{"id":177627,"date":"2022-05-19T21:08:10","date_gmt":"2022-05-20T00:08:10","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=177627"},"modified":"2022-05-19T21:08:16","modified_gmt":"2022-05-20T00:08:16","slug":"como-clima-esta-tornando-australia-cada-vez-mais-inabitavel","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/05\/19\/177627-como-clima-esta-tornando-australia-cada-vez-mais-inabitavel.html","title":{"rendered":"Como clima est\u00e1 tornando Austr\u00e1lia cada vez mais inabit\u00e1vel"},"content":{"rendered":"\n
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A casa de Sam Bowstead em Brisbane est\u00e1 entre as milhares de propriedades atingidas por enchentes na sexta-feira<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“\u00c9 devastador. Voc\u00ea dedica muito tempo e esfor\u00e7o \u00e0 sua casa para depois v\u00ea-la afundar na \u00e1gua.”<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Sam Bowstead \u00e9 um arquiteto especializado em preparar casas para resistir a desastres naturais. Mas quando as inunda\u00e7\u00f5es engoliram a pr\u00f3pria resid\u00eancia dele em Brisbane, em fevereiro, ele passou a se sentir impotente.<\/p>\n\n\n\n

“Eu trabalhei com pessoas que estiveram em situa\u00e7\u00f5es semelhantes. Agora isso aconteceu comigo”, diz ele.<\/p>\n\n\n\n

“Fiquei chocado com o qu\u00e3o r\u00e1pido [a \u00e1gua] subiu… mais de um metro em algumas horas. Passei de preocupado com a nossa propriedade para preocupado com a nossa seguran\u00e7a.”<\/p>\n\n\n\n

No final, um barco foi a \u00fanica sa\u00edda.<\/p>\n\n\n\n

A experi\u00eancia de Bowstead tornou-se cada vez mais comum para os australianos.<\/p>\n\n\n\n

Nos \u00faltimos tr\u00eas anos, inc\u00eandios florestais e inunda\u00e7\u00f5es recordes mataram mais de 500 pessoas e bilh\u00f5es de animais. Secas, ciclones e mar\u00e9s altas assolam as comunidades.<\/p>\n\n\n\n

A mudan\u00e7a clim\u00e1tica \u00e9 uma preocupa\u00e7\u00e3o fundamental para quem vai votar nas elei\u00e7\u00f5es da Austr\u00e1lia no s\u00e1bado (21), assim como o custo de vida \u2014 e essas quest\u00f5es est\u00e3o convergindo como nunca antes.<\/p>\n\n\n\n

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Crise nos seguros<\/h2>\n\n\n\n

A Austr\u00e1lia est\u00e1 enfrentando uma “crise de segurabilidade”, com uma em cada 25 casas a caminho de se tornar ineleg\u00edvel para ser coberta por seguro at\u00e9 2030, de acordo com um relat\u00f3rio do Climate Council. E uma em cada 11 corre o risco de ficar com seguro insuficiente.<\/p>\n\n\n\n

O seguro para as casas de maior risco ser\u00e1 proibitivamente caro ou recusado pelos provedores, diz o Climate Council, que criou um mapa interativo para os australianos pesquisarem.<\/p>\n\n\n\n

“As mudan\u00e7as clim\u00e1ticas est\u00e3o acontecendo em tempo real aqui e muitos australianos agora descobrem ser imposs\u00edvel fazer um seguro para suas casas e neg\u00f3cios”, diz a presidente-executiva da entidade, Amanda McKenzie.<\/p>\n\n\n\n

O Estado australiano mais exposto<\/h2>\n\n\n\n

O maior problema \u00e9 em Queensland, Estado que abriga quase 40% das 500.000 casas que, em breve, n\u00e3o ser\u00e3o mais cobertas por seguros.<\/p>\n\n\n\n

Queensland foi devastada por inunda\u00e7\u00f5es nos \u00faltimos meses. Em fevereiro, a capital do Estado, Brisbane, teve mais de 70% de sua precipita\u00e7\u00e3o m\u00e9dia anual em apenas tr\u00eas dias.<\/p>\n\n\n\n

“Ainda me sinto bastante traumatizada quando chove muito”, diz Michelle Vine, cuja casa em East Brisbane foi destru\u00edda junto com d\u00e9cadas de suas obras de arte.<\/p>\n\n\n\n

“Tivemos que sair da casa, ela se tornou inabit\u00e1vel.”<\/p>\n\n\n\n

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Michelle Vine perdeu uma d\u00e9cada em obras de arte<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

As seguradoras dizem que as inunda\u00e7\u00f5es, que tamb\u00e9m atingiram Nova Gales do Sul, se tornar\u00e3o o evento clim\u00e1tico mais caro da Austr\u00e1lia. Mas mesmo antes deste ano, os custos de seguro dispararam.<\/p>\n\n\n\n

