{"id":177383,"date":"2022-05-03T16:24:20","date_gmt":"2022-05-03T19:24:20","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=177383"},"modified":"2022-05-03T16:24:26","modified_gmt":"2022-05-03T19:24:26","slug":"reduzir-combustiveis-fosseis-pode-evitar-extincao-em-massa-no-oceano","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/05\/03\/177383-reduzir-combustiveis-fosseis-pode-evitar-extincao-em-massa-no-oceano.html","title":{"rendered":"Reduzir combust\u00edveis f\u00f3sseis pode evitar extin\u00e7\u00e3o em massa no oceano"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a>
Uma tartaruga marinha nada acima do coral no Parque Natural de Recifes de Tubbataha.
FOTO DE\u00a0DAVID DOUBILET,\u00a0NAT GEO IMAGE COLLECTION<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Perto do final do per\u00edodo Permiano, cerca de 252 milh\u00f5es de anos atr\u00e1s, um \u00fanico supercontinente dominava o planeta. O oceano era repleto de peixes \u00f3sseos cobertos por cascos resistentes e escorpi\u00f5es marinhos do tamanho dos humanos modernos. Artr\u00f3podes do corpo segmentado, como trilobitas, dominavam as profundezas, junto com diversos tipos de braqui\u00f3podes, que pareciam mariscos, mas n\u00e3o eram, e amon\u00f3ides, que se assemelhavam a nautiloides sem concha, mas eram mais pr\u00f3ximos de lulas e polvos.<\/p>\n\n\n\n

Hoje essas criaturas s\u00e3o conhecidas gra\u00e7as ao registro f\u00f3ssil: no final do Permiano, 90% de toda a vida marinha foi exterminada pelo maior evento de extin\u00e7\u00e3o da hist\u00f3ria da Terra. Os cientistas hoje suspeitam que ele foi causado por libera\u00e7\u00f5es maci\u00e7as de di\u00f3xido de carbono, provavelmente da atividade vulc\u00e2nica em uma regi\u00e3o conhecida como Trapps siberianos, uma forma\u00e7\u00e3o geol\u00f3gica de rocha vulc\u00e2nica no atual territ\u00f3rio russo da Sib\u00e9ria. A causa mais comum de morte,\u00a0mostrou uma equipe de pesquisadores em 2018, foi provavelmente o estresse fisiol\u00f3gico do aquecimento dos mares e a perda de oxig\u00eanio, um subproduto das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas causadas pelos gases de efeito estufa.<\/p>\n\n\n\n

Em um artigo publicado\u00a0na revista\u00a0Science<\/em>, dois dos cientistas que fizeram essa descoberta de 2018 argumentam que, se nossas pr\u00f3prias emiss\u00f5es de efeito estufa continuarem sem controle, o aquecimento das \u00e1guas e a perda de oxig\u00eanio no mar podem levar a uma extin\u00e7\u00e3o em massa que rivaliza com as cinco piores cat\u00e1strofes do planeta. Eles sugerem que o desastre pode apagar grande parte da diversifica\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies que ocorreu desde a extin\u00e7\u00e3o do final do Cret\u00e1ceo, que matou os dinossauros h\u00e1 65 milh\u00f5es de anos.<\/p>\n\n\n\n

Mas, afirmam os pesquisadores, podemos alterar essa trajet\u00f3ria. Cortar as emiss\u00f5es de gases estufa rapidamente poderia reduzir os riscos de extin\u00e7\u00e3o em 70%. A combina\u00e7\u00e3o de redu\u00e7\u00f5es de gases de efeito estufa com esfor\u00e7os conjuntos para deter a polui\u00e7\u00e3o do oceano, a pesca excessiva, a destrui\u00e7\u00e3o de habitats e outros tipos de press\u00e3o no ambiente marinho daria \u00e0 vida oce\u00e2nica uma chance ainda maior de sobreviv\u00eancia a longo prazo.<\/p>\n\n\n\n

