{"id":175018,"date":"2021-11-22T17:03:27","date_gmt":"2021-11-22T20:03:27","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=175018"},"modified":"2021-11-22T17:03:30","modified_gmt":"2021-11-22T20:03:30","slug":"ra-misteriosa-desenvolveu-conjunto-completo-de-dentes","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/11\/22\/175018-ra-misteriosa-desenvolveu-conjunto-completo-de-dentes.html","title":{"rendered":"R\u00e3 misteriosa desenvolveu conjunto completo de dentes"},"content":{"rendered":"\n
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As r\u00e3s marsupiais de Guenther t\u00eam denti\u00e7\u00e3o completa, desafiando a teoria evolucion\u00e1ria. Este esp\u00e9cime do adulto, pequeno o bastante para caber na palma da m\u00e3o, pertence ao Museu de Hist\u00f3ria Natural da Universidade de Kansas.
FOTO DE\u00a0OF ZACH RANDALL, FLORIDA MUSEUM OF NATURAL HISTORY<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Com membros longos e chifres vistosos sobre os olhos, a r\u00e3 marsupial de Guenther \u00e9 um anf\u00edbio de apar\u00eancia bizarra origin\u00e1rio das florestas \u00famidas das encostas andinas. Assim como outras r\u00e3s marsupiais, essa esp\u00e9cie, conhecida como Gastrotheca guentheri<\/em>, n\u00e3o produz girinos que nadam livremente na \u00e1gua, ela cria sua prole sob uma camada de pele que tem nas costas.<\/p>\n\n\n\n

Mas esta r\u00e3 tem uma caracter\u00edstica ainda mais intrigante: uma denti\u00e7\u00e3o completa.<\/p>\n\n\n\n

Espera. R\u00e3s t\u00eam dentes? Na verdade, sim: a maioria tem um pequeno n\u00famero de dentes na mand\u00edbula superior. Mas praticamente todas as 7 mil r\u00e3s vivas atualmente n\u00e3o t\u00eam dentes ao longo da mand\u00edbula inferior \u2013 exceto a G. guentheri<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

Infelizmente, esta esp\u00e9cie n\u00e3o \u00e9 avistada desde 1996 \u2013 e, mesmo antes disso, raramente era encontrada ou estudada. Existem poucas amostras preciosas destes animais nas cole\u00e7\u00f5es dos museus – deve existir menos de 30 esp\u00e9cimes no mundo inteiro. Portanto, n\u00e3o existiam imagens reais dos dentes em si.<\/p>\n\n\n\n

Essa escassez de estudos deixou muitas quest\u00f5es pendentes, incluindo uma muito simples: Qual era a apar\u00eancia da mand\u00edbula desta r\u00e3 t\u00e3o estranha?<\/p>\n\n\n\n

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Uma tomografia computadorizada da mand\u00edbula e dos dentes da r\u00e3 marsupial de Guenther, a primeira vis\u00e3o clara dos dentes do animal.
FOTO DE\u00a0CT SCAN BY DANIEL PALUH<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n
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Uma vis\u00e3o aproximada dos dentes da r\u00e3.
FOTO DE\u00a0CT SCAN BY DANIEL PALUH<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Daniel Paluh, herpetologista e doutorando da Universidade da Fl\u00f3rida, queria preencher essa lacuna de conhecimento. Juntamente com colegas do Museu de Hist\u00f3ria Natural da Fl\u00f3rida, ele usou um micro-tom\u00f3grafo para examinar os cr\u00e2nios de seis esp\u00e9cimes de G. guentheri<\/em> que est\u00e3o preservados em \u00e1lcool h\u00e1 d\u00e9cadas.<\/p>\n\n\n\n

As imagens e an\u00e1lises resultantes deste estudos, publicados em 10 de novembro na revista cient\u00edfica Evolution, fornecem o primeiro vislumbre detalhado da mand\u00edbula e dos dentes desta esp\u00e9cie.<\/p>\n\n\n\n

Dentes perdidos, dentes recuperados <\/h3>\n\n\n\n

O estudo tamb\u00e9m ajudou a responder a outras quest\u00f5es. H\u00e1 cerca de 230 milh\u00f5es de anos, os ancestrais das r\u00e3s modernas perderam para sempre os dentes de suas mand\u00edbulas inferiores. Assim sendo, por que a r\u00e3 marsupial de Guenther tem dentes e como foi que eles surgiram?<\/p>\n\n\n\n

