{"id":176389,"date":"2022-02-16T06:00:00","date_gmt":"2022-02-16T09:00:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=176389"},"modified":"2022-02-15T20:47:42","modified_gmt":"2022-02-15T23:47:42","slug":"como-a-sobrepesca-ameaca-o-oceano-e-por-que-ela-pode-ser-catastrofica","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/02\/16\/176389-como-a-sobrepesca-ameaca-o-oceano-e-por-que-ela-pode-ser-catastrofica.html","title":{"rendered":"Como a sobrepesca amea\u00e7a o oceano \u2013 e por que ela pode ser catastr\u00f3fica"},"content":{"rendered":"\n
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Um pescador carrega uma rede cheia de peixes em pesca de arrasto no Canal da Mancha. O aumento da pesca industrial levou a extra\u00e7\u00e3o de vida selvagem a taxas muito altas para a reposi\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies. Hoje, mais de um ter\u00e7o dos estoques globais s\u00e3o de sobrepesca, representando uma amea\u00e7a \u00e0 biodiversidade e colocando os ecossistemas perigosamente fora de equil\u00edbrio.
FOTO DE\u00a0JASON ALDEN, BLOOMBERG\/GETTY IMAGES<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Cientistas h\u00e1 muito soam o alarme sobre uma cat\u00e1strofe iminente resultante da sobrepesca oce\u00e2nica \u2013 a excessiva extra\u00e7\u00e3o da vida marinha selvagem que impede a reposi\u00e7\u00e3o de indiv\u00edduos de uma esp\u00e9cie. No entanto, por duas d\u00e9cadas, l\u00edderes globais est\u00e3o em um impasse sobre os esfor\u00e7os para reverter os danos j\u00e1 feitos. Pesquisadores do mar sabem quando o exagero da pesca predat\u00f3ria no oceano come\u00e7ou. E eles t\u00eam uma boa ideia de quando isso, se n\u00e3o for resolvido, vai acabar mal. Nesta reportagem levantamos quest\u00f5es cr\u00edticas da sobrepesca \u2013 desde seus efeitos sobre a biodiversidade at\u00e9 o limitado sucesso dos esfor\u00e7os de conten\u00e7\u00e3o de danos. <\/p>\n\n\n\n

Por que a pesca excessiva ocorre<\/h2>\n\n\n\n

O primeiro caso de sobrepesca que afetou o equil\u00edbrio marinho foi registrado\u00a0no in\u00edcio de 1800, quando humanos, em busca de gordura para a produ\u00e7\u00e3o de \u00f3leo de l\u00e2mpada, dizimaram a popula\u00e7\u00e3o de baleias ao redor do Banco Stellwagen, na costa de Cape Cod, pen\u00ednsula em forma de gancho no estado de Massachusetts, nos EUA. Alguns peixes consumidos nos Estados Unidos, incluindo bacalhau-atl\u00e2ntico, arenque e sardinhas-da-calif\u00f3rnia, tamb\u00e9m foram pescados \u00e0 beira da extin\u00e7\u00e3o em meados da d\u00e9cada de 1900. Essas diminui\u00e7\u00f5es dr\u00e1sticas das popula\u00e7\u00f5es de peixes, ainda que isoladas e regionais, foram altamente disruptivas para a cadeia alimentar \u2013 que s\u00f3 se tornou mais prec\u00e1ria at\u00e9 o fim do s\u00e9culo 20.<\/p>\n\n\n\n

Tamb\u00e9m em meados do s\u00e9culo 20, pa\u00edses ao redor do mundo trabalharam para aumentar suas capacidades de pesca para garantir a disponibilidade e a acessibilidade de alimentos ricos em prote\u00ednas. Pol\u00edticas favor\u00e1veis, empr\u00e9stimos e subs\u00eddios geraram\u00a0um r\u00e1pido aumento das grandes opera\u00e7\u00f5es industriais de pesca, que rapidamente suplantaram os pescadores locais como a principal fonte mundial de frutos do mar.<\/p>\n\n\n\n

