{"id":178378,"date":"2022-07-06T17:46:12","date_gmt":"2022-07-06T20:46:12","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=178378"},"modified":"2022-07-06T17:46:14","modified_gmt":"2022-07-06T20:46:14","slug":"vivemos-terror-na-amazonia-disse-bruno-pereira-em-2020","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/07\/06\/178378-vivemos-terror-na-amazonia-disse-bruno-pereira-em-2020.html","title":{"rendered":"“Vivemos terror na Amaz\u00f4nia”, disse Bruno Pereira em 2020"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a><\/figure>\n\n\n\n

\u00c0 DW, indigenista assassinado no Vale do Javari descreveu viol\u00eancia crescente da qual seria v\u00edtima dois anos depois. Ele via cen\u00e1rio como reflexo de “discurso anti-ind\u00edgena” e “pol\u00edtica genocida” de Bolsonaro.<\/p>\n\n\n\n

Era um s\u00e1bado de manh\u00e3 quando\u00a0Bruno Pereira, ex-coordenador-geral do departamento que cuidava de ind\u00edgenas isolados e de recente contato com a Funda\u00e7\u00e3o Nacional do \u00cdndio [Funai], teve a conversa redigida abaixo com a DW Brasil, por\u00a0telefone. Ele acabara de se\u00a0licenciar do \u00f3rg\u00e3o, ap\u00f3s ser destitu\u00eddo da coordena\u00e7\u00e3o como prov\u00e1vel consequ\u00eancia de uma fiscaliza\u00e7\u00e3o que destruiu balsas de garimpo em terras ind\u00edgenas.<\/p>\n\n\n\n

Naquele 1\u00ba de fevereiro de 2020, Pereira se mostrava indignado com os acontecimentos do dia anterior. O posto do qual ele havia sido exonerado seria ocupado por Ricardo Lopes Dias, ligado \u00e0 Miss\u00e3o Novas Tribos do Brasil (MNTB), organiza\u00e7\u00e3o mission\u00e1ria fundada nos Estados Unidos e conhecida entre organiza\u00e7\u00f5es ind\u00edgenas por for\u00e7ar o contato com grupos que escolheram viver em isolamento e tentar evangeliz\u00e1-los.<\/p>\n\n\n\n

O conte\u00fado da conversa entre Pereira a DW Brasil, que transcorreu por cerca de 16 minutos, foi\u00a0citado numa reportagem\u00a0publicada naquele s\u00e1bado mesmo, repercutindo a rea\u00e7\u00e3o de entidades depois da nomea\u00e7\u00e3o de Dias. A pedido de Pereira, que j\u00e1 recebia amea\u00e7as de morte pelo trabalho de prote\u00e7\u00e3o aos isolados que fazia na Funai, o nome dele n\u00e3o foi revelado.<\/p>\n\n\n\n

Essa pr\u00e1tica de manter sigilo sobre a fonte est\u00e1 prevista como direito fundamental no artigo 5\u00ba da Constitui\u00e7\u00e3o Federal para proteger o trabalho de jornalistas. O inciso XIV diz que “\u00e9 assegurado a todos o acesso \u00e0 informa\u00e7\u00e3o e resguardado o sigilo da fonte, quando necess\u00e1rio ao exerc\u00edcio profissional”.<\/p>\n\n\n\n

Na entrevista, Pereira falou sobre os bastidores da pol\u00edtica anti-ind\u00edgena do governo do presidente Jair Bolsonaro e do papel de Damares Alves, ministra da Mulher, da Fam\u00edlia e dos Direitos Humanos, no avan\u00e7o sobre o territ\u00f3rio dos isolados na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

“Tem um embate, uma disputa nos bastidores, com certeza com o avan\u00e7o da ministra Damares, ministra extremamente, horrorosamente evang\u00e9lica, como eles gostam de falar. E claro que os isolados… al\u00e9m da disputa espiritual, vamos dizer assim, porque \u00e9 isso que est\u00e1 em jogo, eu sei quem \u00e9 esse cara que est\u00e1 assumindo o cargo, \u00e9 uma disputa fundi\u00e1ria. N\u00e3o \u00e9 s\u00f3 terra, mas min\u00e9rio, madeira, tudo”, afirmou.<\/p>\n\n\n\n

