{"id":175617,"date":"2021-12-23T10:30:45","date_gmt":"2021-12-23T13:30:45","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=175617"},"modified":"2021-12-23T10:30:47","modified_gmt":"2021-12-23T13:30:47","slug":"por-que-o-legado-de-chico-mendes-continua-atual-33-anos-depois-de-sua-morte","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2021\/12\/23\/175617-por-que-o-legado-de-chico-mendes-continua-atual-33-anos-depois-de-sua-morte.html","title":{"rendered":"Por que o legado de Chico Mendes continua atual, 33 anos depois de sua morte"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a>
Antrop\u00f3loga Mary Allegretti conheceu Chico Mendes 1981 \u2014 Foto: Arquivo Pessoal\/Mary Allegretti<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Nunca um tiro de espingarda ecoou t\u00e3o longe e continua lembrado por tanto tempo. O que matou o seringueiro Chico Mendes, na boca da noite do dia 22 de dezembro de 1988, quando ele se preparava para tomar banho nos fundos de sua casa em Xapuri, uma pequena cidade na floresta amaz\u00f4nica no Acre, reverberou pelo planeta inteiro.<\/p>\n\n\n\n

Quase instantaneamente, virou manchete nos principais jornais e destaque no notici\u00e1rios da TVs de todo mundo.<\/p>\n\n\n\n

Morto uma semana depois de seu anivers\u00e1rio de 44 anos, ocorrido no dia 15 \u2014 teria completado 77 anos neste ano \u2014,\u00a0Chico Mendes era um dos pioneiros da defesa da preserva\u00e7\u00e3o da floresta amaz\u00f4nica e deixou um legado pol\u00edtico e ambientalista que ainda perdura<\/strong>.<\/p>\n\n\n\n

“Ele colocou a Amaz\u00f4nia no centro do debate e chamou aten\u00e7\u00e3o do mundo para sua preserva\u00e7\u00e3o”, diz o hoje advogado e membro do Comit\u00ea Chico Mendes, uma organiza\u00e7\u00e3o n\u00e3o governamental ambientalista, Gomercindo Rodrigues, o Guma, que o conheceu em 1984, se tornou seu amigo e foi uma das \u00faltimas pessoas fora da fam\u00edlia a ver o seringueiro com vida, poucos minutos antes de seu assassinato.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com outra amiga de Chico Mendes, a antrop\u00f3loga Mary Allegretti, que o conheceu em 1981, quando era professora da Universidade Federal do Paran\u00e1 (UFPR) e fazia pesquisa para seu doutorado, como continuidade da que havia realizado para o mestrado em seringais do Acre, ele antecipou a rela\u00e7\u00e3o entre sociedade e meio ambiente ao mostrar que as pessoas protegem este quando dependem dele para viver.<\/p>\n\n\n\n

“Se no passado, essa constata\u00e7\u00e3o era aplicada \u00e0s popula\u00e7\u00f5es tradicionais que viviam desses recursos, hoje as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas est\u00e3o mostrando que toda a humanidade depende da natureza para sobreviver”, diz.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

“Sua causa continua muito atual e necess\u00e1ria.”<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Para o bi\u00f3logo e doutor em Ecologia Paulo Brack, do Instituto de Bioci\u00eancias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro da coordena\u00e7\u00e3o do Instituto Ga\u00facho de Estudos Ambientais (InG\u00e1), o seringueiro do Acre teve um papel fundamental em dar maior visibilidade \u00e0s causas comuns ambientais com a tem\u00e1tica social, em especial das comunidades locais que sofrem das mesmas causas de um modelo econ\u00f4mico em grande parte degradador dos recursos naturais.<\/p>\n\n\n\n

“Ele foi um exemplo de esfor\u00e7o pela unidade nas lutas comunit\u00e1rias de grupos sociais, que desejam manter seus modos de vida digna, um bem viver talvez ut\u00f3pico, em maior harmonia com a natureza, desapegados da loucura pela acumula\u00e7\u00e3o reinante”, explica.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, nasceu em um seringal chamado Porto Rico, no munic\u00edpio de Xapuri, pertinho da fronteira do Acre com a Bol\u00edvia, a 68 km da cidade mais pr\u00f3xima daquele pa\u00eds, Cobija.<\/p>\n\n\n\n

