{"id":176606,"date":"2022-03-04T17:38:54","date_gmt":"2022-03-04T20:38:54","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=176606"},"modified":"2022-03-04T17:39:00","modified_gmt":"2022-03-04T20:39:00","slug":"como-o-metodo-de-dna-que-pegou-serial-killers-pode-capturar-cacadores-de-elefantes","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/03\/04\/176606-como-o-metodo-de-dna-que-pegou-serial-killers-pode-capturar-cacadores-de-elefantes.html","title":{"rendered":"Como o m\u00e9todo de DNA que pegou serial killers pode capturar ca\u00e7adores de elefantes"},"content":{"rendered":"\n
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Peda\u00e7os de marfim cortados de presas de elefante confiscados pela pol\u00edcia das Filipinas ser\u00e3o enviados para an\u00e1lise de DNA. Se as amostras coincidirem com o DNA extra\u00eddo de outras apreens\u00f5es de marfim, os investigadores ter\u00e3o evid\u00eancias sugerindo que a mesma organiza\u00e7\u00e3o criminosa est\u00e1 envolvida em ambos.
FOTO DE\u00a0NOEL CELIS\/AFP VIA GETTY IMAGES<\/strong><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Seguindo uma pista de julho de 2019, autoridades de Cingapura localizaram um carregamento de tr\u00eas cont\u00eaineres de madeira que iria da Rep\u00fablica Democr\u00e1tica do Congo para o Vietn\u00e3. Escondidas entre a madeira, quase nove toneladas de presas de elefante cortadas foram embaladas em 132 sacos pl\u00e1sticos pesados \u2013 o equivalente ao marfim de cerca de 300 elefantes africanos. Os inspetores tamb\u00e9m encontraram quase 12 toneladas de escamas de pangolim.<\/p>\n\n\n\n

Eles notificaram imediatamente o porto de origem, bem como a Interpol e o Conselho dos Parques Nacionais (NParks) de Cingapura, respons\u00e1veis pela administra\u00e7\u00e3o\u00a0do tratado internacional que rege o com\u00e9rcio de vida selvagem transfronteiri\u00e7o. O NParks, por sua vez, entrou em contato com\u00a0 um professor em Seattle.<\/p>\n\n\n\n

Samuel Wasser dirige o\u00a0Centro de Ci\u00eancia Forense Ambiental\u00a0da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, onde no in\u00edcio dos anos 2000 sua equipe foi pioneira em um m\u00e9todo de compara\u00e7\u00e3o de DNA de presas de elefantes traficadas a amostras de tecidos e dejetos de elefantes selvagens conhecidos. A t\u00e9cnica inovadora \u00e9 usada\u00a0para aproximar a origem geogr\u00e1fica de presas\u00a0traficadas \u2013 informa\u00e7\u00f5es que podem ser cr\u00edticas na identifica\u00e7\u00e3o de pontos de ca\u00e7a ilegal e na acusa\u00e7\u00e3o de ca\u00e7adores furtivos.<\/p>\n\n\n\n

Mais recentemente, por\u00e9m, Wasser voltou sua aten\u00e7\u00e3o para um alvo maior: as poderosas organiza\u00e7\u00f5es criminosas que dirigem o com\u00e9rcio de marfim.<\/p>\n\n\n\n

