{"id":176030,"date":"2022-01-18T08:36:45","date_gmt":"2022-01-18T11:36:45","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=176030"},"modified":"2022-01-18T08:36:47","modified_gmt":"2022-01-18T11:36:47","slug":"o-que-piolhos-de-mumias-revelam-sobre-povos-da-america-do-sul-ha-2-mil-anos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/01\/18\/176030-o-que-piolhos-de-mumias-revelam-sobre-povos-da-america-do-sul-ha-2-mil-anos.html","title":{"rendered":"O que piolhos de m\u00famias revelam sobre povos da Am\u00e9rica do Sul h\u00e1 2 mil anos"},"content":{"rendered":"\n
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Uma das m\u00famias de 2.000 anos encontradas em San Juan, na Argentina – UNIVERSIDAD NACIONAL DE SAN JUAN<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em uma cena do filme Jurassic Park – Parque dos Dinossauros, do diretor Steven Spielberg, o milion\u00e1rio filantropo John Hammond explica a um grupo de cientistas como sua equipe encontrou um mosquito fossilizado em \u00e2mbar. A descoberta permitiu que eles extra\u00edssem DNA de dinossauros, conservado intacto por mais de 65 milh\u00f5es de anos.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Claro que isso acontece porque \u00e9 um filme de fic\u00e7\u00e3o cient\u00edfica. “Na verdade, voc\u00ea n\u00e3o pode extrair DNA preservado em \u00e2mbar”, diz Maria Alejandra Perotti, professora de biologia de invertebrados da Universidade de Reading, na Inglaterra.<\/p>\n\n\n\n

Mas isso n\u00e3o significa que a t\u00e9cnica em si n\u00e3o seja vi\u00e1vel. Isso \u00e9 precisamente o que Perotti conseguiu. Assim como Hammond, ela foi capaz de extrair DNA, n\u00e3o de dinossauros e mosquitos, mas de humanos antigos e piolhos.<\/p>\n\n\n\n

Perotti, uma argentina que trabalha na Inglaterra h\u00e1 quase 20 anos, estuda a import\u00e2ncia cient\u00edfica e hist\u00f3rica entre invertebrados (mais especificamente piolhos) e humanos para responder a uma das perguntas que todos fazem: de onde viemos?<\/p>\n\n\n\n

Mas ela leva a quest\u00e3o para um n\u00edvel mais regional: como a Am\u00e9rica do Sul foi povoada?<\/p>\n\n\n\n

Um grupo de cientistas de cinco universidades, coordenados por ela, descobriu que o “cimento” usado pelos piolhos para colar suas l\u00eandeas (ovos) no cabelo das pessoas acabou se tornando uma fonte de informa\u00e7\u00e3o gen\u00e9tica de “muito boa qualidade” de m\u00famias de at\u00e9 2.000 anos encontradas e preservadas em San Juan, na Argentina, perto da Cordilheira dos Andes.<\/p>\n\n\n\n

Diferente dos humanos modernos, nossos ancestrais n\u00e3o tinham m\u00e9todos eficazes para se livrar dos piolhos, o que poderia causar infesta\u00e7\u00f5es reais no couro cabeludo e nas roupas.<\/p>\n\n\n\n

A f\u00eamea depositava os ovos e eles aderiam com efici\u00eancia incomum em seu hospedeiro, de tal maneira que, em alguns casos, permaneciam neles por mil\u00eanios.<\/p>\n\n\n\n

Os piolhos podiam ser irritantes para seus antigos anfitri\u00f5es, mas, para cientistas como Perotti, o fato de mostrarem que permaneceram intactos por tanto tempo \u00e9 uma boa not\u00edcia.<\/p>\n\n\n\n

Sabendo que \u00e9 poss\u00edvel estudar a hist\u00f3ria evolutiva dos humanos por meio dos piolhos, ela partiu em busca de amostras de restos humanos que continham cabelos.<\/p>\n\n\n\n

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Cientistas encontraram DNA humano milenar no “cimento” que reveste as l\u00eandeas – UNIVERSIDAD DE READING<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Devido \u00e0s suas caracter\u00edsticas, a l\u00eandea pode permanecer intacta por milhares de anos, cercada por sua pr\u00f3pria “cola”. E dentro desse material \u00e9 poss\u00edvel encontrar c\u00e9lulas humanas.<\/p>\n\n\n\n

“Sim, \u00e9 um pouco como Jurassic Park<\/em>“, disse Perotti \u00e0 BBC Mundo (servi\u00e7o em espanhol da BBC). “Claro que o filme \u00e9 fict\u00edcio, mas fazemos a analogia porque o objetivo \u00e9 o mesmo: caracterizar o hospedeiro atrav\u00e9s de um parasita com uma subst\u00e2ncia produzida pelo pr\u00f3prio parasita.”<\/p>\n\n\n\n

