{"id":175765,"date":"2022-01-03T09:56:47","date_gmt":"2022-01-03T12:56:47","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=175765"},"modified":"2022-01-03T09:56:49","modified_gmt":"2022-01-03T12:56:49","slug":"como-as-femeas-de-algumas-especies-conseguem-engravidar-sem-um-macho","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/01\/03\/175765-como-as-femeas-de-algumas-especies-conseguem-engravidar-sem-um-macho.html","title":{"rendered":"Como as f\u00eameas de algumas esp\u00e9cies conseguem engravidar sem um macho"},"content":{"rendered":"\n
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Uma f\u00eamea de drag\u00e3o-d’\u00e1gua-chin\u00eas (Physignathus cocincinus) gerou outra f\u00eamea (\u00e0 esquerda) sem a ajuda de um macho \u2014 Foto: SMITHSONIAN\u2019S NATIONAL ZOO<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Um drag\u00e3o-d’\u00e1gua-chin\u00eas eclodiu de um ovo no Smithsonian National Zoo, um zool\u00f3gico em Washington, nos Estados Unidos, o que deixou os tratadores chocados. Por qu\u00ea? A m\u00e3e do pequeno r\u00e9ptil nunca tinha estado com um macho antes. Por meio de testes gen\u00e9ticos,\u00a0os cientistas do zool\u00f3gico descobriram que a f\u00eamea, nascida em 24 de agosto de 2016, havia sido gerada por meio de um modo reprodutivo chamado partenog\u00eanese.<\/p>\n\n\n\n

Partenog\u00eanese \u00e9 uma palavra grega que significa “nascimento virgem”, mas se refere especificamente \u00e0 reprodu\u00e7\u00e3o assexuada feminina. Embora muitas pessoas possam presumir que esse tipo de gesta\u00e7\u00e3o \u00e9 assunto da fic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica ou de textos religiosos, a partenog\u00eanese \u00e9 surpreendentemente comum em toda a \u00e1rvore da vida e \u00e9 encontrada em uma variedade de organismos, incluindo plantas, insetos, peixes, r\u00e9pteis e at\u00e9 p\u00e1ssaros.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 os mam\u00edferos, incluindo os seres humanos, precisam de certos genes oriundos do esperma, ent\u00e3o eles s\u00e3o incapazes de partenog\u00eanese.<\/p>\n\n\n\n

Gera\u00e7\u00e3o de filhotes sem esperma<\/h2>\n\n\n\n

A reprodu\u00e7\u00e3o sexual envolve uma f\u00eamea e um macho, cada um contribuindo com material gen\u00e9tico na forma de \u00f3vulos ou esperma, para criar uma prole \u00fanica. A grande maioria das esp\u00e9cies de animais se reproduz sexualmente, mas as f\u00eameas de algumas esp\u00e9cies s\u00e3o capazes de produzir ovos contendo todo o material gen\u00e9tico necess\u00e1rio para a reprodu\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

As f\u00eameas dessas esp\u00e9cies, que incluem algumas vespas, crust\u00e1ceos e lagartos, se reproduzem apenas por partenog\u00eanese e s\u00e3o chamadas de parten\u00f3genos obrigat\u00f3rios.<\/p>\n\n\n\n

Um grande n\u00famero de esp\u00e9cies experimenta\u00a0partenog\u00eanese espont\u00e2nea, processo mais bem documentado em animais mantidos em ambientes de zool\u00f3gico, como o drag\u00e3o-d’\u00e1gua-chin\u00eas no Smithsonian National Zoo ou um tubar\u00e3o-de-pontas-negras-do-recife no Aqu\u00e1rio de Virg\u00ednia, tamb\u00e9m nos Estados Unidos. Os parten\u00f3genos espont\u00e2neos geralmente se reproduzem sexualmente, mas podem ter ciclos ocasionais que produzem \u00f3vulos prontos para o desenvolvimento.<\/p>\n\n\n\n

Os cientistas aprenderam que a partenog\u00eanese espont\u00e2nea pode ser um tra\u00e7o heredit\u00e1rio, o que significa que as f\u00eameas que experimentam de repente a partenog\u00eanese podem ter mais probabilidade de ter filhotes capazes de fazer o mesmo.<\/p>\n\n\n\n

Como as f\u00eameas podem fertilizar seus pr\u00f3prios ovos?<\/h2>\n\n\n\n
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Uma pulga-da-\u00e1gua (Daphnia magna) carregando ovos partenogen\u00e9ticos \u2014 Foto: Getty Images<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Para que a partenog\u00eanese aconte\u00e7a, uma cadeia de eventos celulares deve ocorrer com sucesso. Primeiro, as\u00a0f\u00eameas devem ser capazes de criar \u00f3vulos (oog\u00eanese)\u00a0sem estimula\u00e7\u00e3o de espermatozoides ou acasalamento. Em segundo lugar, os ovos produzidos pelas f\u00eameas precisam come\u00e7ar a se desenvolver por conta pr\u00f3pria, formando um embri\u00e3o em est\u00e1gio inicial. Finalmente, os ovos devem chocar com sucesso.<\/p>\n\n\n\n