\u201cSe revertermos nossas emiss\u00f5es rapidamente, ainda podemos perder algo como 5% das esp\u00e9cies marinhas\u201d, diz o coautor\u00a0Curtis Deutsch, cientista clim\u00e1tico da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. \u201cCom 2\u00baC\u00a0de aquecimento, voc\u00ea pode ver uma perda de 10%. Haver\u00e1 uma mudan\u00e7a na comunidade geral de esp\u00e9cies que vivem na maioria dos lugares. Mas esses s\u00e3o n\u00fameros relativamente pequenos. Estar\u00edamos evitando uma extin\u00e7\u00e3o em massa.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Denise Breitburg, especialista em oxig\u00eanio oce\u00e2nico do Centro de Pesquisa Ambiental do Instituto Smithsonian, que n\u00e3o participou do estudo, chama as descobertas de \u201cfortes, mas importantes\u201d. Ela acrescentou que o trabalho oferece uma \u201cbase para a esperan\u00e7a\u201d de que \u201cpodemos preservar grande parte da vida do oceano\u201d.<\/p>\n\n\n\n

\u201cEsse artigo cristalizou as escolhas \u00e0 nossa frente\u201d, diz Malin Pinsky, cientista oce\u00e2nico da Universidade Rutgers, em Nova Jersey, Estados Unidos, coautor de um artigo de opini\u00e3o que apareceu ao lado do estudo. \u201cParece um momento \u00fanico na humanidade para preservar o futuro da vida no planeta.\u201d<\/p>\n\n\n\n

\u00c1gua com baixo teor de oxig\u00eanio<\/h3>\n\n\n\n

A chave para a nova pesquisa de Deutsch e o principal autor Justin Penn, pesquisador associado de Princeton, n\u00e3o \u00e9 apenas descobrir como o aquecimento das temperaturas afeta o oxig\u00eanio nos mares, mas tamb\u00e9m como a vida marinha usa esse oxig\u00eanio.<\/p>\n\n\n\n

Nos \u00faltimos 15 anos, novas pesquisas mostraram que as zonas naturais de baixo oxig\u00eanio no oceano est\u00e3o se expandindo rapidamente, mas de forma desigual, empurrando grande parte da vida marinha para uma faixa cada vez mais estreita de \u00e1gua rica em oxig\u00eanio perto da superf\u00edcie. Essas regi\u00f5es com pouco oxig\u00eanio \u2013 da Ba\u00eda de Bengala a um trecho do Atl\u00e2ntico na \u00c1frica Ocidental e grandes regi\u00f5es do Pac\u00edfico oriental \u2013aumentaram em quase 4,4 milh\u00f5es km\u00b2\u00a0desde a d\u00e9cada de 1960 e est\u00e3o subindo at\u00e9 um metro por ano. No sul da Calif\u00f3rnia, 200 metros abaixo da superf\u00edcie, o oxig\u00eanio\u00a0caiu quase um ter\u00e7o\u00a0em alguns lugares no \u00faltimo quarto de s\u00e9culo. As \u00e1reas do mar completamente desprovidas de oxig\u00eanio aumentaram quatro vezes desde meados do s\u00e9culo passado.<\/p>\n\n\n\n

Ao contr\u00e1rio das zonas mortas costeiras, como a que aparece regularmente no Golfo do M\u00e9xico, essas zonas de baixo oxig\u00eanio n\u00e3o s\u00e3o resultado da polui\u00e7\u00e3o por nutrientes que escorrem da terra. Elas s\u00e3o impulsionadas pelo aumento das temperaturas. \u00c0 medida que as \u00e1guas superficiais aquecem, elas absorvem menos oxig\u00eanio dissolvido do ar acima. Como a \u00e1gua quente \u00e9 mais leve que a \u00e1gua fria abaixo, isso reduz a mistura oce\u00e2nica, o que significa que menos oxig\u00eanio chega nas profundezas.<\/p>\n\n\n\n

Esse desenvolvimento j\u00e1 est\u00e1 destruindo a vida marinha, reduzindo o habitat para algumas esp\u00e9cies e concentrando presas para outras. Esp\u00e9cies de peixes de bico, como marlim e agulh\u00e3o-vela, est\u00e3o diminuindo em centenas de metros seus mergulhos em busca de comida. Eles \u2013 e tubar\u00f5es, atuns, bacalhaus-do-pac\u00edfico, arenques e cavalas \u2013 est\u00e3o passando mais tempo amontoados perto da superf\u00edcie, tornando mais f\u00e1cil para as frotas de pesca \u2013 ou p\u00e1ssaros e tartarugas-marinhas \u2013 captur\u00e1-los.<\/p>\n\n\n\n