O DNA humano encontrado nessas amostras mostrou-se de muito boa qualidade, como o que pode ser extra\u00eddo dos dentes e do osso petroso, que fica atr\u00e1s da orelha.<\/p>\n\n\n\n

Gra\u00e7as a isso, os cientistas est\u00e3o descobrindo mais detalhes sobre as antigas popula\u00e7\u00f5es da Am\u00e9rica do Sul e essas m\u00famias, como as rotas de migra\u00e7\u00e3o no continente, o sexo e at\u00e9 as poss\u00edveis causas de morte.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 muito interessante”, disse Perotti \u00e0 BBC Mundo. “Os piolhos sempre me chamaram a aten\u00e7\u00e3o porque moram muito perto do hospedeiro e agem como um espelho. Comecei a us\u00e1-los para interpretar o que havia acontecido com o hospedeiro.”<\/p>\n\n\n\n

“Gra\u00e7as a eles podemos estudar milhares de anos de hist\u00f3ria. Eles s\u00e3o um espelho da hist\u00f3ria evolutiva.”<\/p>\n\n\n\n

Um reflexo de humanos antigos<\/h2>\n\n\n\n

Existem duas subesp\u00e9cies de piolhos que afetam os humanos, o Pediculus humanus: <\/em>o corporis<\/em> (do corpo) e o capitis<\/em> (da cabe\u00e7a).<\/p>\n\n\n\n

Milhares de anos atr\u00e1s, o corporis<\/em> se adaptou para viver, al\u00e9m da epiderme, tamb\u00e9m nas roupas. Foi quando os humanos antigos come\u00e7aram a se cobrir com peles e tecidos.<\/p>\n\n\n\n

Em si, esta \u00e9 uma demonstra\u00e7\u00e3o de como o piolho humano evoluiu junto de seus hospedeiros.<\/p>\n\n\n\n

Perotti estava ciente dessa rela\u00e7\u00e3o e come\u00e7ou a pesquisar em cole\u00e7\u00f5es antigas, mantidas em museus de hist\u00f3ria natural, para estudar a hist\u00f3ria de nossos ancestrais a partir de parasitas.<\/p>\n\n\n\n

O projeto inclui a Universidade de Reading (Inglaterra), o Museu de Hist\u00f3ria Natural da Universidade de Oxford (Inglaterra), a Universidade de Bangor (Pa\u00eds de Gales) e a Universidade Nacional de San Juan (Argentina). Em 2016, eles contrataram cientistas da Universidade de Copenhague (Su\u00ed\u00e7a) para fazer an\u00e1lises de DNA humano.<\/p>\n\n\n\n

Os resultados foram publicados na revista especializada Molecular Biology and Evolution<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

“H\u00e1 muito tempo, eu procurava amostras das popula\u00e7\u00f5es ind\u00edgenas originais da Am\u00e9rica do Sul. Pesquisei mais at\u00e9 ter acesso a cole\u00e7\u00f5es de restos humanos que continham cabelos.”<\/p>\n\n\n\n

Essas amostras eram de m\u00famias preservadas na Argentina, al\u00e9m de outros restos humanos, com diferentes datas, entre 1.300 e 2.000 anos, encontrados nas cavernas de Calingasta, na prov\u00edncia de San Juan. Para essa an\u00e1lise, a equipe n\u00e3o extraiu mais de seis l\u00eandeas por m\u00famia.<\/p>\n\n\n\n

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As m\u00famias foram encontradas nas cavernas de Calingasta, nos Andes – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Extrair DNA de amostras t\u00e3o antigas n\u00e3o \u00e9 f\u00e1cil, e \u00e0s vezes \u00e9 at\u00e9 considerado controverso, especialmente em amostras em bom estado de conserva\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

O material gen\u00e9tico geralmente \u00e9 extra\u00eddo dos dentes ou do osso petroso, o que implica em sua destrui\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

A amostra tamb\u00e9m deve atender a certos requisitos e estar em boas condi\u00e7\u00f5es. Nem sempre \u00e9 poss\u00edvel, e \u00e0s vezes o material est\u00e1 destru\u00eddo ou parcialmente danificado.<\/p>\n\n\n\n

Com o estudo dos piolhos, os cientistas perceberam que evitaram v\u00e1rios desses inconvenientes e tamb\u00e9m preservaram as amostras para estudos posteriores.<\/p>\n\n\n\n

A ideia original era extrair o DNA humano dos mesmos piolhos preservados.<\/p>\n\n\n\n

Mas eles ficaram surpresos quando descobriram que o “envolt\u00f3rio” que cobria a l\u00eandea havia aprisionado DNA humano, n\u00e3o apenas “de alt\u00edssima qualidade”, mas tamb\u00e9m muito bem protegido gra\u00e7as \u00e0s caracter\u00edsticas qu\u00edmicas da cola, como explica Mikkel Winther Pedersen, da Universidade de Copenhague.<\/p>\n\n\n\n