Pereira contou sobre a intimida\u00e7\u00e3o sofrida por servidores da Funai, relatou o adoecimento de v\u00e1rios colegas e o aumento da viol\u00eancia contra quem atua na fiscaliza\u00e7\u00e3o ambiental e de direitos ind\u00edgenas ap\u00f3s as elei\u00e7\u00f5es de 2018.<\/p>\n\n\n\n

“De repente, a gente percebeu que os caras estavam atirando em base nossa, metendo tiro, coisa que n\u00e3o faziam antes. Depois os caras diziam: ‘Acabou o tempo, a Terra Ind\u00edgena \u00e9 nossa de novo.’\u00a0A gente escutou isso na elei\u00e7\u00e3o, ainda em junho de 2018, j\u00e1 com o crescimento desse discurso anti-ind\u00edgena do Bolsonaro. O reflexo \u00e9 autom\u00e1tico”, detalhou.\u00a0“Virou tipo: quer derrubar floresta, botar gado, o momento \u00e9 agora. E a\u00ed houve uma escalada muito grande de viol\u00eancia.”<\/p>\n\n\n\n

“A gente faz um concurso p\u00fablico, est\u00e1 com seu filho indo para a escola, eu tenho dois pequenininhos, mas amea\u00e7ado de morte e amea\u00e7ado pelo presidente da Funai que quer me processar. Sabe o terror? Isso vai te destituindo, vai aviltando nossas resist\u00eancias. Est\u00e3o matando amigos nossos. Isso tudo \u00e9 reflexo desses caras, dessa pol\u00edtica genocida”, declarou.<\/p>\n\n\n\n

Dois anos e quatro meses ap\u00f3s essa entrevista gravada por telefone,\u00a0Bruno Pereira foi assassinado no Vale do Javari. Em 5 de junho, enquanto navegava pelo rio Itaqua\u00ed, onde j\u00e1 havia trabalhado pela Funai, Pereira e o jornalista brit\u00e2nico Dom Phillips, que escrevia um livro sobre a Amaz\u00f4nia, foram mortos.<\/p>\n\n\n\n

DW Brasil: Qual \u00e9 a sua situa\u00e7\u00e3o no momento dentro da Funai?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Bruno Pereira: <\/strong>Eu estou licenciado desde a \u00faltima quarta-feira (29\/01\/2020), mas continuo servidor. Eu entrei no concurso de 2010.<\/p>\n\n\n\n

Como era o seu trabalho de prote\u00e7\u00e3o junto aos ind\u00edgenas isolados?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Eu trabalhava no Vale do Javari [Amazonas] na unidade de ind\u00edgenas isolados. Existem 11 unidades que a gente chama de frente de prote\u00e7\u00e3o, que s\u00e3o coordena\u00e7\u00f5es de ind\u00edgenas isolados da Amaz\u00f4nia. Eu trabalhava numa dessas no Vale do Javari, na fronteira entre Brasil e Peru.<\/p>\n\n\n\n

Eu fazia expedi\u00e7\u00f5es de \u00edndios isolados, ficava muito tempo na mata, andando, procurando vest\u00edgios, elementos que comprovassem a presen\u00e7a de \u00edndios isolados, ou atacando, legalmente, claro, o avan\u00e7o sobre o territ\u00f3rio dos isolados \u2013 combatendo o garimpo, madeireiros, e assim vai\u2026<\/p>\n\n\n\n

Eu passei oito anos no Vale do Javari e vim a Bras\u00edlia assumir a coordena\u00e7\u00e3o geral de \u00edndios isolados do pa\u00eds, em julho, agosto de 2018. Fiquei at\u00e9 outubro do ano passado [2019], quando fui exonerado por esta gest\u00e3o da Funai.<\/p>\n\n\n\n