H\u00e1 outras mudan\u00e7as, algumas delas estranhas. Alguns caranguejos e lulas lutam para enxergar em condi\u00e7\u00f5es de baixo oxig\u00eanio. Muitos zoopl\u00e2nctons min\u00fasculos, alimento para criaturas maiores no mar, j\u00e1 vivem no limiar de seus n\u00edveis m\u00ednimos de oxig\u00eanio e provavelmente n\u00e3o sobreviver\u00e3o a mais redu\u00e7\u00f5es, a n\u00e3o ser que mudem de lugar. O baixo oxig\u00eanio est\u00e1 reduzindo a reprodu\u00e7\u00e3o de alguns peixes e aumentando as doen\u00e7as em outros.<\/p>\n\n\n\n

A mudan\u00e7a mais significativa envolve a respira\u00e7\u00e3o. Quanto mais quente fica, mais oxig\u00eanio as criaturas precisam para sustentar suas demandas de energia. Mas isso acontece \u00e0 medida que o suprimento de oxig\u00eanio no oceano reduz.<\/p>\n\n\n\n

\u201c\u00c9 muito, muito perturbador\u201d, diz Matthew Long, cientista oce\u00e2nico do Centro Nacional de Pesquisa Atmosf\u00e9rica dos Estados Unidos. \u201c\u00c0 medida que o aquecimento global continua a progredir, estamos mudando o estado metab\u00f3lico b\u00e1sico do maior ecossistema da Terra.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Um cen\u00e1rio improv\u00e1vel, mas instrutivo<\/h3>\n\n\n\n

Penn e Deutsch reuniram dados metab\u00f3licos para dezenas e dezenas de esp\u00e9cies de animais oce\u00e2nicos, de moluscos a tubar\u00f5es, de todos os oceanos, latitudes e profundezas, para ver quanto oxig\u00eanio cada um precisa para sobreviver. Eles coletaram dados sobre como as temperaturas j\u00e1 est\u00e3o mudando e, em seguida, usaram simula\u00e7\u00f5es de computador para descobrir como a toler\u00e2ncia cr\u00edtica ao oxig\u00eanio e o habitat m\u00ednimo exigido por cada esp\u00e9cie provavelmente mudariam \u00e0 medida que as temperaturas continuassem a subir.<\/p>\n\n\n\n

\u201cH\u00e1 muitas boas raz\u00f5es para pensar que estamos representando uma vis\u00e3o global e capturando um amplo espectro, embora estejamos olhando apenas para um n\u00famero relativamente pequeno de esp\u00e9cies\u201d, diz Deutsch.<\/p>\n\n\n\n

Algumas esp\u00e9cies, como o atum, claramente se moveriam \u00e0 medida que seu habitat fosse restrito, enquanto esp\u00e9cies menos m\u00f3veis, como os corais, n\u00e3o teriam essa op\u00e7\u00e3o. O registro f\u00f3ssil tamb\u00e9m ajudou a dupla a reconhecer quanta perda de habitat \u00e9 necess\u00e1ria para extinguir uma esp\u00e9cie ou uma popula\u00e7\u00e3o local. Eles calibraram os modelos e suas proje\u00e7\u00f5es com base no estudo que haviam feito sobre as mudan\u00e7as oce\u00e2nicas causadas pelo evento de extin\u00e7\u00e3o do final do Permiano.<\/p>\n\n\n\n