“Uma vez que o ovo ficou preso no cabelo, ele imediatamente absorveu as c\u00e9lulas da pele, provavelmente do couro cabeludo”, diz ele.<\/p>\n\n\n\n

“O interessante aqui \u00e9 que (o material) foi protegido da degrada\u00e7\u00e3o. Tudo se degrada, inclusive eu. Desaparecemos com o tempo. E ainda temos aqui essas amostras”, enfatiza.<\/p>\n\n\n\n

Rotas de migra\u00e7\u00e3o e doen\u00e7as<\/h2>\n\n\n\n

O que os cientistas descobriram?<\/p>\n\n\n\n

Uma das m\u00famias, de 2.000 anos, era de um indiv\u00edduo do norte da Amaz\u00f4nia. Eles sabem disso porque o DNA extra\u00eddo coincide com o de outras popula\u00e7\u00f5es ind\u00edgenas previamente analisadas das \u00e1reas do sul da Col\u00f4mbia e da Venezuela.<\/p>\n\n\n\n

As outras, por sua vez, mais recentes (entre 1.300 e 1.500 anos), n\u00e3o possuem as mesmas caracter\u00edsticas gen\u00e9ticas, ent\u00e3o possuem uma origem diferente: da Patag\u00f4nia, do sul.<\/p>\n\n\n\n

Tudo isso revela que houve um grande movimento migrat\u00f3rio na regi\u00e3o h\u00e1 milhares de anos. Os vindos do norte podem ter tomado uma rota oriental, provavelmente impulsionada por mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, como as secas. “Mas n\u00e3o sab\u00edamos que eles tinham chegado t\u00e3o ao sul”, confessa Perotti.<\/p>\n\n\n\n

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O piolho humano tem m\u00e9todos muito eficazes de se agarrar ao cabelo e prender seus ovos – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Essas rotas haviam sido sugeridas anos atr\u00e1s por meio de estudos antropol\u00f3gicos que n\u00e3o envolviam a gen\u00e9tica. Mas as descobertas do DNA podem fornecer mais pistas sobre como os humanos foram distribu\u00eddos no continente h\u00e1 mil\u00eanios.<\/p>\n\n\n\n

Eles sabem disso porque em ambientes com temperaturas muito mais baixas, as l\u00eandeas ficam mais pr\u00f3ximas do couro cabeludo, onde h\u00e1 mais calor.<\/p>\n\n\n\n

Como a cola da l\u00eandea prende tudo ao seu redor, n\u00e3o apenas o DNA humano, os cientistas tamb\u00e9m encontraram material gen\u00e9tico que n\u00e3o era nem do piolho nem do hospedeiro. Esta \u00e9 a evid\u00eancia mais antiga do poliomav\u00edrus de c\u00e9lulas de Merkel.<\/p>\n\n\n\n

Descoberto nos Estados Unidos em 2008, suspeita-se que esse v\u00edrus cause a maioria dos casos de carcinoma de c\u00e9lulas de Merkel, uma forma rara, mas agressiva, de c\u00e2ncer de pele. Os especialistas agora suspeitam que talvez os piolhos tenham a ver com a dissemina\u00e7\u00e3o desse v\u00edrus.<\/p>\n\n\n\n

Para comprovar as descobertas, a equipe tamb\u00e9m analisou o DNA dos pr\u00f3prios piolhos, e o que eles descobriram foi que eles tinham o mesmo padr\u00e3o de migra\u00e7\u00e3o de seus hospedeiros.<\/p>\n\n\n\n

“H\u00e1 muito interesse da Europa, dos Estados Unidos e at\u00e9 da \u00c1sia em conhecer a hist\u00f3ria da Am\u00e9rica do Sul”, acrescenta Perotti. “A Am\u00e9rica do Sul recebeu as \u00faltimas migra\u00e7\u00f5es de humanos anatomicamente modernos. Os seres humanos t\u00eam sido estudados em todas as partes do mundo, mas falta foco e estudos mais precisos para descobrir o que aconteceu na Am\u00e9rica do Sul.”<\/p>\n\n\n\n

“Para mim, que sou da Am\u00e9rica Latina, \u00e9 um orgulho ter realizado esta pesquisa”, conclui.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Diferente dos humanos modernos, nossos ancestrais n\u00e3o tinham m\u00e9todos eficazes para se livrar dos piolhos, o que poderia causar infesta\u00e7\u00f5es reais no couro cabeludo e nas roupas. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":176032,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[2955,1007,2252],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/176030"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=176030"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/176030\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":176036,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/176030\/revisions\/176036"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/176032"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=176030"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=176030"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=176030"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}