{"id":176595,"date":"2022-03-04T16:59:49","date_gmt":"2022-03-04T19:59:49","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=176595"},"modified":"2022-03-04T16:59:51","modified_gmt":"2022-03-04T19:59:51","slug":"agrotoxicos-banidos-na-ue-encontram-terreno-fertil-no-brasil","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/03\/04\/176595-agrotoxicos-banidos-na-ue-encontram-terreno-fertil-no-brasil.html","title":{"rendered":"Agrot\u00f3xicos banidos na UE encontram terreno f\u00e9rtil no Brasil"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a><\/figure>\n\n\n\n

A aprova\u00e7\u00e3o de agrot\u00f3xicos no Brasil segue em ritmo acelerado desde 2019. Em tr\u00eas anos de gest\u00e3o, o governo de Jair Bolsonaro aprovou a maior quantidade de defensivos agr\u00edcolas em mais de vinte anos: foram 1.560 novos ingredientes ativos registrados entre janeiro de 2019 a fevereiro de 2021, uma m\u00e9dia de 1,4 subst\u00e2ncias por dia, segundo dados dispon\u00edveis no site do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).<\/p>\n\n\n\n

Muitas destas subst\u00e2ncias, no entanto, n\u00e3o s\u00e3o mais usadas nos Estados Unidos e na Uni\u00e3o Europeia (UE). De acordo com a Ag\u00eancia Nacional de Vigil\u00e2ncia Sanit\u00e1ria (Anvisa), pelo menos 37 dos agrot\u00f3xicos registrados desde 2019 s\u00e3o proibidos nos EUA e na UE por causa da toxicidade \u00e0 sa\u00fade. Quando se considera os ingredientes ativos, o n\u00famero cresce: 44% dos 475 agrot\u00f3xicos registrados no Brasil em 2019 foram banidos nos pa\u00edses europeus, segundo um relat\u00f3rio do Greenpeace.<\/p>\n\n\n\n

“A ind\u00fastria do pesticida e do veneno v\u00ea no Brasil uma oportunidade para desovar os produtos que n\u00e3o conseguem mais vender em outras partes do mundo”, diz o especialista em Direito Ambiental, Kenzo Juc\u00e1, assessor legislativo do Instituto Socioambiental (ISA).<\/p>\n\n\n\n

Segundo a engenheira agr\u00f4noma Fran Paula, mestre em Sa\u00fade P\u00fablica e representante da Articula\u00e7\u00e3o Nacional de Agroecologia (ANA), todos os registros realizados nos \u00faltimos tr\u00eas anos preocupam os ambientalistas, mas, se forem considerados somente os agrot\u00f3xicos banidos no exterior, os tr\u00eas mais preocupantes s\u00e3o o paraquate, a atrazina, e o glifosato.<\/p>\n\n\n\n

O agrot\u00f3xico mais vendido do Brasil, o glifosato, \u00e9 classificado pela Ag\u00eancia Internacional de Pesquisa sobre o C\u00e2ncer (IARC) como “provavelmente cancer\u00edgeno”. J\u00e1 o segundo herbicida mais usado no pa\u00eds, de acordo com a Embrapa, a atrazina \u2013  aplicada na cultura do milho \u2013 \u00e9 proibida na UE e outros pa\u00edses desde 2004 por estar associada a doen\u00e7as como Parkinson, c\u00e2ncer de ov\u00e1rio e pr\u00f3stata e infertilidade.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 o paraquate \u00e9 um caso \u00e0 parte. Ele chegou a ser um dos agrot\u00f3xicos mais usados pelo Brasil, mas foi proibido pela Anvisa em 2020 ap\u00f3s ser associado a casos de Parkinson e c\u00e2ncer. Neste ano, a Associa\u00e7\u00e3o Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), por\u00e9m, solicitou “libera\u00e7\u00e3o emergencial” do produto e revis\u00e3o da decis\u00e3o da Anvisa.<\/p>\n\n\n\n

