{"id":178008,"date":"2022-06-14T09:24:45","date_gmt":"2022-06-14T12:24:45","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=178008"},"modified":"2022-06-14T09:24:47","modified_gmt":"2022-06-14T12:24:47","slug":"a-misteriosa-cratera-gigante-no-artico-que-intriga-cientistas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/06\/14\/178008-a-misteriosa-cratera-gigante-no-artico-que-intriga-cientistas.html","title":{"rendered":"A misteriosa cratera gigante no \u00c1rtico que intriga cientistas"},"content":{"rendered":"\n
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Conhecida como ‘Olho de Cristal’ pelo povo inuit, a Cratera Pingualuit j\u00e1 foi destino de garimpeiros em busca de diamantes \u2014 mas seu verdadeiro tesouro s\u00e3o as hist\u00f3rias que suas \u00e1guas profundas podem contar. \u2014 Foto: STOCKTREK IMAGES\/GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O avi\u00e3o inclinou bastante para a direita. Quando fizemos um primeiro sobrevoo na pista \u2014 ou melhor, no pequeno trecho de terra acidentada na tundra \u00e1rtica que serviria de pista \u2014 um alarme soou, as luzes vermelhas acima das sa\u00eddas de emerg\u00eancia come\u00e7aram a piscar e o som dos motores da aeronave rugindo de volta \u00e0 a\u00e7\u00e3o tomou conta da cabine principal. Meu est\u00f4mago embrulhou.<\/p>\n\n\n\n

Foi uma apresenta\u00e7\u00e3o emocionante ao extremo norte de Quebec, no Canad\u00e1, uma regi\u00e3o conhecida como Nunavik.<\/p>\n\n\n\n

Abrangendo o ter\u00e7o superior da prov\u00edncia canadense (maior que o estado americano da Calif\u00f3rnia e duas vezes o tamanho da Gr\u00e3-Bretanha), do qual faz parte a pen\u00ednsula de Ungava, esta regi\u00e3o \u00e9 desconhecida pela maioria das pessoas. Mas nem sempre foi assim.<\/p>\n\n\n\n

Em 1950, esta \u00e1rea foi estampada em jornais de todo o mundo e considerada a oitava maravilha do mundo.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o por causa da sua natureza selvagem, tampouco devido a qualquer estrutura feita pelo homem, mas gra\u00e7as \u00e0 distinta caracter\u00edstica do terreno que eu estava agora sobrevoando rumo a outra tentativa de pouso na pista: a Cratera Pingualuit.<\/p>\n\n\n\n

“O nome \u00e9 inuktitut para as manchas ou espinhas na pele causadas pelo clima muito frio”, explica Isabelle Dubois, coordenadora de projeto da Nunavik Tourism, que anteriormente s\u00f3 tinha visitado a cratera no inverno, quando a paisagem estava coberta de neve.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Olhei pela janela do avi\u00e3o para me distrair durante a nossa segunda tentativa de pouso e pensei em como era um apelido adequado.<\/p>\n\n\n\n

A tundra aqui \u00e9 marcada por fendas, fissuras e depress\u00f5es cheias de pequenos bols\u00f5es de \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, em meio \u00e0s in\u00fameras reentr\u00e2ncias, a cratera de mesmo nome se destaca significativamente.<\/p>\n\n\n\n

Com um di\u00e2metro de cerca de 3,5 km e uma circunfer\u00eancia bastante superior a 10 km, n\u00e3o era apenas o seu tamanho que a distinguia, mas tamb\u00e9m sua simetria.<\/p>\n\n\n\n

Quase perfeitamente circular e cheia de \u00e1gua, a cratera parecia um espelho compacto no ch\u00e3o, no qual nossa min\u00fascula aeronave Twin Otter agora estava refletida, parecendo nada mais que uma min\u00fascula part\u00edcula de poeira.<\/p>\n\n\n\n

Ap\u00f3s alguns solavancos, mais alarmes de alerta e uma parada repentina e dram\u00e1tica, finalmente pousamos, a apenas alguns quil\u00f4metros da borda desta cratera.<\/p>\n\n\n\n