Em um artigo publicado na\u00a0Nature Human Behavior\u00a0<\/em>em 14 de fevereiro, Wasser e seus colegas demonstram como um m\u00e9todo relativamente novo de trabalhar com DNA \u2013 chamado correspond\u00eancia familiar \u2013 pode revelar informa\u00e7\u00f5es muito mais detalhadas sobre liga\u00e7\u00f5es entre elefantes ca\u00e7ados. Esses dados, juntamente com evid\u00eancias como registros telef\u00f4nicos e recibos de transporte, mostram padr\u00f5es consistentes de movimento il\u00edcito de marfim do ponto de ca\u00e7a ilegal, ao longo de rotas de contrabando e fora da \u00c1frica. Essas informa\u00e7\u00f5es poderiam ajudar as autoridades a processar n\u00e3o apenas ca\u00e7adores individuais \u2013 uma t\u00e1tica que historicamente pouco fez para diminuir a ca\u00e7a ilegal \u2013 mas tamb\u00e9m desmantelar as organiza\u00e7\u00f5es criminosas transnacionais que pagam ca\u00e7adores e intermedi\u00e1rios e que juntam grandes quantidades de marfim para exporta\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Essa nova forma de usar os dados existentes pode ser crucial para a sobreviv\u00eancia dos elefantes. Ca\u00e7adores ilegais matam cerca de 30 mil elefantes por ano, principalmente para atender \u00e0 demanda na \u00c1sia por produtos de luxo como esculturas de marfim, j\u00f3ias e hashis.<\/p>\n\n\n\n

Como funciona a correspond\u00eancia familiar de DNA<\/h2>\n\n\n\n

Se o m\u00e9todo de correspond\u00eancia familiar de DNA soa conhecido, \u00e9 porque essa foi a t\u00e9cnica usada em 2018 para\u00a0pegar o Assassino de Golden State, um infame\u00a0serial killer<\/em>\u00a0da Calif\u00f3rnia que escapou da pol\u00edcia por mais de 40 anos. Em vez de comparar o DNA encontrado na cena do crime com uma amostra de refer\u00eancia de um suspeito e esperar por uma rela\u00e7\u00e3o direta, a correspond\u00eancia familiar compara o DNA da cena do crime com o DNA de uma ampla gama de potenciais parentes biol\u00f3gicos cujo material gen\u00e9tico pode estar em bancos de dados p\u00fablicos. Uma combina\u00e7\u00e3o parcial ou ‘indireta’ pode revelar membros da fam\u00edlia, fornecendo novas pistas para os investigadores que tentam identificar um suspeito.<\/p>\n\n\n\n

Da mesma forma, como os elefantes vivem em unidades familiares pr\u00f3ximas, a correspond\u00eancia de DNA familiar das presas permite que os investigadores rastreiem e mapeiem um n\u00famero muito maior de animais do que os m\u00e9todos anteriores. Durante a linha de produ\u00e7\u00e3o ca\u00e7a-transporte-com\u00e9rcio, presas de um grupo de elefantes ca\u00e7ados muitas vezes s\u00e3o separadas. Usando compara\u00e7\u00f5es diretas de DNA, Wasser pode conectar uma presa de marfim origin\u00e1ria do lado esquerdo, e que est\u00e1 em um carregamento, a outra presa do lado direito, que esteja sendo levada em outro. Mas, estimando que apenas 10% do marfim ca\u00e7ado ilegalmente seja confiscado e o custo da an\u00e1lise de DNA \u00e9 alto, encontrar correspond\u00eancias exatas entre os carregamentos depende principalmente da sorte: as chances de uma combina\u00e7\u00e3o perfeita s\u00e3o de apenas 9%.<\/p>\n\n\n\n

Agora, usando correspond\u00eancia familiar, Wasser pode sequenciar o DNA de uma \u00fanica presa e compar\u00e1-lo com o DNA de todos os elefantes em seu banco de dados, que remonta a 2002. Em vez de procurar por uma \u00fanica combina\u00e7\u00e3o perfeita, ele pode identificar qualquer familiar pr\u00f3ximo cujo DNA est\u00e1 no banco de dados. Para quem quer esmagar uma quadrilha de tr\u00e1fico, a t\u00e9cnica \u00e9 um avan\u00e7o significativo.<\/p>\n\n\n\n

