{"id":177820,"date":"2022-06-02T21:32:09","date_gmt":"2022-06-03T00:32:09","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=177820"},"modified":"2022-06-02T21:32:14","modified_gmt":"2022-06-03T00:32:14","slug":"brasil-chega-sem-credibilidade-a-cupula-de-estocolmo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/06\/02\/177820-brasil-chega-sem-credibilidade-a-cupula-de-estocolmo.html","title":{"rendered":"Brasil chega sem credibilidade \u00e0 c\u00fapula de Estocolmo"},"content":{"rendered":"\n
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Cinco d\u00e9cadas ap\u00f3s sediar a primeira reuni\u00e3o da hist\u00f3ria sobre meio ambiente e inserir o tema no mundo diplom\u00e1tico, Estocolmo volta a ser palco de discuss\u00f5es a partir desta quinta-feira (02\/06), sob um clima mais sombrio.<\/p>\n\n\n\n

Em 1972, a ent\u00e3o Confer\u00eancia das Na\u00e7\u00f5es Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, o primeiro grande evento da ONU, trazia \u00e0 tona as primeiras evid\u00eancias de que o estilo de vida, principalmente dos pa\u00edses ricos, causava estragos de dimens\u00f5es planet\u00e1rias. A polui\u00e7\u00e3o, vista como um lado negativo da industrializa\u00e7\u00e3o acelerada, era considerada o maior problema na \u00e9poca. <\/p>\n\n\n\n

A reedi\u00e7\u00e3o da confer\u00eancia na capital da Su\u00e9cia em 2022, batizada de Estocolmo+50, se situa num contexto mais desconfort\u00e1vel. Passados 50 anos, o diagn\u00f3stico atualizado da sa\u00fade do planeta vai muito al\u00e9m da polui\u00e7\u00e3o: mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e perda da biodiversidade e de espa\u00e7os naturais entram na lista como amea\u00e7as graves ao bem-estar da humanidade.<\/p>\n\n\n\n

Embora esteja sob a sombra da guerra na vizinha Ucr\u00e2nia e todos os seus impactos, como a inseguran\u00e7a alimentar, num mundo que ainda tenta superar a pandemia de covid-19, a reuni\u00e3o tenta recuperar o esp\u00edrito pioneiro de 1972 e busca um lugar na hist\u00f3ria do movimento ambiental.<\/p>\n\n\n\n

Pelo menos dez chefes de Estado devem comparecer; Jair Bolsonaro n\u00e3o estar\u00e1 entre eles. O Brasil dever\u00e1 ser representado pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, e a secret\u00e1ria de Amaz\u00f4nia e Servi\u00e7os Ambientais, Marta Lisli Giannichi. <\/p>\n\n\n\n

A expectativa de que a delega\u00e7\u00e3o brasileira cause qualquer boa impress\u00e3o \u00e9 baixa. “O Brasil do governo Bolsonaro \u00e9 completamente obtuso em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 import\u00e2ncia ambiental, o que gera isolamento e consome o capital diplom\u00e1tico importante que o pa\u00eds tinha no plano internacional”, analisa Celso Lafer, ex-ministro das Rela\u00e7\u00f5es Exteriores, em entrevista \u00e0 DW.<\/p>\n\n\n\n

Pol\u00edtica do isolamento<\/h2>\n\n\n\n

O isolamento internacional parece ter sido op\u00e7\u00e3o do governo Bolsonaro quando o debate se volta para o meio ambiente. Em outras reuni\u00f5es da ONU, como a Assembleia Geral de 2019, ele criticou o empenho de outros pa\u00edses em iniciativas que visam a preserva\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia e a extens\u00e3o de terras destinadas aos povos ind\u00edgenas.<\/p>\n\n\n\n

Naquele primeiro ano de seu mandato, Bolsonaro via sua imagem derreter junto \u00e0 opini\u00e3o p\u00fablica \u00e0 medida que a Amaz\u00f4nia sofria uma das mais severas temporadas de queimadas. A grande repercuss\u00e3o do desastre ambiental foi descrita como “ataques sensacionalistas” pelo presidente, que afirmou na plen\u00e1ria ter “um compromisso solene com a preserva\u00e7\u00e3o do meio ambiente”.<\/p>\n\n\n\n

