{"id":177071,"date":"2022-03-29T17:30:15","date_gmt":"2022-03-29T20:30:15","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=177071"},"modified":"2022-03-29T17:30:20","modified_gmt":"2022-03-29T20:30:20","slug":"a-alemanha-e-capaz-de-subsistir-sem-gas-natural-russo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/03\/29\/177071-a-alemanha-e-capaz-de-subsistir-sem-gas-natural-russo.html","title":{"rendered":"A Alemanha \u00e9 capaz de subsistir sem g\u00e1s natural russo?"},"content":{"rendered":"\n
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Enquanto setor industrial pinta cen\u00e1rios apocal\u00edpticos em caso de embargo total, especialista critica: “Quem minimizava a depend\u00eancia energ\u00e9tica da R\u00fassia agora diz que n\u00e3o podemos nos desligar t\u00e3o r\u00e1pido assim.”<\/p>\n\n\n\n

Com san\u00e7\u00f5es abrangentes, o Ocidente tenta cortar as fontes de finan\u00e7as do presidente russo, Vladimir Putin. Mas seria poss\u00edvel fazer ainda mais para dar fim \u00e0 guerra ofensiva contra a Ucr\u00e2nia? Os Estados Unidos, Reino Unido e Canad\u00e1 j\u00e1 deram um passo adiante, ao proibir em parte as importa\u00e7\u00f5es de energia da R\u00fassia.<\/p>\n\n\n\n

O mesmo n\u00e3o acontece na Europa: segundo estimativas, apenas a Alemanha transferiria todos os dias ao pa\u00eds agressor\u00a0centenas de milh\u00f5es de euros\u00a0pelo fornecimento de energia. A justificativa de Berlim \u00e9 que uma suspens\u00e3o radical prejudicaria extremamente a economia alem\u00e3.<\/p>\n\n\n\n

No momento, especialistas debatem acirradamente qual seria a extens\u00e3o real desses danos, e se a Alemanha n\u00e3o poderia, sim, passar sem a energia importada da R\u00fassia.<\/p>\n\n\n\n

Suspens\u00e3o de importa\u00e7\u00f5es poss\u00edvel e manej\u00e1vel<\/h2>\n\n\n\n

J\u00e1 no come\u00e7o de mar\u00e7o, um grupo de estudiosos da Academia Nacional de Ci\u00eancias Leopoldina anunciava que a consequ\u00eancia de uma suspens\u00e3o em curto prazo do fornecimento de g\u00e1s natural russo seria “manej\u00e1vel” para a economia alem\u00e3.<\/p>\n\n\n\n

Em entrevista recente ao jornal Tagesspiegel<\/em>, depois de ter calculado os eventuais efeitos, juntamente com outros colegas seus, o economista R\u00fcdiger Bachmann, da Universidade de Notre Dame, em Indiana, EUA, afirmou que um embargo dessa fonte de g\u00e1s seria perfeitamente poss\u00edvel.<\/p>\n\n\n\n

Suas conclus\u00f5es se basearam num “modelo detalhado de 40 pa\u00edses, incluindo as rela\u00e7\u00f5es comerciais mundiais e considerando a estrutura de input<\/em> e output<\/em> no n\u00edvel setorial”. Segundo ele, o corte das importa\u00e7\u00f5es de g\u00e1s russo faria o PIB cair de 1% a 3%. Em compara\u00e7\u00e3o, em 2020, a pandemia de covid-19 ocasionou uma perda de quase 5%.<\/p>\n\n\n\n

“Claro que isso \u00e9 enorme, mas n\u00e3o \u00e9 nada que n\u00e3o se possa contrabalan\u00e7ar com medidas de pol\u00edtica econ\u00f4mica, mesmo que o preju\u00edzo fosse duas vezes maior”, refor\u00e7a Bachmann. Al\u00e9m disso, ressalva que o valor agregado bruto dos setores que foram fechados na crise sanit\u00e1ria n\u00e3o \u00e9 menor do que o dos setores afetados agora, sobretudo o qu\u00edmico.<\/p>\n\n\n\n

Advert\u00eancias do setor industrial<\/h2>\n\n\n\n

O sindicado IGBCE, dos setores de minera\u00e7\u00e3o, qu\u00edmica e energia, se apressa em alertar que a medida pode resultar numa consider\u00e1vel perda de postos de trabalho, pelo menos se n\u00e3o haver compensa\u00e7\u00e3o. Caso os s\u00edtios de produ\u00e7\u00e3o qu\u00edmica da Alemanha tivessem que reduzir atividades, seus produtos faltariam em diversos setores econ\u00f4micos, como a ind\u00fastria farmac\u00eautica e a de constru\u00e7\u00e3o, o que “poderia at\u00e9 mesmo se fazer sentir em n\u00edvel mundial”.<\/p>\n\n\n\n