Ficamos no acampamento Manarsulik, um conglomerado de cinco cabanas com energia solar, que \u00e9 o acampamento base oficial de qualquer um que se aventure no Parque Nacional Pingualuit, um dos parques nacionais mais remotos do pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto descarreg\u00e1vamos o avi\u00e3o (n\u00e3o h\u00e1 carregadores ou funcion\u00e1rios aqui) e nos instal\u00e1vamos nas cabanas quentes, conversei com Pierre Philie, um ge\u00f3grafo cultural franc\u00eas com forte interesse em antropologia, morador de Kangiqsujuaq (o assentamento mais ao norte de Nunavik, e porta de entrada para esta maravilha geogr\u00e1fica).<\/p>\n\n\n\n

Ele foi enviado a contragosto para esta parte de Quebec h\u00e1 40 anos, mas n\u00e3o s\u00f3 se apaixonou por ela como por uma mulher local, e nunca mais saiu.<\/p>\n\n\n\n

Philie me mostrou uma c\u00f3pia de uma fotografia a\u00e9rea em preto e branco de Pingualuit. Foi tirada em 20 de junho de 1943 por um dos oficiais da For\u00e7a A\u00e9rea do Ex\u00e9rcito dos EUA que a avistou.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto eu me perguntava o que o oficial devia ter feito com isso naquela \u00e9poca, Philie come\u00e7ou a me explicar um pouco mais sobre a cratera.<\/p>\n\n\n\n

“Ela foi descoberta pela primeira vez por algu\u00e9m do mundo ocidental naquele ano, durante a Segunda Guerra Mundial, quando pilotos de ca\u00e7a a avistaram e a usaram como aux\u00edlio \u00e0 navega\u00e7\u00e3o. Mas eles s\u00f3 compartilharam com o resto do mundo quando a guerra acabou”, afirmou.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Quando fizeram isso, em 1950, uma das primeiras pessoas a ficarem fascinadas por ela foi um garimpeiro de Ont\u00e1rio chamado Fred W Chubb. Ele estava convencido de que a cratera foi causada por um vulc\u00e3o, o que provavelmente significaria que havia diamantes dentro dela.<\/p>\n\n\n\n

Ele pediu o conselho do ent\u00e3o diretor do Museu de Ont\u00e1rio, Dr Meen, que, igualmente encantado pela ideia, viajou para l\u00e1 com Chubb para investigar (por isso, por um curto per\u00edodo de tempo Pingualuit foi conhecida como Cratera Chubb) \u2014 mas a teoria do vulc\u00e3o acabou sendo descartada.<\/p>\n\n\n\n

“Agora sabemos, sem sombra de d\u00favida, que \u00e9 uma cratera de meteoro”, afirmou Philie, quando o Sol come\u00e7ou a se p\u00f4r sobre o Lago Manarsulik, localizado a cerca de 2,5 km de Pingualuit, deixando a borda da cratera t\u00e3o fraca quanto uma marca d’\u00e1gua no deslumbrante horizonte rosa.<\/p>\n\n\n\n

“Amanh\u00e3 vamos v\u00ea-la.”<\/p>\n\n\n\n

O dia seguinte come\u00e7ou ao nascer do Sol com um passeio entre grandes fragmentos rochosos.<\/p>\n\n\n\n

Alguns, explicou Philie, eram grandes peda\u00e7os de granito e substrato rochoso fraturado (rel\u00edquias da glacia\u00e7\u00e3o durante a \u00faltima Era do Gelo); outros eram exemplos de impactitos, formados como resultado do derretimento durante o impacto.<\/p>\n\n\n\n

Estes \u00faltimos eram pretos e cobertos com pequenos buracos, evid\u00eancia de quando os minerais dentro se liquefaziam e borbulhavam com o calor e a press\u00e3o da colis\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

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Inuits a chamavam de Olho de Cristal de Nunavik \u2014 Foto: Getty Images via BBC<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“O impacto aconteceu h\u00e1 1,4 milh\u00e3o de anos”, confirmou Philie, enquanto sub\u00edamos sua borda.<\/p>\n\n\n\n

