{"id":177353,"date":"2022-04-29T16:52:02","date_gmt":"2022-04-29T19:52:02","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=177353"},"modified":"2022-04-29T16:52:05","modified_gmt":"2022-04-29T19:52:05","slug":"brasil-tem-1-milhao-vivendo-perto-de-barragens-de-risco","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/04\/29\/177353-brasil-tem-1-milhao-vivendo-perto-de-barragens-de-risco.html","title":{"rendered":"Brasil tem 1 milh\u00e3o vivendo perto de barragens de risco"},"content":{"rendered":"\n
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Sem manuten\u00e7\u00e3o adequada e supervis\u00e3o governamental, estruturas de alto risco amea\u00e7am cidades inteiras, aponta an\u00e1lise de dados feita pela DW. Ao todo, 1.220 s\u00e3o classificadas como barragens com alto potencial de dano.<\/p>\n\n\n\n

Quase 1 milh\u00e3o de pessoas vivem perto de barragens potencialmente perigosas no Brasil. Essa \u00e9 a conclus\u00e3o de uma an\u00e1lise feita pela DW, feita a partir de dados do Sistema Nacional de Informa\u00e7\u00f5es sobre Seguran\u00e7a de Barragens (SNISB). <\/p>\n\n\n\n

Os dados sobre barragens foram extra\u00eddos em fevereiro de 2022 e cruzados com a grade estat\u00edstica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat\u00edstica (IBGE), levantamento que oferece o maior detalhamento poss\u00edvel da distribui\u00e7\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o no territ\u00f3rio brasileiro, com base em informa\u00e7\u00f5es do Censo de 2010.<\/p>\n\n\n\n

Esse n\u00famero se refere \u00e0 quantidade de pessoas que vive a at\u00e9 1 quil\u00f4metro de dist\u00e2ncia de uma das 1.220 barragens do pa\u00eds classificadas como de alto risco e com alto potencial de dano.<\/p>\n\n\n\n

A classifica\u00e7\u00e3o de alto risco indica que uma barragem apresenta danos estruturais, falhas de projeto ou falta de manuten\u00e7\u00e3o adequada. Na pr\u00e1tica, isso significa que h\u00e1 um risco maior de erros e incidentes que podem levar ao rompimento da estrutura. O alto potencial de dano, por sua vez, significa que um eventual acidente pode gerar grandes custos ambientais, humanos ou econ\u00f4micos.<\/p>\n\n\n\n

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Os riscos para a popula\u00e7\u00e3o que vive perto dessas barragens s\u00e3o exacerbados por um sistema de governan\u00e7a falho. Ignorando exig\u00eancias legais, muitas das estruturas n\u00e3o possuem planos de seguran\u00e7a e emerg\u00eancia que descrevam o que deve ser feito em caso de desastre.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com dados coletados em fevereiro de 2022, 39 das barragens de alto risco e alto potencial de dano foram constru\u00eddas para armazenar res\u00edduos de minera\u00e7\u00e3o, um tipo de estrutura considerado particularmente inst\u00e1vel. Foram barragens desse tipo que se romperam nos desastres de\u00a0Mariana\u00a0(2015) e\u00a0Brumadinho\u00a0(2019).<\/p>\n\n\n\n

A maioria das barragens de risco, no entanto, foi erguida para garantir o abastecimento de \u00e1gua. Elas est\u00e3o localizadas principalmente no Nordeste, onde muitos reservat\u00f3rios foram constru\u00eddos para mitigar os efeitos da seca. Sem a devida manuten\u00e7\u00e3o, hoje eles colocam em risco cerca de 600 mil pessoas na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Infraestrutura negligenciada<\/h2>\n\n\n\n

Riacho da Cruz \u00e9 uma cidade com cerca de 3 mil habitantes que fica na por\u00e7\u00e3o semi\u00e1rida do Rio Grande do Norte. L\u00e1, a maioria dos moradores vive logo abaixo de uma barragem de alto risco.\u00a0 Constru\u00edda em 1957 para ajudar a manter a disponibilidade de \u00e1gua durante as secas frequentes, ela \u00e9 um bom exemplo do tipo de estrutura presente em boa parte do Nordeste.<\/p>\n\n\n\n

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Barragem fica a cerca de 800 metros de Riacho da Cruz (RN)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Nas d\u00e9cadas de 1960 e 1970, o governo federal tentou promover a seguran\u00e7a h\u00eddrica na regi\u00e3o”, diz Mariano Andrade da Silva, do Centro de Estudo e Pesquisa em Emerg\u00eancia e Desastres em Sa\u00fade (CEPEDE) da Fiocruz. <\/p>\n\n\n\n

