{"id":175902,"date":"2022-01-10T17:17:45","date_gmt":"2022-01-10T20:17:45","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=175902"},"modified":"2022-01-10T17:17:47","modified_gmt":"2022-01-10T20:17:47","slug":"a-historia-por-tras-de-imagem-de-indigena-carregando-pai-para-se-vacinar-contra-covid-19","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/01\/10\/175902-a-historia-por-tras-de-imagem-de-indigena-carregando-pai-para-se-vacinar-contra-covid-19.html","title":{"rendered":"A hist\u00f3ria por tr\u00e1s de imagem de ind\u00edgena carregando pai para se vacinar contra covid-19"},"content":{"rendered":"\n
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Imagem de ind\u00edgena carregando o pai para se vacinar contra a covid-19 repercutiu nas redes sociais – ERIK JENNINGS SIM\u00d5ES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Uma fotografia de um ind\u00edgena carregando o pai nas costas para tomar a vacina contra a covid-19 chamou a aten\u00e7\u00e3o de milhares de pessoas nos \u00faltimos dias nas redes sociais.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A imagem mostra Tawy Z\u00f3’\u00e9, de 24 anos, se esfor\u00e7ando para carregar Wahu Z\u00f3’\u00e9, de 67. O jovem fez um percurso pela floresta durante horas, em um trajeto com morros, igarap\u00e9s e outros obst\u00e1culos at\u00e9 chegar \u00e0 base da equipe de sa\u00fade da regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

A cena comoveu o m\u00e9dico Erik Jennings Sim\u00f5es, que registrou o momento em uma fotografia. Para o profissional de sa\u00fade, o empenho do jovem ind\u00edgena para imunizar o pai foi um dos momentos mais marcantes que presenciou em 2021.<\/p>\n\n\n\n

O registro foi feito em janeiro de 2021, no in\u00edcio da vacina\u00e7\u00e3o contra a covid-19 no pa\u00eds. Por\u00e9m, s\u00f3 foi compartilhado pelo m\u00e9dico nas redes sociais na semana passada, quase um ano depois.<\/p>\n\n\n\n

“Quis passar uma mensagem positiva de in\u00edcio de ano”, diz o m\u00e9dico \u00e0 BBC News Brasil.<\/p>\n\n\n\n

“Foi tamb\u00e9m uma forma de tentar mandar uma mensagem do povo Z\u00f3’\u00e9, porque eles sempre perguntam se o branco est\u00e1 se vacinando e se a covid-19 j\u00e1 acabou”, acrescenta Erik.<\/p>\n\n\n\n

O povo ind\u00edgena Z\u00f3’\u00e9 vive em cerca de 669 mil hectares no Norte do Par\u00e1, nas proximidades do Rio Amazonas, em uma \u00e1rea de floresta considerada altamente preservada e com uma enorme biodiversidade.<\/p>\n\n\n\n

Segundo os agentes de sa\u00fade que atuam na regi\u00e3o, a popula\u00e7\u00e3o Z\u00f3’\u00e9 \u00e9 composta atualmente por cerca de 325 ind\u00edgenas, que vivem dispersos no territ\u00f3rio, morando em mais de 50 aldeias. Ao longo do ano, eles costumam mudar para diferentes localidades na \u00e1rea em que moram.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 considerado um povo de recente contato externo, normalmente apenas por meio da Secretaria Especial de Sa\u00fade Ind\u00edgena (Sesai) ou da Funda\u00e7\u00e3o Nacional do \u00cdndio (Funai).<\/p>\n\n\n\n

Desde o in\u00edcio da pandemia, segundo dados oficiais, o povo n\u00e3o registrou nenhum caso de covid-19.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 uma realidade diferente do contexto geral da pandemia entre os ind\u00edgenas em todo o pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com dados mais recentes da Sesai, desde mar\u00e7o de 2020 foram registrados 57,1 mil casos de covid-19 entre ind\u00edgenas no Brasil e 853 mortes pela doen\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 entidades ind\u00edgenas apontam que os dados da Sesai s\u00e3o limitados por incluir apenas ind\u00edgenas aldeados. A Articula\u00e7\u00e3o dos Povos Ind\u00edgenas do Brasil (APIB) fez um levantamento pr\u00f3prio sobre o tema e apontou que o pa\u00eds atingiu a marca de mil ind\u00edgenas mortos pela doen\u00e7a causada pelo novo coronav\u00edrus em mar\u00e7o de 2021.<\/p>\n\n\n\n

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Equipe passou a adotar estrat\u00e9gia para evitar ao m\u00e1ximo poss\u00edvel contamina\u00e7\u00e3o dos ind\u00edgenas pela covid-19 – SESAI\/MINIST\u00c9RIO DA SA\u00daDE<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