DNA de elefantes: mapeando o tr\u00e1fico de marfim<\/h2>\n\n\n\n

Depois de carregar todos os dados de DNA de presas apreendidas na Cingapura, em 2019, em seu banco de dados, Wasser e seus colegas come\u00e7aram a procurar parentes pr\u00f3ximos dos novos elefantes, incluindo pais, filhos, irm\u00e3os e meio-irm\u00e3os. “Logo cada teste teve, em vez de uma combina\u00e7\u00e3o, algumas d\u00fazias”, disse Wasser. Como ele comparou o novo DNA com o antigo, as linhas de ramifica\u00e7\u00e3o na \u00e1rvore geneal\u00f3gica ficaram cada vez mais densas. Das 49 maiores apreens\u00f5es de marfim que a equipe de Wasser analisou, houve mais de 600 correspond\u00eancias familiares, sendo quase 40 somente da apreens\u00e3o em Cingapura.  <\/p>\n\n\n\n

Essa evid\u00eancia gen\u00e9tica, comparada com dados de embarque e telef\u00f4nicos, e outras informa\u00e7\u00f5es compiladas por oficiais na \u00c1frica e sudeste da \u00c1sia, est\u00e1 ajudando os pesquisadores a criar mapas elaborados, codificados por cores que, segundo  Wasser, “permitem rastrear de onde [as presas] est\u00e3o vindo, e suas conex\u00f5es com outras remessas”.<\/p>\n\n\n\n

Os investigadores podem, ent\u00e3o, usar os mapas \u2013 um para cada grande apreens\u00e3o de marfim \u2013 para descobrir melhor a extens\u00e3o das principais redes de tr\u00e1fico, bem como as liga\u00e7\u00f5es entre elas. Em 2018, por exemplo, a equipe de Wasser identificou tr\u00eas redes operando no Qu\u00eania, Uganda e Togo. Novas an\u00e1lises usando DNA familiar mostram que n\u00e3o s\u00f3 essas redes est\u00e3o envolvidas com mais carregamentos de marfim do que se imaginava anteriormente, mas que tamb\u00e9m est\u00e3o mais ligadas umas \u00e0s outras. Esse tipo de informa\u00e7\u00e3o permite que a pol\u00edcia conecte evid\u00eancias de m\u00faltiplas investiga\u00e7\u00f5es, revelando novas pistas e apoiando processos.<\/p>\n\n\n\n

Mapas feitos com DNA de quatro apreens\u00f5es na Mal\u00e1sia, duas apreens\u00f5es em Angola e a apreens\u00e3o de Cingapura indicam coletivamente que, desde 2015, os pontos quentes de ca\u00e7a ilegal v\u00eam mudando da Tanz\u00e2nia, Qu\u00eania e Mo\u00e7ambique para a \u00c1rea de Conserva\u00e7\u00e3o Transfronteiri\u00e7a Kavango-Zambezi, no sul da \u00c1frica, onde vivem 230 mil dos 400 mil elefantes restantes no continente.<\/p>\n\n\n\n

A equipe de Wasser tamb\u00e9m mostrou que as mesmas redes internacionais de contrabando est\u00e3o operando h\u00e1 uma d\u00e9cada ou mais, fornecendo receita para ca\u00e7adores ilegais que retornam aos mesmos lugares ano ap\u00f3s ano, matam membros da fam\u00edlia estendida dos elefantes e enviam presas em grandes remessas atrav\u00e9s de cadeias de exporta\u00e7\u00e3o controladas por essas mesmas redes. Os dados sugerem que um punhado de organiza\u00e7\u00f5es, que tamb\u00e9m podem ter liga\u00e7\u00e3o com tr\u00e1fico de armas e drogas, dominam o com\u00e9rcio de marfim.<\/p>\n\n\n\n

“Eles s\u00e3o os pontos estrat\u00e9gicos”, disse Wasser, “e h\u00e1 muito poucos deles. Ser capaz de elimin\u00e1-los \u00e9 realmente cr\u00edtico.”<\/p>\n\n\n\n