As grandes frotas comerciais que buscavam lucros eram agressivas, vasculhando o oceano e desenvolvendo m\u00e9todos e tecnologias cada vez mais sofisticados para encontrar, extrair e processar suas esp\u00e9cies-alvo. Os consumidores logo se acostumaram a ter acesso a uma ampla sele\u00e7\u00e3o de peixes a pre\u00e7os acess\u00edveis.<\/p>\n\n\n\n

Em 1989, por\u00e9m, quando\u00a0cerca de 90 milh\u00f5es de toneladas de\u00a0peixes foram retiradas do oceano, a ind\u00fastria atingiu seu \u00e1pice. Desde ent\u00e3o, os rendimentos diminu\u00edram ou estagnaram. A pesca das esp\u00e9cies mais procuradas, como o peixe-rel\u00f3gio, merluza-negra e atum-azul, entraram em colapso por falta de peixes. Em 2003, um relat\u00f3rio cient\u00edfico\u00a0estimou\u00a0que a pesca industrial havia reduzido o n\u00famero de peixes oce\u00e2nicos grandes para apenas 10% de sua popula\u00e7\u00e3o pr\u00e9-industrial.<\/p>\n\n\n\n

Como a sobrepesca afeta a biodiversidade<\/h2>\n\n\n\n

Diante do colapso das popula\u00e7\u00f5es de grandes peixes, as frotas comerciais come\u00e7aram a viajar para \u00e1reas mais profundas do oceano e mais abaixo na cadeia alimentar para capturas vi\u00e1veis. Essa t\u00e9cnica, de ‘pescar descendo a cadeia alimentar’, desencadeou uma sequ\u00eancia de rea\u00e7\u00f5es que perturba o antigo e delicado equil\u00edbrio do sistema biol\u00f3gico marinho.<\/p>\n\n\n\n

Os recifes de coral, por exemplo, s\u00e3o particularmente vulner\u00e1veis \u00e0 sobrepesca. Peixes que comem plantas\u00a0mant\u00eam esses ecossistemas em equil\u00edbrio\u00a0comendo algas e mantendo os corais limpos e saud\u00e1veis para que eles possam crescer. Pescar muitos herb\u00edvoros \u2013 intencionalmente ou como pesca incidental (esp\u00e9cies n\u00e3o-alvo capturadas nas pescarias) \u2013 pode enfraquecer os recifes e torn\u00e1-los mais suscet\u00edveis a eventos clim\u00e1ticos extremos e mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. Equipamentos de pesca e detritos\u00a0tamb\u00e9m podem destruir fisicamente\u00a0os fr\u00e1geis corais que comp\u00f5em as funda\u00e7\u00f5es de recifes.<\/p>\n\n\n\n

A sobrepesca tamb\u00e9m pode prejudicar outras esp\u00e9cies marinhas. O arrasto, um m\u00e9todo no qual os barcos puxam redes enormes atr\u00e1s deles na \u00e1gua, puxa mais do que apenas camar\u00e3o e atum azul \u2013 literalmente arrastando quase tudo em seu caminho.\u00a0Tartarugas- marinhas,\u00a0golfinhos, aves marinhas,\u00a0tubar\u00f5es\u00a0e outros animais\u00a0s\u00e3o amea\u00e7ados por se tornarem capturas acess\u00f3rias.<\/p>\n\n\n\n

Esfor\u00e7os para evitar a sobrepesca<\/h2>\n\n\n\n

Com o passar dos anos, \u00e0 medida que a pesca fica cada vez mais escassa, os humanos come\u00e7aram a entender que os oceanos, considerados infinitamente vastos e ricos, s\u00e3o de fato altamente vulner\u00e1veis. Em 2006, um estudo com os dados de peixes capturados publicados na revista\u00a0Science<\/em>\u00a0previu que, se essas taxas de pesca insustent\u00e1veis continuarem,\u00a0todas as pescarias do mundo entrar\u00e3o em colapso at\u00e9 2048.<\/p>\n\n\n\n

