{"id":175992,"date":"2022-01-14T09:45:56","date_gmt":"2022-01-14T12:45:56","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=175992"},"modified":"2022-01-14T09:46:00","modified_gmt":"2022-01-14T12:46:00","slug":"em-minas-moradores-temem-barragens-em-dias-de-chuva","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/01\/14\/175992-em-minas-moradores-temem-barragens-em-dias-de-chuva.html","title":{"rendered":"Em Minas, moradores temem barragens em dias de chuva"},"content":{"rendered":"\n
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Enquanto limpam as casas tomadas pela enchente em Rio Acima, Minas Gerais, os vizinhos de Luciano Corr\u00eaa estranham o aspecto do barro que ficou nos c\u00f4modos e objetos depois que a \u00e1gua baixou.<\/p>\n\n\n\n

“A conversa \u00e9 uma s\u00f3: parece res\u00edduo de min\u00e9rio de ferro. \u00c9 um material muito fino e tem um brilho que areia comum n\u00e3o tem\u201d, contou C\u00f4rrea \u00e0 DW Brasil por telefone, enquanto participa do mutir\u00e3o na vizinhan\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m das inunda\u00e7\u00f5es, as fortes chuvas aumentam uma tens\u00e3o recorrente: o medo do rompimento de uma barragem. Rio Acima tem algumas em seu territ\u00f3rio e estaria na rota de outras, localizadas em cidades vizinhas.<\/p>\n\n\n\n

“A gente sente uma inseguran\u00e7a muito grande. A gente v\u00ea as empresas tratando a situa\u00e7\u00e3o como se n\u00e3o houvesse risco, fazendo a\u00e7\u00f5es depois de desastres, a gente v\u00ea muita omiss\u00e3o\u201d, afirma C\u00f4rrea.<\/p>\n\n\n\n

A barragem da Mina de Fernandinho, da Companhia Sider\u00fargica Nacional (CSN), passou para alerta n\u00edvel 2 em raz\u00e3o do volume de chuva. Isso significa que a estrutura precisa de reparos e que os moradores da chamada Zonas de Autossalvamento (ZAS) precisam ser evacuados.<\/p>\n\n\n\n

“A gente v\u00ea esse barro dentro das casas com esse aspecto estranho e sabe que n\u00e3o foi uma grande barragem que se rompeu agora, mas \u00e9 como se pequenas barragens estivessem se rompendo todos os dias\u201d, comenta Corr\u00eaa.<\/p>\n\n\n\n

Por meio de nota, a CSN informou que n\u00e3o h\u00e1 moradores na ZAS e que est\u00e1 trabalhando para minimizar os impactos na estrutura. “Com a redu\u00e7\u00e3o das chuvas ser\u00e1 poss\u00edvel avan\u00e7ar nos reparos para restabelecer o n\u00edvel de seguran\u00e7a\u201d, afirma a empresa.<\/p>\n\n\n\n

As chuvas levaram a Ag\u00eancia Nacional de Minera\u00e7\u00e3o (ANM) a emitir um alerta a empreendedores e consultorias respons\u00e1veis de barragens devido ao volume de chuvas nas regi\u00f5es Sudeste e Nordeste, em especial em Minas Gerais. “Pelo princ\u00edpio da precau\u00e7\u00e3o solicitamos aten\u00e7\u00e3o especial a tal situa\u00e7\u00e3o e manuten\u00e7\u00e3o\/refor\u00e7o do monitoramento de suas barragens de minera\u00e7\u00e3o\u201d, pede em seu site.<\/p>\n\n\n\n

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Desastre da barragem de Brumadinho deixou 270 mortos em 2019
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Alerta permanente<\/h2>\n\n\n\n

Em Bar\u00e3o dos Cocais (MG) desde que a barragem Sul Superior, da Vale, entrou em n\u00edvel iminente de rompimento, em fevereiro 2019, a vida dos moradores dos distritos de Socorro, Tabuleiro e Piteiras nunca mais foi a mesma. Eles foram retirados de suas casas e nunca mais puderam voltar.<\/p>\n\n\n\n

A evacua\u00e7\u00e3o ocorreu dias ap\u00f3s o colapso da B1 em Brumadinho, que matou 273 pessoas imediatamente ap\u00f3s o tsunami de rejeitos de minera\u00e7\u00e3o vazar da estrutura. N\u00e3o chovia no momento da trag\u00e9dia.<\/p>\n\n\n\n

“Nesses vilarejos de Bar\u00e3o de Cocais, as resid\u00eancias s\u00f3 poder\u00e3o ser habitadas novamente quando a barragem for descaracterizada\u201d, afirma Hernani Duarte, da Defesa Civil.<\/p>\n\n\n\n

