{"id":178118,"date":"2022-06-23T17:38:02","date_gmt":"2022-06-23T20:38:02","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=178118"},"modified":"2022-06-23T17:38:10","modified_gmt":"2022-06-23T20:38:10","slug":"como-uma-pequena-favela-no-rio-de-janeiro-construiu-sua-propria-rede-de-esgoto","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/06\/23\/178118-como-uma-pequena-favela-no-rio-de-janeiro-construiu-sua-propria-rede-de-esgoto.html","title":{"rendered":"Como uma pequena favela no Rio de Janeiro construiu sua pr\u00f3pria rede de esgoto"},"content":{"rendered":"\n
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Biossistema para tratamento de esgoto foi constru\u00eddo por moradores com a ajuda de parceiros – DOUGLAS DOBBY<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A comunidade do Vale Encantado foi fundada no s\u00e9culo 19 por trabalhadores nas planta\u00e7\u00f5es de caf\u00e9, antes da regi\u00e3o ser reflorestada se tornando a Floresta da Tijuca, uma das maiores do mundo em per\u00edmetro urbano.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Os bisav\u00f4s de Ot\u00e1vio Barros, hoje presidente da Associa\u00e7\u00e3o de Moradores e da cooperativa do Vale, mudaram-se para a regi\u00e3o justamente para trabalhar nas planta\u00e7\u00f5es \u2014 e as gera\u00e7\u00f5es seguintes dedicaram-se a outras atividades, como agricultura e floricultura.<\/p>\n\n\n\n

“Eu sou da quarta gera\u00e7\u00e3o. Tamb\u00e9m teve uma fase de extra\u00e7\u00e3o do granito, que causou desmatamento. Mas em 1989 as empresas foram embora. Muitas pessoas que vieram para trabalhar n\u00e3o se adaptaram e foram junto. Ficaram mais as fam\u00edlias originarias.”<\/p>\n\n\n\n

Ap\u00f3s 150 anos o Vale Encantado se encontrou isolado na floresta, sem poder mais ganhar a vida atrav\u00e9s da extra\u00e7\u00e3o de recursos naturais do entorno.<\/p>\n\n\n\n

Hoje, de acordo com o \u00faltimo censo realizado pela associa\u00e7\u00e3o de moradores, cerca de 100 pessoas compondo 40 fam\u00edlias moram nas 27 casas da comunidade.<\/p>\n\n\n\n

Em 2005, ap\u00f3s a visita do franc\u00eas J\u00e9r\u00f4me Auriac, presidente de uma ONG de desenvolvimento sustent\u00e1vel que atua no Brasil, Barros come\u00e7ou a considerar a ideia de que o Vale Encantado poderia ser um bom destino para o turismo sustent\u00e1vel, atividade que ajudaria a comunidade a gerar renda.<\/p>\n\n\n\n

“Em 2007, ap\u00f3s eu e um colega j\u00e1 estarmos formados como guias, um dos turistas que nos visitava perguntou se poderia tomar banho na cascata. Eu expliquei que n\u00e3o, porque o esgoto da comunidade era despejado ali. Seguimos com o passeio, mas aquilo me incomodou. Comecei a procurar alguma forma de melhorar o sistema de canaliza\u00e7\u00e3o, apesar de n\u00e3o ter conhecimentos t\u00e9cnicos”, diz.<\/p>\n\n\n\n

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Todas as 27 edifica\u00e7\u00f5es do Vale Encantado, que abrigam cerca de 100 pessoas contam hoje com tratamento completo e ecol\u00f3gico de esgoto, feito dentro da pr\u00f3pria comunidade – DOUGLAS DOBBY<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O in\u00edcio da busca pelo sistema de esgoto<\/h2>\n\n\n\n

Para os moradores, um esgoto devidamente canalizado representava a presen\u00e7a de menos insetos, roedores, e um risco menor de transmiss\u00e3o de doen\u00e7as, al\u00e9m da n\u00e3o contamina\u00e7\u00e3o das nascentes da regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Mas tamb\u00e9m ajudava em uma quest\u00e3o que os amea\u00e7ava de forma diferente. Em 2006, o Minist\u00e9rio P\u00fablico do Estado do Rio entrou com uma a\u00e7\u00e3o civil p\u00fablica e um pedido de liminar, contra a Prefeitura do Rio, em raz\u00e3o da ocupa\u00e7\u00e3o das \u00e1reas do Alto da Boa Vista, onde o Vale Encantado est\u00e1 localizado.<\/p>\n\n\n\n

A a\u00e7\u00e3o n\u00e3o tinha como foco \u00fanico a comunidade, mas a inclu\u00eda como amea\u00e7a \u00e0 preserva\u00e7\u00e3o ao meio ambiente, o que fez com que o presidente da associa\u00e7\u00e3o de moradores se sentisse ainda mais motivado a buscar solu\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Em 2011, um pesquisador da PUC (Pontif\u00edcia Universidade Cat\u00f3lica) do Rio de Janeiro, onde Ot\u00e1vio Barros trabalhava como secret\u00e1rio do curso de gradua\u00e7\u00e3o de matem\u00e1tica, indicou que ele conversasse com Leonardo Adler, engenheiro ambiental sanitarista que acumulava experi\u00eancias que poderiam ajudar a comunidade.<\/p>\n\n\n\n

