{"id":178491,"date":"2022-07-12T17:31:00","date_gmt":"2022-07-12T20:31:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=178491"},"modified":"2022-07-12T17:31:05","modified_gmt":"2022-07-12T20:31:05","slug":"as-alternativas-ao-trigo-contra-a-fome-no-mundo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/07\/12\/178491-as-alternativas-ao-trigo-contra-a-fome-no-mundo.html","title":{"rendered":"As alternativas ao trigo contra a fome no mundo"},"content":{"rendered":"\n
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A guerra na Ucr\u00e2nia e as condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas extremas causaram uma crise global de trigo. Gr\u00e3os selvagens e antigos, mais robustos e resistentes ao clima, poderiam proporcionar maior seguran\u00e7a alimentar.<\/p>\n\n\n\n

A\u00a0guerra na Ucr\u00e2nia\u00a0nos mostrou n\u00e3o apenas nossa depend\u00eancia do petr\u00f3leo e g\u00e1s russos, mas tamb\u00e9m das enormes quantidades de trigo que v\u00eam da regi\u00e3o e s\u00e3o exportadas para todo o mundo. A R\u00fassia e a Ucr\u00e2nia est\u00e3o em primeiro e quinto lugar, respectivamente, no ranking dos maiores exportadores de trigo do mundo.<\/p>\n\n\n\n

Juntos, produzem mais de 20% do suprimento mundial de gr\u00e3os. Muito disso acaba no Oriente M\u00e9dio e na \u00c1frica. O maior importador de trigo do mundo \u00e9 o Egito, que obt\u00e9m cerca de 80% de seus gr\u00e3os da R\u00fassia e da Ucr\u00e2nia. O pa\u00eds agora est\u00e1 subsidiando os pre\u00e7os do p\u00e3o \u00e0 medida que os custos disparam e os suprimentos diminuem.<\/p>\n\n\n\n

A\u00a0escassez de gr\u00e3os\u00a0provocada pela guerra tamb\u00e9m est\u00e1 agravando uma “emerg\u00eancia alimentar sem precedentes” este ano na regi\u00e3o do Sahel e da \u00c1frica Ocidental, de acordo com o Programa Mundial de Alimentos da ONU. Qu\u00eania, Som\u00e1lia e grande parte da Eti\u00f3pia est\u00e3o em risco de inseguran\u00e7a alimentar aguda.<\/p>\n\n\n\n

A\u00a0mudan\u00e7a clim\u00e1tica,\u00a0incluindo uma seca prolongada que agora devasta a \u00c1frica Ocidental, est\u00e1 piorando a escassez de alimentos. A produ\u00e7\u00e3o de trigo pode cair 7% para cada grau Celsius de aquecimento global, especialmente devido \u00e0 diminui\u00e7\u00e3o das chuvas, alertaram especialistas na semana passada.<\/p>\n\n\n\n

Para combater a inseguran\u00e7a alimentar, pa\u00edses como o Egito est\u00e3o tentando refor\u00e7ar a independ\u00eancia alimentar expandindo a produ\u00e7\u00e3o dom\u00e9stica. Agora, o trigo tamb\u00e9m est\u00e1 sendo plantado no deserto eg\u00edpcio, embora isso exija mais fertilizantes e recursos h\u00eddricos escassos.<\/p>\n\n\n\n

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Por causa da guerra, a Ucr\u00e2nia n\u00e3o consegue exportar seu trigo<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O trigo mole (Triticum aestivum) tem um sistema radicular raso e, portanto, \u00e9 mais suscet\u00edvel \u00e0 seca. Por ser muito produtivo e sua farinha branca poder ser processada em um n\u00famero infinito de alimentos, este gr\u00e3o h\u00edbrido globalmente dominante ainda \u00e9 extremamente popular. Ele fornece cerca de 20% das calorias consumidas pelos seres humanos.<\/p>\n\n\n\n

