{"id":176562,"date":"2022-03-02T18:04:58","date_gmt":"2022-03-02T21:04:58","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=176562"},"modified":"2022-03-02T18:05:05","modified_gmt":"2022-03-02T21:05:05","slug":"a-espetacular-imagem-da-maior-erupcao-solar-ja-registrada","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/03\/02\/176562-a-espetacular-imagem-da-maior-erupcao-solar-ja-registrada.html","title":{"rendered":"A espetacular imagem da maior erup\u00e7\u00e3o solar j\u00e1 registrada"},"content":{"rendered":"\n
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“Esta imagem \u00e9 absolutamente espetacular porque mostra material solar literalmente saindo do Sol a dist\u00e2ncias de v\u00e1rios raios solares, mantendo sua continuidade”, destaca o f\u00edsico solar Jos\u00e9 Carlos del Toro Iniesta – ESA<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Ao ver esta imagem, o cientista espanhol Jos\u00e9 Carlos del Toro Iniesta ficou at\u00f4nito.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

“Sou especialista em f\u00edsica solar, mas antes de tudo sou um ser humano e meu primeiro sentimento \u00e9 o de qualquer ser humano: a estupefa\u00e7\u00e3o perante a beleza. Se algo nos diferencia como seres humanos \u00e9 que sabemos distinguir, compreender e comunicar a beleza. \u00c9 o que d\u00e1 sentido \u00e0 nossa vida”, segundo ele.<\/p>\n\n\n\n

A imagem da colossal eje\u00e7\u00e3o de material solar foi divulgada pela Ag\u00eancia Espacial Europeia (ESA, na sigla em ingl\u00eas). Ela foi captada em 15 de fevereiro por um dos instrumentos da nave espacial Solar Orbiter, uma miss\u00e3o conjunta da ESA e da Nasa.<\/p>\n\n\n\n

A imagem mostra o que \u00e9 conhecido como uma erup\u00e7\u00e3o de protuber\u00e2ncia solar, segundo Del Toro Iniesta \u2014 um dos principais pesquisadores da miss\u00e3o Solar Orbiter e professor do Conselho Superior de Pesquisas Cient\u00edficas (CSIC, na sigla em espanhol) do Instituto de Astrof\u00edsica da Andaluzia, na Espanha \u2014 explicou \u00e0 BBC News Mundo (o servi\u00e7o em espanhol da BBC).<\/p>\n\n\n\n

“As protuber\u00e2ncias solares (nem sempre, mas em muitos casos) entram em erup\u00e7\u00e3o, expulsam material solar para o meio interplanet\u00e1rio e esse material acaba por chegar \u00e0 Terra”, segundo ele. “S\u00e3o regi\u00f5es do Sol onde o material \u00e9 mais denso e frio que nas suas vizinhan\u00e7as, mas se mant\u00e9m suspenso sobre a superf\u00edcie devido \u00e0 a\u00e7\u00e3o do campo magn\u00e9tico.”<\/p>\n\n\n\n

O cientista destacou que, quando o campo magn\u00e9tico \u00e9 reconfigurado devido a alguma perturba\u00e7\u00e3o e sua topologia \u00e9 alterada, a energia armazenada \u00e9 transformada em energia cin\u00e9tica, de movimento do g\u00e1s, que acaba sendo expulso.<\/p>\n\n\n\n

A imagem captada pela Solar Orbiter “\u00e9 absolutamente espetacular porque mostra material solar saindo literalmente do Sol a dist\u00e2ncias de v\u00e1rios raios solares, mantendo sua continuidade”, segundo Del Toro Iniesta. “Neste sentido, \u00e9 a maior erup\u00e7\u00e3o solar j\u00e1 observada.”<\/p>\n\n\n\n

A imagem tamb\u00e9m \u00e9 incomum porque mostra o disco solar completo. O especialista ressalta que “normalmente, n\u00f3s, f\u00edsicos solares, tendemos a observar em detalhes pequenos peda\u00e7os do Sol, n\u00e3o a estrela inteira”.<\/p>\n\n\n\n

Os riscos das tempestades solares<\/h2>\n\n\n\n

No caso desta imagem da ESA, a eje\u00e7\u00e3o de material solar n\u00e3o estava dirigida \u00e0 Terra. Na verdade, ela estava se afastando de n\u00f3s. Mas o que acontece quando essas part\u00edculas chegam at\u00e9 a Terra?<\/p>\n\n\n\n