Os pesquisadores descobriram que, no cen\u00e1rio de emiss\u00f5es mais altas \u2013 em que nossas emiss\u00f5es continuam a subir, o que muitos cientistas dizem agora parecer improv\u00e1vel \u2013 o aquecimento do oceano e a perda de oxig\u00eanio acabariam com mais esp\u00e9cies at\u00e9 o final do s\u00e9culo do que todos os outros estressores oce\u00e2nicos, como sobrepesca e polui\u00e7\u00e3o, combinados. Mas as perdas n\u00e3o ser\u00e3o distribu\u00eddas uniformemente. Os mares tropicais perderiam a maioria das esp\u00e9cies, mas muitas delas sobreviveriam mudando-se para regi\u00f5es mais frias. Criaturas encontradas principalmente em mares de latitudes mais altas, como o altamente produtivo Pac\u00edfico Norte, onde grande parte da Am\u00e9rica do Norte obt\u00e9m seus peixes, seriam muito mais vulner\u00e1veis.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAs esp\u00e9cies tropicais s\u00e3o mais propensas a sobreviver porque, \u00e0 medida que as condi\u00e7\u00f5es quentes e hip\u00f3xicas se espalham globalmente, essas esp\u00e9cies j\u00e1 est\u00e3o adaptadas a esses tipos de ambientes\u201d, diz Penn. \u201cAs esp\u00e9cies acostumadas ao frio e com alto teor de O2 n\u00e3o t\u00eam para onde ir para buscar ref\u00fagio.\u201d Esse mesmo padr\u00e3o \u2013 maior risco de extin\u00e7\u00e3o para esp\u00e9cies polares \u2013 tamb\u00e9m foi detectado no registro f\u00f3ssil da extin\u00e7\u00e3o do final do Permiano.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 o final deste s\u00e9culo, ele e Deutsch concluem, os gases de efeito estufa em crescimento colocariam o planeta no caminho de uma extin\u00e7\u00e3o em massa no n\u00edvel do Permiano at\u00e9 o ano 2300. Embora esse futuro seja improv\u00e1vel \u2013 espera-se que o aumento da energia solar e e\u00f3lica comecem a reduzir a demanda por combust\u00edveis f\u00f3sseis, embora muito lentamente \u2013 as li\u00e7\u00f5es aprendidas s\u00e3o relevantes. Mesmo que o futuro seja menos terr\u00edvel, os mesmos mecanismos que mataram a vida marinha h\u00e1 252 milh\u00f5es de anos continuam em jogo. (As outras quatro extin\u00e7\u00f5es em massa do passado foram impulsionadas por outros tipos de mudan\u00e7as, do resfriamento global ao impacto de asteroides.)<\/p>\n\n\n\n

O novo estudo \u00e9 \u201cum trabalho impressionante\u201d, diz Karen Wishner, ocean\u00f3grafa biol\u00f3gica da Universidade de Rhode Island, Estados Unidos. Os pesquisadores \u201crealmente entendem o quadro geral\u201d \u2013 mas, acrescenta ela, a vida no oceano \u00e9 complexa e ainda h\u00e1 muito a aprender sobre como os animais podem reagir \u00e0s mudan\u00e7as nas condi\u00e7\u00f5es. \u201cAs esp\u00e9cies individuais t\u00eam suas pr\u00f3prias maneiras de se adaptar\u201d, diz Wishner.<\/p>\n\n\n\n

O importante, diz Deutsch, \u00e9 que essas perdas de esp\u00e9cies s\u00e3o previs\u00edveis. \u201cA mudan\u00e7a \u00e9 bastante linear\u201d, diz ele. Para cada 0,5\u00b0C de aumento de temperatura, as extin\u00e7\u00f5es de esp\u00e9cies aumentam alguns pontos percentuais.<\/p>\n\n\n\n

Em outras palavras, mesmo que controlemos as emiss\u00f5es rapidamente, algumas perdas ser\u00e3o inevit\u00e1veis \u200b\u200b\u2013 as temperaturas globais j\u00e1 aumentaram cerca de 1\u00b0C. Mas se limitarmos o aumento da temperatura ao que os pa\u00edses concordaram no acordo de Paris de 2015, n\u00e3o mais que 2\u00b0C, as perdas provavelmente ficariam abaixo de 10%.<\/p>\n\n\n\n

Das 2,2 milh\u00f5es de esp\u00e9cies oce\u00e2nicas, esse \u201cainda \u00e9 um grande n\u00famero absoluto\u201d, diz Penn. \u201cMas \u00e9 uma ordem de magnitude menor do que poderia ser.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"