Cada etapa desse processo pode falhar facilmente, em sua maioria na etapa dois, que exige que os cromossomos do DNA dentro do ovo se dupliquem, garantindo um complemento de genes para a prole em desenvolvimento.<\/p>\n\n\n\n

De maneira alternativa, o ovo pode ser “fertilizado artificialmente” por c\u00e9lulas remanescentes do processo de produ\u00e7\u00e3o de ovo conhecido como corpos polares. Qualquer que seja o m\u00e9todo que d\u00ea in\u00edcio ao desenvolvimento do embri\u00e3o, em \u00faltima an\u00e1lise, ele determinar\u00e1 o n\u00edvel de similaridade gen\u00e9tica entre a m\u00e3e e sua prole.<\/p>\n\n\n\n

Os eventos que desencadeiam a partenog\u00eanese ainda n\u00e3o s\u00e3o totalmente compreendidos pela ci\u00eancia, mas parecem incluir mudan\u00e7as ambientais. Em esp\u00e9cies que s\u00e3o capazes de reprodu\u00e7\u00e3o sexuada e partenog\u00eanese, como os pulg\u00f5es, fatores estressantes como aglomera\u00e7\u00e3o e preda\u00e7\u00e3o podem fazer com que as f\u00eameas mudem da partenog\u00eanese para a reprodu\u00e7\u00e3o sexuada, mas n\u00e3o o contr\u00e1rio. Em pelo menos um tipo de pl\u00e2ncton de \u00e1gua doce, a alta salinidade parece causar a mesma mudan\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Vantagens da auto-reprodu\u00e7\u00e3o<\/h2>\n\n\n\n

Embora a partenog\u00eanese espont\u00e2nea pare\u00e7a ser rara, ela oferece alguns benef\u00edcios para a f\u00eamea que consegue alcan\u00e7\u00e1-la. Em alguns casos, pode permitir que as f\u00eameas gerem seus pr\u00f3prios parceiros de acasalamento.<\/p>\n\n\n\n

O sexo da prole partenogen\u00e9tica \u00e9 determinado pelo mesmo m\u00e9todo, ou seja, na pr\u00f3pria esp\u00e9cie.<\/p>\n\n\n\n

Para organismos onde o sexo \u00e9 determinado por cromossomos, como os cromossomos XX feminino e XY masculino em alguns insetos, peixes e r\u00e9pteis, uma f\u00eamea partenogen\u00e9tica pode produzir descendentes apenas com os cromossomos sexuais que ela tem em m\u00e3os – o que significa que ela sempre produzir\u00e1 XX, descendentes femininos. Mas para organismos em que as f\u00eameas t\u00eam cromossomos sexuais ZW (como em cobras e p\u00e1ssaros), todos os descendentes vivos produzidos ser\u00e3o ZZ e, portanto, machos ou, muito mais raramente, WW – f\u00eameas.<\/p>\n\n\n\n

Entre 1997 e 1999, uma serpente mantida no zool\u00f3gico de Phoenix deu \u00e0 luz dois filhotes machos que sobreviveram at\u00e9 a idade adulta. Se uma f\u00eamea acasalasse com seu filho produzido partenogeneticamente, isso constituiria consanguinidade.<\/p>\n\n\n\n

Embora a consanguinidade possa resultar em uma s\u00e9rie de problemas gen\u00e9ticos, de uma perspectiva evolutiva \u00e9 melhor do que n\u00e3o ter descend\u00eancia. A capacidade das f\u00eameas de produzir descendentes masculinos por meio da partenog\u00eanese tamb\u00e9m sugere que a reprodu\u00e7\u00e3o assexuada na natureza pode ser mais comum do que os cientistas jamais imaginaram.<\/p>\n\n\n\n

Os bi\u00f3logos observaram, por longos per\u00edodos de tempo, que as esp\u00e9cies que se reproduzem por partenog\u00eanese frequentemente morrem de doen\u00e7as, parasitismo ou mudan\u00e7as no habitat. A endogamia inerente \u00e0s esp\u00e9cies partenogen\u00e9ticas parece contribuir para curtos cronogramas evolutivos.<\/p>\n\n\n\n

As pesquisas cient\u00edficas atuais sobre partenog\u00eanese buscam entender por que algumas esp\u00e9cies s\u00e3o capazes de sexo e partenog\u00eanese, e se a reprodu\u00e7\u00e3o sexuada ocasional pode ser suficiente para uma esp\u00e9cie sobreviver.<\/p>\n\n\n\n

*Mercedes Burns \u00e9 professora-assistente de Ci\u00eancias Biol\u00f3gicas na Universidade de Maryland (EUA)<\/p>\n\n\n\n

Fonte: G1<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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