Embora o aumento dos pre\u00e7os dos im\u00f3veis seja um fator, o principal \u00f3rg\u00e3o da ind\u00fastria de seguros da Austr\u00e1lia aponta o dedo para as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

O Conselho de Seguros da Austr\u00e1lia diz que nenhuma parte do pa\u00eds est\u00e1 atualmente sem seguro, mas h\u00e1 “claramente preocupa\u00e7\u00f5es de acessibilidade e disponibilidade”.<\/p>\n\n\n\n

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Ao longo da \u00faltima d\u00e9cada, o valor pago pelas seguradoras por danos causados \u200b\u200bpor desastres naturais praticamente dobrou.<\/p>\n\n\n\n

Em m\u00e9dia, os consumidores agora pagam quase quatro vezes mais pelos pr\u00eamios de seguro residencial do que em 2004.<\/p>\n\n\n\n

No norte da Austr\u00e1lia, esses n\u00fameros s\u00e3o ainda mais extremos \u2014 em alguns casos, 10 vezes maiores do que em outros lugares.<\/p>\n\n\n\n

Mais australianos est\u00e3o sendo for\u00e7ados a fazer um seguro insuficiente \u2014 comprar ap\u00f3lices mais baratas que cobrem muito pouco \u2014 ou abrir m\u00e3o completamente do seguro.<\/p>\n\n\n\n

“Esta \u00e9 provavelmente a quest\u00e3o de custo de vida mais importante da Austr\u00e1lia”, disse Antonia Settle, economista pol\u00edtica da Universidade de Melbourne, \u00e0 BBC News.<\/p>\n\n\n\n

“As fam\u00edlias que n\u00e3o t\u00eam seguro correm o risco de perder seu ativo mais importante.”<\/p>\n\n\n\n

Barganha<\/h2>\n\n\n\n

Propriedades em \u00e1reas de alto risco est\u00e3o se tornando mais baratas para comprar e alugar, muitas vezes atraindo pessoas menos capazes de pagar um seguro adequado, agravando o impacto financeiro dos desastres.<\/p>\n\n\n\n

“As pessoas n\u00e3o est\u00e3o se afastando de lugares amea\u00e7ados pelo clima na Austr\u00e1lia. Na realidade, \u00e9 prov\u00e1vel que se movam em dire\u00e7\u00e3o a eles”, diz a dem\u00f3grafa Liz Allen, da Universidade Nacional Australiana.<\/p>\n\n\n\n

“A quest\u00e3o da acessibilidade \u00e0 habita\u00e7\u00e3o na Austr\u00e1lia \u00e9 t\u00e3o terr\u00edvel… que as pessoas veem a cat\u00e1strofe clim\u00e1tica quase como uma barganha, uma forma de garantir que possam ter um lugar para chamar de seu.”<\/p>\n\n\n\n

“O fen\u00f4meno tamb\u00e9m pode agravar a desigualdade social e criar ‘guetos clim\u00e1ticos'”, diz Climate Valuation, empresa de an\u00e1lise de risco.<\/p>\n\n\n\n

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Sam Bowstead se mudou para \u00e1reas de rico por causa dos pre\u00e7os altos de casas em outras localidades<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Vine \u00e9 um exemplo disso. Ela diz que foi atra\u00edda para uma \u00e1rea vulner\u00e1vel pelo pre\u00e7o. Na \u00e9poca, ela sentiu como se tivesse “ganhado na loteria”. Bowstead fez uma escolha semelhante.<\/p>\n\n\n\n

E uma vez em uma \u00e1rea de risco, \u00e9 quase imposs\u00edvel para muitos sair, como \u00e9 o caso de Gary Godley na cidade de Grantham, a oeste de Brisbane.<\/p>\n\n\n\n

Dada a terr\u00edvel hist\u00f3ria de enchentes de Grantham – 12 pessoas morreram l\u00e1 em 2011 – n\u00e3o h\u00e1 compradores para sua casa.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00f3s queremos sair. N\u00f3s simplesmente n\u00e3o podemos pagar”, diz Godley. “N\u00e3o podemos fazer nada.”<\/p>\n\n\n\n

Ent\u00e3o, o que pode ser feito?<\/h2>\n\n\n\n

O governo prometeu bilh\u00f5es para ajudar a “ressegurar” as seguradoras contra grandes sinistros resultantes de desastres, argumentando que isso reduzir\u00e1 pela metade os pr\u00eamios para as pessoas no norte da Austr\u00e1lia.<\/p>\n\n\n\n

