{"id":175237,"date":"2021-12-03T09:49:28","date_gmt":"2021-12-03T12:49:28","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=175237"},"modified":"2021-12-03T09:49:30","modified_gmt":"2021-12-03T12:49:30","slug":"inseticidas-podem-reduzir-fertilidade-de-abelhas-e-causar-danos-duradouros","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/12\/03\/175237-inseticidas-podem-reduzir-fertilidade-de-abelhas-e-causar-danos-duradouros.html","title":{"rendered":"Inseticidas podem reduzir fertilidade de abelhas e causar danos duradouros"},"content":{"rendered":"\n
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Abelhas da esp\u00e9cie\u00a0Osmia lignaria\u00a0<\/em>s\u00e3o polinizadoras fundamentais de culturas frut\u00edferas e de diversas esp\u00e9cies nativas.
FOTO DE\u00a0JENNIFER BOSVERT, ALAMY STOCK PHOTO<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

As abelhas da esp\u00e9cie Osmia lignaria<\/em> ocupam-se em polinizar \u00e1rvores frut\u00edferas de culturas populares como ma\u00e7\u00e3s, cerejas, am\u00eandoas, p\u00eassegos e muitas outras. Tamb\u00e9m polinizam diversas plantas com flores nativas dos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

A esp\u00e9cie \u00e9 aproximadamente do tamanho de uma abelha mel\u00edfera, no entanto s\u00e3o bastante diferentes: com corpo de cor azul-met\u00e1lico, estilo de vida solit\u00e1rio e prefer\u00eancia por carregar p\u00f3len nos pelos do abd\u00f4men, em vez das patas.<\/p>\n\n\n\n

Essas abelhas, como muitos polinizadores, s\u00e3o essenciais para a agricultura e extremamente vulner\u00e1veis a uma classe de pesticidas denominada neonicotinoides, ou ne\u00f4nicos.<\/p>\n\n\n\n

Uma nova pesquisa revela que um dos produtos qu\u00edmicos agr\u00edcolas mais amplamente utilizados, um ne\u00f4nico chamado imidacloprida, n\u00e3o apenas prejudica as abelhas O. lignaria <\/em>diretamente, mas tem efeitos negativos que podem ser observados atrav\u00e9s das gera\u00e7\u00f5es desses insetos.<\/p>\n\n\n\n

Conforme descrito em\u00a0um estudo publicado\u00a0em 22 de novembro no peri\u00f3dico\u00a0Proceedings of the National Academy of Sciences<\/em>, descendentes de abelhas capturadas na natureza expostos a pequenas quantidades de imidacloprida ainda enquanto larvas \u2014 provenientes de p\u00f3len e n\u00e9ctar contaminado dado a elas por suas m\u00e3es \u2014 reproduziram 20% menos do que as abelhas\u00a0O. lignaria<\/em>\u00a0n\u00e3o expostas ao inseticida. Algumas das abelhas foram expostas ao pesticida mais de uma vez ao longo da vida e cada exposi\u00e7\u00e3o reduziu ainda mais a fertilidade.<\/p>\n\n\n\n

\u201cOs efeitos s\u00e3o aditivos \u2014 n\u00e3o se pode considerar que apenas uma exposi\u00e7\u00e3o causou esse efeito\u201d, explica a l\u00edder do estudo\u00a0Clara Stuligross, doutoranda da Universidade da Calif\u00f3rnia em Davis, nos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

Isso \u00e9 importante, uma vez que as abelhas t\u00eam contato com os pesticidas repetidamente ao longo de suas vidas no meio ambiente. Esses efeitos cumulativos e multigeracionais n\u00e3o s\u00e3o levados em considera\u00e7\u00e3o nas avalia\u00e7\u00f5es de risco ambiental, que medem os danos causados por pesticidas e s\u00e3o utilizadas por legisladores na regulamenta\u00e7\u00e3o de produtos qu\u00edmicos, declara Stuligross.<\/p>\n\n\n\n

