{"id":175863,"date":"2022-01-07T09:45:02","date_gmt":"2022-01-07T12:45:02","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=175863"},"modified":"2022-01-07T09:45:08","modified_gmt":"2022-01-07T12:45:08","slug":"por-que-tanto-barulho-em-torno-do-gas-natural","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/01\/07\/175863-por-que-tanto-barulho-em-torno-do-gas-natural.html","title":{"rendered":"Por que tanto barulho em torno do g\u00e1s natural?"},"content":{"rendered":"\n
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Governos e empresas que trabalham com combust\u00edveis f\u00f3sseis t\u00eam insistido na ideia de que o g\u00e1s natural \u00e9 a ponte para um futuro calcado na energia limpa. Mas ser\u00e1 que ele pode ser realmente “verde\u201d?<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 muito tempo o g\u00e1s natural n\u00e3o serve apenas para cozinhar, mas tamb\u00e9m para aquecer casas e empresas durante o inverno, al\u00e9m de ser cada vez mais utilizado para produzir eletricidade. Somente nos Estados Unidos, em 2020 esse combust\u00edvel f\u00f3ssil respondeu por 34% do consumo de energia e foi a principal fonte de gera\u00e7\u00e3o de eletricidade.<\/p>\n\n\n\n

Agora, \u00e0 medida que o mundo caminha para a elimina\u00e7\u00e3o gradual da energia provinda do carv\u00e3o, essas tr\u00eas letras s\u00e3o saudadas como um her\u00f3i clim\u00e1tico em plena expans\u00e3o. Mas a afirmativa procede?<\/p>\n\n\n\n

A lenda do g\u00e1s limpo<\/h2>\n\n\n\n

Na verdade, n\u00e3o. Ele n\u00e3o \u00e9 uma energia limpa, como a Comiss\u00e3o Europeia deu a entender no in\u00edcio de janeiro, ao propor classificar o g\u00e1s e a energia nuclear como bons para o meio ambiente.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 verdade que o g\u00e1s gera cerca de 50% menos emiss\u00f5es de CO2 do que o carv\u00e3o mineral quando produz eletricidade, mas ele tamb\u00e9m provou ser a fonte de gases do efeito estufa que mais cresceu no planeta na \u00faltima d\u00e9cada \u2013 uma trajet\u00f3ria que deve continuar.<\/p>\n\n\n\n

Na Uni\u00e3o Europeia, o g\u00e1s \u00e9 a segunda maior fonte de emiss\u00f5es carb\u00f4nicas depois do carv\u00e3o, e representa cerca de 22% da produ\u00e7\u00e3o global de CO2.<\/p>\n\n\n\n

E isso n\u00e3o \u00e9 tudo: o p\u00fablico ouve com insist\u00eancia cada vez maior que o g\u00e1s \u00e9 necess\u00e1rio \u00e0 transi\u00e7\u00e3o para um futuro de energia limpa. A teoria \u00e9 que, sendo mais limpo do que outros combust\u00edveis f\u00f3sseis, ele ajudaria a suprir o d\u00e9ficit de energia causado pela iminente e elimina\u00e7\u00e3o progressiva do carv\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

A realidade, contudo, \u00e9 que, enquanto\u00a0combust\u00edvel f\u00f3ssil, o g\u00e1s natural tamb\u00e9m causa\u00a0mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. Por isso, o Partido Verde Europeu amea\u00e7a\u00a0processar a Comiss\u00e3o Europeia por sua press\u00e3o para classificar como sustent\u00e1veis alguns investimentos em g\u00e1s. Enfim:\u00a0o g\u00e1s natural\u00a0j\u00e1 est\u00e1 sendo descrito como o “novo carv\u00e3o\u201d.<\/p>\n\n\n\n

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Depois do carv\u00e3o, g\u00e1s \u00e9 segundo maior respons\u00e1vel por emiss\u00f5es globais de CO2<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Metano e inseguran\u00e7a energ\u00e9tica<\/h2>\n\n\n\n

O g\u00e1s natural \u00e9 um hidrocarboneto combust\u00edvel composto principalmente de metano, que \u00e9 cerca de 28 vezes mais poluente do que o di\u00f3xido de carbono e propenso a vazar de gasodutos e tubula\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 um combust\u00edvel f\u00f3ssil n\u00e3o renov\u00e1vel encontrado nas profundezas do solo, em meio ao xisto e outras rochas, e muitas vezes na proximidade do petr\u00f3leo. \u00c9 usado para gerar energia, mas tamb\u00e9m como mat\u00e9ria-prima qu\u00edmica para pl\u00e1sticos e fertilizantes, e a atual corrida ilimitada por esse material pode resultar no esgotamento das reservas de g\u00e1s natural dentro de cerca de 50 anos.<\/p>\n\n\n\n

Portanto\u00a0o conceito de usar o g\u00e1s como “combust\u00edvel-ponte” para um futuro de energia limpa n\u00e3o \u00e9 um racioc\u00ednio de longo prazo: um dia, n\u00e3o muito long\u00ednquo,\u00a0ele se esgotar\u00e1. Nesse meio tempo, alega-se, ele traria\u00a0seguran\u00e7a energ\u00e9tica \u00e0 humanidade.<\/p>\n\n\n\n