Filho de seringueiro, seringueiro \u00e9 \u2014 pelo era menos naquela \u00e9poca. Ele passou sua inf\u00e2ncia e juventude ao lado do pai colhendo l\u00e1tex da Hevea brasiliensis, o nome cient\u00edfico da seringueira.<\/p>\n\n\n\n

Embrenhado na mata, sem escola num raio de quil\u00f4metros, Chico foi analfabeto at\u00e9 os 16 anos. O encontro que viria a mudar isso e a hist\u00f3ria posterior da sua vida ocorreu em 1956, quando ele tinha 12 anos.<\/p>\n\n\n\n

Foi a\u00ed que ele conheceu o refugiado pol\u00edtico Euclides Fernandes T\u00e1vora, que havia participado, junto com o l\u00edder comunista Lu\u00eds Carlos Prestes do chamado levante comunista em 1935, uma tentativa de golpe contra o governo do presidente\u00a0Get\u00falio Vargas.<\/p>\n\n\n\n

Fugindo da pol\u00edcia, T\u00e1vora se refugiou na floresta no Acre, justamente na regi\u00e3o em que Chico vivia. O contato e a amizade com o ativista lhe abriram as portas do conhecimento, que, posteriormente, o levou \u00e0 milit\u00e2ncia pol\u00edtica e ambiental. T\u00e1vora o alfabetizou e passou a ele ideias sobre o comunismo e no\u00e7\u00f5es sobre a hist\u00f3ria e a realidade social do Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Depois disso, mais instru\u00eddo que seus companheiros seringueiros, Chico Mendes passou a pensar e se questionar sobre os problemas da sua regi\u00e3o e, principalmente, de seu trabalho, baseado na extra\u00e7\u00e3o da borracha, uma atividade econ\u00f4mica que historicamente sempre havia gerado conflitos e mis\u00e9ria na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

Ela era alicer\u00e7ada no chamado “aviamento”, isto \u00e9, na troca do l\u00e1tex coletado pelos seringueiros por produtos e mercadorias industriais. Era uma rela\u00e7\u00e3o desigual, na qual os extrativistas sempre ficavam devendo.<\/p>\n\n\n\n

Foi nesse contexto que come\u00e7aram a serem criados os primeiros sindicatos de seringueiros no Acre, hist\u00f3ria na qual Chico esteve envolvido desde o come\u00e7o.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 em 1975, ele passou a integrar a diretoria do Sindicato de Trabalhadores Rurais (STR) de Brasil\u00e9ia, o primeiro criado no Acre, e que era presidido por Wilson Pinheiro.<\/p>\n\n\n\n

Um ano depois, esse sindicato criou a estrat\u00e9gia dos chamados “empates” das derrubadas, nos quais os seringueiros desmontavam os acampamentos e paravam as motosserras dos pe\u00f5es dos fazendeiros encarregadas de derrubar floresta.<\/p>\n\n\n\n

Como era de se esperar, essas a\u00e7\u00f5es desagradaram os propriet\u00e1rios dos seringais. Por causa de sua atua\u00e7\u00e3o \u00e0 frente do sindicato, Pinheiro foi assassinado em 21 de julho de 1980.<\/p>\n\n\n\n

Sua lideran\u00e7a n\u00e3o ficou vaga por muito tempo, no entanto. Em 1983, Chico Mendes foi eleito presidente do STR de Xapuri e continuou e intensificou a luta pelos direitos dos seringueiros, al\u00e9m da luta em defesa da floresta e contra a ditadura.<\/p>\n\n\n\n

Da\u00ed ent\u00e3o at\u00e9 seu assassinato, sua atua\u00e7\u00e3o e seu prest\u00edgio, principalmente no exterior, s\u00f3 cresceram.<\/p>\n\n\n\n

