{"id":175212,"date":"2021-12-01T16:51:14","date_gmt":"2021-12-01T19:51:14","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=175212"},"modified":"2021-12-01T16:51:16","modified_gmt":"2021-12-01T19:51:16","slug":"fossil-raro-contem-camarao-antigo-preservado-dentro-de-marisco","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/12\/01\/175212-fossil-raro-contem-camarao-antigo-preservado-dentro-de-marisco.html","title":{"rendered":"F\u00f3ssil raro cont\u00e9m camar\u00e3o antigo preservado dentro de marisco"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a>
Um dos tr\u00eas camar\u00f5es fossilizados que foram preservados dentro de um antigo marisco.
FOTO DE\u00a0SCHOOL OF ENVIRONMENTAL AND RURAL SCIENCE, UNIVERSITY OF NEW ENGLAND<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

H\u00e1 cerca de 100 milh\u00f5es de anos, quando os dinossauros vagavam pelo planeta, tr\u00eas pequenos camar\u00f5es partiram em busca de um esconderijo. Talvez precisassem de ref\u00fagio contra predadores por estarem longe da prote\u00e7\u00e3o de recifes de corais e escolheram um marisco enorme: n\u00e3o era o maior das redondezas, por\u00e9m era aconchegante com pouco mais de 25 cent\u00edmetros de largura.<\/p>\n\n\n\n

T\u00e3o logo se estabeleceram, foram imersos em lodo e lama. O ref\u00fagio procurado de repente se transformou em t\u00famulo. E ali permaneceram at\u00e9 2016, quando um agricultor australiano os encontrou. A concha fossilizada contendo os tr\u00eas camar\u00f5es, cada um com cerca de tr\u00eas cent\u00edmetros de comprimento, est\u00e1 agora no\u00a0museu Kronosaurus Korner, na Austr\u00e1lia.<\/p>\n\n\n\n

Recentemente\u00a0descrito no peri\u00f3dico\u00a0Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology,<\/em>\u00a0o f\u00f3ssil representa o exemplar mais antigo de um camar\u00e3o usando outra criatura (ou a casa de outra criatura) como abrigo \u2014 algo ainda observado em camar\u00f5es vivos nos dias atuais.<\/em>\u00a0Esse comportamento, conhecido como inquilinismo, existe em muitos animais, tanto terrestres quanto marinhos.<\/p>\n\n\n\n

Como os camar\u00f5es fossilizados foram preservados inteiros, provavelmente estavam vivos na concha quando foram imersos subitamente em lama, talvez durante um terremoto ou tempestade intensa. Se houvessem sido levados para dentro da concha depois de morrer, n\u00e3o estariam intactos. \u201cCamar\u00f5es s\u00e3o bastante delicados\u201d, afirma\u00a0Ren\u00e9 Fraaije, diretor do museu de hist\u00f3ria natural Oertijdmuseum, nos Pa\u00edses Baixos, que n\u00e3o participou do estudo. \u201cQuando s\u00e3o encontrados esp\u00e9cimes completos com a casca, a cauda e as patas ainda interligadas ao corpo, geralmente foram preservados na condi\u00e7\u00e3o em que morreram.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Os camar\u00f5es podem ter entrado no marisco para fazer ninho ou a muda, mas n\u00e3o h\u00e1 evid\u00eancias desses comportamentos. Podem ter tentado escapar da tempestade que acabou os sepultando, mas \u00e9 quase imposs\u00edvel determinar uma sequ\u00eancia t\u00e3o curta de eventos como essa \u201csem uma m\u00e1quina do tempo\u201d, observa\u00a0Russel Bicknell, paleont\u00f3logo da Universidade da Nova Inglaterra, na Austr\u00e1lia, e autor principal do novo estudo.<\/p>\n\n\n\n

Segundo Bicknell, uma explica\u00e7\u00e3o prov\u00e1vel \u00e9 que os camar\u00f5es estivessem seguindo um instinto b\u00e1sico de sobreviv\u00eancia: se escondendo de predadores. \u201cO camar\u00e3o estava bastante longe do topo da cadeia alimentar\u201d, conta ele. \u201cQuase todos os outros animais existentes, exceto criaturas como bivalves que se alimentam por filtragem, poderiam ter abocanhado esses pequenos crust\u00e1ceos.\u201d<\/p>\n\n\n\n

O esp\u00e9cime \u00e9 o mais recente acr\u00e9scimo a uma lista que pouco a pouco est\u00e1 aumentando de criaturas fossilizadas em busca de abrigo em outros animais e indica a bi\u00f3logos que alguns camar\u00f5es j\u00e1 adotam o inquilinismo h\u00e1 ao menos 100 milh\u00f5es de anos.<\/p>\n\n\n\n

\u201c\u00c9 uma grande descoberta\u201d, afirma\u00a0Ninon Robin, paleont\u00f3loga do Instituto Real Belga de Ci\u00eancias Naturais, que n\u00e3o participou do estudo. \u201c\u00c9 bastante raro encontrar exemplares como esses associados. \u00c9 preciso ter muita sorte.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Intruso comedido<\/h3>\n\n\n\n

