{"id":177344,"date":"2022-04-29T16:30:35","date_gmt":"2022-04-29T19:30:35","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=177344"},"modified":"2022-04-29T16:30:42","modified_gmt":"2022-04-29T19:30:42","slug":"abates-e-exportacao-de-jumentos-para-china-continuam-na-bahia-mesmo-com-proibicao-da-justica","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/04\/29\/177344-abates-e-exportacao-de-jumentos-para-china-continuam-na-bahia-mesmo-com-proibicao-da-justica.html","title":{"rendered":"Abates e exporta\u00e7\u00e3o de jumentos para China continuam na Bahia mesmo com proibi\u00e7\u00e3o da Justi\u00e7a"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a>
Antes do abate, animais ficam armazenados em \u00e1reas de caatinga na Chapada Diamantina<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Quase tr\u00eas meses ap\u00f3s a Justi\u00e7a federal suspender o\u00a0abate de jumentos no Brasil, o setor continua a matar os animais em tr\u00eas frigor\u00edficos do Estado da Bahia. O couro da esp\u00e9cie \u00e9 exportado para a China para a produ\u00e7\u00e3o do ejiao, um produto medicinal sem efic\u00e1cia comprovada pela ci\u00eancia mas que movimenta bilh\u00f5es de d\u00f3lares no pa\u00eds asi\u00e1tico.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A decis\u00e3o de suspender o abate no Brasil foi tomada em 3 de fevereiro deste ano por 10 dos 13 desembargadores da Corte Especial do Tribunal Regional Federal da 1\u00aa Regi\u00e3o (TRF-1), em Bras\u00edlia.<\/p>\n\n\n\n

Mesmo assim, apenas no Frinordeste, frigor\u00edfico da cidade baiana de Amargosa e o estabelecimento que mais abate a esp\u00e9cie no Brasil, por volta de 14,4 mil animais foram mortos depois da proibi\u00e7\u00e3o \u2014 esse n\u00famero leva em conta a m\u00e9dia mensal de 4,8 mil jumentos abatidos no local antes da decis\u00e3o, segundo dados do Minist\u00e9rio da Agricultura, Pecu\u00e1ria e Abastecimento (Mapa).<\/p>\n\n\n\n

Estudos internacionais sobre o mercado de ejiao apontam que a pele de um \u00fanico de animal \u00e9 vendida na China por valores entre US$ 2 mil e US$ 4 mil (cerca de R$ 9,8 mil e R$ 19,7 mil). Considerando o menor valor, os jumentos abatidos no Frinordeste, que tem como s\u00f3cios dois cidad\u00e3os chineses e um brasileiro, podem ter gerado U$ 28,8 milh\u00f5es (cerca de R$ 142 milh\u00f5es) nos \u00faltimos tr\u00eas meses.<\/p>\n\n\n\n

Os magistrados do TRF-1 consideraram que o setor coloca em risco a exist\u00eancia da esp\u00e9cie no Brasil pela falta de uma cadeia produtiva que renove sua popula\u00e7\u00e3o, como ocorre com os bovinos, por exemplo. Tamb\u00e9m alegaram que n\u00e3o havia elementos para comprovar que a paralisa\u00e7\u00e3o afetava a economia baiana, como afirmava a gest\u00e3o do governador da Bahia, Rui Costa (PT).<\/p>\n\n\n\n

Por\u00e9m, 85 dias depois da decis\u00e3o, a opera\u00e7\u00e3o continua correndo em tr\u00eas abatedouros do Estado. Al\u00e9m do Frinordeste, atuam no setor o frigor\u00edfico Cabra Forte, em Sim\u00f5es Filho, e o Sudoeste, de Itapetinga. A BBC News Brasil tentou contato com os tr\u00eas estabelecimentos, mas n\u00e3o obteve resposta.<\/p>\n\n\n\n

A reportagem confirmou que a produ\u00e7\u00e3o continua por meio de duas fontes: pessoas ligadas aos frigor\u00edficos e um documento do Mapa ao qual a BBC teve acesso. A pasta, respons\u00e1vel por fiscalizar diariamente a opera\u00e7\u00e3o das empresas por meio do Servi\u00e7o de Inspe\u00e7\u00e3o Federal (SIF), confirmou que os trabalhos n\u00e3o foram interrompidos depois da proibi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Os estabelecimentos abatedouros registrados no SIF continuam abatendo normalmente esses animais”, escreveu Fabiana Silva Lima, da coordena\u00e7\u00e3o do Servi\u00e7o de Inspe\u00e7\u00e3o de Produtos de Origem Animal (Sipoa), \u00f3rg\u00e3o do Mapa, no documento. Ela argumentou que o \u00f3rg\u00e3o n\u00e3o havia sido notificado pela Justi\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Em nota \u00e0 BBC News Brasil, o minist\u00e9rio deu o mesmo argumento para justificar por que n\u00e3o est\u00e1 impedindo a opera\u00e7\u00e3o. Por\u00e9m, o sistema da Justi\u00e7a federal informa que a Uni\u00e3o, r\u00e9 na a\u00e7\u00e3o civil p\u00fablica que pediu a suspens\u00e3o, foi notificada pelo TRF-1 em 16 de mar\u00e7o.<\/p>\n\n\n\n

