{"id":175574,"date":"2021-12-20T18:10:06","date_gmt":"2021-12-20T21:10:06","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=175574"},"modified":"2021-12-20T18:10:10","modified_gmt":"2021-12-20T21:10:10","slug":"retrospectiva-em-termos-climaticos-2021-foi-um-ano-de-extremos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/12\/20\/175574-retrospectiva-em-termos-climaticos-2021-foi-um-ano-de-extremos.html","title":{"rendered":"Retrospectiva: em termos clim\u00e1ticos, 2021 foi um ano de extremos"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a>
Inc\u00eandio na Calif\u00f3rnia em 27 de julho de 2021 (Foto: Russ Allison Loar\/Flickr)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O ano que se finda come\u00e7ou com muitas expectativas na agenda ambiental em raz\u00e3o da\u00a015\u00aa Confer\u00eancia das Partes pela Biodiversidade (COP15)\u00a0para adotar a nova Estrat\u00e9gia Global de Biodiversidade do per\u00edodo de 2021 a 2050 e da\u00a0COP26, que visava pactuar as regras de implementa\u00e7\u00e3o do\u00a0Acordo de Paris.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, 2021 termina entrando para a\u00a0hist\u00f3ria\u00a0como o ano de maior ocorr\u00eancia de\u00a0eventos clim\u00e1ticos extremos, de acordo com o\u00a0Relat\u00f3rio Preliminar do Estado do Clima Global em 2021<\/em>, publicado pela Organiza\u00e7\u00e3o Meteorol\u00f3gica Mundial (WMO) no final de outubro.\u00a0Inc\u00eandios florestais, ondas de calor e frio, secas, tempestades, inunda\u00e7\u00f5es, ciclones fora de \u00e9poca assolaram todos os continentes em intensidade recorde.<\/p>\n\n\n\n

Segundo os cientistas da WMO, as rela\u00e7\u00f5es e retroalimenta\u00e7\u00f5es entre os sistemas atmosf\u00e9rico, terrestre, oce\u00e2nico e as camadas de gelo est\u00e3o sendo alteradas em decorr\u00eancia das concentra\u00e7\u00f5es in\u00e9ditas de\u00a0gases de efeito estufa\u00a0e do calor acumulado associado, impulsionando o planeta para um territ\u00f3rio desconhecido, que gera efeitos disruptivos em cascata nos sistemas ambientais, sociais e econ\u00f4micos.<\/p>\n\n\n\n

O n\u00edvel m\u00e9dio do mar global atingiu um novo m\u00e1ximo em 2021: a taxa de aumento mais que dobrou em menos de tr\u00eas d\u00e9cadas, passando de 2,1 mil\u00edmetros (mm) por ano entre 1993 e 2002 para 4,4 mm por ano entre 2013 e 2021.<\/p>\n\n\n\n

Temperaturas bateram recordes regionais em v\u00e1rias partes do mundo. A pequena cidade de Lytton, no sudoeste do\u00a0Canad\u00e1, atingiu 49,6\u00b0C em junho, quebrando o recorde nacional anterior em 4,6 \u00b0C, numa onda de calor que gerou a maior perda de massa registrada em\u00a0geleiras\u00a0no pa\u00eds. Na\u00a0It\u00e1lia, a temperatura na regi\u00e3o da Sic\u00edlia chegou a 48,8\u00b0C, um recorde europeu; e o Vale da Morte, na\u00a0Calif\u00f3rnia, atingiu 54,4\u00b0C, igualando um valor semelhante ao de 2020, o mais alto registrado no mundo.<\/p>\n\n\n\n

Houve tamb\u00e9m recorde de frio. O estado do Texas, nos EUA, conhecido por seus amplos desertos e fortes\u00a0ondas de calor, foi coberto por uma grossa camada de gelo, com algumas regi\u00f5es registrando o frio mais intenso em mais de um s\u00e9culo.<\/p>\n\n\n\n

O ano de 2021 tamb\u00e9m registrou precipita\u00e7\u00f5es extremas: em 20 de julho, a cidade de Zhengzhou recebeu 202 mm de chuva em uma hora, um recorde na\u00a0China. Ainda em julho, a Europa Ocidental experimentou algumas das inunda\u00e7\u00f5es mais severas j\u00e1 registradas no continente, que atingiram o oeste da Alemanha e o leste da B\u00e9lgica, resultando em 215 mortes e mais de US$ 20 bilh\u00f5es em perdas econ\u00f4micas. E houve a \u201cbomba de umidade\u201d no oeste do Canad\u00e1, quando um volume de chuva equivalente a um m\u00eas caiu em apenas dois dias.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Enchentes assolaram a Alemanha em 2021 (Foto: SamuelFrancisJohnson\/Pixabay)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Pelo terceiro ano consecutivo, ocorreram grandes inc\u00eandios florestais durante o ver\u00e3o na\u00a0Sib\u00e9ria. Na costa oeste da\u00a0Am\u00e9rica do Norte, a ocorr\u00eancia de fogo foi severa devido \u00e0s condi\u00e7\u00f5es recordes de seca e altas temperaturas da primavera, e em julho a fuma\u00e7a dos inc\u00eandios nessa regi\u00e3o chegou \u00e0s cidades da costa leste. Na Europa, algumas regi\u00f5es de Fran\u00e7a, It\u00e1lia, Gr\u00e9cia e Turquia sofreram os piores inc\u00eandios florestais da hist\u00f3ria.<\/p>\n\n\n\n