“Esse material se desgarra do Sol, viaja pelo espa\u00e7o interplanet\u00e1rio e chega at\u00e9 a Terra, produzindo as famosas tempestades solares. O nome correto seria tempestades geomagn\u00e9ticas, porque \u00e9 na Terra que a tempestade est\u00e1 sendo produzida, embora sua origem seja solar”, destacou Del Toro Iniesta.<\/p>\n\n\n\n

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A aurora boreal \u00e9 um dos efeitos das tempestades solares – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Ele explica: “basicamente, as part\u00edculas solares s\u00e3o ejetadas com grande energia, em velocidades muito altas, \u00e0s vezes quase relativistas, de um ter\u00e7o ou um quarto da velocidade da luz \u2014 algo assombroso. Essa energia cin\u00e9tica do material, quando chega \u00e0 Terra, encontra nosso escudo protetor, que \u00e9 o campo magn\u00e9tico terrestre.”<\/p>\n\n\n\n

“As part\u00edculas s\u00e3o basicamente pr\u00f3tons – \u00e1tomos de hidrog\u00eanio cujo el\u00e9tron foi arrancado. Elas est\u00e3o carregadas eletricamente e, quando chegam ao campo geomagn\u00e9tico, s\u00e3o obrigadas a mover-se ao longo das linhas de campo”, segundo o f\u00edsico.<\/p>\n\n\n\n

Como o campo magn\u00e9tico nasce no Polo Norte e encerra no Polo Sol, as part\u00edculas, ao chegarem ao campo magn\u00e9tico, viajam para os polos. “Ao aproximar-se do planeta pelos polos, s\u00e3o primeiramente formadas as auroras que estamos acostumados a ver e s\u00e3o o mais belo efeito dessas tempestades solares. Mas elas n\u00e3o s\u00e3o o \u00fanico efeito.”<\/p>\n\n\n\n

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O f\u00edsico solar Jos\u00e9 Carlos del Toro Iniesta, do Instituto de Astrof\u00edsica da Andaluzia, na Espanha, \u00e9 um dos principais pesquisadores do SO\/PHI, o instrumento da nave Solar Orbiter encarregado de fornecer imagens do campo magn\u00e9tico – GENTILEZA J.C. DEL TORO INIESTA<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Del Toro Iniesta explica que, quando a energia das part\u00edculas \u00e9 muito grande, o choque \u00e9 mais pronunciado e as part\u00edculas podem at\u00e9 vencer o escudo geomagn\u00e9tico e atingir zonas da atmosfera mais pr\u00f3ximas da Terra \u2014 tipicamente a ionosfera, alterando sua qu\u00edmica.<\/p>\n\n\n\n

“Nesta conversa pelo Zoom, estamos agora usando a ionosfera porque estamos nos comunicando via sat\u00e9lite”, segundo o cientista espanhol. “Os sat\u00e9lites e as radiocomunica\u00e7\u00f5es utilizam a ionosfera como espelho, de forma que, \u00e9 claro, se a ionosfera \u00e9 alterada, as comunica\u00e7\u00f5es tamb\u00e9m se alteram.”<\/p>\n\n\n\n

Essas altera\u00e7\u00f5es podem afetar os sistemas GPS utilizados em autom\u00f3veis para deslocamentos de um ponto para outro.<\/p>\n\n\n\n

Se a \u00f3rbita do sat\u00e9lite sofrer altera\u00e7\u00f5es, “perdemos precis\u00e3o, o que, no nosso caso, pode ser pouco preocupante”, segundo o f\u00edsico. “Mas se o sat\u00e9lite estiver sendo utilizado por um navio com milhares de toneladas de petr\u00f3leo e muito dinheiro envolvido, ou um avi\u00e3o transoce\u00e2nico de passageiros (que s\u00e3o os mais vulner\u00e1veis a esses bombardeios de part\u00edculas porque viajam pelos polos), isso poderia colocar em perigo a vida dos passageiros.”<\/p>\n\n\n\n

“De fato, a Esta\u00e7\u00e3o Espacial Internacional possui um quarto do p\u00e2nico – uma c\u00e2mara encoura\u00e7ada com grande espessura de chumbo, para que, quando essas tempestades solares forem produzidas, o bombardeio de part\u00edculas n\u00e3o chegue a afetar os astronautas”, acrescentou o especialista.<\/p>\n\n\n\n

O bombardeio de part\u00edculas afetou grandes conjuntos de cabos e causou um apag\u00e3o de v\u00e1rias horas em 1989, em toda a costa leste do Canad\u00e1 e dos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