A constru\u00e7\u00e3o de reservat\u00f3rios de \u00e1gua em \u00e1reas de seca fazia parte desses esfor\u00e7os. “Sem manuten\u00e7\u00e3o adequada, essas estruturas se tornaram um risco para a popula\u00e7\u00e3o”, diz Silva.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m da infraestrutura estatal negligenciada, o pesquisador tamb\u00e9m relata preocupa\u00e7\u00e3o com barragens “\u00f3rf\u00e3s”, quando a pessoa ou organiza\u00e7\u00e3o respons\u00e1vel pela estrutura \u00e9 desconhecida ou n\u00e3o est\u00e1 mais participando ativamente da manuten\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Aproximadamente dez de cada mil nordestinos vivem perto de uma barragem perigosa \u2013 o maior n\u00famero entre todas as regi\u00f5es do pa\u00eds. Para comparar, no Sudeste, o n\u00famero de pessoas nessa situa\u00e7\u00e3o \u00e9 de tr\u00eas em cada mil.<\/p>\n\n\n\n

A falta de recursos nas \u00e1reas onde est\u00e3o localizadas essas barragens \u00e9 um agravante. Vinte por cento das cidades nordestinas com pelo menos uma barragem perigosa em seu territ\u00f3rio n\u00e3o t\u00eam um n\u00facleo local de Defesa Civil, de acordo com os dados mais recentes do IBGE.<\/p>\n\n\n\n

S\u00e3o justamente os n\u00facleos municipais de Defesa Civil que deveriam implementar programas de mitiga\u00e7\u00e3o de riscos, incluindo a identifica\u00e7\u00e3o de \u00e1reas vulner\u00e1veis \u200b\u200be o estabelecimento de planos de conting\u00eancia. Se ocorrer um desastre, eles tamb\u00e9m seriam respons\u00e1veis \u200b\u200bpor coordenar os esfor\u00e7os de resgate.<\/p>\n\n\n\n

“Um desastre \u00e9 um evento improv\u00e1vel, mas se ocorrer pode levar n\u00e3o s\u00f3 a mortes, mas \u00e0 destrui\u00e7\u00e3o dessas comunidades como um todo”, diz Silva, acrescentando que os reservat\u00f3rios s\u00e3o importantes fontes de \u00e1gua tanto para o consumo humano quanto para a agricultura. Uma falha na barragem, explica ele, tamb\u00e9m p\u00f5e em risco a seguran\u00e7a alimentar e h\u00eddrica local.<\/p>\n\n\n\n

A hist\u00f3ria recente mostrou quais podem ser as consequ\u00eancias de um desastre desse tipo. Em 2009, uma barragem anti-seca se rompeu em Cocal, cidade do Piau\u00ed com cerca de 25 mil habitantes. A trag\u00e9dia matou nove pessoas, desalojou centenas e prejudicou a economia agr\u00edcola local.<\/p>\n\n\n\n

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Em Janeiro de 2020, um ano ap\u00f3s o desastre, um homem presta homenagem \u00e0s v\u00edtimas da trag\u00e9dia de Brumadinho<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Desde ent\u00e3o, acidentes graves t\u00eam ocorrido com frequ\u00eancia no Brasil. Os desastres nas cidades mineiras de Mariana, em 2015, e Brumadinho, em 2019, est\u00e3o entre os maiores acidentes de barragens da hist\u00f3ria do pa\u00eds e ainda est\u00e3o frescos na mem\u00f3ria nacional. Juntos, eles foram respons\u00e1veis \u200b\u200bpor quase 300 mortes.<\/p>\n\n\n\n

As barragens que entraram em colapso nessas cidades, entretanto, s\u00e3o muito diferentes das que amea\u00e7am boa parte do Nordeste: elas eram barragens de conten\u00e7\u00e3o de res\u00edduos de minera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Metade dos desastres aconteceu em barragens de minera\u00e7\u00e3o<\/h2>\n\n\n\n

Ainda que as barragens de conten\u00e7\u00e3o de rejeitos existam em n\u00famero significativamente menor, elas s\u00e3o respons\u00e1veis por um n\u00famero desproporcional de acidentes e trag\u00e9dias.<\/p>\n\n\n\n

Dos 18 grandes acidentes com barragens registrados no Brasil entre 1986 e 2019, nove foram em opera\u00e7\u00f5es de minera\u00e7\u00e3o. Oito deles, incluindo as cat\u00e1strofes em Brumadinho e Mariana, ocorreram em Minas Gerais.<\/p>\n\n\n\n

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“Barragens de rejeitos n\u00e3o cont\u00eam simplesmente \u00e1gua, como as outras. \u00c9 muito diferente. O rejeito tem elementos como areia, argila, amido, ferro… \u00c9 muito mais perigoso, mais inst\u00e1vel”, diz Evandro Moraes da Gama, professor do departamento de engenharia de minas da Universidade do Estado de Minas Gerais (UFMG). “N\u00e3o h\u00e1 t\u00e9cnica, no Brasil ou no mundo, que consiga fazer isso com 100% de seguran\u00e7a.” <\/p>\n\n\n\n

