{"id":176983,"date":"2022-03-23T16:24:55","date_gmt":"2022-03-23T19:24:55","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=176983"},"modified":"2022-03-23T16:24:58","modified_gmt":"2022-03-23T19:24:58","slug":"mesmo-com-crise-hidrica-brasil-perde-40-da-agua-tratada","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/03\/23\/176983-mesmo-com-crise-hidrica-brasil-perde-40-da-agua-tratada.html","title":{"rendered":"Mesmo com crise h\u00eddrica, Brasil perde 40% da \u00e1gua tratada"},"content":{"rendered":"\n
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Ainda sob impacto da pior crise h\u00eddrica em d\u00e9cadas, pa\u00eds mant\u00e9m altas taxas de desperd\u00edcio do recurso tratado e problemas de acesso \u00e0 \u00e1gua. Cientistas clim\u00e1ticos preveem agravamento do cen\u00e1rio.<\/p>\n\n\n\n

\u00c0s margens do maior rio do mundo, o Amazonas, moradores de Macap\u00e1 (AP) convivem com a incerteza da \u00e1gua pot\u00e1vel na torneira. Interrup\u00e7\u00f5es no fornecimento s\u00e3o comuns, o que deixa bairros inteiros sem o servi\u00e7o por dias, ou \u00e0 merc\u00ea de um abastecimento irregular.<\/p>\n\n\n\n

A rede de distribui\u00e7\u00e3o ainda chega a poucas casas em todo o estado, com apenas 34% dos domic\u00edlios nas cidades atendidos. E a \u00e1gua limpa que se perde no caminho faz do Amap\u00e1 o campe\u00e3o em desperd\u00edcio: 74% do volume que sai das esta\u00e7\u00f5es de tratamento simplesmente n\u00e3o chegam \u00e0s torneiras.<\/p>\n\n\n\n

O recurso se dissipa em pontos principalmente onde a press\u00e3o \u00e9 mais alta, em tubula\u00e7\u00f5es antigas ou mal instaladas, explica Arisvaldo Vieira Mello Junior, professor do Departamento de Engenharia Hidr\u00e1ulica e Ambiental da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP).<\/p>\n\n\n\n

“Esse tipo de perda tem forte conota\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica, social e ambiental. As companhias perdem \u00e1gua tratada, e esse preju\u00edzo se reflete na conta dos consumidores”, comenta Mello Junior sobre o panorama nacional.<\/p>\n\n\n\n

Em todo o pa\u00eds, a perda m\u00e9dia de \u00e1gua tratada sofreu poucas varia\u00e7\u00f5es ao longo dos anos. Se comparada aos dados de dez anos atr\u00e1s, a taxa aumentou. Em 2011, 37,2% do recurso foi desperdi\u00e7ado no trajeto at\u00e9 as resid\u00eancias. Em 2021, esse \u00edndice foi de 40,1%, apontam dados do Sistema Nacional de Informa\u00e7\u00f5es sobre Saneamento (SNIS), do Minist\u00e9rio do Desenvolvimento Regional.<\/p>\n\n\n\n

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\u00c9 como se, por dia, cada uma das 61,7 milh\u00f5es de casas conectadas ao sistema em todo o pa\u00eds perdessem 343 litros de \u00e1gua para vazamentos. E junto com a \u00e1gua limpa que volta para o solo, v\u00e3o-se quantias consider\u00e1veis investidas no processo de purifica\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Economicamente h\u00e1 um impacto ao gastar mais recursos com o tratamento de \u00e1gua, sendo que este recurso a mais poderia ser investido, por exemplo, em reparar e substituir pouco a pouco a rede de distribui\u00e7\u00e3o de \u00e1gua pot\u00e1vel”, comenta Adriana Cuartas, pesquisadora do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden).<\/p>\n\n\n\n

Perda sem controle<\/h2>\n\n\n\n

A realidade sobre as perdas de \u00e1gua e dos servi\u00e7os prestados pode ser um pouco pior do que mostra o SNIS. As informa\u00e7\u00f5es que comp\u00f5em o banco de dados s\u00e3o fornecidas pelas mais de 1.900 prestadoras em todo o pa\u00eds, que o fazem de forma volunt\u00e1ria.<\/p>\n\n\n\n

“Como n\u00e3o n\u00e3o existe um m\u00e9todo bem acurado para quantificar essas perdas, o que \u00e9 apresentado \u00e9 muito provavelmente um valor abaixo da realidade. E esse dado, que n\u00e3o \u00e9 fornecido de forma obrigat\u00f3ria, tamb\u00e9m n\u00e3o \u00e9 fiscalizado por nenhuma ag\u00eancia governamental”, comenta Mello Junior.<\/p>\n\n\n\n