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Obra do gasoduto Nord Stream 2 foi conclu\u00edda em setembro de 2021, mas embargos impedem transporte do g\u00e1s<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A dificuldade de obter g\u00e1s explica a forte depend\u00eancia da Europa em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 R\u00fassia por esse combust\u00edvel f\u00f3ssil. Como ele \u00e9 bombeado e enviado para longas dist\u00e2ncias, a imensa infraestrutura exigida aumenta seu custo, e tamb\u00e9m a quantidade de CO2 emitido.<\/p>\n\n\n\n

A geopol\u00edtica \u00e9 outro problema: o atraso para\u00a0finalizar a obra\u00a0e conectar o\u00a0gasoduto Nord Stream 2 da R\u00fassia \u00e0 Alemanha, em meio a crescentes amea\u00e7as de guerra na Ucr\u00e2nia, \u00e9 um exemplo.\u00a0Est\u00e1 tudo pronto,\u00a0mas o g\u00e1s n\u00e3o \u00e9 enviado. Os pre\u00e7os do combust\u00edvel\u00a0disparam \u00e0 medida que o fornecimento diminui.<\/p>\n\n\n\n

A pr\u00f3pria Alemanha \u00e9 t\u00e3o dependente do g\u00e1s para combust\u00edvel e aquecimento que est\u00e1 aberta a fornecimentos dos Estados Unidos, e tem planejado construir novos terminais, extensos e custosos, para receber remessas de g\u00e1s natural liquefeito (GNL).<\/p>\n\n\n\n

O problema \u00e9 que as importa\u00e7\u00f5es incluiriam g\u00e1s obtido por fraturamento, ou fracking. <\/em>Consistindo na extra\u00e7\u00e3o de g\u00e1s ou petr\u00f3leo de de rochas e xistos em reservas subterr\u00e2neas, esse processo \u00e9 nocivo ao meio ambiente, por envolver produtos qu\u00edmicos t\u00f3xico.Al\u00e9m disso, libera grande quantidade de metano e \u00e9 potencialmente um inimigo do clima ainda maior do que o carv\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Muitos pa\u00edses europeus, como a Alemanha, proibiram a pr\u00e1tica, mas um dia o GNL americano extra\u00eddo por fracking<\/em> pode vir a substituir o g\u00e1s russo.<\/p>\n\n\n\n

Por que n\u00e3o abandonar simplesmente o g\u00e1s?<\/h2>\n\n\n\n

A Uni\u00e3o Europ\u00e9ia acredita que, com o tempo, seja poss\u00edvel remanejar a infraestrutura do g\u00e1s natural, nova e j\u00e1 existente, para combust\u00edveis “de baixo carbono”, como hidrog\u00eanio e biog\u00e1s. Pelo menos esse era o tom de uma recente proposta da Comiss\u00e3o Europeia para descarbonizar os mercados de g\u00e1s.<\/p>\n\n\n\n

Em teoria, tudo parece em ordem. No entanto: a) isso significaria queimar muito hidrocarboneto no curto prazo; e b) gases limpos como o hidrog\u00eanio “verde” continuam sendo um sonho, em parte porque s\u00f3 podem ser produzidos com as fontes renov\u00e1veis necess\u00e1rias para alimentar o processo de transi\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica.<\/p>\n\n\n\n

Assim, cr\u00edticos apontam que os debates sobre a “transi\u00e7\u00e3o verde do g\u00e1s”  t\u00eam sido um passe para empresas de combust\u00edveis f\u00f3sseis fazerem uma “lavagem verde” (greenwash<\/em>) de seus neg\u00f3cios danosos ao clima.<\/p>\n\n\n\n

“O g\u00e1s natural n\u00e3o \u00e9 um combust\u00edvel de transi\u00e7\u00e3o. \u00c9 um combust\u00edvel f\u00f3ssil”, pontificou Bill Hare, diretor executivo\u00a0da ONG Climate Analytics, durante a COP26, em novembro, na Esc\u00f3cia. Para ele,\u00a0o g\u00e1s deve ser tratado como carv\u00e3o e abandonado gradativamente, o mais r\u00e1pido poss\u00edvel.<\/p>\n\n\n\n

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Qual \u00e9 a alternativa \u00e0 “ponte de g\u00e1s”?<\/h2>\n\n\n\n

Em 2021, especialistas afirmaram que a energia solar era atualmente a “eletricidade mais barata da hist\u00f3ria”, e que at\u00e9 2050 ela e a e\u00f3lica seriam capazes de cobrir 100 vezes a demanda mundial de energia.<\/p>\n\n\n\n

Portanto h\u00e1 alternativas. Ainda assim, a Austr\u00e1lia est\u00e1 anunciando uma “recupera\u00e7\u00e3o da pandemia movida a g\u00e1s”, e a Europa faz campanha veemente por sua “ponte de g\u00e1s” para um futuro energ\u00e9tico limpo e radiante.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 quem diga que essa promo\u00e7\u00e3o exagerada do g\u00e1s natural \u00e9 uma receita para um “impasse do carbono”, que apenas atrasar\u00e1 a transi\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica. Pois todo o capital e a infraestrutura investidos nessa transi\u00e7\u00e3o \u00e0 base de g\u00e1s implicam o combust\u00edvel f\u00f3ssil continuar sendo extra\u00eddo, a fim de compensar o investimento.<\/p>\n\n\n\n

Por outro lado, esse mesmo dinheiro poderia ter sido alocado em\u00a0energias renov\u00e1veis que descarbonizariam\u00a0diretamente o fornecimento de energia. E seria energia com que, ainda por cima, se pode\u00a0cozinhar.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n\n\n\n

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