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Abelha\u00a0O. lignaria<\/em>\u00a0na entrada de seu ninho. Na natureza, os insetos nidificam em cavidades preexistentes, mas tamb\u00e9m utilizam t\u00faneis artificiais, como este bloco de ninho feito por pesquisadores. As f\u00eameas fornecem p\u00f3len e n\u00e9ctar aos filhotes e os cobrem com lama.
FOTO DE\u00a0CLARA STULIGROSS<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O artigo se baseia em amplas evid\u00eancias de que os neonicotinoides desempenham um\u00a0papel no decl\u00ednio das popula\u00e7\u00f5es de abelhas e outros insetos ben\u00e9ficos\u00a0\u2014 mas sugere que os efeitos podem persistir atrav\u00e9s das gera\u00e7\u00f5es, salienta\u00a0Steve Peterson, pesquisador, apicultor e propriet\u00e1rio da propriedade Foothill Bee Ranch no norte da Calif\u00f3rnia, que cria abelhas\u00a0O. lignaria\u00a0<\/em>e outras esp\u00e9cies.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEssas descobertas apoiam o que muitos de n\u00f3s, apicultores, inclusive de abelhas solit\u00e1rias, suspeitamos que esteja acontecendo em campos agr\u00edcolas\u201d, comenta Peterson, que n\u00e3o participou do artigo. \u201cObservamos quedas dr\u00e1sticas em todos os tipos de insetos nas \u00faltimas d\u00e9cadas e grande parte pode ser devido a res\u00edduos de pesticidas no meio ambiente.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Abelhas mel\u00edferas\u00a0e nativas tamb\u00e9m s\u00e3o amea\u00e7adas pelo aquecimento e pelas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, parasitas como \u00e1caros varroa, pat\u00f3genos, perda da diversidade de plantas associada ao desenvolvimento e outros fatores. O decl\u00ednio \u00e9 dr\u00e1stico: um estudo recente constatou que\u00a0n\u00e3o vimos um quarto das esp\u00e9cies de abelhas conhecidas\u00a0desde a d\u00e9cada de 1990.<\/p>\n\n\n\n

Abelhas e produtos qu\u00edmicos<\/h3>\n\n\n\n

As abelhas O. lignaria<\/em> fazem seus ninhos em buracos escavados por outros insetos, cavidades de \u00e1rvores ou, \u00e0s vezes, no solo. As f\u00eameas colocam v\u00e1rios ovos e utilizam lama para fazer um compartimento de barro para cada um.<\/p>\n\n\n\n

Depois de emergir no in\u00edcio da primavera do Hemisf\u00e9rio Norte, as abelhas passam alguns dias se alimentando antes do acasalamento. Em seguida, as f\u00eameas p\u00f5em ovos e abastecem cada um com um punhado de p\u00f3len e n\u00e9ctar. Algumas semanas depois, elas morrem. As larvas se desenvolvem em subadultos durante o ver\u00e3o e emergem do ninho na primavera seguinte, reiniciando o ciclo.<\/p>\n\n\n\n

Esse aumento da poliniza\u00e7\u00e3o no in\u00edcio da primavera \u00e9 fundamental para muitas \u00e1rvores frut\u00edferas: as abelhas\u00a0O. lignaria<\/em>\u00a0s\u00e3o polinizadoras melhores e mais eficientes\u00a0do que as abelhas mel\u00edferas, pois s\u00e3o mais eficazes na movimenta\u00e7\u00e3o de grandes quantidades de p\u00f3len.<\/p>\n\n\n\n

No estudo, Stuligross e seus colegas criaram gaiolas de voo a c\u00e9u aberto para dezenas de abelhas O. lignaria<\/em> contendo diversas plantas com flores. Em algumas das gaiolas de voo, cinco semanas antes das abelhas serem introduzidas, os cientistas encharcaram o solo com a f\u00f3rmula de imidacloprida mais comumente utilizada na Calif\u00f3rnia, um produto chamado AdmirePro, fabricado pela Bayer Crop Science.<\/p>\n\n\n\n

