{"id":177076,"date":"2022-03-29T17:39:35","date_gmt":"2022-03-29T20:39:35","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=177076"},"modified":"2022-03-29T17:39:42","modified_gmt":"2022-03-29T20:39:42","slug":"o-asteroide-que-deu-pistas-sobre-a-origem-da-vida-na-terra","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/03\/29\/177076-o-asteroide-que-deu-pistas-sobre-a-origem-da-vida-na-terra.html","title":{"rendered":"O asteroide que deu pistas sobre a origem da vida na Terra"},"content":{"rendered":"\n
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Amostras do asteroide 162173 Ryugu trouxeram revela\u00e7\u00f5es sobre os compostos org\u00e2nicos na sua composi\u00e7\u00e3o – JAXA, UNI TOKYO & COLLABORATORS<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O dia 8 de dezembro de 2020 foi de comemora\u00e7\u00f5es na cidade de Sagamihara, no Jap\u00e3o.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Naquele dia, chegou ao campus da Ag\u00eancia Japonesa de Explora\u00e7\u00e3o Espacial (JAXA) a c\u00e1psula de retorno com amostras do asteroide 162173 – Ryugu, coletadas pela sonda da miss\u00e3o Hayabusa 2.<\/p>\n\n\n\n

O feito n\u00e3o s\u00f3 foi um grande sucesso para a tecnologia da explora\u00e7\u00e3o espacial, mas tamb\u00e9m colocava \u00e0 disposi\u00e7\u00e3o dos cientistas amostras est\u00e9reis retiradas diretamente da superf\u00edcie de um asteroide no espa\u00e7o, sem altera\u00e7\u00f5es nem contamina\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Essa \u00e9 a diferen\u00e7a com rela\u00e7\u00e3o \u00e0s amostras de meteoritos, que sofreram o impacto da Terra, exposi\u00e7\u00e3o ao ambiente e manipula\u00e7\u00e3o por muitas pessoas.<\/p>\n\n\n\n

E o entusiasmo era tamb\u00e9m justificado por parte dos estudiosos da origem da vida, que se perguntavam quais surpresas Ryugu nos reservava a este respeito.<\/p>\n\n\n\n

Essa pergunta come\u00e7ou a ser respondida com a publica\u00e7\u00e3o das primeiras an\u00e1lises dos compostos org\u00e2nicos nas amostras de Ryugu. E os resultados s\u00e3o importantes.<\/p>\n\n\n\n

Esclarecemos que elas n\u00e3o fornecem provas de que a vida teria chegado \u00e0 Terra a bordo de meteoritos (panspermia). Tamb\u00e9m n\u00e3o nos ajudam (por enquanto) a entender melhor qual foi a sua origem, nem comprovam que o impacto de meteoritos foi necess\u00e1rio para isso.<\/p>\n\n\n\n

Mas os resultados publicados s\u00e3o uma boa not\u00edcia para os estudiosos que tentam entender a qu\u00edmica prebi\u00f3tica – ou seja, os processos qu\u00edmicos que ocorreram antes da exist\u00eancia da vida.<\/p>\n\n\n\n

Por que o asteroide Ryugu \u00e9 t\u00e3o interessante?<\/h2>\n\n\n\n

Uma das respostas \u00e9 o carbono. Ryugu \u00e9 um asteroide tipo C, rico em carbono e compostos org\u00e2nicos.<\/p>\n\n\n\n

Esses objetos existem em grande quantidade no cintur\u00e3o de asteroides, uma regi\u00e3o situada entre os planetas Marte e J\u00fapiter, onde se encontra entre outros, o planeta an\u00e3o Ceres.<\/p>\n\n\n\n

Acredita-se que os meteoritos do tipo condrito carbon\u00e1ceo, como os famosos meteoritos de Allende e Murchison, sejam fragmentos de asteroides tipo C. Esses asteroides encontram-se entre os objetos mais antigos do Sistema Solar.<\/p>\n\n\n\n

O material carbon\u00e1ceo que eles cont\u00eam \u00e9 o resultado de um longo processo qu\u00edmico, desenvolvido a partir da forma\u00e7\u00e3o da mat\u00e9ria org\u00e2nica na nuvem molecular e na nebulosa protossolar, at\u00e9 o crescimento dos protoplanetas e a exposi\u00e7\u00e3o do asteroide a milh\u00f5es de anos de radia\u00e7\u00f5es c\u00f3smicas.<\/p>\n\n\n\n

As amostras coletadas no asteroide Ryugu nos fornecem pistas sobre os compostos org\u00e2nicos formados e acumulados nos objetos do Sistema Solar e sua evolu\u00e7\u00e3o. Elas tamb\u00e9m nos informam sobre os precursores qu\u00edmicos dispon\u00edveis na Terra primitiva da era prebi\u00f3tica, a partir dos quais, gra\u00e7as \u00e0 \u00e1gua, ao ambiente e \u00e0 geologia terrestre, p\u00f4de surgir a vida ap\u00f3s uma complexa rede de processos qu\u00edmicos a que chamamos de evolu\u00e7\u00e3o qu\u00edmica.<\/p>\n\n\n\n