Na regi\u00e3o central da cidade, \u00e0s margens do rio S\u00e3o Jo\u00e3o, que tamb\u00e9m seria atingida em caso de rompimento, Maxwell Andrade entra em vig\u00edlia nos dias de chuva. “A comunica\u00e7\u00e3o com a empresa em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 barragem \u00e9 a mesma de sempre: a gente nunca sabe como est\u00e1 o andamento\u201d, diz.<\/p>\n\n\n\n

O clima de medo entre os que moram perto do rio sempre volta nos dias chuvosos. “A gente fica temeroso porque a gente n\u00e3o sabe o que pode acontecer\u201d, diz Andrade.<\/p>\n\n\n\n

Minera\u00e7\u00e3o de ouro<\/h2>\n\n\n\n

Durante suas pedaladas, Renato Mattarelli, morador de Sabar\u00e1, costuma checar a situa\u00e7\u00e3o da barragem da AngloGold Ashanti, que explora ouro na regi\u00e3o. \u00c9 a estrutura que ele considera mais perigosa na cidade.<\/p>\n\n\n\n

“O temor \u00e9 causado pela desinforma\u00e7\u00e3o da empresa. Toda chuva que d\u00e1 deixa o pessoal preocupado, principalmente os ribeirinhos\u201d, explica Mattarelli, do movimento Eu rejeito barragens, fundado em 2020 depois de grandes inunda\u00e7\u00f5es registradas em Sabar\u00e1. “A gente quer impedir que mineradoras construam barragens de rejeitos\u201d, afirma.<\/p>\n\n\n\n

Em condi\u00e7\u00e3o de anonimato, moradores de Pompeu e Cuiab\u00e1, distritos pr\u00f3ximos \u00e0 mina, disseram que a empresa faz despejos de rejeitos no ribeir\u00e3o Sabar\u00e1. Muitos deles trabalham na mineradora e t\u00eam medo de retalia\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Em mar\u00e7o de 2021, uma den\u00fancia foi protocolada no Minist\u00e9rio P\u00fablico estadual com imagens do ribeir\u00e3o Sabar\u00e1 ap\u00f3s uma prov\u00e1vel descarga de rejeitos da barragem da Mina Cuiab\u00e1. O texto diz que uma grande chuva era aguardada no dia, “mas ela acabou n\u00e3o caindo\u201d, por isso o material no rio ficou evidente.<\/p>\n\n\n\n

Dias depois, a Anglogold Ashanti soltou um comunicado dizendo que houve altera\u00e7\u00e3o da turbidez no curso de \u00e1gua e afirmou que “uma a\u00e7\u00e3o de vandalismo em uma estrutura de controle da unidade fez com que o material proveniente do sedimento de vias percorresse a drenagem natural do terreno alcan\u00e7ando o Ribeir\u00e3o Sabar\u00e1\u201d.<\/p>\n\n\n\n

“A\u00e7\u00e3o de v\u00e2ndalos dentro da empresa? Como eles entraram l\u00e1? \u00c9 uma regi\u00e3o com seguran\u00e7a muito grande e muito truculenta. A gente n\u00e3o aceita esse argumento\u201d, rebate Mattarelli.<\/p>\n\n\n\n

Sobre as chuvas intensas atuais, a empresa informou que acompanha o cen\u00e1rio e que suas estruturas, localizadas em Nova Lima, Sabar\u00e1 e Santa B\u00e1rbara, est\u00e3o seguras. No site da Ag\u00eancia Nacional de Minera\u00e7\u00e3o, as barragens s\u00e3o classificadas com baixo risco, mas com alto dano potencial associado.<\/p>\n\n\n\n

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Casa inundada na cidade de Rio Acima<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

In\u00edcio e fim pr\u00f3ximo<\/h2>\n\n\n\n

Em Itabira, ber\u00e7o da Vale, as obras na barragem Pontal preocupam moradores. A empresa tem pelo menos 15 barragens na cidade, de 110 mil habitantes. Cinco delas, como Pontal e Itabiru\u00e7u, de maior capacidade, ficam bem perto das casas.<\/p>\n\n\n\n

“A gente ouve falar que eles est\u00e3o descomissionando as barragens. A tens\u00e3o \u00e9 permanente\u201d, diz uma moradora sobre a vida na cidade, que prefere n\u00e3o ter o nome revelado na reportagem por meio de retalia\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Maria In\u00eas de Alvarenga enxerga da esquina de sua rua a barragem Pontal, com capacidade superior a 200 mil metros c\u00fabicos – quase vinte vezes maior que o acumulado na B1, que rompeu em Brumadinho.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 muita ang\u00fastia, dificuldade de negociar com a Vale, medo, ansiedade”, diz Alvarenga. “As pessoas t\u00eam medo de serem removidas. Por enquanto elas t\u00eam um teto, mas muitas n\u00e3o t\u00eam registro formal do im\u00f3vel\u201d, explica.<\/p>\n\n\n\n