“Olhando para a largura e profundidade da cratera [cerca de 400m], seu impacto \u00e9 estimado em 8,5 mil vezes mais forte do que a bomba at\u00f4mica lan\u00e7ada em Hiroshima.”<\/p>\n\n\n\n

Esse fato era not\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n

‘Olho de cristal’<\/h2>\n\n\n\n

Mas, finalmente, chegar \u00e0 beira de Pingualuit e olhar para dentro daquele buraco escancarado, em que o lago brilhava com o gelo que incrustava dois ter\u00e7os dele \u2014 apesar de ser julho \u2014 foi ainda mais surpreendente.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 claro que os inuits sabiam (da cratera) antes dos ocidentais chegarem para procurar diamantes”, observa Markusie Qisiiq, diretor e guia do Parque Pingualuit.<\/p>\n\n\n\n

“Eles a chamavam de Olho de Cristal de Nunavik.”<\/p>\n\n\n\n

De onde eu estava, sob um c\u00e9u incrivelmente azul pontilhado por tantas nuvens quanto “manchas” na tundra, este nome parecia ser o mais apropriado de todos.<\/p>\n\n\n\n

\u00c0 medida que caminh\u00e1vamos pelo terreno acidentado, circundando o lago, Philie ficava cada vez mais entusiasmado.<\/p>\n\n\n\n

Ele falou sobre a clareza da \u00e1gua no seu interior \u2014alimentada apenas pela chuva e considerada a segunda \u00e1gua mais pura do mundo (somente o Lago Mashu, no Jap\u00e3o, \u00e9 mais transparente); sobre o mist\u00e9rio dos peixes que vivem dentro dele \u2014 que os cientistas ainda n\u00e3o conseguiram chegar a um consenso sobre como chegaram l\u00e1, pois n\u00e3o h\u00e1 fluxos de \u00e1gua entrando ou saindo, e que se voltaram para o canibalismo para garantir sua pr\u00f3pria sobreviv\u00eancia; e sobre evid\u00eancias que mostram que, assim como os inuits, outro povo tamb\u00e9m andou por aqui pelo menos 1.000 anos antes deles.<\/p>\n\n\n\n

“A paisagem \u00e9 um livro vivo”, concluiu. “H\u00e1 muita coisa que podemos aprender se dedicarmos um tempo para l\u00ea-lo.”<\/p>\n\n\n\n

Nos \u00faltimos anos, as pessoas t\u00eam vindo para c\u00e1 fazer exatamente isso.<\/p>\n\n\n\n

Em 2007, uma equipe de pesquisadores da Laval University, em Quebec, liderada pelo professor Reinhard Pienitz, fez uma visita durante o inverno para coletar amostras debaixo d’\u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

Pienitz descreveu a cratera, na ocasi\u00e3o, como uma “c\u00e1psula do tempo cient\u00edfica” e que, embora continuemos aprendendo sobre ela, pode revelar pistas sobre epis\u00f3dios passados \u200b\u200bde mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e como os ecossistemas se adaptaram sob press\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Caminhei at\u00e9 a beira da \u00e1gua, onde Philie pegou uma pedra e a jogou na superf\u00edcie congelada.<\/p>\n\n\n\n

O ar silencioso foi imediatamente preenchido com um som melodioso quando estilha\u00e7os de gelo ricochetearam uns contra os outros e ca\u00edram na \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

Depois de enchermos nossas garrafas para provar esta \u00e1gua pura, voltamos para o acampamento. S\u00f3 paramos uma vez, para deixar um imponente rebanho de renas passar \u2014 eram tantas que nem dava para contar.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto assistia a este espet\u00e1culo de vida selvagem migrar ao lado de uma cratera t\u00e3o grande quanto uma encontrada na Lua, meu est\u00f4mago embrulhou mais uma vez.<\/p>\n\n\n\n

Mas, desta vez, n\u00e3o foi por causa de um pouso turbulento.<\/p>\n\n\n\n

Mas, sim, pela percep\u00e7\u00e3o de que, embora n\u00e3o haja diamantes aqui, h\u00e1 uma riqueza de hist\u00f3rias e revela\u00e7\u00f5es cient\u00edficas \u00e0 espera de serem descobertas, a meros metros abaixo da superf\u00edcie.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: G1<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"