Del Toro Iniesta destaca que “nossa vida \u00e9 cada vez mais dependente da tecnologia e cada vez mais vulner\u00e1vel a este tipo de fen\u00f4meno que vem ocorrendo desde que o Sol existe e desde que o mundo \u00e9 mundo \u2014 ou seja, essa hist\u00f3ria se repete h\u00e1 4,5 bilh\u00f5es de anos. Mas, at\u00e9 agora, n\u00f3s n\u00e3o \u00e9ramos t\u00e3o sens\u00edveis a esse fen\u00f4meno.”<\/p>\n\n\n\n

Os mist\u00e9rios do Sol<\/h2>\n\n\n\n

A miss\u00e3o Solar Orbiter permitir\u00e1 que os cientistas realizem observa\u00e7\u00f5es sem precedentes.<\/p>\n\n\n\n

A miss\u00e3o “re\u00fane, pela primeira vez, instrumentos de sondagem remota e de medi\u00e7\u00e3o local”, segundo o f\u00edsico. “Os aparelhos de sondagem remota s\u00e3o aqueles que est\u00e3o olhando para o Sol \u00e0 dist\u00e2ncia a partir da nave, como o instrumento que produziu a foto.”<\/p>\n\n\n\n

“Mas temos tamb\u00e9m instrumentos de medi\u00e7\u00e3o local e, com eles, vamos medindo as propriedades das part\u00edculas que encontramos durante a viagem. Como essas part\u00edculas t\u00eam sua origem no Sol, pela primeira vez temos meios de compreender as medi\u00e7\u00f5es das part\u00edculas locais e sua origem”, explica o cientista.<\/p>\n\n\n\n

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A Solar Orbiter se aproximar\u00e1 do Sol at\u00e9 a \u00f3rbita de Merc\u00fario – ESA\/ATG MEDIALAB<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Al\u00e9m disso, estamos nos aproximando do Sol como nunca foi feito antes. Vamos nos aproximar at\u00e9 0,3 unidades astron\u00f4micas [uma unidade astron\u00f4mica \u00e9 a dist\u00e2ncia entre a Terra e o Sol]. Estamos nos aproximando at\u00e9 a \u00f3rbita do planeta Merc\u00fario. N\u00f3s ficaremos muito pr\u00f3ximos com essa bateria de instrumentos, o que nos fornecer\u00e1 informa\u00e7\u00f5es para entender muitas coisas”, destaca Del Toro Iniesta.<\/p>\n\n\n\n

Os cientistas procuram compreender, por exemplo, como o Sol gera todos os fen\u00f4menos que trazem consequ\u00eancias para a heliosfera e o meio interplanet\u00e1rio. O f\u00edsico espanhol ensina que “a heliosfera \u00e9 o pedacinho do universo em que o Sol possui influ\u00eancia ostensiva. Entender essa origem e o comportamento desses fen\u00f4menos \u00e9 algo fascinante.”<\/p>\n\n\n\n

Mas existe um grande mist\u00e9rio em particular. Del Toro Iniesta explica: “existem perguntas que deixaram os f\u00edsicos solares loucos por muito tempo. Sabemos que a regi\u00e3o do Sol de onde parte a protuber\u00e2ncia \u2014 a coroa solar \u2014 \u00e9 muit\u00edssimo mais quente que a superf\u00edcie. Muit\u00edssimo.”<\/p>\n\n\n\n

“Na superf\u00edcie, temos 6.000 graus Celsius e, na coroa, temos milh\u00f5es de graus. Isso n\u00e3o \u00e9 normal. Por qu\u00ea? Podemos comprovar isso em casa \u2014 o quente esquenta o frio e a fonte de calor est\u00e1 no centro do Sol.”<\/p>\n\n\n\n

“Se a energia fosse transportada somente por radia\u00e7\u00e3o, a temperatura do material solar precisaria ir diminuindo de forma constante \u00e0 medida que nos afastamos dele. E isso \u00e9 o que acontece at\u00e9 a superf\u00edcie, mas, em seguida, bum! ela sobe repentinamente. De onde vem essa energia?”, pergunta o cientista.<\/p>\n\n\n\n

“Acreditamos que ela seja canalizada pelos campos magn\u00e9ticos e que outros processos que n\u00e3o s\u00e3o t\u00e9rmicos transportem energia do interior para fora, mas de uma forma peculiar. Acreditamos que seja algo assim, mas ainda n\u00e3o temos provas contundentes.”<\/p>\n\n\n\n

“E, como essa, existem muitas outras perguntas”, conclui Del Toro Iniesta.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"