T\u00e1ticas para enfrentar a pandemia<\/h2>\n\n\n\n

Erik, de 52 anos, \u00e9 o m\u00e9dico respons\u00e1vel pelo povo Z\u00f3’\u00e9 h\u00e1 quase duas d\u00e9cadas. Ele e uma equipe de t\u00e9cnicas de enfermagem, enfermeiras e dentista, que chegam ao local em um avi\u00e3o e prestam atendimento em uma base criada dentro da \u00e1rea desses ind\u00edgenas.<\/p>\n\n\n\n

No in\u00edcio da pandemia, segundo o m\u00e9dico, o povo Z\u00f3’\u00e9 criou uma estrat\u00e9gia para evitar que a covid-19 propagasse na \u00e1rea deles.<\/p>\n\n\n\n

“Eles se dividiram em grupos de, aproximadamente, 18 fam\u00edlias, se isolaram nas aldeias mais distantes e evitaram qualquer tipo de contato com a equipe de sa\u00fade”, explica o m\u00e9dico.<\/p>\n\n\n\n

“Eles adotaram uma estrat\u00e9gia de n\u00e3o se cruzarem nos caminhos entre eles e evitaram aproxima\u00e7\u00e3o com os brancos. \u00c9 uma t\u00e1tica milenar para evitar pandemia, decidida e iniciada por eles pr\u00f3prios”, acrescenta.<\/p>\n\n\n\n

Segundo ele, h\u00e1 in\u00fameros caminhos em toda a \u00e1rea da floresta e somente os ind\u00edgenas conhecem como andar e evitar que os grupos se cruzem.<\/p>\n\n\n\n

Quando a vacina\u00e7\u00e3o contra a covid-19 teve in\u00edcio no pa\u00eds, os ind\u00edgenas foram considerados grupos priorit\u00e1rios. Para a equipe de sa\u00fade que acompanha o povo Z\u00f3’\u00e9 surgiu um desafio: como imunizar essa popula\u00e7\u00e3o diminuindo ao m\u00e1ximo a chance de infec\u00e7\u00e3o pelo coronav\u00edrus.<\/p>\n\n\n\n

Mesmo com os integrantes da equipe testando negativo para a covid-19, usando os Equipamentos de Prote\u00e7\u00e3o Individual (EPIs) adequados e parcialmente vacinados, os profissionais de sa\u00fade decidiram discutir com os ind\u00edgenas a forma mais segura de aplicar o imunizante.<\/p>\n\n\n\n

Uma avalia\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica apontou que seria invi\u00e1vel que a equipe de sa\u00fade fosse a cada aldeia para aplicar a primeira dose. Isso porque analisaram que demoraria semanas para vacinar todos, por conta do deslocamento na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Al\u00e9m disso, ter\u00edamos que andar com EPIs pesados na floresta e precisar\u00edamos da companhia do povo Zo’\u00e9 para orientar. Isso aumentaria o contato com o povo ind\u00edgena e a possibilidade de contamina\u00e7\u00e3o, justamente o que eles estavam evitando”, afirma o m\u00e9dico.<\/p>\n\n\n\n

A equipe tamb\u00e9m precisaria dormir nas aldeias, por conta da longa dist\u00e2ncia na regi\u00e3o, aumentando os riscos de poss\u00edvel contamina\u00e7\u00e3o pela covid-19.<\/p>\n\n\n\n

Foi decidido que a equipe usaria tr\u00eas cabanas pr\u00f3ximas \u00e0 base de sa\u00fade, em locais abertos e arejados. Nenhum ind\u00edgena dormiu no local e cada fam\u00edlia foi vacinada separadamente.<\/p>\n\n\n\n

Para a chegada ao local da imuniza\u00e7\u00e3o, cada ind\u00edgena ficou respons\u00e1vel pelo percurso na floresta para evitar encontrar outros grupos do povo.<\/p>\n\n\n\n

Em 22 de janeiro de 2021 foi a vez de Wahu e Tawy receberem a primeira dose da vacina. Segundo o m\u00e9dico, pai e filho sempre tiveram uma intensa rela\u00e7\u00e3o de carinho e respeito. Uma a\u00e7\u00e3o comum do jovem, mesmo antes da pandemia, era carregar o pai em uma esp\u00e9cie de Jamanxim, uma forma de mochila ou cesta feita pelos ind\u00edgenas.<\/p>\n\n\n\n

“O pai (Wahu) tinha uma vis\u00e3o ruim, n\u00e3o enxergava mais quase nada, e tamb\u00e9m tinha grave problema cr\u00f4nico no trato urin\u00e1rio. Por isso, era quase totalmente impossibilitado de caminhar na floresta”, diz Erik. “Ent\u00e3o, o que funcionaria ali seria carregar os pais nas costas. \u00c9 o que funciona na floresta, porque n\u00e3o tem ambul\u00e2ncia ou outra forma de transporte”, acrescenta.<\/p>\n\n\n\n

A chegada do filho carregando o pai nas costas comoveu Erik e os outros profissionais de sa\u00fade. “Foi uma cena muito bonita, da rela\u00e7\u00e3o de amor entre eles”, diz o m\u00e9dico. Erik estima que pai e filho levaram de cinco a seis horas pela floresta at\u00e9 chegar ao local da imuniza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