Paluh e seus colegas demonstraram claramente que esses dentes s\u00e3o genu\u00ednos, formados por um tecido \u00f3sseo chamado dentina e envoltos em esmalte, refutando sugest\u00f5es de que essas estruturas podiam ser “pseudo-dentes”. Os pesquisadores tamb\u00e9m descobriram que esses dentes, provenientes do Museu de Hist\u00f3ria Natural da Universidade do Kansas, se parecem muito com os dentes presentes ao longo das mand\u00edbulas superiores de outras r\u00e3s marsupiais – refor\u00e7ando a sua autenticidade.<\/p>\n\n\n\n

Essas descobertas fornecem evid\u00eancias tentadoras que refutam uma teoria evolucion\u00e1ria centen\u00e1ria conhecida como Lei da Irreversibilidade de Dollo. Cunhada pelo paleontologista Louis Dollo, a teoria postula que, uma vez que um tra\u00e7o \u00e9 perdido em um grupo de organismos, desaparece para sempre. Um organismo n\u00e3o pode evoluir novamente algo que o seu antepassado perdeu, assim como humanos n\u00e3o desenvolveram caudas novamente.<\/p>\n\n\n\n

Embora a l\u00f3gica da teoria pare\u00e7a estar correta, bi\u00f3logos evolucionistas j\u00e1 descobriram brechas na Lei de Dollo com exemplos que v\u00e3o desde lagartos que desenvolveram novamente a postura de ovos e bicho-paus que perdem e recuperam as asas.<\/p>\n\n\n\n

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Uma ilustra\u00e7\u00e3o da r\u00e3 marsupial de Guenther, que n\u00e3o \u00e9 avistada por cientistas desde 1996.
FOTO DE\u00a0ILLUSTRATION BY GABRIEL UGUETO<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Mas a evolu\u00e7\u00e3o de dentes de G. guentheri<\/em> pode ser o caso mais improv\u00e1vel de todos. Em 2011, o bi\u00f3logo evolucionista John Wiens reconstruiu as rela\u00e7\u00f5es evolutivas entre 170 esp\u00e9cies diferentes de r\u00e3s para criar uma linha temporal   entre o momento em que as r\u00e3s perderam os dentes inferiores, h\u00e1 230 milh\u00f5es de anos, e o momento em que a G. guentheri<\/em> recuperou os seus dentes. Wiens descobriu que os dentes s\u00f3 foram recuperados h\u00e1 cerca de 20 milh\u00f5es de anos, um intervalo de tempo “sem precedentes” entre a perda de uma caracter\u00edstica e o seu reaparecimento.<\/p>\n\n\n\n

Wiens, que atualmente trabalha na universidade do Arizona e n\u00e3o estava envolvido no estudo recente, acredita que G. guentheri<\/em> teve uma vantagem quando se tratava de desenvolver novamente os dentes – ainda tinha uma rede funcional de genes para criar dentes ao longo da mand\u00edbula superior.<\/p>\n\n\n\n

\u201cN\u00e3o \u00e9 como se eles tivessem que desenvolver novamente os dentes a partir do zero\u201d, disse Wiens. \u201c\u00c9 s\u00f3 uma quest\u00e3o de os colocar em um lugar onde n\u00e3o estavam h\u00e1 200 milh\u00f5es de anos.”<\/p>\n\n\n\n

Esse processo seria provavelmente imposs\u00edvel em outros anf\u00edbios saltitantes, tais como os sapos, que s\u00e3o completamente desdentados. John Abramyan, um bi\u00f3logo na universidade de Michigan-Dearborn que tamb\u00e9m n\u00e3o estava envolvido no estudo, investigou recentemente os genes que codificam o esmalte nos sapos que perderam completamente seus dentes h\u00e1 cerca de 60 milh\u00f5es anos. Ele descobriu que o genes haviam essencialmente se degenerado em pseudogenes ao longo de milh\u00f5es de anos.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEstes genes est\u00e3o essencialmente desempregados” e n\u00e3o s\u00e3o funcionais, disse Abramyan. \u201c[Mas] como a maioria das r\u00e3s ainda produz dentes em suas mand\u00edbulas superiores, em teoria, t\u00eam todas as ferramentas necess\u00e1rias para fazer um dente funcional, n\u00e3o sendo assim um salto evolutivo.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Um enigma evolucion\u00e1rio<\/h3>\n\n\n\n