“Na \u00e9poca, s\u00f3 conversamos por e-mail. Eu passei algumas instru\u00e7\u00f5es, mas n\u00e3o chegamos a nos encontrar”, diz Adler.<\/p>\n\n\n\n

Mas dois anos depois, o Vale Encantado recebia de uma ONG internacional uma primeira doa\u00e7\u00e3o que contribuiria para o caminho de sustentabilidade que os moradores buscavam, um biodigestor para restos de alimentos que seria usado na esp\u00e9cie de restaurante da associa\u00e7\u00e3o, que vende pratos t\u00edpicos, como o “jacalhau” e a “torta de umbigo de banana” para turistas.<\/p>\n\n\n\n

Em seguida, a cozinha do restaurante usava o g\u00e1s gerado pelo biodigestor para cozinhar.<\/p>\n\n\n\n

Para trabalhar na implementa\u00e7\u00e3o da tecnologia, o engenheiro Leonardo Andler e outros volunt\u00e1rios passaram a integrar a rotina da comunidade.<\/p>\n\n\n\n

Apesar dos avan\u00e7os, a maior contamina\u00e7\u00e3o no ambiente continuava. Com dificuldades para atender muitas regi\u00f5es do Rio, seria dif\u00edcil imaginar a concession\u00e1ria chegar um dia com saneamento b\u00e1sico neste local pequeno e isolado. E isso afetava a qualidade de vida e a gera\u00e7\u00e3o de renda local.<\/p>\n\n\n\n

A constru\u00e7\u00e3o do biossistema para o tratamento de esgoto<\/h2>\n\n\n\n

Mas depois de ter mais profissionais experientes conhecendo a realidade dos moradores, em 2015, o biossistema de saneamento ecol\u00f3gico do Vale Encantado come\u00e7ou a ser desenvolvido atrav\u00e9s de uma nova parceria, desta vez com um edital da Faperj (Funda\u00e7\u00e3o Carlos Chagas Filho de Amparo \u00e0 Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), uma ag\u00eancia de fomento \u00e0 pesquisa.<\/p>\n\n\n\n

O objetivo era a constru\u00e7\u00e3o de um biodigestor de porte e tamanho apropriados, dimensionado para tratar o esgoto de todas as 27 casas do Vale Encantado, mas com o apoio inicial, apenas cinco moradias foram beneficiadas.<\/p>\n\n\n\n

O processo de arrecadar o dinheiro para completar as obras foi lento e a pandemia causada pelo coronav\u00edrus atrapalhou o planejamento, mas em 2021, com a ajuda de diferentes organiza\u00e7\u00f5es sociais, a comunidade conseguiu recursos faltantes para realizar a conclus\u00e3o do sistema conectando todas as casas \u00e0 rede completa de saneamento.<\/p>\n\n\n\n

O tempo de espera serviu tamb\u00e9m para capacitar os moradores da comunidade para que eles mesmo fizessem a obra \u2014 sendo remunerados com parte do dinheiro levantado.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com o engenheiro ambiental sanitarista Leonardo Andler, treinamentos foram feitos com a ajuda de um engenheiro civil e um encanador.<\/p>\n\n\n\n

Desde maio de 2022, o esgoto \u00e9 coletado das resid\u00eancias e \u00e9 levado a um tanque de concreto de forma arredondada, onde passa por dois processos naturais para a limpeza da \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

“O sistema faz a degrada\u00e7\u00e3o de mat\u00e9ria org\u00e2nica em ambientes sem oxig\u00eanio. Desse ambiente, as bact\u00e9rias que se desenvolvem digerem a mat\u00e9ria org\u00e2nica e elas t\u00eam como subproduto dessa digest\u00e3o o biog\u00e1s. Na pr\u00e1tica \u00e9 a mesma coisa que acontece na nossa barriga \u2014 a digest\u00e3o de uma parte l\u00edquida que sa\u00ed por um lado, outra s\u00f3lida, que \u00e9 depositada no fundo do biodigestor, e ent\u00e3o a cria\u00e7\u00e3o do g\u00e1s que, nesse caso, pode ser usado para as atividades da cozinha”, explica Andler.<\/p>\n\n\n\n

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Obras tiveram a participa\u00e7\u00e3o dos moradores da comunidade – DOUGLAS DOBBY<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O morador Ot\u00e1vio Barros conta que, antes do projeto, muitas casas usavam “fossa sumidouro”, uma esp\u00e9cie de tanque ao lado de uma fossa, para armazenar seus dejetos.<\/p>\n\n\n\n

“A qualidade da \u00e1gua que descia cortando as casas era p\u00e9ssima e formava po\u00e7as proliferando mosquito e roedores. Agora, a \u00e1gua \u00e9 muito limpa. Os moradores est\u00e3o satisfeitos e n\u00e3o tiveram custo algum. Acho que meus antepassados estariam orgulhosos”, diz.<\/p>\n\n\n\n

Seu sonho, conta ele, \u00e9 que o Vale Encantado possa se tornar um ponto tur\u00edstico para gerar renda para as fam\u00edlias que s\u00e3o mais vulner\u00e1veis. Seu pr\u00f3ximo passo \u00e9 criar uma pousada para visitantes.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, Ot\u00e1vio est\u00e1 passando por um curso de instala\u00e7\u00f5es hidrossanit\u00e1rias, do qual Leonardo Andler \u00e9 um dos professores, e cogita aproveitar os conhecimentos adquiridos nos \u00faltimos anos para participar de outros trabalhos como o que foi feito em sua comunidade.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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