A antrop\u00f3loga Mary lembra que atua\u00e7\u00e3o pol\u00edtica institucional de Chico havia come\u00e7ado um pouco antes.<\/p>\n\n\n\n

“Em 1981, quando o conheci, ele j\u00e1 era vereador [exerceu o cargo de 1977 a 1982, na C\u00e2mara Municipal de Xapuri]”, conta.<\/p>\n\n\n\n

“O Acre vivia um momento cr\u00edtico de venda de antigos seringais para empresas do sul do Brasil, que passaram a desmatar a floresta e expulsar os seringueiros. Chico liderava o movimento dos empates – impedir as derrubadas e defender o meio de vida dos seringueiros, baseado na coleta de borracha e de castanha.”<\/p>\n\n\n\n

Hoje, ela diz que ficou “muito impressionada” com o trabalho que ele fazia e com o movimento dos empates, tanto que resolveu ajud\u00e1-los.<\/p>\n\n\n\n

“Chico queria organizar escolas e cooperativas para tirar os seringueiros do analfabetismo e eu ajudei a implantar o Projeto Seringueiro de Educa\u00e7\u00e3o, abrindo as primeiras escolas na floresta”, relembra.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

“Ficamos muito amigos em consequ\u00eancia desse projeto.”<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Uma das consequ\u00eancias disso foi que, em 1985, os dois organizaram juntos o 1\u00ba Encontro Nacional dos Seringueiros, em Bras\u00edlia, no qual surgiu a ideia da reforma agr\u00e1ria do seringais – a prote\u00e7\u00e3o da floresta sem a divis\u00e3o de lotes para as fam\u00edlias, mas como uma grande reserva ambiental.<\/p>\n\n\n\n

“Reuni advogados e v\u00e1rias lideran\u00e7as dos seringueiros e formulamos a proposta de Reserva Extrativista, unidade de conserva\u00e7\u00e3o de uso sustent\u00e1vel e ajudamos a criar as primeiras unidades. Eu e Chico mantivemos parceria pol\u00edtica e amizade at\u00e9 1988, quando ele foi assassinado. O IEA continua apoiando o movimento dos seringueiros em toda a Amaz\u00f4nia.”<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Ang\u00e9lica e \u00c2ngela Mendes, neta e filha do seringueiro \u2014 Foto: Andr\u00e9 D\u2019Elia<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O dia daquele ano em que Chico foi morto n\u00e3o sai da mem\u00f3ria de Guma.<\/p>\n\n\n\n

“Eu estive com ele minutos antes do tiro fatal”, conta.<\/p>\n\n\n\n

“Ele tinha estado viajando at\u00e9 o dia anterior, participando de um encontro de seringueiros em Sena Madureira [a 144 km de Rio Branco e a 333 de Xapuri], trabalhando na organiza\u00e7\u00e3o regional do Conselho Nacional de Seringueiros. Ele voltou para Rio Branco e por aqui ficou resolvendo a burocracia para libera\u00e7\u00e3o de um caminh\u00e3o que havia sido concedido mediante o empr\u00e9stimo BNDES para o Conselho Nacional de Seringueiros para ser repassado a cooperativa de Xapuri.”<\/p>\n\n\n\n

De acordo com Guma, Chico chegou a Xapuri, no dia 21, com o caminh\u00e3o novo.<\/p>\n\n\n\n

“As pessoas estavam admiradas”, lembra.<\/p>\n\n\n\n

“Mas nem todas positivamente. Havia muito preconceito, de boa parte da cidade, contra o Chico, especialmente por causa das disputas pol\u00edticas. Ele era um militante pol\u00edtico e isso dava uma certa divis\u00e3o na cidade. Quando ele chegou, eu estava muito preocupado, porque j\u00e1 fazia dias que eu n\u00e3o via os pistoleiros.”<\/p>\n\n\n\n

Aqui Guma contextualiza sua preocupa\u00e7\u00e3o. Ele conta que, de maio a dezembro daquele ano de 1988, todos os dias, em frente ao sindicato, dois pistoleiros ficavam postados o dia inteiro.<\/p>\n\n\n\n