Devido \u00e0 vulnerabilidade do trigo para suprir a\u00a0escassez causada por conflitos\u00a0e mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, est\u00e3o sendo feitas tentativas para estabelecer uma gama mais ampla de variedades de gr\u00e3os mais resilientes e sustent\u00e1veis. Isso inclui cepas mais antigas, mais capazes de se adaptar ao clima e se desenvolver em uma variedade de condi\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Aqui est\u00e3o quatro gr\u00e3os alternativos que podem ajudar a acabar com nossa depend\u00eancia do trigo:<\/p>\n\n\n\n

Einkorn<\/h2>\n\n\n\n

Antes do cultivo em massa do trigo comum, encontrado hoje em in\u00fameras formas nas prateleiras dos supermercados em todo o mundo, dezenas dos chamados gr\u00e3os “originais” eram cultivados em diversos locais e diferentes condi\u00e7\u00f5es de solo e clima.<\/p>\n\n\n\n

O einkorn (Triticum monococcum, do alem\u00e3o Einkorn, literalmente “gr\u00e3o \u00fanico”), \u00e9 um gr\u00e3o t\u00e3o resiliente que pode ser uma alternativa ao trigo usado para fazer p\u00e3o na maior parte do mundo.<\/p>\n\n\n\n

Datado dos tempos neol\u00edticos, einkorn \u00e9 conhecido como “trigo original”. \u00c9 adapt\u00e1vel a diversos terrenos e mais resistente a doen\u00e7as do que o trigo moderno. Ele cont\u00e9m 30% mais prote\u00edna, 15% menos amido e menos gl\u00faten do que o trigo comercial comum. Diz-se que o gr\u00e3o d\u00e1 aos produtos feitos com ele \u200b\u200bum sabor de noz.<\/p>\n\n\n\n

“Einkorn \u00e9 \u00fanico porque tem o dobro dos minerais de outros tipos de trigo, o que \u00e9 crucial para a nutri\u00e7\u00e3o”, disse Friedrich Longin, cientista agr\u00edcola da Universidade de Hohenheim, no sul da Alemanha. Mas, embora seja duas vezes mais nutritivo que o trigo moderno, tem cerca de metade do rendimento.<\/p>\n\n\n\n

Hoje em dia, ele \u00e9 cultivado em quantidades relativamente pequenas na \u00c1ustria, Alemanha e regi\u00f5es da It\u00e1lia, Hungria e Fran\u00e7a, mas tem potencial para ser semeado mais amplamente devido \u00e0 sua adaptabilidade a solos pobres e marginais. O gr\u00e3o tamb\u00e9m tem resist\u00eancia excepcional a doen\u00e7as em compara\u00e7\u00e3o com o trigo comum, de acordo com um estudo recente.<\/p>\n\n\n\n

Emmer selvagem<\/h2>\n\n\n\n

O emmer, ou farro (Triticum dicoccum), \u00e9 outro gr\u00e3o original que pode voltar diante da atual crise. O imperador romano J\u00falio C\u00e9sar era f\u00e3 do gr\u00e3o e ordenou que fosse cultivado em todo o imp\u00e9rio romano. Hoje, seus principais benef\u00edcios s\u00e3o alta resili\u00eancia clim\u00e1tica e a resist\u00eancia a doen\u00e7as. Seu rendimento \u00e9 superior ao do einkorn.<\/p>\n\n\n\n

Um estudo realizado ao longo de 28 anos em Israel mostrou que as variedades de emmer selvagem que experimentaram um aumento de temperatura de dois graus durante esse per\u00edodo sofreram muta\u00e7\u00f5es que o fizerem mais resistentes \u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

Os pesquisadores conclu\u00edram que esp\u00e9cies geneticamente mais diversas de alto teor de fibra eram “a melhor esperan\u00e7a gen\u00e9tica” para melhorar as linhagens de trigo modernas vulner\u00e1veis \u200b\u200b\u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e doen\u00e7as.<\/p>\n\n\n\n