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SESAI\/MINIST\u00c9RIO DA SA\u00daDE<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Logo ap\u00f3s serem vacinados, Tawy colocou o pai novamente nas costas e seguiu em dire\u00e7\u00e3o \u00e0 floresta. Ele disse que n\u00e3o podia demorar muito, pois tinha que chegar \u00e0 aldeia antes do anoitecer.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto pai e filho deixavam a base da equipe de sa\u00fade, Erik fez a fotografia. “Quis registrar porque foi uma cena muito bonita e porque demonstra a preocupa\u00e7\u00e3o em vacinar. Al\u00e9m disso, a imagem ilustra a estrat\u00e9gia adotada articulando os conhecimentos da popula\u00e7\u00e3o com os nossos, em busca do resultado de evitar covid no povo Zo’\u00e9”, conta o m\u00e9dico.<\/p>\n\n\n\n

A publica\u00e7\u00e3o da imagem<\/h2>\n\n\n\n

A princ\u00edpio, Erik diz que n\u00e3o pensou em compartilhar a imagem de Wahu e Tawy nas redes sociais. Por\u00e9m, achou que poderia ser uma mensagem importante e tamb\u00e9m mostrar a preocupa\u00e7\u00e3o dos ind\u00edgenas sobre a vacina\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Erik, que acumula mais de 18 mil seguidores no Instagram, compartilhou a fotografia em primeiro de janeiro. O registro logo foi compartilhado por in\u00fameras pessoas ou p\u00e1ginas em diferentes redes sociais e conquistou milhares de curtidas.<\/p>\n\n\n\n

O m\u00e9dico, que costuma compartilhar conte\u00fados sobre a sa\u00fade ind\u00edgena nas redes, ficou surpreso com a repercuss\u00e3o. “N\u00e3o imaginava que essa imagem teria tanto alcance”, confessa.<\/p>\n\n\n\n

Junto com as mensagens de pessoas admiradas com a cena, vieram tamb\u00e9m cr\u00edticas. “Quiseram saber o motivo de n\u00e3o termos vacinado os ind\u00edgenas diretamente nas aldeias em que eles est\u00e3o”, diz o m\u00e9dico, que logo explica a situa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“No enfrentamento da pandemia, assim como em outras situa\u00e7\u00f5es de sa\u00fade, temos adotado pr\u00e1ticas que respeitem e levem em considera\u00e7\u00e3o a cultura e o saber do povo Zo’\u00e9 no cuidado da pr\u00f3pria sa\u00fade”.<\/p>\n\n\n\n

“Evitamos, a todo custo, a imposi\u00e7\u00e3o de nosso modelo biom\u00e9dico que muitas vezes causa efeitos colaterais graves tanto f\u00edsicos quanto psicol\u00f3gico e cultural”, acrescenta o m\u00e9dico.<\/p>\n\n\n\n

Ele ressalta que o uso de carro, ambul\u00e2ncia ou at\u00e9 mesmo helic\u00f3ptero n\u00e3o seria poss\u00edvel em meio \u00e0 floresta em que o povo vive. “J\u00e1 at\u00e9 tentamos anteriormente, mas os helic\u00f3pteros n\u00e3o pousam nas aldeias. E os avi\u00f5es s\u00f3 conseguem pousar na base de sa\u00fade, que \u00e9 onde tem a pista de pouso”, detalha.<\/p>\n\n\n\n

O m\u00e9dico frisa que toda a campanha vacinal, da primeira dose \u00e0 terceira, foi feita da mesma forma, conforme haviam combinado desde janeiro de 2021 com os povos ind\u00edgenas por meio de um r\u00e1dio usado como comunica\u00e7\u00e3o entre a equipe m\u00e9dica e o povo Zo’\u00e9.<\/p>\n\n\n\n

Apesar de algumas cr\u00edticas, o m\u00e9dico classifica a repercuss\u00e3o da foto como extremamente positiva. Ele afirma que conseguiu passar uma mensagem a favor da vacina\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Os ind\u00edgenas n\u00e3o entendem o motivo de muitos brancos n\u00e3o terem se vacinado. Eles se preocupam com isso porque sabem que se o branco n\u00e3o se cuidar tamb\u00e9m reflete neles”.<\/p>\n\n\n\n

E a imagem tamb\u00e9m eternizou o amor entre pai e filho. Wahu morreu em setembro, provavelmente em decorr\u00eancia dos problemas cr\u00f4nicos urin\u00e1rios que se agravaram nos \u00faltimos anos de vida. Tawy segue com a fam\u00edlia na aldeia e recentemente tomou a terceira dose contra a covid-19.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Uma fotografia de um ind\u00edgena carregando o pai nas costas para tomar a vacina contra a covid-19 chamou a aten\u00e7\u00e3o de milhares de pessoas nos \u00faltimos dias nas redes sociais. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":175903,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[4379,582,1126],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/175902"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=175902"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/175902\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":175906,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/175902\/revisions\/175906"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/175903"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=175902"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=175902"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=175902"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}