Da ind\u00fastria sider\u00fargica partem igualmente tons apreensivos. “Sem o g\u00e1s natural da R\u00fassia, no momento a produ\u00e7\u00e3o de a\u00e7o n\u00e3o seria poss\u00edvel”, declarou a associa\u00e7\u00e3o do setor, WV Stahl, na terceira semana de mar\u00e7o. Segundo ela, como o a\u00e7o \u00e9 a mat\u00e9ria b\u00e1sica e ponto de partida de praticamente todas as cadeias de produ\u00e7\u00e3o industriais, uma suspens\u00e3o das importa\u00e7\u00f5es poderia resultar, n\u00e3o s\u00f3 em paralisa\u00e7\u00f5es da produ\u00e7\u00e3o sider\u00fargica, como o colapso da ind\u00fastria da Alemanha e da Uni\u00e3o Europeia.<\/p>\n\n\n\n

A confedera\u00e7\u00e3o patronal Gesamtmetall, da ind\u00fastria metal\u00fargica e eletrot\u00e9cnica tamb\u00e9m adverte: tal passo poderia “acarretar, no curto prazo, que n\u00e3o haja mais fonte de calor de processamento para a ind\u00fastria e a manufatura”: “Ter\u00edamos muito rapidamente paralisa\u00e7\u00e3o da produ\u00e7\u00e3o em muitas \u00e1reas”, como na de alimentos e carne ou qu\u00edmica, explica o diretor-gerente Oliver Zander.<\/p>\n\n\n\n

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Invas\u00e3o da Ucr\u00e2nia selou destino de mega-gasoduto teuto-russo Nord Stream 2<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Dados semelhantes, pontos de vista conflitantes<\/h2>\n\n\n\n

O economista Bachmann argumenta que uma interrup\u00e7\u00e3o da produ\u00e7\u00e3o qu\u00edmica \u00e9 vi\u00e1vel, pois os produtos do setor s\u00e3o substitu\u00edveis. Para Michael H\u00fcther, do Instituto da Economia Alem\u00e3 (IW), contudo, tal racioc\u00ednio \u00e9 limitado demais, pois o fornecimento de produtos b\u00e1sicos qu\u00edmicos estaria intimamente integrado a outras cadeias de produ\u00e7\u00e3o do pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

“Se paralisarmos o setor qu\u00edmico por um ano e meio, como ocorreria no caso de um embargo do g\u00e1s, isso seria nada menos do que o fim da produ\u00e7\u00e3o de materiais b\u00e1sicos na Alemanha”, afirma H\u00fcther.<\/p>\n\n\n\n

Ele tamb\u00e9m critica a compara\u00e7\u00e3o, feita por Bachmann, com os fechamentos devido \u00e0 pandemia: na \u00e9poca, teriam sido afetados, por um tempo mais longo, setores do consumo privado n\u00e3o interligados, como hot\u00e9is, restaurantes e eventos, “mas agora estamos falando de uma cadeia de processamento especializada, com interconex\u00e3o muito maior”.<\/p>\n\n\n\n

Moritz Schularick, economista da Universidade de Bonn, tamb\u00e9m calculou numa an\u00e1lise que a interrup\u00e7\u00e3o das importa\u00e7\u00f5es de g\u00e1s seria suport\u00e1vel, com uma queda entre 0,5% e 3% do PIB. “N\u00f3s importamos cerca da metade do g\u00e1s da R\u00fassia, por gasodutos, o que n\u00e3o d\u00e1 para compensar rapidamente”, comentou em entrevista ao seman\u00e1rio Der Freitag<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

O combust\u00edvel se destina, em parcelas quase iguais, \u00e0 calefa\u00e7\u00e3o dom\u00e9stica e \u00e0 ind\u00fastria, onde tamb\u00e9m \u00e9 usado principalmente usado para gerar calor. Por\u00e9m “cerca de 5% v\u00e3o para a utiliza\u00e7\u00e3o como mat\u00e9ria-prima, onde \u00e9 insubstitu\u00edvel, pois \u00e9 empregado exatamente nessa forma”. Por\u00e9m conten\u00e7\u00f5es do uso do g\u00e1s \u2013 na forma de temperaturas de calefa\u00e7\u00e3o mais baixas, saneamento dos pr\u00e9dios e mais efici\u00eancia \u2013 podem, em parte, ajudar a abrir m\u00e3o do produto russo.<\/p>\n\n\n\n

Lacunas de abastecimento din\u00e2micas e cen\u00e1rios apocal\u00edpticos<\/h2>\n\n\n\n

Schularick critica Minist\u00e9rio alem\u00e3o da Economia por, ao que tudo indica, estar pensando sobre as facunas de abastecimento de forma est\u00e1tica demais, comparando com o ano anterior e se perguntando como ser\u00e1 poss\u00edvel fech\u00e1-las sem o g\u00e1s russo.<\/p>\n\n\n\n

“Mas essa lacuna \u00e9 din\u00e2mica: n\u00e3o precisamos daquilo que aprendermos a poupar at\u00e9 o inverno”: com esp\u00edrito inventivo e artes de engenharia, \u00e9 poss\u00edvel reduzir a demanda de g\u00e1s, prossegue o economista. Talvez se possa at\u00e9 mesmo diminuir o consumo, importando certos produtos que exigem muita energia.<\/p>\n\n\n\n

