{"id":177328,"date":"2022-04-28T17:01:13","date_gmt":"2022-04-28T20:01:13","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=177328"},"modified":"2022-04-28T17:01:19","modified_gmt":"2022-04-28T20:01:19","slug":"bioeconomia-da-sociobiodiversidade-a-origem-do-conceito-e-sua-importancia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/04\/28\/177328-bioeconomia-da-sociobiodiversidade-a-origem-do-conceito-e-sua-importancia.html","title":{"rendered":"Bioeconomia da sociobiodiversidade: a origem do conceito e sua import\u00e2ncia"},"content":{"rendered":"\n
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A exporta\u00e7\u00e3o de a\u00e7a\u00ed gerou R$ 3,7 bilh\u00f5es em 2019 (Foto: Pixabay)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O termo\u00a0bioeconomia\u00a0vem sendo amplamente empregado por governos nacionais e internacionais como um novo modelo de desenvolvimento econ\u00f4mico que concilie gera\u00e7\u00e3o de renda, conserva\u00e7\u00e3o ambiental e os objetivos de combate \u00e0s\u00a0mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. No entanto, vale darmos um passo atr\u00e1s para entender o que \u00e9 bioeconomia e como o conceito, na sua origem, dialoga com a conserva\u00e7\u00e3o da floresta em p\u00e9.<\/p>\n\n\n\n

Nicholas Georgescu-Roegen (1906-1994), matem\u00e1tico e economista romeno, foi o primeiro pensador a trazer o termo\u00a0Bio-economia<\/em>\u00a0no debate cient\u00edfico. Em contraponto \u00e0 teoria neocl\u00e1ssica de crescimento econ\u00f4mico ilimitado, o autor revolucion\u00e1rio sugere, de forma inovadora, uma abordagem da\u00a0economia\u00a0aplicada \u00e0s rela\u00e7\u00f5es econ\u00f4micas e aos fatores naturais. Processos de transforma\u00e7\u00e3o decorrentes da\u00a0inova\u00e7\u00e3o tecnol\u00f3gica\u00a0e adotados pela atividade industrial \u2014 seja a partir da transforma\u00e7\u00e3o da\u00a0queima de carv\u00e3o\u00a0em vapor d\u2019\u00e1gua e energia para locomotiva, seja por meio da intensifica\u00e7\u00e3o do uso da terra para aumento do rendimento e da produtividade agr\u00edcola \u2014 ocasionam perdas ecol\u00f3gicas irrevers\u00edveis (desestrutura\u00e7\u00e3o da base natural).<\/p>\n\n\n\n

Nessa \u00f3tica, ele sugere a redefini\u00e7\u00e3o dos contornos da economia: a economia e todos seus agentes, processos produtivos e institucionais deveriam estar inseridos em um sistema fechado, circular e limitado pela biosfera.<\/p>\n\n\n\n

O termo \u201cbioeconomia\u201d, portanto, foi sugerido para integrar a teoria biol\u00f3gica ao campo econ\u00f4mico, de modo a estabelecer as rela\u00e7\u00f5es entre as atividades econ\u00f4micas, o meio f\u00edsico-qu\u00edmico e os impactos ambientais da\u00ed derivados, que, necessariamente, imp\u00f5em limites ao modelo de crescimento econ\u00f4mico predominante desde a\u00a0Revolu\u00e7\u00e3o Industrial, orientado \u00e0 acumula\u00e7\u00e3o de capital f\u00edsico em detrimento do capital natural.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

Ainda que as propostas de G.-Roegen n\u00e3o tenham sido aceitas entre os economistas de seu tempo e dos anos seguintes, o termo passou a ser amplamente empregado quando o mundo se viu diante da atual crise humanit\u00e1ria decorrente da\u00a0pandemia de Covid-19. Do\u00a0Pacto Ecol\u00f3gico Europeu\u00a0(ou\u00a0Green New Deal<\/em>) \u00e0s propostas do\u00a0Programa Bioeconomia da Sociobiodiversidade Brasil, do Governo Federal, a bioeconomia de hoje se apresenta como uma solu\u00e7\u00e3o \u00e0s crises econ\u00f4mica, social e ambiental do s\u00e9culo 21.<\/p>\n\n\n\n