Alegando obras de um muro de conten\u00e7\u00e3o, a Vale tem negociado com moradores da vizinhan\u00e7a de Alvarenga a compra de suas casas. Estima-se que mais de 300 pessoas possam ser removidas.<\/p>\n\n\n\n

“Casas j\u00e1 est\u00e3o sendo demolidas. A Vale tenta negociar individualmente com pequenos grupos, o que enfraquece as pessoas, que vendem suas casas por quase nada”, afirma Leonardo Ferreira, morador e membro do Comit\u00ea Popular dos Atingidos pela Minera\u00e7\u00e3o de Itabira.<\/p>\n\n\n\n

Na vis\u00e3o de Ferreira, os moradores vivem um sentimento amb\u00edguo. “Como a cidade depende da minera\u00e7\u00e3o e n\u00e3o tem muita informa\u00e7\u00e3o sobre o que acontece exatamente no complexo, existe uma certa apatia. Mas desde 2019, com o rompimento em Brumadinho, a confian\u00e7a na empresa ficou muito abalada”, detalha.<\/p>\n\n\n\n

Nos dias de chuva, por\u00e9m, a sensa\u00e7\u00e3o entre todos \u00e9 quase un\u00e2nime. “Medo. Pois n\u00e3o se sabe qual o risco verdadeiro das barragens, a quantidade de rejeito em cada uma, n\u00e3o se tem informa\u00e7\u00e3o em tempo real e os planos de autossalvamento s\u00e3o conflituosos”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

Para Alvarenga, que se lembra dos vales livros na cidade antes do dep\u00f3sito de rejeitos, os anos de vida em Itabira deixaram uma li\u00e7\u00e3o. “A gente aprendeu a conviver. Se a Vale tiver que remover uma montanha pra ter lucro, a gente sabe que ela vai remover, a gente vive isso aqui desde que eu era pequena”, lamenta.<\/p>\n\n\n\n

Questionada, a Vale n\u00e3o respondeu \u00e0 DW Brasil at\u00e9 o fechamento desta reportagem.<\/p>\n\n\n\n

Seguran\u00e7a de barragens<\/h2>\n\n\n\n

Em novembro de 2015, a barragem de Fund\u00e3o, em Mariana, das mineradoras Vale, BHP Billiton e Samarco rompeu. A trag\u00e9dia provocou a morte de 19 pessoas, contaminou o rio Doce e provocou a maior trag\u00e9dia socioambiental do pa\u00eds, segundo o Ibama \u00e0 \u00e9poca. Foram mais de 50 milh\u00f5es de metros c\u00fabicos de rejeitos despidos em terrenos e rios, contabilizou o Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal (MPF).<\/p>\n\n\n\n

Meses antes do colapso, em julho, um atestado emitido pela VogBR declarava que a estrutura estava est\u00e1vel – um documento considerado mentiroso, segundo o inqu\u00e9rito instaurado pelo MPF. <\/p>\n\n\n\n

O processo diz que os funcion\u00e1rios respons\u00e1veis da empresa “sabiam do hist\u00f3rico de problemas geot\u00e9cnicos havidos com a barragem de Fund\u00e3o, que entrou e em opera\u00e7\u00e3o em dezembro de 2008 e ficou paralisada em abril de 2009 at\u00e9 maio de 2010 devido a problemas graves que atingiram o sistema de drenagem “alma de qualquer barragem”, diz o texto.<\/p>\n\n\n\n

Pouco mais de dois anos depois de Mariana, a cat\u00e1strofe em Brumadinho ap\u00f3s o rompimento da barragem B1, da Vale, matou 273 pessoas. A estrutura tamb\u00e9m havia recebido um atestado de estabilidade, emitido pela certificadora alem\u00e3 T\u00fcv S\u00fcd.<\/p>\n\n\n\n

R\u00e9 em processos no Brasil e na Alemanha, a T\u00fcv S\u00fcd anunciou ainda em 2019 que deixaria de certificar barragens ap\u00f3s o ocorrido em Brumadinho.  Para o MPF, segundo o texto da a\u00e7\u00e3o civil p\u00fablica, as trag\u00e9dias n\u00e3o foram ocasionais.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o eram exce\u00e7\u00f5es, mas uma forma reiterada de comportar-se, uma pol\u00edtica sistem\u00e1tica de gest\u00e3o de riscos que privilegia a produ\u00e7\u00e3o e o lucro em detrimento da seguran\u00e7a, pondo em risco a pr\u00f3pria vida humana”, afirma o documento.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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