Segundo a Confedera\u00e7\u00e3o do Setor de Energia e \u00c1gua (BDEW, na sigla em alem\u00e3o), o potencial de poupar g\u00e1s nas resid\u00eancias particulares \u00e9 de 15%; na manufatura, com\u00e9rcio e presta\u00e7\u00e3o de servi\u00e7os, de at\u00e9 10%; enquanto a ind\u00fastria pode contribuir com mas 8%. O maior potencial de economia estaria no abastecimento el\u00e9trico, onde o consumo pode ser baixado at\u00e9 36%.<\/p>\n\n\n\n

Em contrapartida, Achim Wambach, do Centro de Pesquisa Econ\u00f4mica Europeia (ZEW) alerta: “Um embargo energ\u00e9tico desses seria \u00fanico na hist\u00f3ria e teria efeitos consider\u00e1veis sobre a conjuntura. Ele teria efeitos pol\u00edtico-econ\u00f4micos, basta pensar nos ‘coletes amarelos’ da Fran\u00e7a.”<\/p>\n\n\n\n

Tamb\u00e9m o presidente do Instituto Leibniz de Pesquisa Econ\u00f4mica (RWI), Christoph M. Schmidt, avisa que no momento \u00e9 “quase imposs\u00edvel fazer afirmativas confi\u00e1veis sobre a ordem de grandeza das consequ\u00eancias econ\u00f4micas que estariam relacionadas”.<\/p>\n\n\n\n

“Quem minimizava depend\u00eancia agora diz que n\u00e3o se pode quebr\u00e1-la”<\/h2>\n\n\n\n

Apesar das inseguran\u00e7as, na sexta-feira (25\/03), numerosos antigos e atuais representantes do alto escal\u00e3o da economia, pol\u00edtica e ci\u00eancia, alem\u00e3es e estrangeiros, assinaram uma carta aberta ao governo em Berlim, reivindicando: “Vamos parar de financiar a guerra: suspens\u00e3o imediata das importa\u00e7\u00f5es de petr\u00f3leo e g\u00e1s russos!”<\/p>\n\n\n\n

Falando ao jornal Handelsblatt<\/em>, Schularick, da Universidade de Bonn, tamb\u00e9m criticou as decis\u00f5es da pol\u00edtica: “H\u00e1 d\u00e9cadas os economistas praticam consultoria pol\u00edtica baseada em evid\u00eancias; e quando chega a hora, fazemos pol\u00edtica na base do instinto.”<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, os pol\u00edticos consultam as mesmas associa\u00e7\u00f5es e empresas que, nos \u00faltimos dez anos, repetiam que a depend\u00eancia em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 R\u00fassia n\u00e3o tinha o menor problema: “Os mesmos dizem agora: ‘N\u00e3o podemos nos desligar t\u00e3o r\u00e1pido assim do abastecimento energ\u00e9tico pela R\u00fassia.'”<\/p>\n\n\n\n

Uma entrevista transmitida no \u00faltimo fim de semana parece confirmar o ponto de vista do economista: na emissora de TV ARD, o chanceler federal alem\u00e3o, Olaf Scholz, criticou os cientistas econ\u00f4micos, pois seria “irrespons\u00e1vel ficar calculando uns modelos matem\u00e1ticos quaisquer, que a\u00ed n\u00e3o funcionam”.<\/p>\n\n\n\n

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Ministros alem\u00e3o da Economia, Robert Habeck (esq.) e catariano da Energia, Saad Sherida al-Kaabi, discutem poss\u00edveis importa\u00e7\u00f5es<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

No entanto, os representantes da economia sabem muito bem que a realidade \u00e9 bem diferente, ressalva Schularick: o g\u00e1s tem que chegar aonde ser\u00e1 utilizado, mas os canais para tal ainda n\u00e3o est\u00e3o prontos. Al\u00e9m disso, muitos gasodutos nos Estados da Europa Oriental estariam inteiramente voltados a um abastecimento a partir do leste.<\/p>\n\n\n\n

No longo prazo, a Alemanha se empenha at\u00e9 bastante intensamente para reduzir a depend\u00eancia em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 R\u00fassia e promover a guinada energ\u00e9tica. Segundo o ministro da Economia Robert Habeck, at\u00e9 meados de 2022 as importa\u00e7\u00f5es de petr\u00f3leo russo dever\u00e3o estar reduzidas \u00e0 metade, e at\u00e9 o trimestre seguinte o pa\u00eds poder\u00e1 ter se desligado inteiramente do carv\u00e3o mineral do pa\u00eds em guerra. Recentemente ele esteve no Catar para negociar alternativas de abastecimento.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o minist\u00e9rio, a percentagem do fornecimento de g\u00e1s russo j\u00e1 caiu de 55% para 40%. Por\u00e9m s\u00f3 em meados de 2024 a Alemanha talvez tenha conseguido ficar quase independente dessa fonte, excetuada uma pequena parcela. Isso, contudo, tamb\u00e9m depende do ritmo da expans\u00e3o das energias renov\u00e1veis, assim como de uma redu\u00e7\u00e3o consequente do consumo, em todos os n\u00edveis.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n\n\n\n

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