Quase no fechamento de 2021, condi\u00e7\u00f5es meteorol\u00f3gicas incomuns, como ar \u00famido e quente em uma \u00e9poca do ano em que isso n\u00e3o \u00e9 esperado, provocaram a passagem de uma s\u00e9rie de\u00a0tornados no sudeste dos EUA, que atingiram principalmente o estado de Kentucky.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

E o Brasil n\u00e3o escapou aos eventos extremos.\u00a0Chuvas\u00a0persistentes acima da m\u00e9dia na primeira metade do ano no norte da bacia amaz\u00f4nica levaram a inunda\u00e7\u00f5es significativas e de longa dura\u00e7\u00e3o na regi\u00e3o, com o rio Negro em Manaus atingindo seu n\u00edvel mais alto j\u00e1 registrado, com pico de 30,02 metros. Na Bahia, 51 munic\u00edpios decretaram emerg\u00eancia por conta das fortes chuvas que atingiram a regi\u00e3o em dezembro.<\/p>\n\n\n\n

No outro extremo, uma\u00a0seca considerada a maior em mais de 90 anos\u00a0afetou grande parte da regi\u00e3o subtropical da\u00a0Am\u00e9rica do Sul\u00a0pelo segundo ano consecutivo, incluindo grande parte do centro e sul do Brasil, al\u00e9m de Paraguai, Uruguai e norte da Argentina. O governo brasileiro declarou situa\u00e7\u00e3o de escassez cr\u00edtica de recursos h\u00eddricos na bacia hidrogr\u00e1fica do Paran\u00e1, com numerosos reservat\u00f3rios nos n\u00edveis mais baixos dos \u00faltimos 20 anos, o que reduziu a produ\u00e7\u00e3o de hidroeletricidade, levando o pa\u00eds \u00e0 beira do colapso energ\u00e9tico. A seca gerou tamb\u00e9m perdas agr\u00edcolas significativas, afetando o volume e a qualidade de safras como milho, cana-de-a\u00e7\u00facar, laranja, feij\u00e3o e caf\u00e9.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Agosto de 2021: \u00e1rea pr\u00f3xima ao reservat\u00f3rio do Rio Jacare\u00ed, no Sistema Cantareira, que voltou a atingir n\u00edvel cr\u00edtico sete anos ap\u00f3s crise h\u00eddrica hist\u00f3rica. (Foto: Tiago Queiroz\/Estad\u00e3o Conte\u00fado)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Evidentemente, nem todos esses eventos extremos podem ser relacionados \u00e0s\u00a0mudan\u00e7as clim\u00e1ticas\u00a0induzidas pela a\u00e7\u00e3o humana, mas tal incid\u00eancia teria sido imposs\u00edvel sem o fen\u00f4meno. Nos n\u00edveis atuais de\u00a0emiss\u00f5es globais\u00a0de gases de efeito estufa, o mundo continua a caminho de exceder a meta de aquecimento de 1,5 \u00b0C acima dos n\u00edveis pr\u00e9-industriais estabelecida no Acordo de Paris, em 2015, para evitar os piores impactos da emerg\u00eancia clim\u00e1tica.<\/p>\n\n\n\n

Mesmo se os novos compromissos oficiais firmados na COP26 em novembro e outras promessas relacionadas \u2013 como a redu\u00e7\u00e3o das emiss\u00f5es de\u00a0metano\u00a0e o fim do\u00a0desmatamento\u00a0\u2013 forem cumpridos, o\u00a0aquecimento global\u00a0n\u00e3o ser\u00e1 inferior a 1,8 \u00b0C.\u00a0 Mas, a depender das tend\u00eancias de desmatamento no Brasil, esse cen\u00e1rio ser\u00e1 ainda pior.<\/p>\n\n\n\n

Apesar de a pol\u00edtica ambiental para proteger a\u00a0Amaz\u00f4nia\u00a0continuar a atrair a aten\u00e7\u00e3o global, com amea\u00e7as de perda de investimentos estrangeiros, boicote a produtos nacionais e de san\u00e7\u00f5es comerciais de outros pa\u00edses, o desmatamento na regi\u00e3o voltou a crescer em 2021. Foram perdidos 13.235 km2 de floresta, um\u00a0aumento de 22% em rela\u00e7\u00e3o a 2020 e o maior desmatamento desde 2006.<\/p>\n\n\n\n