Mas n\u00e3o \u00e9 o que mostram os dados observados por sat\u00e9lite e divulgados anualmente h\u00e1 tr\u00eas d\u00e9cadas pelo sistema de monitoramento operado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Nos tr\u00eas primeiros anos da gest\u00e3o Bolsonaro, a alta do desmatamento da maior floresta tropical foi de 52,9% em compara\u00e7\u00e3o com os anos anteriores.<\/p>\n\n\n\n

“O Brasil perdeu credibilidade, est\u00e1 numa posi\u00e7\u00e3o defensiva. N\u00e3o \u00e9 uma quest\u00e3o ideol\u00f3gica, \u00e9 uma quest\u00e3o de n\u00famero. N\u00e3o tem como negar o aumento do desmatamento, estimulado tacitamente pelo governo, e o desrespeito aos direitos ind\u00edgenas”, comenta F\u00e1bio Feldmann, ambientalista com longo hist\u00f3rico de atua\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Nenhum porta-voz do governo federal respondeu aos pedidos de entrevista da DW Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Do protagonismo \u00e0 p\u00e1ria<\/h2>\n\n\n\n

Meses antes da confer\u00eancia em Estocolmo, publica\u00e7\u00f5es que apontavam o abismo para o qual caminhava a humanidade influenciavam a opini\u00e3o p\u00fablica e os rumos das conversas durante o evento. <\/p>\n\n\n\n

Entre os exemplos est\u00e3o o livro This endangered planet<\/em>, de 1971, escrito por Richard Falk, e o relat\u00f3rio Limits to growth<\/em>, de 1972, coordenado pelo Clube de Roma, que projetava que o crescimento econ\u00f4mico e populacional cont\u00ednuo esgotaria os recursos da Terra e levaria ao colapso global at\u00e9 2070.<\/p>\n\n\n\n

Era o come\u00e7o da compreens\u00e3o da crise ambiental \u2013 que evoluiu bastante at\u00e9 os dias atuais, analisa Feldmann, amparada pela produ\u00e7\u00e3o de conhecimento cient\u00edfico na \u00e1rea. “Em 1972 havia uma certa dificuldade dos pa\u00edses de entender a quest\u00e3o ambiental, era um tema novo, por isso houve naquela \u00e9poca essa linha de que tudo se tratava de uma conspira\u00e7\u00e3o”, argumenta.<\/p>\n\n\n\n

Essa teoria, adiciona, n\u00e3o se sustenta em 2022, como tenta manter Bolsonaro. “\u00c9 imposs\u00edvel negar a realidade hoje. O governo n\u00e3o controla mais toda a informa\u00e7\u00e3o, a sociedade civil tamb\u00e9m monitora o desmatamento e os indicadores ambientais, e os cientistas comunicam bem \u00e0 sociedade os dados que produz”, pontua.<\/p>\n\n\n\n

O cen\u00e1rio atual parece aquele visto h\u00e1 50 anos, quando o Brasil vivia uma ditadura militar, era alvo de cr\u00edticas por viola\u00e7\u00f5es dos direitos humanos e tinha p\u00e9ssimos indicadores ambientais e sociais. Ao mesmo tempo, chamava aten\u00e7\u00e3o pelas riquezas naturais, como a biodiversidade e reserva de \u00e1gua pot\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n

“A partir de Estocolmo, consolidou-se a percep\u00e7\u00e3o internacional de que o Brasil n\u00e3o parecia capaz de preservar esse extraordin\u00e1rio patrim\u00f4nio. Isto se fortaleceu ainda mais nos anos subsequentes, agravando-se na segunda metade dos anos 80 em raz\u00e3o da repercuss\u00e3o da intensifica\u00e7\u00e3o das queimadas na Amaz\u00f4nia”, escreve o diplomata Andr\u00e9 Aranha Corr\u00eaa do Lago, no livro Confer\u00eancias de desenvolvimento sustent\u00e1vel<\/em>.<\/p>\n\n\n\n