Mas \u00e9 uma pol\u00edtica arriscada, e n\u00e3o \u00e9 algo que o Conselho de Seguros da Austr\u00e1lia ou o \u00f3rg\u00e3o de fiscaliza\u00e7\u00e3o da ind\u00fastria do pa\u00eds desejavam.<\/p>\n\n\n\n

Os cr\u00edticos apontaram que os desastres agora s\u00e3o frequentemente devastadores em \u00e1reas fora do norte da Austr\u00e1lia que n\u00e3o ser\u00e3o cobertas pela pol\u00edtica.<\/p>\n\n\n\n

Em vez disso, eles est\u00e3o pedindo que o governo limite o desenvolvimento de \u00e1reas residenciais em \u00e1reas de alto risco, considere comprar im\u00f3veis de alguns propriet\u00e1rios ou crie incentivos para que as pessoas tornem suas propriedades resistentes a desastres.<\/p>\n\n\n\n

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Mas a resposta \u00f3bvia \u00e9 abordar seriamente o problema da mudan\u00e7a clim\u00e1tica, diz Settle \u2014 embora isso seja algo que sucessivos governos t\u00eam relutado em fazer.<\/p>\n\n\n\n

Ap\u00f3s grandes inc\u00eandios florestais em 2019 e 2020, os australianos foram orientados a se preparar para um futuro “alarmante” de desastres simult\u00e2neos e cada vez mais graves.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, para uma na\u00e7\u00e3o t\u00e3o exposta \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, a Austr\u00e1lia continua sendo um dos maiores emissores do mundo por habitante.<\/p>\n\n\n\n

O governo do primeiro-ministro Scott Morrison prometeu reduzir as emiss\u00f5es em 26% at\u00e9 2030. Os trabalhistas, sob Anthony Albanese, prometeram um corte de 43%.<\/p>\n\n\n\n

Ambas as metas est\u00e3o abaixo dos 50% recomendados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas, das Na\u00e7\u00f5es Unidas.<\/p>\n\n\n\n

O problema do carv\u00e3o<\/h2>\n\n\n\n

A maioria dos australianos quer uma a\u00e7\u00e3o clim\u00e1tica mais dura, mas tanto o partido do governo quanto o Trabalhista mantiveram sil\u00eancio sobre o assunto durante esta campanha eleitoral.<\/p>\n\n\n\n

Na cidade de Gladstone, na regi\u00e3o central de Queensland, a raz\u00e3o para isso \u00e9 evidente.<\/p>\n\n\n\n

O carv\u00e3o \u00e9 parte importante da economia de Gladstone. O produto \u00e9 enviado do porto local e ajudou a Austr\u00e1lia a se tornar o segundo maior exportador global, al\u00e9m de criar milhares de empregos.<\/p>\n\n\n\n

Phil Golby, um funcion\u00e1rio local do Sindicato dos Trabalhadores de Manufaturados da Austr\u00e1lia, diz que “a mudan\u00e7a \u00e9 inevit\u00e1vel”, mas teme que os trabalhadores da ind\u00fastria de combust\u00edveis f\u00f3sseis sejam deixados para tr\u00e1s.<\/p>\n\n\n\n

“Ouvi muita conversa. Ouvi muitas apresenta\u00e7\u00f5es – mas ainda n\u00e3o vi uma trajet\u00f3ria clara para seguir”, diz Golby.<\/p>\n\n\n\n

“Se uma nova ind\u00fastria vier [para Gladstone], precisamos ter certeza de que vamos treinar nossa for\u00e7a de trabalho… [e] que os trabalhadores ter\u00e3o fonte de renda. N\u00e3o podemos come\u00e7ar a ver as pessoas retrocedendo.”<\/p>\n\n\n\n

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Mais de 3000 casas foram destru\u00eddas em incd\u00eandios entre 2019-2020 – GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O carv\u00e3o est\u00e1 no centro da discuss\u00e3o sobre prosperidade, pol\u00edtica e os perigos ambientais da Austr\u00e1lia.<\/p>\n\n\n\n

Portanto, eliminar gradualmente os combust\u00edveis f\u00f3sseis \u00e9 uma quest\u00e3o politicamente t\u00f3xica que nenhum grande partido quer enfrentar de frente, especialmente durante uma elei\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Isso frustra Bowstead. Para ele e tantos jovens, h\u00e1 uma ansiedade real sobre o impacto da mudan\u00e7a clim\u00e1tica na forma como as pessoas v\u00e3o viver na Austr\u00e1lia no futuro pr\u00f3ximo.<\/p>\n\n\n\n

“[Isso] n\u00e3o vai acontecer – isso j\u00e1 est\u00e1 acontecendo”, diz ele.<\/p>\n\n\n\n

“Parece que vamos ter que assumir a responsabilidade e suportar o peso disso por muito mais tempo do que a maioria das pessoas que est\u00e3o no poder agora.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"