O Par\u00e1 continuou a liderar o ranking dos estados, sendo respons\u00e1vel por 40% do total, mas mostrou uma desacelera\u00e7\u00e3o na taxa de desmatamento anual. O Amazonas ficou em segundo lugar, respons\u00e1vel por 18% do total e ultrapassando pela primeira vez o Mato Grosso. Preocupantemente, a perda florestal no Amazonas foi 55% maior em 2021 em compara\u00e7\u00e3o a 2020.<\/p>\n\n\n\n

No\u00a0Cerrado, a tend\u00eancia tamb\u00e9m foi de aumento: cerca de 8,5% em rela\u00e7\u00e3o a 2020, uma \u00e1rea de cerca de 4.500 km\u00b2, concentrada sobretudo no oeste da Bahia e sul do Maranh\u00e3o, em munic\u00edpios produtores de soja. Esses quase 18 mil km\u00b2 de vegeta\u00e7\u00e3o nativa perdida na Amaz\u00f4nia e no Cerrado \u2013 uma \u00e1rea tr\u00eas vezes maior que o Distrito Federal \u2013 resultaram na emiss\u00e3o de aproximadamente 200 milh\u00f5es de toneladas de\u00a0CO2.<\/p>\n\n\n\n

E tem mais: em 2021, as\u00a0queimadas\u00a0continuaram a assolar os dois maiores biomas do Brasil. Dados do INPE de novembro indicam neste ano o terceiro maior \u00edndice de inc\u00eandios na Amaz\u00f4nia, atr\u00e1s apenas de 2020 e 2015, com mais de 14,6 mil focos registrados e uma \u00e1rea de 45 mil km\u00b2. O Cerrado foi o bioma mais atingido, com 137 mil km\u00b2 queimados. A nota de atenua\u00e7\u00e3o vem do\u00a0Pantanal, com uma redu\u00e7\u00e3o de 53% na \u00e1rea queimada em rela\u00e7\u00e3o aos catastr\u00f3ficos inc\u00eandios de 2020.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Em 2021, as queimadas continuaram a assolar os dois maiores biomas do Brasil (Foto: Bruno Kelly\/Amaz\u00f4nia Real)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A minera\u00e7\u00e3o foi o outro vil\u00e3o do ano na Amaz\u00f4nia. Entre janeiro e agosto, a \u00e1rea desmatada pelo setor ultrapassou a de todo o ano de 2020 e adentrou ainda mais\u00a0terras ind\u00edgenas\u00a0e\u00a0unidades de conserva\u00e7\u00e3o, acentuando uma tend\u00eancia observada desde 2019. Mas os rastros da minera\u00e7\u00e3o se estendem muito al\u00e9m da floresta perdida, comprometendo diretamente a qualidade das \u00e1guas de rios e a\u00a0sa\u00fade\u00a0da biodiversidade e das comunidades.<\/p>\n\n\n\n

Entre junho e setembro, a lama provocada pela atividade garimpeira percorreu centenas de quil\u00f4metros do rio Tapaj\u00f3s, turvando suas \u00e1guas transparentes. Em novembro, numa vers\u00e3o fluvial de Serra Pelada, a corrida ao ouro chegou de forma intensa ao Rio Madeira, na regi\u00e3o do munic\u00edpio de Autazes (AM). A not\u00edcia de que havia sido encontrado ouro no leito do rio atraiu mais de 300 dragas e balsas. A atividade se dissipou por meio de uma opera\u00e7\u00e3o da Pol\u00edcia Federal com o apoio das For\u00e7as Armadas no dia 27 de novembro, em que mais de 130 balsas foram apreendidas ou destru\u00eddas.<\/p>\n\n\n\n

Apesar dessa retrospectiva ambiental um tanto negativa, h\u00e1 iniciativas que come\u00e7am a tomar corpo. Novos compromissos assumidos pelas na\u00e7\u00f5es mais ricas na COP26 estabeleceram uma meta de US$ 100 bilh\u00f5es em 2022 ou 2023 voltada a a\u00e7\u00f5es de mitiga\u00e7\u00e3o das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. Isso inclui US$ 8 bilh\u00f5es anuais destinados a conserva\u00e7\u00e3o de florestas e outras solu\u00e7\u00f5es baseadas na natureza, como a restaura\u00e7\u00e3o de \u00e1reas degradadas com vegeta\u00e7\u00e3o nativa.<\/p>\n\n\n\n

O aumento e o alcance dos eventos clim\u00e1ticos extremos em 2021 deixaram claro que todas as na\u00e7\u00f5es do mundo, ricas ou n\u00e3o, das pequenas ilhas \u00e0quelas de dimens\u00f5es quase continentais, n\u00e3o est\u00e3o imunes, e que a redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es de gases de efeito estufa \u00e9 responsabilidade de todos \u2013 governos, setores privados e cidad\u00e3os.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Galileu<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"