Pensando nesse novo modelo de desenvolvimento, a\u00a0Amaz\u00f4nia, que \u00e9 a maior floresta tropical do mundo, com grande presen\u00e7a de\u00a0povos ind\u00edgenas\u00a0e comunidades tradicionais e mais de 40 mil\u00a0esp\u00e9cies de plantas, se torna uma regi\u00e3o cr\u00edtica para a jun\u00e7\u00e3o entre bioeconomia e sociobiodiversidade. Essa \u00faltima, definida como a inter-rela\u00e7\u00e3o entre a diversidade biol\u00f3gica e a diversidade de sistemas socioculturais, fundamenta-se no conhecimento dos povos origin\u00e1rios, das comunidades tradicionais e de agricultores familiares, al\u00e9m da valoriza\u00e7\u00e3o de processos ecol\u00f3gicos inerentes \u00e0 conserva\u00e7\u00e3o florestal que otimizam o uso de energias e nutrientes da\u00a0biodiversidade.<\/p>\n\n\n\n

Estruturar modelos de desenvolvimento bioecol\u00f3gico para economias baseadas em\u00a0biomas\u00a0possibilitaria enfrentar dois dos grandes desafios ambientais do nosso tempo: a crise das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e a crise da perda da biodiversidade.<\/p>\n\n\n\n

O recente estudo\u00a0Bioeconomia da Sociobiodiversidade no Estado do Par\u00e1<\/em>\u00a0calculou a import\u00e2ncia econ\u00f4mica das cadeias de valor de 30 produtos da sociobiodiversidade, incluindo aqueles mais conhecidos pelo mercado nacional, como\u00a0a\u00e7a\u00ed, palmito e\u00a0castanha-do-par\u00e1\u00a0e outros conhecidos apenas regionalmente, como murumuru, bacuri, murici e piqui\u00e1.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

O estudo estimou a gera\u00e7\u00e3o de renda para al\u00e9m dos setores de coleta e produ\u00e7\u00e3o, incluindo a agrega\u00e7\u00e3o de valor que ocorre em cada elo das cadeias, da produ\u00e7\u00e3o rural local \u00e0s ind\u00fastrias de beneficiamento, transforma\u00e7\u00e3o e com\u00e9rcio.<\/p>\n\n\n\n

As an\u00e1lises mostraram que, em 2019, os 30 produtos estudados geraram uma renda total de R$ 5,4 bilh\u00f5es. Desse valor, cerca de um ter\u00e7o (R$ 1,9 bilh\u00e3o) correspondeu \u00e0 produ\u00e7\u00e3o rural local, que representa a renda destinada diretamente a povos ind\u00edgenas, comunidades tradicionais e agricultores familiares. As cadeias dos 30 produtos geraram tamb\u00e9m 224 mil empregos.<\/p>\n\n\n\n

Alguns produtos lideram a renda total gerada na cadeia, como o a\u00e7a\u00ed com R$ 3,7 bilh\u00f5es, seguido do cacau am\u00eandoa com R$ 1,3 bilh\u00e3o, da castanha-do-par\u00e1 com R$ 140,2 milh\u00f5es e do palmito com R$ 89,1 milh\u00f5es (veja abaixo):<\/p>\n\n\n\n

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Os dez produtos majoritariamente consumidos fora do estado do Par\u00e1 (Foto: TNC Brasil)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Entretanto, dos 30 produtos analisados, 20 s\u00e3o majoritariamente consumidos apenas no estado do Par\u00e1 e somam um valor adicionado total de apenas R$ 81,9 milh\u00f5es (confira abaixo). A gera\u00e7\u00e3o de renda nas cadeias de valor desse grupo \u00e9 liderada pelo cupua\u00e7u, seguido do urucum e do bacuri, que geraram R$ 25,9 milh\u00f5es, R$ 15,2 milh\u00f5es e R$ 11,5 milh\u00f5es de valor adicionado, respectivamente, em 2019.<\/p>\n\n\n\n

