{"id":176193,"date":"2022-01-31T21:18:01","date_gmt":"2022-02-01T00:18:01","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=176193"},"modified":"2022-01-31T21:18:05","modified_gmt":"2022-02-01T00:18:05","slug":"cientistas-descem-a-8km-de-profundidade-na-fossa-do-atacama-outro-planeta","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/01\/31\/176193-cientistas-descem-a-8km-de-profundidade-na-fossa-do-atacama-outro-planeta.html","title":{"rendered":"Cientistas descem a 8km de profundidade na Fossa do Atacama: ‘Outro planeta’"},"content":{"rendered":"\n
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Osvaldo Ulloa momentos antes da descida \u2014 Foto: Nick Verola – Caladan Oceanic (via BBC)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Durante anos, os ocean\u00f3grafos chilenos Osvaldo Ulloa e Rub\u00e9n Escribano imaginaram em suas conversas como seria a paisagem “alien\u00edgena” da Fossa do Atacama, a fenda impressionante que cai a mais de 8.000 metros de profundidade nas costas do\u00a0Chile\u00a0e do\u00a0Peru, e que nenhum ser humano tinha visto diretamente.<\/p>\n\n\n\n

Ulloa e Escribano, diretor e vice-diretor, respectivamente, do Instituto Mil\u00eanio de Oceanografia da Universidade de Concepci\u00f3n, no\u00a0Chile, tinham se resignado a estudar a Fossa do Atacama a partir da superf\u00edcie.<\/p>\n\n\n\n

Junto com sua equipe, eles mapearam parte da topografia da Fossa do Atacama pela primeira vez. Em 2018, durante a Expedi\u00e7\u00e3o Atacamex, eles tiraram algumas fotos, v\u00eddeos, e coletaram amostras de \u00e1gua e DNA das estranhas criaturas que habitam o fundo deste submundo.<\/p>\n\n\n\n

Chegar a essa profundidade, tecnicamente, \u00e9 mais ou menos como ir \u00e0 Lua \u2013 sonhar em ser testemunha ocular do seu objeto de estudo nunca tinha sido uma op\u00e7\u00e3o\u2026 Pelo menos, at\u00e9 agora.<\/p>\n\n\n\n

Ambos os cientistas desceram ao local neste ano com a expedi\u00e7\u00e3o do explorador americano V\u00edctor Vescovo \u2013 que em 2019 se tornou a primeira pessoa a visitar os cinco pontos mais profundos dos cinco oceanos, pilotando um submarino especialmente constru\u00eddo para esse prop\u00f3sito.<\/p>\n\n\n\n

Ulloa, Escribano e Vescovo s\u00e3o os primeiros seres humanos a descer \u00e0 Fossa do Atacama.<\/p>\n\n\n\n

Cada uma das duas viagens durou um total de dez horas, para as quais os aquanautas literalmente tiveram que se desidratar na noite anterior, levar roupas quentes e fazer um sandu\u00edche.<\/p>\n\n\n\n

Em dois mergulhos separados, primeiro Ulloa e depois Escribano embarcaram junto com Vescovo, em uma esfera de tit\u00e2nio muito pequena, coberta por uma espessa camada protetora de espuma sint\u00e9tica.<\/p>\n\n\n\n

Apelidado de Limiting Factor (Fator Limitante, em tradu\u00e7\u00e3o livre), em homenagem aos romances ficcionais de Ian Banks, o submarino \u00e9 a maravilha tecnol\u00f3gica que rotineiramente abre as portas para a explora\u00e7\u00e3o da chamada zona hadal dos oceanos, ou seja, tudo o que existe abaixo de 6.000 metros.<\/p>\n\n\n\n

“Esta foi a aventura da minha vida e o auge da minha carreira como pesquisador de ci\u00eancias marinhas”, disse Ulloa, de 60 anos, \u00e0 BBC Mundo (servi\u00e7o em espanhol da BBC), minutos depois daquele mergulho e j\u00e1 de volta \u00e0 “nave-m\u00e3e”, a embarca\u00e7\u00e3o Pressure Drop.<\/p>\n\n\n\n

Sil\u00eancio e m\u00fasica no fundo do mar<\/h2>\n\n\n\n

“O interior da esfera \u00e9 cinza escuro, tem duas cadeiras confort\u00e1veis e \u00e9 forrado com tanques de oxig\u00eanio e interruptores para todos os aparelhos eletr\u00f4nicos. Na parte inferior, h\u00e1 tr\u00eas escotilhas que permitem uma vis\u00e3o do fundo do mar. Fiquei impressionado com a suavidade da travessia e o sil\u00eancio, apenas interrompido pelas comunica\u00e7\u00f5es com a superf\u00edcie”.<\/p>\n\n\n\n

A descida at\u00e9 o ponto mais profundo da Fossa \u2013 8.069 metros, segundo os mapas feitos no dia anterior \u2013 levou tr\u00eas horas e meia. Ulloa imaginou que ficaria entediado, mas entre momentos de conversa com Vescovo, acabaram ouvindo m\u00fasica.<\/p>\n\n\n\n