Aparelharam tudo. Depois de 30 anos da cria\u00e7\u00e3o do departamento, da pol\u00edtica de isolados, desde 1987 existe esse departamento. Foram mudando algumas coisas, mas \u00e9 ele [departamento], sempre foi respeitado o conceito t\u00e9cnico. \u00c9 um neg\u00f3cio muito sens\u00edvel, sabe? A gente lida com situa\u00e7\u00f5es de contato com \u00edndios isolados, longos per\u00edodos na floresta, prote\u00e7\u00e3o, saber dialogar com povos de recente contato. \u00c9 um setor super sens\u00edvel, e \u00e9 preciso ter experi\u00eancia com floresta, mato, rela\u00e7\u00f5es inter\u00e9tnicas.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 a primeira vez que esses caras [atual gest\u00e3o da Funai] arrebentam tudo de um vez. [Eles] me tiraram. Deu uma repercuss\u00e3o na \u00e9poca, em outubro do ano passado. Ficou uma substituta minha, que era uma funcion\u00e1ria nossa, de confian\u00e7a nossa, antrop\u00f3loga, que trabalha mais na \u00e1rea administrativa, mas entende de antropologia de \u00edndios isolados. Menos mal, tudo bem n\u00e3o mexer nos coordenadores de \u00edndios isolados na Amaz\u00f4nia, vamos passar esse temporal.<\/p>\n\n\n\n

Mas agora transpareceu, eles botaram as v\u00edsceras para fora de toda a estrat\u00e9gia deles de avan\u00e7ar sobre a pol\u00edtica de \u00edndios isolados brasileiros.<\/p>\n\n\n\n

Tem um embate, uma disputa nos bastidores com certeza do avan\u00e7o da Damares [Alves], ministra extremamente, horrorosamente evang\u00e9lica, como eles gostam de falar. E claro que os isolados… al\u00e9m da disputa espiritual, vamos dizer assim, porque \u00e9 isso que est\u00e1 em jogo, eu sei quem \u00e9 esse cara que est\u00e1 assumindo o cargo, \u00e9 uma disputa fundi\u00e1ria. N\u00e3o \u00e9 s\u00f3 terra, mas min\u00e9rio, madeira, tudo.<\/p>\n\n\n\n

S\u00e3o muito simb\u00f3licos e emblem\u00e1ticos para o mundo os \u00edndios isolados, sobretudo para a comunidade internacional. \u00c9 um absurdo voc\u00ea mexer com isolados para tirar petr\u00f3leo, ouro embaixo da terra. E o governo sabe disso. Esses caras v\u00e3o arrebentar tudo, a come\u00e7ar pela evangeliza\u00e7\u00e3o, lentamente e gradual.<\/p>\n\n\n\n

Voc\u00ea acha que eles [atual administra\u00e7\u00e3o da Funai] n\u00e3o ir\u00e3o respeitar o isolamento?<\/strong> Eles ir\u00e3o for\u00e7ar um contato?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Eles v\u00e3o criar elementos para isso. Esses caras s\u00e3o ruins de servi\u00e7o, mas eles v\u00e3o criar [interrompe a frase]. Olha, tem uma mat\u00e9ria que saiu ontem no O Globo<\/em>, \u00e9 a segunda ou terceira, eles soltaram v\u00e1rias ontem, entrevistaram o cara l\u00e1.
Tem uma pergunta muito clara do jornalista Leandro Prazeres: “Voc\u00ea vai mexer na pol\u00edtica de n\u00e3o contato?” [O mission\u00e1rio respondeu:] “Tenho que ver ainda, em time que est\u00e1 ganhando n\u00e3o se mexe.”<\/p>\n\n\n\n

Ele n\u00e3o sabe do que est\u00e1 falando?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Exatamente. Qualquer novi\u00e7o, qualquer pessoa que trabalha nesse meio nosso come\u00e7a a discutir isolado e n\u00e3o contato. O cara n\u00e3o soube nem responder. Ele n\u00e3o sabe onde est\u00e1 pisando. Ele est\u00e1 por outros interesses ali dentro. E quem est\u00e1 por tr\u00e1s dele \u00e9 gente da pesada, proselitista.<\/p>\n\n\n\n