Rafaela Bald\u00ed, engenheira geot\u00e9cnica com doutorado em seguran\u00e7a de barragens na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), diz que a maioria das falhas pode ser atribu\u00edda a m\u00e1s pr\u00e1ticas de gest\u00e3o. <\/p>\n\n\n\n

Segundo Bald\u00ed, as mineradoras s\u00e3o respons\u00e1veis pela falta de cuidados adequados, pois buscam aumentar os n\u00edveis de extra\u00e7\u00e3o e reduzir custos. A culpa, por\u00e9m, \u00e9 compartilhada com as institui\u00e7\u00f5es destinadas a monitorar as atividades de minera\u00e7\u00e3o, acrescenta a especialista. <\/p>\n\n\n\n

A trag\u00e9dia de Brumadinho \u00e9 um exemplo do problema. Executivos da mineradora Vale e auditores da empresa alem\u00e3 T\u00fcv S\u00dcD, que atestaram a estabilidade do rompimento da barragem, hoje\u00a0respondem a acusa\u00e7\u00f5es\u00a0de ignorar problemas estruturais.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

“Infelizmente, isso n\u00e3o \u00e9 exclusivo desse desastre. Essa \u00e9 uma pr\u00e1tica comum no Brasil. As mineradoras pressionam os consultores, e eles acabam escrevendo o que \u00e9 mais conveniente no momento”, diz Bald\u00ed.<\/p>\n\n\n\n

Falta de governan\u00e7a <\/h2>\n\n\n\n

Quando as barragens de Brumadinho e Mariana se romperam, n\u00e3o estavam classificadas publicamente como estruturas de alto risco. Isso ilustra outro aspecto do problema das barragens no Brasil \u2013 a falta de informa\u00e7\u00e3o adequada. O pa\u00eds n\u00e3o sabe quantas barragens existem em seu territ\u00f3rio e qu\u00e3o bem preservadas elas de fato est\u00e3o. <\/p>\n\n\n\n

Desde 2010, as informa\u00e7\u00f5es sobre todas as barragens do pa\u00eds passam a ser centralizadas no Sistema Nacional de Informa\u00e7\u00f5es sobre Seguran\u00e7a de Barragens, mantido pela Ag\u00eancia Nacional de \u00c1guas (ANA). <\/p>\n\n\n\n

No entanto, os dados est\u00e3o longe de completos, conforme destacado nos pr\u00f3prios relat\u00f3rios anuais da ANA. Cerca de 22 mil barragens est\u00e3o atualmente registradas no banco de dados, mas a ag\u00eancia estima que existam cerca de 170 mil reservat\u00f3rios artificiais de \u00e1gua no pa\u00eds. <\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o h\u00e1 informa\u00e7\u00f5es suficientes para determinar se 57% das barragens cadastradas no sistema est\u00e3o sujeitas \u00e0 legisla\u00e7\u00e3o que define padr\u00f5es de seguran\u00e7a para estruturas acima de um determinado tamanho, n\u00edvel de risco ou classifica\u00e7\u00e3o de dano potencial. <\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, a maioria das 6 mil barragens que est\u00e3o sujeitas aos protocolos nacionais de seguran\u00e7a n\u00e3o segue a legisla\u00e7\u00e3o adequadamente. Cerca de 75% delas n\u00e3o possuem os planos de seguran\u00e7a ou emerg\u00eancia necess\u00e1rios. Em outras palavras, elas n\u00e3o est\u00e3o atreladas a orienta\u00e7\u00f5es b\u00e1sicas sobre o que fazer caso aconte\u00e7a um desastre.<\/p>\n\n\n\n

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Segundo Fernanda Laus, coordenadora de seguran\u00e7a de barragens da ANA, \u00e9 natural que existam lacunas de informa\u00e7\u00e3o durante a implementa\u00e7\u00e3o de uma nova pol\u00edtica p\u00fablica. O banco de dados de monitoramento de seguran\u00e7a foi criado h\u00e1 12 anos. <\/p>\n\n\n\n

Ela acrescenta que as lacunas podem ser parcialmente atribu\u00eddas \u00e0 natureza pulverizada do sistema regulat\u00f3rio. Na pr\u00e1tica, os dados s\u00e3o coletados por 44 organiza\u00e7\u00f5es governamentais com diferentes n\u00edveis de financiamento e capacidade de atua\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Os recursos s\u00e3o limitados. \u00c9 natural come\u00e7ar com barragens maiores e deixar as menores para depois”, diz Laus, acrescentando que alguns reguladores est\u00e3o coletando os dados faltantes de forma eficaz. “Mas isso n\u00e3o \u00e9 uma realidade para todas as ag\u00eancias. Algumas delas simplesmente n\u00e3o t\u00eam capacidade para fazer isso por enquanto.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n\n\n\n

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