Ulloa colocou uma m\u00fasica do cantor e compositor chileno Manuel Garc\u00eda em dueto com Mon Laferte e mostrou a Vescovo fotos de seus filhos, que moram na Su\u00e9cia. Por sua vez, Vescovo escolheu Tequila Sunrise, do grupo The Eagles, e contou-lhe sobre suas motiva\u00e7\u00f5es para explorar as profundezas. Entre risos, decidiram que quando voltassem teriam tempo de ver um trecho da s\u00e9rie espanhola El Cid. E assim foi.<\/p>\n\n\n\n

Em algum momento da descida, comeram metade dos sandu\u00edches: de atum para Vescovo e salada de ovos para Ulloa.<\/p>\n\n\n\n

Uma vez no fundo, Vescovo manobrou a espa\u00e7onave sobre um incr\u00edvel terreno de vales, cordilheiras e outras forma\u00e7\u00f5es rochosas que trar\u00e3o informa\u00e7\u00f5es importantes sobre a geologia caracter\u00edstica desta regi\u00e3o do planeta.<\/p>\n\n\n\n

“Tamb\u00e9m ficamos impressionados com o grande n\u00famero de holot\u00farias, uma esp\u00e9cie de pepino-do-mar que foi encontrada em outras trincheiras, mas que estava presente em grande abund\u00e2ncia aqui”, diz Ulloa.<\/p>\n\n\n\n

“Mas se h\u00e1 algo que eu, como microbiologista, queria nesta expedi\u00e7\u00e3o, era encontrar “tapetes” de col\u00f4nias de micr\u00f3bios. E \u00e9 por isso que v\u00ea-los com meus pr\u00f3prios olhos foi algo extraordin\u00e1rio, a confirma\u00e7\u00e3o pela primeira vez de sua exist\u00eancia na Fossa do Atacama e a mais de 8.000 metros.<\/p>\n\n\n\n

‘Outro planeta’<\/h2>\n\n\n\n

Para Rub\u00e9n Escribano, de 64 anos, a experi\u00eancia, dois dias depois, foi igualmente intensa.<\/p>\n\n\n\n

Como seu interesse \u00e9 a fauna, Vescovo desceu apenas at\u00e9 7.330 metros, explorando a vertente leste da Fossa em busca de organismos mais abundantes.<\/p>\n\n\n\n

Eles encontraram criaturas inesperadas para tais profundidades, como corais de \u00e1gua fria e uma estrela do mar solit\u00e1ria. Eles tamb\u00e9m foram capazes de observar animais presentes em maior n\u00famero do que em qualquer outra Fossa estudada at\u00e9 agora. Incluindo vermes poliquetas, crust\u00e1ceos anf\u00edpodes e outras criaturas hadais, que s\u00f3 agora come\u00e7aram a ser estudadas.<\/p>\n\n\n\n

“Disseram-me que t\u00ednhamos que estudar a Fossa, mas n\u00e3o me disseram que t\u00ednhamos que ir at\u00e9 l\u00e1”, brincou Escribano, assim que saiu do submers\u00edvel e pisou no conv\u00e9s.<\/p>\n\n\n\n

“Foi algo m\u00e1gico, como pousar em outro planeta e ver as estruturas constru\u00eddas por esses seres. Imaginei que fossem pequenas cidades feitas por vermes e crust\u00e1ceos que fazem caminhos no sedimento.”<\/p>\n\n\n\n

A Expedi\u00e7\u00e3o Atacama Hadal tamb\u00e9m fez mapas em alta resolu\u00e7\u00e3o de v\u00e1rios trechos da Fossa do Atacama, que, com 5.900 quil\u00f4metros de extens\u00e3o, \u00e9 uma das fendas mais longas do oceano profundo. Uma estrutura formid\u00e1vel que nasce onde a placa de Nazca afunda sob a da Am\u00e9rica do Sul, o que causa os terremotos e tsunamis que atingem essa regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Os mapas ser\u00e3o fundamentais para determinar o local ideal para instalar os sensores de um futuro projeto para estabelecer o primeiro sistema de observa\u00e7\u00e3o ancorado no fundo do oceano, um esfor\u00e7o tit\u00e2nico em constru\u00e7\u00e3o pela comunidade cient\u00edfica chilena.<\/p>\n\n\n\n

Estudar como as condi\u00e7\u00f5es f\u00edsicas, geoqu\u00edmicas e biol\u00f3gicas presentes na \u00e1rea mudam ao longo do tempo forneceria a base cient\u00edfica que pode ser usada para eventualmente observar os efeitos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas em altas profundidades. E para entender melhor os processos que causam grandes terremotos e tsunamis na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Tivemos um acesso \u00fanico para dar um salto na ci\u00eancia oceanogr\u00e1fica chilena e estou confiante de que essa conquista inspirar\u00e1 novas gera\u00e7\u00f5es”, disse Ulloa.<\/p>\n\n\n\n

Por sua vez, Vescovo diz estar comprometido com o esfor\u00e7o de continuar mapeando dezenas de milhares de quil\u00f4metros quadrados por m\u00eas para apoiar a iniciativa GEBCO 2030, que busca concluir o mapeamento de todo o fundo do mar at\u00e9 2030.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: G1<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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