Os cientistas aplicaram o pesticida no n\u00edvel m\u00e1ximo recomendado no r\u00f3tulo, simulando as condi\u00e7\u00f5es apresentadas no mundo real. Um porta-voz da Bayer respondeu a um pedido de coment\u00e1rio da National Geographic<\/strong> concordando que os n\u00edveis de imidacloprida utilizados nesse estudo eram \u201crelevantes para o campo\u201d, mas que os resultados do estudo \u201cn\u00e3o eram relevantes\u201d porque \u201cas instru\u00e7\u00f5es do r\u00f3tulo pro\u00edbem a aplica\u00e7\u00e3o antes e durante a flora\u00e7\u00e3o\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Embora esse inseticida seja geralmente aplicado a culturas (como am\u00eandoas) ap\u00f3s a flora\u00e7\u00e3o, Stuligross respondeu que s\u00e3o utilizados durante todo o ano em ambientes agr\u00edcolas. Pesquisas demostram que as abelhas O. lignaria<\/em> polinizadoras de amendoeiras, por exemplo, ainda est\u00e3o sendo expostas ao imidacloprida durante sua curta vida adulta nos n\u00edveis observados nesse estudo.<\/p>\n\n\n\n

Ap\u00f3s as abelhas serem introduzidas no ambiente, viveram nas gaiolas de voo por algumas semanas, polinizando flores, construindo ninhos e coletando n\u00e9ctar e p\u00f3len para seus filhotes. Nesse est\u00e1gio, o inseticida j\u00e1 havia sido absorvido pelas flores e estava presente em todos os seus tecidos.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAs abelhas est\u00e3o sendo expostas por meio do p\u00f3len e do n\u00e9ctar\u201d, explica Stuligross. A natureza sist\u00eamica do ne\u00f4nico (de incorporar-se aos tecidos vegetais em vez de matar insetos atrav\u00e9s do contato) torna os produtos qu\u00edmicos \u201ct\u00f3xicos, mas eficazes\u201d para matar determinadas pragas, como pulg\u00f5es, acrescenta ela \u2014 mas tamb\u00e9m prejudica inadvertidamente os polinizadores.<\/p>\n\n\n\n

Peterson acrescenta que as abelhas tamb\u00e9m podem se expor \u00e0 subst\u00e2ncia atrav\u00e9s do solo, j\u00e1 que utilizam lama para fazer seus ninhos.<\/p>\n\n\n\n

Os neonicotinoides matam os insetos ligando-se \u00e0s c\u00e9lulas nervosas e interrompendo a transmiss\u00e3o de impulsos el\u00e9tricos. S\u00e3o menos t\u00f3xicos para os mam\u00edferos, embora sejam prejudiciais para muitos invertebrados, incluindo os aqu\u00e1ticos, como os crust\u00e1ceos e o pl\u00e2ncton, que formam a base dos ecossistemas de \u00e1gua doce.<\/p>\n\n\n\n

Os pesquisadores utilizaram um esquema cruzado, em que algumas abelhas foram expostas enquanto larvas \u00e0 imidacloprida presente no p\u00f3len e no n\u00e9ctar transportado por suas m\u00e3es a partir de plantas as quais a subst\u00e2ncia fora pulverizada no solo. Outras abelhas foram expostas como larvas e adultas; algumas apenas na idade adulta; e outras n\u00e3o foram expostas.<\/p>\n\n\n\n

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Abelha\u00a0O. lignaria<\/em>\u00a0forrageando na flor silvestre nativa\u00a0Phacelia tanacetifolia<\/em>. Quando as abelhas coletam p\u00f3len e n\u00e9ctar das flores podem ser expostas a inseticidas que por conseguinte est\u00e3o presentes no alimento que fornecem a seus filhotes. Marca\u00e7\u00f5es coloridas nas abelhas ajudam os pesquisadores a diferenci\u00e1-las para medir o comportamento de nidifica\u00e7\u00e3o e reprodu\u00e7\u00e3o.
FOTO DE\u00a0CLARA STULIGROSS<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Eles descobriram que a cada exposi\u00e7\u00e3o a fertilidade reduzia, e que esse processo se intensificava. Enquanto as abelhas expostas apenas quando larvas reproduziram cerca de 20% menos do que os insetos n\u00e3o expostos, aquelas expostas no in\u00edcio e no fim da vida apresentaram uma taxa de reprodu\u00e7\u00e3o 44% menor. Como as abelhas t\u00eam mais de 20 descendentes, isso significa uma diferen\u00e7a de 10 abelhas. As abelhas expostas apenas na idade adulta reproduziram 30% menos.<\/p>\n\n\n\n