No espectro das parcerias de organismos, o inquilinismo se enquadra entre a simbiose, ben\u00e9fica a ambos os organismos, e o parasitismo, em que um organismo tira proveito do outro. Se o organismo hospedeiro ainda estiver vivo \u2014 como ocorre muitas vezes, por exemplo, com pequenos caranguejos da esp\u00e9cie Pinnotheres ostreum<\/em> aninhados dentro de mexilh\u00f5es \u2014 ele n\u00e3o se beneficiar\u00e1 com a rela\u00e7\u00e3o, mas tamb\u00e9m n\u00e3o ser\u00e1 prejudicado. O intruso obt\u00e9m alguma seguran\u00e7a sem precisar oferecer algo em troca.<\/p>\n\n\n\n

Um inquilino cl\u00e1ssico \u00e9 o caranguejo-eremita. Ele n\u00e3o constr\u00f3i a pr\u00f3pria concha \u00e0 medida que cresce, mas depende das descartadas por outros animais produtores de conchas, como caramujos. O caranguejo-eremita precisa de conchas alheias para sua sobreviv\u00eancia, mas, para outros inquilinos, como o camar\u00e3o, \u00e9 mais uma quest\u00e3o de conveni\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

O inquilinismo \u201ccome\u00e7ou bastante cedo\u201d na hist\u00f3ria da vida animal, afirma\u00a0Adi\u00ebl Klompmaker, paleont\u00f3logo da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo. O\u00a0animal mais antigo conhecido provavelmente evoluiu h\u00e1 mais de 541 milh\u00f5es de anos, embora\u00a0algumas evid\u00eancias indiquem que os primeiros animais tenham surgido muito antes; animais com conchas\u00a0provavelmente se originaram logo depois.<\/p>\n\n\n\n

Pouco ap\u00f3s o desenvolvimento das conchas pelos primeiros animais, conta Klompmaker, outros animais come\u00e7aram a us\u00e1-las para se esconder. A\u00a0mais antiga evid\u00eancia f\u00f3ssil plaus\u00edvel de inquilinismo\u00a0\u00e9 um conjunto de trilobitas, grupo extinto de artr\u00f3podes marinhos, encontrado no interior de conchas de nautiloides, grupo de cefal\u00f3podes que datam do per\u00edodo Ordoviciano, ocorrido entre 485 e 444 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s. Uma variedade de habitantes oce\u00e2nicos tamb\u00e9m\u00a0foi encontrada\u00a0em\u00a0amonitas, moluscos extintos com conchas espirais caracter\u00edsticas que podem atingir\u00a0cerca de 1,8 metro\u00a0de di\u00e2metro.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAnimais como nautiloides e amonitas grandes oferecem muito mais prote\u00e7\u00e3o porque h\u00e1 mais espa\u00e7o para um animal se refugiar\u201d, explica Bicknell. Mas, se necess\u00e1rio, uma concha de marisco poderia servir tamb\u00e9m.<\/p>\n\n\n\n

Escondendo-se do perigo<\/h3>\n\n\n\n

Al\u00e9m dos tr\u00eas camar\u00f5es dentro de um marisco, os paleont\u00f3logos encontraram outro marisco maior, abrigando cerca de 30 peixinhos fossilizados na mesma forma\u00e7\u00e3o geol\u00f3gica. O marisco com peixes ainda n\u00e3o foi descrito em detalhes em um artigo cient\u00edfico, mas ter dois esp\u00e9cimes bem preservados de pequenos organismos vivendo no mesmo tipo de marisco \u00e9 bastante sugestivo de que as criaturas procuraram ref\u00fagio devido a uma amea\u00e7a ambiental, observa Bicknell.<\/p>\n\n\n\n

Se essas criaturas buscavam prote\u00e7\u00e3o contra predadores, como acredita Bicknell, podem n\u00e3o ter encontrado outro lugar para se esconder. N\u00e3o h\u00e1 evid\u00eancias de recifes de corais na regi\u00e3o, algo que provavelmente ofereceria melhores ref\u00fagios para camar\u00f5es e outros animais em n\u00edveis inferiores na cadeia alimentar.<\/p>\n\n\n\n

\u201cExistem muitos perigos no fundo do mar\u201d, afirma Klompmaker. Longe dos recifes, na falta de op\u00e7\u00f5es para se ocultar de predadores, um camar\u00e3o poderia se refugiar at\u00e9 mesmo em um bivalve.<\/p>\n\n\n\n

Tenha o camar\u00e3o de fato se mudado para o marisco para se esconder de predadores ou de amea\u00e7as ambientais, o certo \u00e9 que o f\u00f3ssil preserva as primeiras evid\u00eancias da vida desses animais no fundo do mar. \u201cDesde o in\u00edcio, adaptaram-se a essa ecologia muito espec\u00edfica\u201d, conta Robin. \u201cEssa era a \u00fanica maneira de prosperarem.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Bicknell est\u00e1 animado com a descoberta. \u201c\u00c9 incr\u00edvel terem sido encontrados esses f\u00f3sseis, preservados casualmente, como agulhas no palheiro\u201d, prossegue ele. \u201c\u00c9 como se fossem c\u00e1psulas do tempo que nos oferecem uma vis\u00e3o muito n\u00edtida da intera\u00e7\u00e3o dos membros de um ecossistema extinto entre si.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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