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Os 20 produtos majoritariamente consumidos dentro do estado do Par\u00e1 (Foto: TNC Brasil)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Em termos de gera\u00e7\u00e3o de renda, se comparados com pecu\u00e1ria, um setor que historicamente exerce forte press\u00e3o sobre florestas nativas e que exige importantes esfor\u00e7os de controle do\u00a0desmatamento, os produtos da sociobiodiversidade se colocam no mesmo patamar. Em 2019, o valor agregado da sociobiodiversidade no Par\u00e1 foi de R$ 4,24 bilh\u00f5es, enquanto a pecu\u00e1ria gerou R$ 4,25 bilh\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Considerando que os produtos da sociobiodiversidade se fundamentam nas florestas em p\u00e9 e que essas desempenham um papel importante na mitiga\u00e7\u00e3o e adapta\u00e7\u00e3o \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, entre outros servi\u00e7os ambientais, o valor dessa cadeia deve ser ainda maior.<\/p>\n\n\n\n

No estudo, a valora\u00e7\u00e3o do\u00a0carbono\u00a0foi incorporada \u00e0 an\u00e1lise de proje\u00e7\u00e3o de renda de dez produtos da sociobiodiversidade, selecionados em fun\u00e7\u00e3o da import\u00e2ncia econ\u00f4mica e da variedade de tipologia de uso. A partir de uma s\u00e9rie hist\u00f3rica da evolu\u00e7\u00e3o da renda de cada produto, estima-se que as cadeias dos produtos analisados podem chegar a R$ 170 bilh\u00f5es em 2040, 40\u00a0vezes o valor atual, considerando a tend\u00eancia do pre\u00e7o e da produ\u00e7\u00e3o desses produtos.<\/p>\n\n\n\n

O fortalecimento das atividades produtivas da sociobiodiversidade e a agrega\u00e7\u00e3o de valor a partir de ci\u00eancia e\u00a0tecnologia, aliados \u00e0 mensura\u00e7\u00e3o e remunera\u00e7\u00e3o dos servi\u00e7os ambientais, s\u00e3o estrat\u00e9gias fundamentais para um novo modelo econ\u00f4mico na Amaz\u00f4nia. No entanto, ante a insufici\u00eancia de pol\u00edticas p\u00fablicas destinadas aos agentes dessa bioeconomia \u2014 comunidades tradicionais, povos ind\u00edgenas e agricultores familiares \u2013, v\u00e1rias a\u00e7\u00f5es estruturantes s\u00e3o necess\u00e1rias a fim de se garantir a alavancagem desse modelo e a valoriza\u00e7\u00e3o da floresta em p\u00e9:<\/p>\n\n\n\n

– investimento em\u00a0ci\u00eancia, tecnologia e inova\u00e7\u00e3o;
– acesso a cr\u00e9dito e assist\u00eancia t\u00e9cnica para agrega\u00e7\u00e3o de valor e acesso a novos mercados;
– desenvolvimento de sistema de bases de dados das cadeias de valor dos produtos;
– pol\u00edtica fundi\u00e1ria, com a regulariza\u00e7\u00e3o dos territ\u00f3rios de uso comum como assentamentos, terras ind\u00edgenas e territ\u00f3rios\u00a0quilombolas;
– desenvolvimento de mecanismos financeiros, como pagamento por servi\u00e7os ambientais, e rastreabilidade dos produtos;\u00a0
– pol\u00edtica fiscal de redistribui\u00e7\u00e3o de renda gerada pelos produtos.<\/p>\n\n\n\n

Respondendo \u00e0 quest\u00e3o inicial, \u00e9 poss\u00edvel dizer que a bioeconomia da floresta em p\u00e9, realizada por comunidades tradicionais, povos ind\u00edgenas e agricultores familiares, aplica na pr\u00e1tica as premissas do conceito na sua origem, ao reconhecer os limites ecol\u00f3gicos do bioma e adotar uma fronteira produtiva que garanta a sustentabilidade das atividades sem afetar a conserva\u00e7\u00e3o da diversidade biol\u00f3gica e sociocultural.<\/p>\n\n\n\n

Nesse sentido, \u00e9 preciso desenvolver estrat\u00e9gias de pol\u00edticas p\u00fablicas compat\u00edveis com as especificidades dessa economia no bioma amaz\u00f4nico e com a particularidade dos atores sociais envolvidos, de modo a garantir que a organiza\u00e7\u00e3o social e produtiva de gera\u00e7\u00e3o de emprego e renda ande ao lado do fornecimento de servi\u00e7os ambientais para o Brasil e para o mundo.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Galileu<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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