Muitos cientistas dizem que a maioria das popula\u00e7\u00f5es de peixes poderia ser restaurada com um gerenciamento agressivo da pesca e uma melhor aplica\u00e7\u00e3o das leis que regulamentam a extra\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies, incluindo a institui\u00e7\u00e3o de limites de captura. Um aumento do uso da aquicultura,\u00a0a agricultura de frutos do mar, tamb\u00e9m ajudaria. E em muitas regi\u00f5es, h\u00e1 raz\u00e3o para esperan\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

A Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas para a Alimenta\u00e7\u00e3o e a Agricultura (FAO) \u2013 que estabelece padr\u00f5es internacionais para a gest\u00e3o da pesca \u2013\u00a0apontou em seu relat\u00f3rio de 2020\u00a0que houve um ligeiro aumento no percentual de estoques que est\u00e3o produzindo de forma sustent\u00e1vel o maior n\u00famero poss\u00edvel de alimentos,\u00a0que \u00e9 o objetivo da gest\u00e3o da pesca.<\/p>\n\n\n\n

Ainda assim, restam muitos desafios. Cerca de um ter\u00e7o dos estoques globais s\u00e3o frutos de sobrepesca \u2013 e a propor\u00e7\u00e3o global de estoques de peixes em n\u00edveis sustent\u00e1veis continuou a diminuir. O relat\u00f3rio da FAO diz que essa redu\u00e7\u00e3o dos estoques de peixes pode ser particularmente vista “em lugares onde o manejo da pesca n\u00e3o est\u00e1 em vigor ou \u00e9 ineficaz”. Das \u00e1reas que a organiza\u00e7\u00e3o monitora, o Mediterr\u00e2neo e o Mar Negro tiveram a maior porcentagem das reservas pescadas \u2013 62,5% \u2013 em n\u00edveis insustent\u00e1veis.<\/p>\n\n\n\n

Podemos parar de pescar demais?<\/h2>\n\n\n\n

Subs\u00eddios governamentais \u00e0 ind\u00fastria pesqueira continuam a ser um desafio significativo para reverter essa tend\u00eancia preocupante. Uma pesquisa global descobriu que, em 2018, as na\u00e7\u00f5es\u00a0gastaram cerca de R$ 114 bilh\u00f5es com os chamados subs\u00eddios nocivos, que alimentam a pesca excessiva \u2013 um aumento de 6% em rela\u00e7\u00e3o a 2009.<\/p>\n\n\n\n

Como a\u00a0National Geographic<\/strong>\u00a0relatou na \u00e9poca, os\u00a0subs\u00eddios nocivos s\u00e3o os que financiam pr\u00e1ticas que de outra forma n\u00e3o seriam rent\u00e1veis, como os que diminuem os custos de combust\u00edvel dos arrast\u00f5es industriais. A China, por exemplo, aumentou seus subs\u00eddios em 105% na \u00faltima d\u00e9cada.<\/p>\n\n\n\n

Membros da Organiza\u00e7\u00e3o Mundial do Com\u00e9rcio (OMC) t\u00eam discutido como limitar esses subs\u00eddios desde 2001 \u2013 com pouco progresso. E apesar da promessa dos membros das Na\u00e7\u00f5es Unidas de\u00a0forjar um acordo at\u00e9 2020, o prazo venceu sem resolu\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Em 2021, o diretor-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala,\u00a0pediu aos\u00a0membros que chegassem a um acordo, argumentando que uma “falha em faz\u00ea-lo colocaria em risco a biodiversidade do oceano e a sustentabilidade dos estoques de peixes dos quais tantos dependem para alimento e renda”.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o est\u00e1 claro se os pa\u00edses ter\u00e3o a vontade pol\u00edtica de seguir adiante. O que est\u00e1 claro para os cientistas, por\u00e9m, \u00e9 que a diminui\u00e7\u00e3o da pesca predat\u00f3ria \u00e9 uma das muitas medidas fundamentais para salvar os oceanos do mundo.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

D\u00e9cadas de explora\u00e7\u00e3o nos mares perturbaram o delicado equil\u00edbrio dos ecossistemas marinhos \u2014 apesar dos esfor\u00e7os globais para mitigar os danos. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":176390,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[264,301,187],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/176389"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=176389"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/176389\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":176391,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/176389\/revisions\/176391"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/176390"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=176389"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=176389"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=176389"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}