Isso tem que ficar muito claro para a sociedade: quem \u00e9 essa miss\u00e3o [Miss\u00e3o Novas Tribos do Brasil], como ela atua na Amaz\u00f4nia, no Brasil, fazendo contato com grupos [inaud\u00edvel]. \u00c9 isso que esse cara representa. Eu acho que ele n\u00e3o vai sentar amanh\u00e3 e dizer: “Agora est\u00e1 revogado”, acho que n\u00e3o. Mas ele vai tirar um coordenador, vai come\u00e7ar a abrir espa\u00e7o para nomear “figuras”, vai deixar a coisa correr\u2026<\/p>\n\n\n\n

Numa situa\u00e7\u00e3o de conflito em que \u00edndios isolados est\u00e3o l\u00e1, [eles v\u00e3o dizer] que os [isolados] precisam de ajuda, fazer o contato\u2026 Eles v\u00e3o mudando de forma diferente. Eu acho que atua\u00e7\u00e3o deles vai ser mais forte nos \u00edndios de recente contato.<\/p>\n\n\n\n

A gente est\u00e1 para estourar outras situa\u00e7\u00f5es que est\u00e3o acontecendo na Amaz\u00f4nia, do avan\u00e7o dos mission\u00e1rios em grupos de recente contato desde o in\u00edcio [do minist\u00e9rio] da Damares. \u00c9 uma confus\u00e3o. Eu acho que [o que vai acontecer] \u00e9 as igrejas aturarem com esses povos de recente contato e eles v\u00e3o destruindo a pol\u00edtica do n\u00e3o contato.<\/p>\n\n\n\n

[Nota do editor: O Servi\u00e7o de Prote\u00e7\u00e3o para \u00cdndios Isolados e de Recente Contato foi criado originalmente em 1987 como estrutura administrativa destinada \u00e0 prote\u00e7\u00e3o f\u00edsica, patrimonial e cultural desses grupos. O servi\u00e7o evoluiu com o passar das d\u00e9cadas e desde 2007 \u00e9 chamado de Sistema de Prote\u00e7\u00e3o e Promo\u00e7\u00e3o de Direitos para \u00cdndios Isolados e de Recente Contato (SPIIRC). Segundo sua l\u00f3gica, a situa\u00e7\u00e3o de isolamento dos ind\u00edgenas \u00e9 volunt\u00e1ria, e \u00e9 preciso “respeitar a autodetermina\u00e7\u00e3o desses povos”].<\/p>\n\n\n\n

Durante os seus anos de Amaz\u00f4nia, quais s\u00e3o as principais transforma\u00e7\u00f5es que voc\u00ea viu? Voc\u00ea acha que o cerco dos garimpeiros aumentou nos \u00faltimos anos ou a situa\u00e7\u00e3o era relativamente tranquila no seu trabalho?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o, n\u00e3o tem tranquilidade nenhuma. \u00c9 sempre guerra. A gente sempre teve. A Amaz\u00f4nia \u00e9 um lugar meio esquecido por todos, sobretudo os brasileiros.<\/p>\n\n\n\n

Nunca foi f\u00e1cil. Ela [a Amaz\u00f4nia] tem v\u00e1rias realidades. Eu atuava numa regi\u00e3o em que os problemas s\u00e3o alguns, ent\u00e3o no Mato Grosso j\u00e1 \u00e9 bem diferente \u2013 o arco do desmatamento, grilagem. Cada regi\u00e3o tem algumas peculiaridades.<\/p>\n\n\n\n

O que \u00e9 meio novo, foi retomado desde o governo de Lula e Dilma, foram os empreendimentos avan\u00e7ando para a Amaz\u00f4nia: hidrel\u00e9tricas, estradas, e assim vai. O capitalismo avan\u00e7ando sobre a floresta.<\/p>\n\n\n\n