“Eles ficavam por ali, sentados na pra\u00e7a, na sombra de uma \u00e1rvore que tinha em frente”, explica.<\/p>\n\n\n\n

“Al\u00e9m disso, havia sempre dois pistoleiros tamb\u00e9m em frente ao local onde eu morava, em Xapuri, que ficava a cerca de 200 metros do sindicato, numa outra rua. E de repente eles tinham sumido.”<\/p>\n\n\n\n

Quando Chico Mendes chegou \u00e0 cidade, perguntou a Guma como estava a situa\u00e7\u00e3o. Ele respondeu que estava muito preocupado.<\/p>\n\n\n\n

“Eu realmente estava angustiado, cora\u00e7\u00e3o apertado, e falei para ele que estava muito preocupado, porque eu n\u00e3o estava vendo os pistoleiros”, conta.<\/p>\n\n\n\n

“O Chico respondeu que no dia seguinte daria uma olhada na situa\u00e7\u00e3o. Ent\u00e3o, no outro dia, 22 de dezembro, j\u00e1 final da tarde, por volta das 18h, eu cheguei na casa dele e o encontrei jogando domin\u00f3, um dos seus hobbies, com dois dos policiais que estavam fazendo a seguran\u00e7a dele.”<\/p>\n\n\n\n

Chico o convidou para participar do jogo, mas Guma preferiu ficar de fora, porque continuava angustiado e preocupado.<\/p>\n\n\n\n

Nesse ponto, a segunda mulher do seringueiro, Ilzamar, disse a ele que queria servir o jantar, porque iria come\u00e7ar a novela.<\/p>\n\n\n\n

“Era uma quinta-feira, dia do pen\u00faltimo cap\u00edtulo de Vale Tudo, cujo grande mist\u00e9rio era quem havia matado Odete Roitman”, lembra o amigo.<\/p>\n\n\n\n

“O Chico me convidou para jantar, mas eu recusei, dizendo que continuava preocupado. Ele me falou que tamb\u00e9m n\u00e3o tinha visto os pistoleiros e que isso era realmente estranho.”<\/p>\n\n\n\n

Guma disse que daria uma volta pela cidade e Chico reiterou o convite para jantar.<\/p>\n\n\n\n

“Ele falou: ‘Ent\u00e3o, vai, enquanto vou tomar um banho, e volta para jantar'”, relembra.<\/p>\n\n\n\n

“Com minha moto de 125 cilindradas, andei por todos os pontos, onde os pistoleiros sempre estavam, inclusive numa chacarazinha na qual eles faziam umas festas priv\u00eas. N\u00e3o encontrei nada, tudo vazio, tudo \u00e0s moscas e em sil\u00eancio. Eu n\u00e3o sei em que ponto eu estava da cidade quando deram o tiro. Quando fui chegando com a moto, a mulher dele saiu gritando: ‘\u00d4 Guma, atiraram no Chico’.”<\/p>\n\n\n\n

Enquanto socorriam o seringueiro e o levavam ao hospital “num caminh\u00e3ozinho”, Guma foi em casa se armar.<\/p>\n\n\n\n

“Peguei um rev\u00f3lver que eu tinha, carreguei, peguei mais duas carga de bala, coloquei numa bolsa a tiracolo e fui at\u00e9 o hospital, mas n\u00e3o me deixaram entrar”, conta.<\/p>\n\n\n\n

“Ent\u00e3o comecei a telefonar paras pessoas, para avisar. Liguei para Rio Branco, Bras\u00edlia, Rio de Janeiro, para Mary (Allegretti) em Curitiba, enfim, para os amigos, os avisando.”<\/p>\n\n\n\n

Guma voltou ent\u00e3o ao hospital e, desta vez, o deixaram entrar, embora estivesse de bermuda, motivo pelo qual havia sido impedido da primeira vez.<\/p>\n\n\n\n

“Quando eu passei do hall de entrada do hospital, numa sala ao lado vi uma maca”, recorda.<\/p>\n\n\n\n