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J\u00e1 o imperador romano J\u00falio C\u00e9sar era f\u00e3 do emmer<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Enquanto o emmer j\u00e1 foi parte integrante da panifica\u00e7\u00e3o na Roma antiga, hoje suas sementes s\u00e3o relativamente escassas. A farinha do gr\u00e3o est\u00e1 novamente sendo usada na Su\u00ed\u00e7a e na It\u00e1lia, onde tamb\u00e9m \u00e9 transformada em massa.<\/p>\n\n\n\n

Kernza<\/h2>\n\n\n\n

Um problema do trigo convencional \u00e9 que ele \u00e9 sazonal, o que significa que a planta morre ap\u00f3s a colheita e precisa ser replantada a cada ano. Ele tamb\u00e9m tem um sistema radicular raso, que n\u00e3o \u00e9 altamente eficaz no sequestro de carbono no subsolo.<\/p>\n\n\n\n

Como op\u00e7\u00e3o, um novo gr\u00e3o perene chamado Kernza, ou trigo intermedi\u00e1rio, foi desenvolvido pelo The Land Institute, uma ONG de agricultura sustent\u00e1vel com sede no estado americano do Kansas. Derivado do trigo, as ra\u00edzes de Kernza crescem at\u00e9 3 metros, o que significa que a planta pode sequestrar muito mais carbono. Suas ra\u00edzes longas tamb\u00e9m mant\u00eam a sa\u00fade do solo, resistindo \u00e0 eros\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Plantas perenes ajudam a desenvolver um solo mais biodiverso e resistente \u00e0 seca, al\u00e9m de economizar energia e recursos necess\u00e1rios para o replantio anual. O gr\u00e3o h\u00edbrido que foi desenvolvido ao longo de d\u00e9cadas j\u00e1 est\u00e1 sendo utilizado por padeiros, chefs e cervejeiros nos EUA e Canad\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

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Lee DeHaan, cientista-chefe do Land Institute, inspeciona uma planta de kernza<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O instituto que o desenvolveu est\u00e1 chamando o kernza de “mudan\u00e7a voltada para o futuro baseada em uma agricultura fundamentalmente regenerativa e inteligente em rela\u00e7\u00e3o ao clima”. Quatro mil acres de trigo foram cultivados nos EUA e no Canad\u00e1 em 2021, 500 a mais do que em 2019. Em meio \u00e0 crise global de gr\u00e3os, esse n\u00famero pode crescer ainda mais.<\/p>\n\n\n\n

Pain\u00e7o<\/h2>\n\n\n\n

O pain\u00e7o, ou milhete, um alimento b\u00e1sico para centenas de milh\u00f5es de pessoas na \u00c1sia e na \u00c1frica, tamb\u00e9m tem alta resili\u00eancia clim\u00e1tica, curto per\u00edodo de amadurecimento e baixas emiss\u00f5es de carbono, de acordo com Robert Onyeneke, economista agr\u00edcola da Universidade Federal Alex Ekwueme, na Nig\u00e9ria.<\/p>\n\n\n\n

O gr\u00e3o, que tem muitas variedades, \u00e9 adapt\u00e1vel ao calor e \u00e0 seca, requer muito menos \u00e1gua do que trigo, arroz ou milho, e pode ser cultivado em todo o mundo, inclusive em solos relativamente pobres.<\/p>\n\n\n\n

A import\u00e2ncia do gr\u00e3o, que \u00e9 pouco consumido no Ocidente, foi sublinhada quando a ONU declarou 2023 Ano Internacional do Milho-Pain\u00e7o. Com o cultivo em decl\u00ednio em muitos pa\u00edses, a ONU disse que “seu potencial para lidar com as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e a seguran\u00e7a alimentar n\u00e3o est\u00e1 sendo plenamente aproveitado”.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n\n\n\n

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