Eu estou h\u00e1 oito anos na Funai l\u00e1. Mas eu estou h\u00e1 18 anos na Amaz\u00f4nia. Sou de Recife, Pernambuco. Agora estou h\u00e1 um ano e pouco aqui em Bras\u00edlia. Fiquei 18 anos da minha vida l\u00e1, e vi isso paulatinamente avan\u00e7ando em cima de direitos, do meio ambiente, das reservas. Sendo que, nessa ang\u00fastia da elei\u00e7\u00e3o de 2018, a coisa foi uma escalada muito r\u00e1pida de viol\u00eancia. A gente monitorou isso muito r\u00e1pido.<\/p>\n\n\n\n

A gente tinha problema com madeireiro, garimpeiro\u2026 Sempre atuei, sou amea\u00e7ado de morte. Mataram um amigo meu, funcion\u00e1rio da Funai, no ano passado l\u00e1. Eu estou indo para a regi\u00e3o at\u00e9 na pr\u00f3xima semana\u2026 Eu fui amea\u00e7ado porque destru\u00ed 60 balsas de garimpo junto com o Ibama e a Pol\u00edcia Federal.<\/p>\n\n\n\n

A coisa ganhou um discurso. De repente, a gente percebeu que os caras estavam atirando em base nossa, metendo tiro, coisa que n\u00e3o faziam antes. Depois os caras diziam: “Acabou o tempo, a Terra Ind\u00edgena \u00e9 nossa de novo.” A gente escutou isso na elei\u00e7\u00e3o, ainda em junho de 2018, j\u00e1 com o crescimento desse discurso anti-ind\u00edgena do Bolsonaro.<\/p>\n\n\n\n

O reflexo \u00e9 autom\u00e1tico. Os\u00a0garimpeiros nos yanomami\u00a0filmando a gente: “Eu vou mandar isso aqui para o presidente” [, diziam]. V\u00e1rias vezes isso ocorreu.<\/p>\n\n\n\n

Prefeitos, o poder p\u00fablico constitu\u00eddo\u2026 Virou tipo: “Velho, avan\u00e7a. Quer derrubar floresta, botar gado, o momento \u00e9 agora.” E a\u00ed houve uma escalada muito grande de viol\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

Eu estava vendo agora em uma mat\u00e9ria do G1 de ontem que uma equipe do Ibama matou uma cara l\u00e1 em Roraima numa opera\u00e7\u00e3o. S\u00e3o coisas que n\u00e3o s\u00e3o muito normais. A gente tem situa\u00e7\u00f5es sinistras que ocorrem: viol\u00eancia, \u00e9 muito perigoso fazer as opera\u00e7\u00f5es\u2026 Agora, matar, s\u00e3o os sinais destes tempos.<\/p>\n\n\n\n

Sequestram equipe do Ibama no Par\u00e1, queimam a ponte, da\u00ed o ministro do Meio Ambiente [Ricardo Salles, \u00e0 \u00e9poca], vai l\u00e1 e senta com os madeireiros, sabe\u2026 Os garimpeiros fecham a estrada e v\u00eam se reunir com o presidente da Rep\u00fablica na frente do port\u00e3o\u2026. Ou seja, a viol\u00eancia retorna pra gente, que est\u00e1 ali pra proteger.<\/p>\n\n\n\n

Ano passado a gente fez as maiores opera\u00e7\u00f5es de garimpo do ano, foi em Terra Ind\u00edgena. O Grupo Especial de Fiscaliza\u00e7\u00e3o do Ibama, o GEF, operou em setembro l\u00e1 no Juta\u00ed, no Javari. Destru\u00edram 60 balsas de garimpo. A gente teve que ir quase escondido do governo. E o Bolsonaro ficou puto depois.<\/p>\n\n\n\n

Foi a primeira opera\u00e7\u00e3o do ano do GEF, entende. Na verdade, foi a segunda, eles tinham acabado de vir dos kayap\u00f3 e foram para o Javari. Ou seja, eles est\u00e3o proibidos de atuar porque Bolsonaro tinha dado uma live<\/em> que n\u00e3o podia queimar as coisas [em opera\u00e7\u00f5es de fiscaliza\u00e7\u00e3o contra garimpo ilegal].<\/p>\n\n\n\n