Os pesquisadores ainda n\u00e3o sabem como a imidacloprida afeta a fertilidade, mas n\u00e3o \u00e9 surpreendente que um veneno que ataca o sistema nervoso central pudesse ter esse resultado.<\/p>\n\n\n\n

Esses efeitos s\u00e3o \u201cbastante dr\u00e1sticos\u201d, reitera Stuligross, e certamente s\u00e3o um dos motivos pelos quais algumas popula\u00e7\u00f5es de abelhas est\u00e3o diminuindo em algumas \u00e1reas.<\/p>\n\n\n\n

O estudo demonstra que \u201cas aplica\u00e7\u00f5es nos dias atuais de imidacloprida ter\u00e3o repercuss\u00f5es para gera\u00e7\u00f5es de abelhas mesmo muito tempo depois\u201d, observa\u00a0Charlie Nicholson, pesquisador de p\u00f3s-doutorado na Universidade de Lund, na Su\u00e9cia. Atualmente, essas repercuss\u00f5es n\u00e3o s\u00e3o levadas em considera\u00e7\u00e3o na avalia\u00e7\u00e3o dos produtos qu\u00edmicos, diz ele.<\/p>\n\n\n\n

\u201c\u00c9 um exemplo evidente de como o passado est\u00e1 presente no sentido ecotoxicol\u00f3gico. Em um sentido mais amplo, essas descobertas me fazem considerar que traumas geracionais tamb\u00e9m s\u00e3o vivenciados no mundo animal.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Evid\u00eancias de danos<\/h3>\n\n\n\n

Crescentes evid\u00eancias revelam que, nos Estados Unidos, os neonicotinoides s\u00e3o prejudiciais aos insetos que s\u00e3o ben\u00e9ficos. Embora estudos anteriores tenham se concentrado especialmente nos efeitos letais, mais dados revelam preocupa\u00e7\u00f5es a respeito dos impactos subletais. Por exemplo, um artigo recente verificou que a\u00a0imidacloprida reduz muito a fertilidade das abelhas solit\u00e1rias da esp\u00e9cie\u00a0Peponapis pruinosa<\/em>\u00a0e outro estudo constatou que o produto qu\u00edmico\u00a0reduz a atividade nas mitoc\u00f4ndrias das abelhas mel\u00edferas, onde a energia celular \u00e9 gerada.<\/p>\n\n\n\n

Devido aos danos a polinizadores e outros insetos, o uso ao ar livre de neonicotinoides como a imidacloprida \u00e9 proibido na Uni\u00e3o Europeia. Muitos apicultores e pesquisadores questionam por que ainda s\u00e3o aprovados nos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEspero que a Ag\u00eancia de Prote\u00e7\u00e3o Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em ingl\u00eas) analise estudos como esse e considere cuidadosamente esses tipos de efeitos em sua avalia\u00e7\u00e3o de risco\u201d, enfatiza Peterson. \u201cEu realmente acredito que estudos multigeracionais e de contato indireto precisam ser exigidos como parte da avalia\u00e7\u00e3o de risco para pesticidas.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Precisamos fazer mais para \u201cajudar as abelhas, especificamente nessas \u00e1reas [agr\u00edcolas]\u201d, conclui Stuligross. Uma maneira f\u00e1cil de ajud\u00e1-las \u00e9 utilizar menos pesticidas ou\u00a0cultivar plantas nativas, sempre que poss\u00edvel.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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