Raio X dos agrot\u00f3xicos no pa\u00eds<\/h2>\n\n\n\n

No primeiro ano de governo Bolsonaro, 2019, o Brasil teve a maior quantidade de agrot\u00f3xicos classificados nos n\u00edveis mais altos de toxicidade e periculosidade: 32,8% s\u00e3o “extremamente t\u00f3xicos \u00e0 sa\u00fade” ou “altamente t\u00f3xicos \u00e0 sa\u00fade”; 52% s\u00e3o “altamente perigosos ao meio ambiente” ou “muito perigosos ao meio ambiente”.<\/p>\n\n\n\n

No balan\u00e7o geral dos \u00faltimos tr\u00eas anos, por\u00e9m, dos mais de 1,5 mil agrot\u00f3xicos registrados 8% deles s\u00e3o classificados como “extremamente t\u00f3xicos” \u00e0 sa\u00fade pela Anvisa e 31% como “altamente perigosos” ao meio ambiente pelo Ibama.<\/p>\n\n\n\n

A DW Brasil questionou a Anvisa sobre o volume e a toxicidade das subst\u00e2ncias aprovadas de acordo com a pr\u00f3pria classifica\u00e7\u00e3o do \u00f3rg\u00e3o. A ag\u00eancia afirmou que “os agrot\u00f3xicos liberados no Brasil, \u00e0 luz da ci\u00eancia atual, e dentro das condi\u00e7\u00f5es de uso aprovadas, s\u00e3o considerados seguros pela Anvisa, tanto do ponto de vista ocupacional como diet\u00e9tico”.<\/p>\n\n\n\n

A ag\u00eancia tamb\u00e9m informou que, dentre os produtos j\u00e1 aprovados, mant\u00e9m uma “lista de prioridades de ingredientes ativos indicados \u00e0 reavalia\u00e7\u00e3o”, elaborada com base nas novas evid\u00eancias cient\u00edficas de riscos e no n\u00edvel de exposi\u00e7\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o brasileira a esses ingredientes ativos.<\/p>\n\n\n\n

“Os ingredientes ativos que atualmente preocupam a Anvisa s\u00e3o aqueles que se encontram na lista de ingredientes ativos selecionados para o processo de reavalia\u00e7\u00e3o: carbendazim, tiofanato met\u00edlico, epoxiconazol, procimidona, corpirif\u00f3s, linurom e clorotalonil”, informa o \u00f3rg\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

A DW Brasil solicitou dados ao Minist\u00e9rio da Sa\u00fade sobre mortes e interna\u00e7\u00f5es decorrentes de intoxica\u00e7\u00e3o por agrot\u00f3xicos, assim como posicionamento sobre a quantidade de subst\u00e2ncias “extremamente” ou “altamente t\u00f3xicas” registradas. A pasta n\u00e3o quis se pronunciar e afirmou n\u00e3o ter estes dados de f\u00e1cil acesso, n\u00e3o retornando at\u00e9 o fechamento da reportagem.<\/p>\n\n\n\n

Estimativa da Organiza\u00e7\u00e3o Internacional do Trabalho (OIT) mostra que os agrot\u00f3xicos causam, por ano, 70 mil intoxica\u00e7\u00f5es agudas e cr\u00f4nicas e que resultam em morte em pa\u00edses em desenvolvimento.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o Instituto Nacional do C\u00e2ncer (Inca), os principais afetados pelo uso de agrot\u00f3xicos “s\u00e3o os agricultores, pecuaristas, agentes de controle de endemias, trabalhadores de empresas desinsetizadoras e trabalhadores das ind\u00fastrias de agrot\u00f3xicos”, mas toda a popula\u00e7\u00e3o est\u00e1 exposta “por meio de consumo de alimentos e \u00e1gua contaminados”.<\/p>\n\n\n\n

Legisla\u00e7\u00e3o branda<\/h2>\n\n\n\n

Em janeiro, um relat\u00f3rio de grupos ambientalistas alem\u00e3es sobre o\u00a0uso de pesticidas\u00a0no mundo alertou que a legisla\u00e7\u00e3o brasileira \u00e9 branda em rela\u00e7\u00e3o aos limites de toxicidade dos res\u00edduos em alimentos, o que permite ao Brasil importar agrot\u00f3xicos banidos em outros pa\u00edses.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 um pesadelo e pode piorar”, avalia Paula sobre a pol\u00edtica nacional de registros de novos agrot\u00f3xicos. Ela se refere ao\u00a0Projeto de Lei 6.299\/2020, aprovado em fevereiro pela C\u00e2mara dos Deputados em regime de urg\u00eancia, que visa substituir a atual Lei dos Agrot\u00f3xicos (Lei 7.802\/1989) com o objetivo de afrouxar as regras para aprova\u00e7\u00e3o de novas subst\u00e2ncias.<\/p>\n\n\n\n