“O Chico estava nela, estendido s\u00f3 de short – ele ia tomar banho – com o lado direito do peito todo perfurado de chumbo.”<\/p>\n\n\n\n

O estrago no peito do seringueiro foi feito por um tiro de uma espingarda calibre 20, com cartucho carregado com gr\u00e2nulos de chumbo que se espalham, disparado por Darci Alves, a mando do seu pai, o grileiro de terras Darly Alves, ent\u00e3o conhecido por casos de viol\u00eancia em v\u00e1rio lugares do Brasil.<\/p>\n\n\n\n

A repercuss\u00e3o mundial foi tamanha que, pela primeira vez, um assassinato em conflito agr\u00e1rio no norte do pa\u00eds foi a julgamento e acabou em condena\u00e7\u00e3o dos acusados.<\/p>\n\n\n\n

Em 1990, os dois foram condenados a 19 anos de pris\u00e3o, fato in\u00e9dito na \u00e9poca.<\/p>\n\n\n\n

Em 1993, Darci e Darly fugiram, mas foram recapturados em 1996. Por causa de problemas de sa\u00fade, tr\u00eas anos depois o pai conseguiu o direito de cumprir a pena em pris\u00e3o domiciliar. No mesmo ano de 1999, o filho passou ao regime semiaberto, em Xapuri. Ao final da pena, ele se mudou para Bras\u00edlia e se tornou pastor evang\u00e9lico.<\/p>\n\n\n\n

A grande repercuss\u00e3o de seu assassinato tem explica\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

“Chico Mendes tinha uma forma\u00e7\u00e3o pol\u00edtica consistente sem ser radical e articulava apoio \u00e0 luta dos seringueiros com a Igreja, os partidos pol\u00edticos, a universidade, a imprensa”, explica Mary.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

“Tinha um pensamento claro a respeito da import\u00e2ncia e do valor da floresta e lutava para defender que a floresta em p\u00e9 valia mais do que derrubada – foi ele quem primeiro expressou essa ideia que hoje todos reconhecem como verdadeira.”<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Por isso, ele era muito atacado no Acre, principalmente depois que suas ideias passaram a ser conhecidas e respeitadas em n\u00edvel internacional.<\/p>\n\n\n\n

“No 1\u00ba Encontro em Bras\u00edlia, ele conheceu um diretor de document\u00e1rios baseado em Londres, Adrian Cowell, que passou a filmar seu trabalho e o recomendou para dois pr\u00eamios importantes. Por isso ele ficou conhecido no mundo inteiro antes de ser conhecido no Brasil. Raz\u00e3o pela qual sua morte teve tanta repercuss\u00e3o internacional.”<\/p>\n\n\n\n

Os dois pr\u00eamios a que Mary se refere s\u00e3o o Global 500, concedido a Chico em 1987 pela Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas (ONU) na Inglaterra, e a Medalha de Meio Ambiente da Better World Society, dada em 1988 nos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

O document\u00e1rio de Cowell, chamado Eu Quero Viver, foi lan\u00e7ado em 1987.<\/p>\n\n\n\n

Com tudo isso, o seringueiro e sua luta passaram a ser conhecidos no mundo todo, o que atraiu jornalistas e pesquisadores para visitar os seringais, difundindo suas ideias pelo planeta.<\/p>\n\n\n\n

Se para o mundo e para as quest\u00f5es ambientais Chico Mendes deixou um legado pol\u00edtico, para fam\u00edlia a heran\u00e7a foi de ensinamentos e de vontade de lutar pelas mesmas causas.<\/p>\n\n\n\n

Pelo menos para a filha do primeiro casamento, com Eunice Feitosa Mendes, do qual nasceu a filha \u00fanica do casal – ele teve mais dois filhos com Ilzamar -, \u00c2ngela, que soube que estava gr\u00e1vida de Ang\u00e9lica Francisca Mendes Mamede no dia da missa de s\u00e9timo dia do pai.<\/p>\n\n\n\n