A audi\u00eancia do TRF-1 foi transmitida ao vivo e depois foi publicada no canal do\u00a0YouTube do TRF-1, e o resultado foi noticiado em reportagens na imprensa,\u00a0como na BBC News Brasil.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
O jumento brasileiro entrou na mira de empres\u00e1rios chineses para a produ\u00e7\u00e3o de rem\u00e9dio sem comprova\u00e7\u00e3o cient\u00edfica – FELIX LIMA<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O governo da Bahia, que tamb\u00e9m \u00e9 r\u00e9u na a\u00e7\u00e3o, foi notificado da proibi\u00e7\u00e3o no mesmo dia, 16 de mar\u00e7o. A Ag\u00eancia de Defesa Agropecu\u00e1ria da Bahia (Adab), \u00f3rg\u00e3o que fiscaliza o transporte e a manuten\u00e7\u00e3o dos animais em fazendas do Estado, tamb\u00e9m afirmou que n\u00e3o foi notificada da decis\u00e3o do TRF-1.<\/p>\n\n\n\n

Para o promotor Julimar Barreto Ferreira, titular da Promotoria Regional Ambiental do Rec\u00f4ncavo Sul, a continuidade das opera\u00e7\u00f5es \u00e9 uma quest\u00e3o \u00e9tica e de boa-f\u00e9 dos \u00f3rg\u00e3os p\u00fablicos envolvidos.<\/p>\n\n\n\n

“Na pior das hip\u00f3teses, h\u00e1 m\u00e1-f\u00e9 de \u00f3rg\u00e3os de fiscaliza\u00e7\u00e3o em se utilizar de um problema burocr\u00e1tico para n\u00e3o cumprir uma decis\u00e3o judicial. \u00c9 estranho e suspeito que, depois de tanto tempo, uma decis\u00e3o de um tribunal federal n\u00e3o esteja sendo cumprida. Foi uma decis\u00e3o p\u00fablica, amplamente noticiada pela imprensa. Como eles podem dizem que n\u00e3o est\u00e3o sabendo? \u00c9 uma quest\u00e3o \u00e9tica”, explica.<\/p>\n\n\n\n

O promotor \u00e9 respons\u00e1vel por outro pedido de liminar que tamb\u00e9m solicita a proibi\u00e7\u00e3o dos abates, mas na Justi\u00e7a estadual – dois meses depois do pedido, a a\u00e7\u00e3o ainda n\u00e3o teve resposta.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
Popula\u00e7\u00e3o de jumentos caiu nos \u00faltimos anos no Nordeste – FELIX LIMA<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Quanto mais abates, mais lucro para os donos dos frigor\u00edficos. A quest\u00e3o \u00e9 o lucro”, critica o promotor.<\/p>\n\n\n\n

A morosidade dos \u00f3rg\u00e3os p\u00fablicos em fiscalizar o setor levou a ju\u00edza Arali Maciel Duarte, da 1\u00aa Vara Federal da Bahia, a intimar a Uni\u00e3o, o governo da Bahia e a Adab a “comprovar o cumprimento da decis\u00e3o”, sob pena de multa. O despacho foi publicado nesta quinta-feira (28\/04) – os \u00f3rg\u00e3os t\u00eam at\u00e9 15 dias para responder.<\/p>\n\n\n\n

Para a magistrada, a Justi\u00e7a n\u00e3o precisa notificar o Minist\u00e9rio da Agricultura porque o \u00f3rg\u00e3o “n\u00e3o tem personalidade jur\u00eddica pr\u00f3pria”, sendo representado pela Uni\u00e3o. “Assim, cabe \u00e0 Uni\u00e3o informar os seus \u00f3rg\u00e3os internos sobre decis\u00f5es judiciais proferidas”, escreveu a ju\u00edza.<\/p>\n\n\n\n