Naquela ocasi\u00e3o, o posicionamento brasileiro foi visto como bastante atrasado, e chegou-se a falar que o pa\u00eds tentava boicotar a confer\u00eancia. O Brasil tentava convencer outros pa\u00edses em desenvolvimento de que a reuni\u00e3o em Estocolmo era uma estrat\u00e9gia para impedir a industrializa\u00e7\u00e3o das na\u00e7\u00f5es mais atrasadas \u2013 e mais pobres.<\/p>\n\n\n\n

“O pa\u00eds n\u00e3o compreendeu a confer\u00eancia, interpretou de maneira incorreta. N\u00e3o conseguia entender que a crise ambiental havia chegado para ficar”, opina Feldmann.<\/p>\n\n\n\n

O legado de Estocolmo<\/h2>\n\n\n\n

Mas tudo mudou depois da Rio 92 (Confer\u00eancia das Na\u00e7\u00f5es Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), cujo processo de candidatura ocorreu quando o Brasil retornava ao regime democr\u00e1tico.<\/p>\n\n\n\n

O empenho do pa\u00eds em sediar o evento se devia principalmente \u00e0 deteriora\u00e7\u00e3o de sua imagem no exterior, narra Corr\u00eaa do Lago em seu livro. Esse fato “vinha sendo acompanhado com preocupa\u00e7\u00e3o pelo Itamaraty e, principalmente, por suas reparti\u00e7\u00f5es na Europa e nos EUA, onde o Brasil se tornara o grande alvo de grupos ambientalistas e da imprensa”, diz um trecho.<\/p>\n\n\n\n

Ministro \u00e0 \u00e9poca, Celso Lafer afirma que o sucesso da Rio 92 consagrou o tema ambiental de grande peso na agenda internacional. “Ela foi a menos governamental das grandes confer\u00eancias diplom\u00e1ticas. N\u00e3o teve nada de improvisa\u00e7\u00e3o; muitos documentos foram preparados”, detalha.<\/p>\n\n\n\n

Para Feldmann, um dado em particular ressalta a mobiliza\u00e7\u00e3o que o debate causou na capital fluminense: “Foram 102 chefes de Estado que compareceram ao Rio de Janeiro. Em Estocolmo, em 1972, foi apenas uma, a primeira-ministra da \u00cdndia, Indira Gandhi.”<\/p>\n\n\n\n

Em resposta \u00e0 desconfian\u00e7a da primeira reuni\u00e3o na Su\u00e9cia, o corpo diplom\u00e1tico brasileiro \u00e9 apontado como o mais atuante para que o desenvolvimento dos pa\u00edses mais pobres n\u00e3o fosse impedido diante das quest\u00f5es ambientais. Nascia o conceito de desenvolvimento sustent\u00e1vel, que se firmou nas confer\u00eancias seguintes da ONU. <\/p>\n\n\n\n

“Diante da gravidade do problema, o copo parece muito vazio. Mas do ponto de vista do que se avan\u00e7ou desde ent\u00e3o, est\u00e1 meio cheio”, classifica Lafer, mencionando entre os legados a cria\u00e7\u00e3o de \u00f3rg\u00e3os como o Programa das Na\u00e7\u00f5es Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e o Painel Intergovernamental sobre Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas (IPCC).<\/p>\n\n\n\n

Apesar de as a\u00e7\u00f5es para frear a degrada\u00e7\u00e3o ambiental em todo o planeta ainda estejam longe da efetividade necess\u00e1ria, Feldmann v\u00ea a reedi\u00e7\u00e3o de Estocolmo como uma celebra\u00e7\u00e3o. “Ainda precisamos de muito avan\u00e7o, mas toda essa mobiliza\u00e7\u00e3o em torno da pauta ambiental s\u00f3 refor\u00e7a o legado da confer\u00eancia hist\u00f3rica de 1972”, opina.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"