Para ela, receber a novidade naquele momento foi realmente muito estranho.<\/p>\n\n\n\n

“De repente voc\u00ea perde um ente querido, est\u00e1 no maior sofrimento e ent\u00e3o descobre que que vai nascer algu\u00e9m”, diz.<\/p>\n\n\n\n

“O mundo \u00e9 muito isso, cheio desses ciclos, que s\u00e3o naturais, mas nunca estamos preparados para perder ningu\u00e9m. Ao mesmo tempo, a novidade de uma vida traz muita esperan\u00e7a, muita renova\u00e7\u00e3o.”<\/p>\n\n\n\n

Em rela\u00e7\u00e3o a seu pai, com o qual s\u00f3 passou a conviver na adolesc\u00eancia, \u00c2ngela diz que ele tinha qualidades que ela admirava e procurou tomar para ela.<\/p>\n\n\n\n

“Uma delas \u00e9 o esp\u00edrito de coletividade, de nunca fazer as coisas sozinho, porque elas ganham mais for\u00e7a quando s\u00e3o feitas de forma coletiva”, explica.<\/p>\n\n\n\n

“Sempre buscar apoio e parcerias, porque desde sempre a luta que se faz pela preserva\u00e7\u00e3o do meio ambiente, pela defesa da natureza, precisa ser coletiva. Meu pai e seus companheiros j\u00e1 sabiam disso.”<\/p>\n\n\n\n

\u00c2ngela diz que Chico deixou para ela um legado de persist\u00eancia, de luta, de pensar sempre no pr\u00f3ximo e no bem comum.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 isso assim, de ser uma pessoa que sabe ouvir, e, de uma certa forma, buscar solu\u00e7\u00f5es, tentar encontr\u00e1-las para poss\u00edveis problemas”, acrescenta.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

“Foram muitos os ensinamentos que ele nos legou, que ele deixou a mim. Eu sinto forte isso, essa coisa de fazer junto.”<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Para \u00c2ngela essas qualidades s\u00e3o imprescind\u00edveis, porque a luta de hoje continua a mesma da \u00e9poca do seu pai.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 a mesma luta pela conquista dos territ\u00f3rios e pela consolida\u00e7\u00e3o deles”, explica.<\/p>\n\n\n\n

“Apesar de mais de 30 anos depois j\u00e1 terem sido criadas quase uma centena de reservas extrativistas, muitas ainda n\u00e3o foram de fato consolidadas, ainda n\u00e3o t\u00eam seus instrumentos de gest\u00e3o consolidados. Estamos avan\u00e7ando devagar nisso.”<\/p>\n\n\n\n

Sua filha, Ang\u00e9lica, neta do seringueiro, que \u00e9 bi\u00f3loga e doutora em Ecologia e atua como volunt\u00e1ria no Comit\u00ea Chico Mendes, diz que seu av\u00f4 tinha uma frase que ela nunca esquece.<\/p>\n\n\n\n

“Ele dizia que primeiro pensou que estivesse lutando para salvar uma seringueira, depois achou que estava lutando pela floresta amaz\u00f4nica e, por fim, ele percebeu que eu estava lutando pela humanidade”, cita.<\/p>\n\n\n\n

“Hoje mais do que nunca sabemos sabe que essa luta \u00e9 global, que estamos falando de uma crise clim\u00e1tica de todo o planeta, de uma emerg\u00eancia que estamos vivendo. Estamos vendo a\u00ed as consequ\u00eancias, como tornados, um monte de secas extremas, eventos de cheias, enfim, estamos vivendo uma desregula\u00e7\u00e3o do clima global muito grande. Por isso, a luta dele \u00e9 muito atual.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: G1<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Chico Mendes era um dos pioneiros da defesa da preserva\u00e7\u00e3o da floresta amaz\u00f4nica e deixou um legado pol\u00edtico e ambientalista que ainda perdura. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":175618,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[223,285,802],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/175617"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=175617"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/175617\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":175620,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/175617\/revisions\/175620"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/175618"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=175617"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=175617"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=175617"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}