Como o DNA serve de evid\u00eancia contra o tr\u00e1fico<\/h2>\n\n\n\n

O banco de dados de DNA de Wasser fornece uma ferramenta poderosa para os investigadores. Mas tamb\u00e9m pode ajudar a aplica\u00e7\u00e3o da lei a fortalecer processos e endurecer as penas de pris\u00e3o em pa\u00edses onde elefantes s\u00e3o abatidos ou que o marfim \u00e9 exportado ou apreendido.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, o Centro de Ci\u00eancia Forense Ambiental de Wasser colabora com a Homeland Security Investigations (HSI), um bra\u00e7o da Imigra\u00e7\u00e3o e Alf\u00e2ndega dos Estados Unidos, que investiga crimes n\u00e3o relacionados \u00e0 vida selvagem associados ao tr\u00e1fico de marfim que se enquadram na jurisdi\u00e7\u00e3o do pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

“Ao seguir as conex\u00f5es identificadas atrav\u00e9s da an\u00e1lise de DNA de m\u00faltiplas apreens\u00f5es, o HSI \u00e9 capaz de identificar e investigar os crimes financeiros subjacentes e fraudes comerciais” cometidos pelas organiza\u00e7\u00f5es criminosas, disse John Brown III, agente especial da Divis\u00e3o de Com\u00e9rcio Global do HSI, em um e-mail.<\/p>\n\n\n\n

Processos bem-sucedidos podem incluir apreens\u00f5es de ativos dessas redes e paralisa\u00e7\u00e3o dos meios financeiros que bancam a ca\u00e7a ilegal. A colabora\u00e7\u00e3o j\u00e1 levou a v\u00e1rias investiga\u00e7\u00f5es, ainda em andamento, e a pelo menos uma pris\u00e3o \u2013 a pris\u00e3o e a acusa\u00e7\u00e3o de dois homens que tentaram\u00a0importar marfins de elefante, chifres de rinoceronte e escamas de pangolin\u00a0para o estado de Washington, nos EUA, em novembro de 2021.<\/p>\n\n\n\n

A an\u00e1lise de DNA familiar tamb\u00e9m est\u00e1 sendo usada para ajudar outros animais foco do tr\u00e1fico, incluindo o trabalho de Peter Ward na Universidade de Washington que usa amostras de DNA de\u00a0moluscos gigantes. E, ap\u00f3s a apreens\u00e3o de marfim em 2019, a equipe de Wasser ensinou o NParks, de Cingapura, a fazer o caro e demorado sequenciamento de DNA e identifica\u00e7\u00e3o por conta pr\u00f3pria. Em agosto de 2021, Cingapura abriu seu pr\u00f3prio\u00a0Centro de Per\u00edcia Forense da Vida Selvagem, dedicado a sequenciar o material gen\u00e9tico de esp\u00e9cies, partes ou produtos da vida selvagem apreendidos \u2013 tanto de plantas como de animais \u2013 e produzir evid\u00eancias que possam apoiar a aplica\u00e7\u00e3o da lei e o processo judicial.<\/p>\n\n\n\n

Atualmente trabalhando com escamas\u00a0de pangolim apreendidas, o centro tem como objetivo “aplicar o mesmo tipo de metodologia e hip\u00f3teses que Sam [Wasser] fez com o marfim”, disse Adrian Loo, diretor do grupo de gest\u00e3o da vida selvagem na NParks. “Queremos ser o l\u00edder regional no uso da ci\u00eancia para parar o com\u00e9rcio ilegal de animais selvagens.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Seguindo uma pista de julho de 2019, autoridades de Cingapura localizaram um carregamento de tr\u00eas cont\u00eaineres de madeira que iria da Rep\u00fablica Democr\u00e1tica do Congo para o Vietn\u00e3. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":176607,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[319,1095,1128],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/176606"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=176606"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/176606\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":176608,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/176606\/revisions\/176608"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/176607"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=176606"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=176606"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=176606"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}