o diagn\u00f3stico”, alerta a nefrologista, que n\u00e3o esteve envolvida diretamente com a pesquisa publicada no The Lancet<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

“O problema \u00e9 que esses quadros podem permanecer ocultos por anos e os rins s\u00f3 d\u00e3o algum sinal quando operam com menos de 50% da capacidade original”, conta.<\/p>\n\n\n\n

Segundo dados da pr\u00f3pria Sociedade Brasileira de Nefrologia e outras entidades da \u00e1rea de sa\u00fade, cerca de 140 mil brasileiros passam por di\u00e1lise atualmente. O procedimento, feito algumas vezes na semana, exige que o paciente se conecte a uma m\u00e1quina, que passa a fazer o trabalho de filtragem do sangue.<\/p>\n\n\n\n

A di\u00e1lise \u00e9 indicada num est\u00e1gio avan\u00e7ado das doen\u00e7as renais, onde os \u00f3rg\u00e3os n\u00e3o conseguem mais realizar seu trabalho como antes.<\/p>\n\n\n\n

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A cada ano, 20 mil brasileiros s\u00e3o encaminhados para a di\u00e1lise por conta de problemas renais – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Abreu alerta que hipertens\u00e3o (press\u00e3o alta) e diabetes s\u00e3o as principais causadoras de problemas do tipo.<\/p>\n\n\n\n

“Juntas, essas duas enfermidades s\u00e3o respons\u00e1veis por mais de 70% dos casos de doen\u00e7a renal cr\u00f4nica”, calcula.<\/p>\n\n\n\n

A m\u00e9dica tamb\u00e9m se mostra preocupada com as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e essa rela\u00e7\u00e3o entre temperatura e sa\u00fade dos rins evidenciada no estudo. “Os quadros de desidrata\u00e7\u00e3o s\u00e3o muito frequentes em \u00e9pocas de calor intenso, e precisamos ter cada vez mais aten\u00e7\u00e3o com esse risco”, admite.<\/p>\n\n\n\n

Como se proteger?<\/h2>\n\n\n\n

Cuidar dos rins num cen\u00e1rio de aquecimento global exige as mais variadas a\u00e7\u00f5es, que v\u00e3o desde atitudes simples at\u00e9 pol\u00edticas p\u00fablicas complexas.<\/p>\n\n\n\n

Os cientistas Guo e Li adiantam que as cidades mais afetadas pelas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas precisar\u00e3o criar sistemas de alarme para proteger a sa\u00fade das pessoas.<\/p>\n\n\n\n

“Alguns pa\u00edses, por exemplo, v\u00e3o necessitar de uma comunica\u00e7\u00e3o eficiente para ensinar a popula\u00e7\u00e3o sobre os cuidados e eventualmente at\u00e9 criar ‘centros de resfriamento’ nas temporadas de ver\u00e3o”, sugerem.<\/p>\n\n\n\n

Saldiva tamb\u00e9m cita as mudan\u00e7as em ambientes urbanos que podem segurar o avan\u00e7o da temperatura. “\u00c9 preciso fazer uma recomposi\u00e7\u00e3o da cobertura vegetal das cidades, que em muitos casos viraram um deserto de lajes de concreto”, classifica.<\/p>\n\n\n\n

“Nos per\u00edodos de calor, tamb\u00e9m devemos ter maior aten\u00e7\u00e3o com os mais vulner\u00e1veis, como crian\u00e7as e idosos, se hidratar bem e usar roupas leves”, acrescenta o patologista.<\/p>\n\n\n\n

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Tomar cuidado com a hidrata\u00e7\u00e3o, especialmente nos dias mais quentes, \u00e9 o primeiro passo para cuidar dos rins – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Tamb\u00e9m \u00e9 importante passar por consultas m\u00e9dicas regularmente, controlar diabetes e hipertens\u00e3o e fazer testes simples que avaliam a sa\u00fade renal, como o exame de urina e a dosagem da creatinina no sangue, que s\u00e3o amplamente acess\u00edveis no sistema p\u00fablico brasileiro”, acrescenta Abreu.<\/p>\n\n\n\n

Por fim, a nefrologista cita uma estrat\u00e9gia f\u00e1cil de adotar no dia a dia para prevenir problemas mais s\u00e9rios: olhar a cor da urina, que deve sempre ser amarela clara ou quase transparente.<\/p>\n\n\n\n

“Se ela estiver muito amarelada ou escura, \u00e9 sinal de que n\u00e3o estamos bebendo \u00e1gua o suficiente”, conclui a m\u00e9dica.<\/p>\n\n\n\n

Urg\u00eancia das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas<\/h2>\n\n\n\n

Pesquisas desse tipo j\u00e1 haviam sido feitas em outros pa\u00edses.<\/p>\n\n\n\n

“At\u00e9 ent\u00e3o, os estudos que investigam as doen\u00e7as renais relacionadas ao calor foram conduzidos nos pa\u00edses desenvolvidos, e t\u00ednhamos poucos dados dispon\u00edveis sobre o que acontece em na\u00e7\u00f5es de baixa e m\u00e9dia renda, como o Brasil”, observam Guo e Li.<\/p>\n\n\n\n

“Essas enfermidades s\u00e3o uma preocupa\u00e7\u00e3o na sa\u00fade p\u00fablica e estiveram relacionadas com 2,5 milh\u00f5es de mortes no mundo em 2017. Precisamos entender melhor como as altera\u00e7\u00f5es de temperatura influenciam esse cen\u00e1rio”, dizem os especialistas.<\/p>\n\n\n\n

Para o patologista Paulo Saldiva, entender a rela\u00e7\u00e3o entre fatores ambientais e sa\u00fade aproxima a amea\u00e7a das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas da realidade de todos n\u00f3s.<\/p>\n\n\n\n

“Aquele discurso distante, de que precisamos mudar as coisas para estabilizar a temperatura daqui a 70 anos e salvar a Amaz\u00f4nia e os ursos polares, \u00e9 substitu\u00eddo pela urg\u00eancia do agora, pois o problema est\u00e1 aqui na nossa frente”, analisa.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o precisamos esperar tanto tempo para a situa\u00e7\u00e3o ficar ruim. As mudan\u00e7as clim\u00e1ticas est\u00e3o acontecendo e j\u00e1 afetam a nossa sa\u00fade”, chama a aten\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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