Para a advogada Gislane Brand\u00e3o, coordenadora-geral da Frente Nacional de Defesa dos Jumentos, uma das entidades que entraram na Justi\u00e7a contra o setor, a produ\u00e7\u00e3o “precisa ser interrompida imediatamente”. “O abate dos jumentos \u00e9 inadmiss\u00edvel e contraria ordem judicial”, afirma.<\/p>\n\n\n\n

Mercado de eijiao<\/h2>\n\n\n\n

Desde 2016, o Brasil passou a exportar a couro do animal para a produ\u00e7\u00e3o do ejiao, bastante popular na China. Sem comprova\u00e7\u00e3o cient\u00edfica de efic\u00e1cia, ele promete tratar diversos problemas de sa\u00fade, como menstrua\u00e7\u00e3o irregular, anemia, ins\u00f4nia e impot\u00eancia sexual. Ele \u00e9 consumido de v\u00e1rias maneiras, como em ch\u00e1s e bolos. No YouTube, h\u00e1 v\u00eddeos de programas populares da TV chinesa ensinando receitas com ejiao e prometendo ao espectador uma vida “mais saud\u00e1vel.”<\/p>\n\n\n\n

Estima-se que esse mercado movimente bilh\u00f5es de d\u00f3lares por ano. Uma caixa do produto n\u00e3o sai por menos de R$ 750. No Brasil, os valores do com\u00e9rcio s\u00e3o bem menores \u2014 jumentos s\u00e3o negociados por R$ 20 no sert\u00e3o do Nordeste, e depois repassados aos chineses,\u00a0conforme mostrou a BBC News Brasil em dezembro do ano passado.<\/p>\n\n\n\n

A alta demanda e lucratividade fizeram com que empres\u00e1rios chineses mirassem o Brasil, pa\u00eds com uma popula\u00e7\u00e3o abundante de jumentos\u2014 em 2013, havia 900 mil deles, a maior parte no Nordeste, segundo o IBGE. Atualmente, de acordo com o Mapa, h\u00e1 por volta de 400 mil. Entre 2010 e 2014, o Brasil abateu 1 mil jumentos \u2014 j\u00e1 entre 2015 e 2019, foram 91,6 mil.<\/p>\n\n\n\n

Em relat\u00f3rio recente, o Conselho Regional de Medicina Veterin\u00e1ria da Bahia (CRMV-BA) afirmou que, sem uma cadeia produtiva, o ritmo dos abates e a demanda chinesa pelo ejiao poderiam praticamente dizimar a popula\u00e7\u00e3o de jumentos no Nordeste em poucos anos.<\/p>\n\n\n\n

\"\"<\/a>
O Frinordeste, em Amargosa, \u00e9 o frigor\u00edfico que mais abate jumentos no pa\u00eds – cerca de 4,8 mil animais por m\u00eas – FELIX LIMA<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O mercado de ejiao \u00e9 acusado por autoridades e ativistas de atuar de maneira extrativista. Ou seja, ele vai at\u00e9 onde os animais s\u00e3o abundantes, abate a maior parte da popula\u00e7\u00e3o e deixa o local. Ele afetou inclusive a popula\u00e7\u00e3o de jumentos na pr\u00f3pria China, segundo um estudo dos pesquisadores Richard Bennett e Simone Pfuderer, da Universidade de Reading, no Reino Unido.<\/p>\n\n\n\n

Em 2000, o pa\u00eds tinha por volta de 9 milh\u00f5es de cabe\u00e7as \u2014 em 2016, o n\u00famero caiu para 2 milh\u00f5es. Em 2000, a produ\u00e7\u00e3o anual de ejiao era de 1,2 tonelada \u2014 j\u00e1 em 2016, foram 5 toneladas. Estima-se que o pa\u00eds precise de 5 milh\u00f5es de peles de jumento por ano, mas, desde 2017, o estoque interno n\u00e3o \u00e9 mais capaz de suprir a demanda.<\/p>\n\n\n\n

A solu\u00e7\u00e3o de parte do empresariado chin\u00eas foi buscar animais em outros pa\u00edses, como o Quirguist\u00e3o, que perdeu 57% de seu rebanho desde 2017, segundo um estudo da ONG The Donkey Sanctuary. Pa\u00edses como Mali, Gana e Eti\u00f3pia recentemente proibiram o abate, embora ele ainda ocorra clandestinamente.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Quase tr\u00eas meses ap\u00f3s a Justi\u00e7a federal suspender o\u00a0abate de jumentos no Brasil, o setor continua a matar os animais em tr\u00eas frigor\u00edficos do Estado da Bahia. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":177345,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[4433,697,452],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/177344"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=177344"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/177344\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":177349,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/177344\/revisions\/177349"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/177345"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=177344"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=177344"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=177344"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}