“O PL 6.299 permitir\u00e1 o registro de agrot\u00f3xicos banidos em outros pa\u00edses, assim como de subst\u00e2ncias com potencial cancer\u00edgeno cientificamente comprovado”, alerta a engenheira agr\u00f4noma.<\/p>\n\n\n\n

Apesar das j\u00e1 existentes cr\u00edticas internacionais, o PL 6.299 ir\u00e1 abrandar ainda mais o processo de registro de novos ingredientes ativos, concentrando o poder regulat\u00f3rio no Minist\u00e9rio da Agricultura, Pecu\u00e1ria e Abastecimento (Mapa), desconsiderando as avalia\u00e7\u00f5es de impacto dos agrot\u00f3xicos na sa\u00fade e no meio ambiente. Atualmente, todo agrot\u00f3xico utilizado no Brasil precisa de registro feito em conjunto pelo Mapa, Anvisa e Ibama.<\/p>\n\n\n\n

“O objetivo \u00e9 flexibilizar ainda mais o registro dessas subst\u00e2ncias, muitas j\u00e1 banidas em outros pa\u00edses por causa do perigo que representam, e transformar o Brasil em uma grande lixeira t\u00f3xica do planeta”, avalia Paula.<\/p>\n\n\n\n

Campe\u00e3o mundial<\/h2>\n\n\n\n

Desde 2008, o Brasil \u00e9 campe\u00e3o em uso de agrot\u00f3xicos no mundo. “Isso \u00e9 reflexo de um modelo agr\u00edcola e agr\u00e1rio brasileiro atrasados, que n\u00e3o consideram a riqueza da sua biodiversidade. Somos um dos poucos pa\u00edses que tem a oportunidade de aliar desenvolvimento com produ\u00e7\u00e3o agr\u00edcola sustent\u00e1vel, mas insistimos em um modelo de monocultura agr\u00edcola para as nossas commodities”, afirma Juc\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

O assessor do ISA se refere \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de soja e gr\u00e3os para exporta\u00e7\u00e3o, principalmente o milho, alimentos tamb\u00e9m usados para abastecer o agroneg\u00f3cio.<\/p>\n\n\n\n

O problema das commodities, segundo Juc\u00e1, \u00e9 o seu modelo arcaico de monocultura dependente de agrot\u00f3xicos. “Produzimos commodities em uma grande extens\u00e3o territorial, em um modelo arcaico que n\u00e3o consideram fatores clim\u00e1ticos e de caracter\u00edsticas geogr\u00e1ficas locais”, diz.<\/p>\n\n\n\n

Dados de 2019 do Sindicato Nacional da Ind\u00fastria de Produtos para Defesa Vegetal (Sindiveg) apontam que a soja consumiu 52% das vendas de agrot\u00f3xicos no pa\u00eds, e 10% foram para o milho.<\/p>\n\n\n\n

Tanto Paula quanto Juc\u00e1 afirmam, contudo, que o modelo de monocultura promovido pelo agroneg\u00f3cio n\u00e3o representa a agricultura brasileira, mas que, por produzir as poucas commodities para exporta\u00e7\u00e3o do pa\u00eds, \u00e9 dominado por um setor forte pol\u00edtica e economicamente. Por isso, o Brasil n\u00e3o depende de agrot\u00f3xicos e fertilizantes para garantir a sua seguran\u00e7a alimentar.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o precisamos de mais agrot\u00f3xicos para produzir alimentos”, afirma Juc\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

“A produ\u00e7\u00e3o de alimentos no Brasil \u00e9 mantida por pequenos e m\u00e9dios produtores e pela agricultura familiar, um tipo de agricultura mais diversificada e equilibrada, n\u00e3o dependente dessas subst\u00e2ncias”, diz Paula.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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