Ent\u00e3o esse \u00e9 o n\u00edvel. De l\u00e1 a gente saiu para os yanomami e pipocamos garimpo, general segurando a onda, e os coron\u00e9is e generais em Bras\u00edlia com medo na reuni\u00e3o: “O garimpo n\u00e3o vai ser resolvido assim” [eles diziam na reuni\u00e3o].<\/p>\n\n\n\n

Est\u00e1 horr\u00edvel o cen\u00e1rio. \u00c9 um cen\u00e1rio escatol\u00f3gico. N\u00e3o sei onde a gente vai terminar com tudo isso… Com Bolsonaro botando minera\u00e7\u00e3o em terra ind\u00edgena, sabe? \u00c9 doideira. \u00c9 guerra do fim do mundo. \u00c9 sinistro.<\/p>\n\n\n\n

Tem servidor adoecendo. N\u00e3o \u00e9 todo mundo que est\u00e1 preparado para esse enfrentamento pol\u00edtico e psicol\u00f3gico. A gente faz um concurso p\u00fablico, est\u00e1 com seu filho indo para a escola, eu tenho dois pequenininhos, mas amea\u00e7ado de morte e amea\u00e7ado pelo presidente da Funai que quer me processar. Sabe o terror?<\/p>\n\n\n\n

Isso vai te destituindo, vai aviltando nossas resist\u00eancias. Est\u00e3o matando amigos nossos. Isso tudo \u00e9 reflexo desses caras, dessa pol\u00edtica genocida. A gente j\u00e1 sentia na elei\u00e7\u00e3o. Eu avisei na transi\u00e7\u00e3o de governo aqui… […] Os militares s\u00e3o aliados antigos na Amaz\u00f4nia \u2013 alguns deles, pelo menos. A gente j\u00e1 falava: “Ou muda esse discurso ou vamos tomar tiro, eles [criminosos que agem na Amaz\u00f4nia] v\u00e3o queimar as terras, eles v\u00e3o queimar as bases da gente.” \u00c9 o que est\u00e1 acontecendo.<\/p>\n\n\n\n

Eu me lembro do ministro Santos Cruz [Carlos Alberto Santos Cruz, general da reserva do Ex\u00e9rcito, ministro-chefe da Secretaria de Governo de Bolsonaro de janeiro a junho de 2019], do Heleno [Augusto Heleno Ribeiro Pereira, general da reserva do Ex\u00e9rcito e ministro-chefe do Gabinete de Seguran\u00e7a Institucional da Presid\u00eancia] dizendo que era coisa de campanha, que eles fariam uma Funai mais forte. Papo tonto.<\/p>\n\n\n\n

Est\u00e3o amea\u00e7ando equipes nossas. J\u00e1 t\u00eam tr\u00eas boletins de ocorr\u00eancia que a gente registrou na Pol\u00edcia Federal de amea\u00e7a de morte de tr\u00eas coordenadores nossos. \u00c9 troca de tiros, morre gente\u2026<\/p>\n\n\n\n

E agora avan\u00e7aram sobre os \u00edndios isolados. \u00c9 surreal. Tem que dar esse destaque, a sociedade internacional tem que entrar, a press\u00e3o tem que existir. A gente queria os espa\u00e7os para pautar dentro das Na\u00e7\u00f5es Unidas, da Comiss\u00e3o Europeia para chamar o Brasil. Evangelizar \u00edndios isolados? Parem.<\/p>\n\n\n\n

Como eu posso identificar voc\u00ea na minha reportagem?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Cita a fonte como servidor da Funai que atua na pol\u00edtica de isolados e que n\u00e3o quer se identificar. A melhor forma \u00e9 essa. Eles sabem que sou eu, mas \u00e9 mais seguro assim. At\u00e9 os advogados est\u00e3o falando isso.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n\n\n\n

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