No entanto, isso n\u00e3o nos diz por que ou como essa esp\u00e9cie recuperou seus dentes inferiores, embora a dieta certamente tenha um papel importante, disse Paluh. Sendo a principal ferramenta que os animais usam para morder e mastigar seus alimentos, os dentes s\u00e3o muitas vezes moldados pelo que est\u00e1 no card\u00e1pio. Paluh acredita que a tend\u00eancia da maioria das r\u00e3s de comer pequenos insetos, e o uso de l\u00ednguas pegajosas para prender presas, tornaram os dentes menos importantes para algumas esp\u00e9cies. Por\u00e9m, a G. guentheri<\/em> possui um apetite saud\u00e1vel que inclui presas do tamanho de lagartos e outros sapos. Quando se tenta ca\u00e7ar presas grandes, pode ser \u00fatil ter dentes inferiores para prender uma presa que est\u00e1 se contorcendo.<\/p>\n\n\n\n

Mas se os dentes reapareceram para ajudar a r\u00e3 marsupial de Guenther a engolir presas maiores, por que os dentes n\u00e3o evolu\u00edram em outras r\u00e3 carn\u00edvoras? Algumas r\u00e3s, como os enormes sapos “Pacman” da Am\u00e9rica do Sul, ostentam dentes pontudos ao longo da mand\u00edbula inferior para segurar a presa. Mas esses dentes s\u00e3o pseudo-dentes – extens\u00f5es \u00f3sseas da mand\u00edbula, sem dentina e esmalte.<\/p>\n\n\n\n

Algumas respostas podem estar escondidas nos embri\u00f5es das r\u00e3s-arbor\u00edcolas, de acordo com Alexa Sadier, uma bi\u00f3loga evolucion\u00e1ria da universidade de Calif\u00f3rnia-Los Angeles. Apesar de explorar principalmente a evolu\u00e7\u00e3o dos dentes em morcegos, ela recentemente fez a revis\u00e3o de v\u00e1rios casos em que caracter\u00edsticas desaparecidas permaneciam nos est\u00e1gios iniciais do desenvolvimento de uma criatura. Sadier acredita que comparar o desenvolvimento da G. guentheri<\/em> com o de embri\u00f5es de outras esp\u00e9cies de r\u00e3s pode ajudar a obter informa\u00e7\u00f5es sobre como e quando os genes ativam ou desativam a forma\u00e7\u00e3o dos dentes.<\/p>\n\n\n\n

Ela espera que, se os investigadores analisarem os embri\u00f5es, encontrar\u00e3o mais evid\u00eancia dos dentes que desapare\u00e7am durante desenvolvimento- assim como o mecanismo gen\u00e9tico que acompanha esse processo.<\/p>\n\n\n\n

Paluh tamb\u00e9m espera fazer um trabalho gen\u00e9tico de desenvolvimento na r\u00e3, mas embri\u00f5es frescos n\u00e3o s\u00e3o uma op\u00e7\u00e3o vi\u00e1vel – um esp\u00e9cime vivo de G. guentheri<\/em> n\u00e3o \u00e9 avistado na natureza desde 1996, nem no sop\u00e9 \u00famido e vulc\u00e2nico da Reserva Ecol\u00f3gica de Cotacachi Cayapas, no Equador, onde costumavam prosperar. Embora pouco se saiba sobre esses animais, sabe-se que seu n\u00famero diminuiu \u00e0 medida que a agricultura e a explora\u00e7\u00e3o madeireira devastam as florestas \u00famidas do Equador e da Col\u00f4mbia. Alguns temem que a esp\u00e9cie j\u00e1 esteja extinta.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, n\u00e3o seria a primeira vez que uma r\u00e3 supostamente extinta seria redescoberta. Em 2018, por exemplo, pesquisadores encontraram a r\u00e3 marsupial com chifres (Gastrotheca cornuta<\/em>) depois de n\u00e3o a conseguir avistar por 13 anos nas mesmas florestas \u00famidas equatorianas onde a G. guentheri<\/em> vivia.<\/p>\n\n\n\n

Paluh espera que a r\u00e3 marsupial de Guenther reapare\u00e7a-at\u00e9 porque amostras vivas deste anf\u00edbio ser\u00e3o cruciais para aprender mais sobre seus dentes e resolver este enigma evolucion\u00e1rio.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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