O cen\u00e1rio n\u00e3o deixa de mostrar uma “enorme irracionalidade”, analisa Wilson Cabral, especialista em gest\u00e3o de recursos h\u00eddricos e membro do Observat\u00f3rio das \u00c1guas. Dentre os principais motivos para as grandes perdas, Cabral nomeia o baixo investimento em manuten\u00e7\u00e3o e renova\u00e7\u00e3o dos sistemas de distribui\u00e7\u00e3o, e redu\u00e7\u00e3o programada da capacidade t\u00e9cnica de diversos munic\u00edpios e estados para lidar com os servi\u00e7os de saneamento b\u00e1sico.<\/p>\n\n\n\n

“Uma possibilidade [que poderia contribuir para mudan\u00e7as] \u00e9 o estabelecimento de metas de uso eficiente e redu\u00e7\u00e3o de perdas de \u00e1gua para renova\u00e7\u00f5es e concess\u00f5es de outorgas para uso da \u00e1gua. Atualmente, as outorgas apenas consideram a disponibilidade atual na bacia e os outros usos, mas n\u00e3o est\u00e3o condicionadas a metas de uso eficiente”, sugere Cabral.<\/p>\n\n\n\n

Questionado pela DW sobre os dados, o Minist\u00e9rio de Desenvolvimento Regional n\u00e3o respondeu at\u00e9 o fechamento desta reportagem.<\/p>\n\n\n\n

Crescente falta de \u00e1gua<\/h2>\n\n\n\n

Somada ao desperd\u00edcio, a escassez do recurso nas bacias hidrogr\u00e1ficas agrava o panorama. A pior\u00a0crise h\u00eddrica\u00a0desde 1961, para qual alarmes foram soados em\u00a02021, ainda n\u00e3o acabou, segundo Adriana Cuartas. A regi\u00e3o Sul e parte da Sudeste continuam sentindo os impactos da seca, pontua a pesquisadora.<\/p>\n\n\n\n

“Em algumas regi\u00f5es do pa\u00eds, a situa\u00e7\u00e3o da disponibilidade h\u00eddrica \u00e9 pior hoje que no passado recente, o que nos coloca numa situa\u00e7\u00e3o preocupante para os pr\u00f3ximos meses. O per\u00edodo chuvoso termina sem que tenha havido uma reposi\u00e7\u00e3o razo\u00e1vel dos reservat\u00f3rios”, adiciona Wilson Cabral.<\/p>\n\n\n\n

Com o fim do ver\u00e3o e, portanto, da esta\u00e7\u00e3o chuvosa, a preocupa\u00e7\u00e3o aumenta. Modelos clim\u00e1ticos feitos por cientistas apontam que a situa\u00e7\u00e3o de crise tende a se repetir com mais frequ\u00eancia nas pr\u00f3ximas d\u00e9cadas.<\/p>\n\n\n\n

“O futuro nos reserva v\u00e1rios anos de dificuldades em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 oferta de \u00e1gua para os diversos fins: abastecimento dom\u00e9stico, agricultura, gera\u00e7\u00e3o hidrel\u00e9trica, saneamento e para a pr\u00f3pria manuten\u00e7\u00e3o dos ecossistemas”, ressalta Cabral.<\/p>\n\n\n\n

Outro ponto preocupante \u00e9 a polui\u00e7\u00e3o: menos \u00e1gua nos rios e reservat\u00f3rios leva ao aumento da concentra\u00e7\u00e3o de poluentes. Neste ciclo, \u00e1gua mais polu\u00edda custa mais para ser tratada.<\/p>\n\n\n\n

“Quanto menor a disponibilidade de \u00e1gua com qualidade boa, mais ela precisa de tratamento, mais caro fica o tratamento, e, no fim, fica mais cara a conta de \u00e1gua, porque as empresas repassam isso para os consumidores”, comenta Gustavo Veronesi, coordenador do programa Observando os Rios na SOS Mata Atl\u00e2ntica, sobre outro fator que influencia a cobran\u00e7a do servi\u00e7o.<\/p>\n\n\n\n

Litros contados<\/h2>\n\n\n\n

Com um \u00edndice de perda de \u00e1gua de 32%, menor que a m\u00e9dia nacional, Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, cobra mais pelo fornecimento do recurso que a m\u00e9dia brasileira (R$ 5,01 contra R$ 4,55 por metro c\u00fabico, respectivamente).<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 l\u00e1 que vive Denise Marques Rossalas, moradora da comunidade Vila Pedreira, marcada pela dificuldade de acesso ao recurso natural. A situa\u00e7\u00e3o fez com que ela aprendesse a viver contando os litros de \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

“Antes eu tinha garrafas PET e garrafa de refrigerante. Enchia todas elas e colocava \u00e0 minha disposi\u00e7\u00e3o”, diz sobre a falta constante de \u00e1gua no bairro.<\/p>\n\n\n\n

Desde que recebeu em casa uma caixa de 500 litros, beneficiada por um projeto de seguran\u00e7a h\u00eddrica da organiza\u00e7\u00e3o Engenheiros Sem Fronteiras, Rossalas se programa para fazer uso racional do recurso, que dura at\u00e9 dois dias segundo o cotidiano da fam\u00edlia.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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