Os compostos org\u00e2nicos do asteroide Ryugu<\/h2>\n\n\n\n

As amostras analisadas do asteroide Ryugu cont\u00eam cerca de 3,7% de carbono. A maior parte encontra-se na forma de material n\u00e3o muito diferente do carv\u00e3o, mas elas tamb\u00e9m cont\u00eam carbono na forma de mol\u00e9culas org\u00e2nicas que, com a a\u00e7\u00e3o da \u00e1gua, liberam amino\u00e1cidos. Entre elas, foram identificadas a glicina, alanina, beta-alanina e alfa-aminobutirato.<\/p>\n\n\n\n

De forma geral, os compostos identificados n\u00e3o s\u00e3o surpreendentes – mas esta \u00e9 exatamente a raz\u00e3o da sua import\u00e2ncia. Os amino\u00e1cidos s\u00e3o os componentes das prote\u00ednas dos seres vivos e, por isso, sua presen\u00e7a no espa\u00e7o sempre foi sugestiva.<\/p>\n\n\n\n

O primeiro experimento realizado para entender como surgiram as primeiras prote\u00ednas foi conduzido pelo bioqu\u00edmico alem\u00e3o Walter L\u00f6b em 1913. Nele, L\u00f6b obteve grande quantidade de glicina por meio de descargas el\u00e9tricas em uma atmosfera primitiva simulada.<\/p>\n\n\n\n

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Amostras da superf\u00edcie do asteroide Ryugu – JAXA<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Desde ent\u00e3o, sabemos que os amino\u00e1cidos s\u00e3o formados com facilidade a partir de gases simples. Por isso, imaginamos que eles estariam dispon\u00edveis em grande quantidade no invent\u00e1rio qu\u00edmico do Sistema Solar.<\/p>\n\n\n\n

O cientista norte-americano Stanley Miller identificou glicina, alanina, beta-alanina e alfa-aminobutirato na mistura org\u00e2nica obtida no seu c\u00e9lebre experimento de 1953. Foi por acaso? N\u00e3o, pois os processos qu\u00edmicos que causam a forma\u00e7\u00e3o de amino\u00e1cidos possivelmente s\u00e3o imut\u00e1veis e universais.<\/p>\n\n\n\n

No caminho at\u00e9 a vida em um planeta (como ocorreu na Terra e pode ter ocorrido em Marte), \u00e9 prov\u00e1vel que se parta de um invent\u00e1rio qu\u00edmico similar, com amino\u00e1cidos e outros compostos bem conhecidos. E o asteroide Ryugu nos fornece uma amostra valiosa desse invent\u00e1rio.<\/p>\n\n\n\n

As regras da qu\u00edmica talvez limitem as poss\u00edveis excepcionalidades e n\u00e3o seja surpreendente que estruturas proteicas similares \u00e0quelas que conhecemos sejam uma caracter\u00edstica universal.<\/p>\n\n\n\n

A bioqu\u00edmica potencial n\u00e3o \u00e9 uma quest\u00e3o de combina\u00e7\u00f5es ao acaso. As regras da qu\u00edmica n\u00e3o se aplicam apenas ao invent\u00e1rio de precursores, como o exibido por Ryugu.<\/p>\n\n\n\n

Na evolu\u00e7\u00e3o qu\u00edmica at\u00e9 a vida, ocorrem processos de sele\u00e7\u00e3o molecular e compress\u00e3o combinat\u00f3ria que limitam a variedade das composi\u00e7\u00f5es e estruturas. Considerando uma quantidade de amino\u00e1cidos iniciais, por exemplo, prote\u00ednas n\u00e3o surgem ao acaso dentre as estatisticamente poss\u00edveis, mas sim existem regras que determinam as estruturas resultantes.<\/p>\n\n\n\n

Se somarmos a universalidade dos precursores \u00e0s regras da evolu\u00e7\u00e3o qu\u00edmica, \u00e9 poss\u00edvel que, no dia em que a humanidade vier a descobrir vida extraterrestre, possamos reconhecer similaridades na sua composi\u00e7\u00e3o molecular.<\/p>\n\n\n\n

O asteroide Ryugu nos conta que os esfor\u00e7os realizados em um s\u00e9culo de qu\u00edmica prebi\u00f3tica fazem sentido. Ele mostra que, no laborat\u00f3rio, podemos prever a qu\u00edmica dos objetos celestes.<\/p>\n\n\n\n

Pouco a pouco, vamos nos aproximando da formula\u00e7\u00e3o de uma teoria da evolu\u00e7\u00e3o qu\u00edmica, que formar\u00e1 o primeiro (ou talvez o \u00faltimo) cap\u00edtulo dos livros de bioqu\u00edmica.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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