{"id":178680,"date":"2022-07-22T19:00:21","date_gmt":"2022-07-22T22:00:21","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=178680"},"modified":"2022-07-22T19:00:23","modified_gmt":"2022-07-22T22:00:23","slug":"no-brasil-23-milhoes-de-toneladas-de-plastico-tem-alto-risco-de-chegar-ao-mar","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/07\/22\/178680-no-brasil-23-milhoes-de-toneladas-de-plastico-tem-alto-risco-de-chegar-ao-mar.html","title":{"rendered":"No Brasil, 2,3 milh\u00f5es de toneladas de pl\u00e1stico t\u00eam alto risco de chegar ao mar"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a>
Pescadores da Col\u00f4nia de Pesca Z13 trazem lixo recolhido ao redor das ilhas Cagarras at\u00e9 a praia de Copacabana, no Rio de Janeiro.\u00a0Anualmente, um brasileiro descarta em m\u00e9dia 16 quilos de lixo pl\u00e1stico com potencial de escape para o ambiente e, consequentemente, para o mar.
FOTO DE\u00a0FERNANDO FRAZ\u00c3O<\/strong>\u00a0\/AG\u00caNCIA BRASIL<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

De Lisboa, Portugal |<\/strong> A bi\u00f3loga marinha Diva Amon, de Trinidad e Tobago, embarcou em uma expedi\u00e7\u00e3o de 20 dias para o arquip\u00e9lago de S\u00e3o Paulo e S\u00e3o Pedro. A miss\u00e3o, a bordo do navio Alucia e com dois submarinos, consistia em explorar o mar profundo dos ilh\u00e9us brasileiros, situados no meio do Oceano Atl\u00e2ntico, no estado de Pernambuco, e a quase 1 mil quil\u00f4metros da costa de Natal, capital do Rio Grande do Norte.<\/p>\n\n\n\n

Os pesquisadores queriam estudar o que havia naquele canto do oceano onde o solo rochoso era exposto ao manto da Terra <\/strong>\u2013 uma caracter\u00edstica reservada a poucos lugares no planeta. A expectativa inicial girava em torno de encontrar fontes hidrotermais, o que n\u00e3o ocorreu. Depararam com um ecossistema que se mantinha ao redor de belos corais. Mas essa n\u00e3o foi a descoberta mais impactante da bi\u00f3loga marinha, que roda o mundo explorando esses ambientes mais remotos do oceano \u2013 locais que podem chegar a 6 mil metros de profundidade.<\/p>\n\n\n\n

\u201cFoi a maior quantidade de lixo que vi na minha vida inteira. Tinha lixo em todo lugar e de tudo, de livros a materiais de isolamento dom\u00e9stico\u201d, recorda Amon. \u201cOnde fomos, n\u00e3o conseguimos explorar sem encontrar evid\u00eancias de humanos pelo lixo. E eu n\u00e3o tinha ideia do porqu\u00ea havia tanto, foi extremamente chocante.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Para Amon, muitas pessoas olham para o pl\u00e1stico \u2013 que pode demorar cinco s\u00e9culos para se decompor no oceano \u2013 e pensam que o problema est\u00e1 apenas no canudo que enrosca na narina da tartaruga, fragmentos encontrados no organismo dos peixes, ou um peda\u00e7o de material que sufoca um le\u00e3o-marinho. \u201cNa verdade, a maior parte do lixo pl\u00e1stico termina em lugares onde n\u00e3o conseguimos ver\u201d, reflete a bi\u00f3loga caribenha, eleita a Exploradora emergente de 2020 pela National Geographic. O mais assustador, continua Amon, \u00e9 que o lixo vis\u00edvel no oceano se fragmenta em pequenas part\u00edculas. \u201cEncontramos micropl\u00e1sticos em todo lugar em que vamos no mar profundo.\u201d<\/p>\n\n\n\n

As cenas da polui\u00e7\u00e3o marinha presenciadas por Amon em 2017, nas \u00e1guas profundas do arquip\u00e9lago brasileiro, revelam um problema cr\u00f4nico do pa\u00eds identificado em um trabalho recente.<\/p>\n\n\n\n

No Brasil, 3,44 milh\u00f5es de toneladas de pl\u00e1stico potencialmente chegam ao meio ambiente a cada ano \u2013 um ter\u00e7o da quantidade consumida no pa\u00eds. Desse total, 67% est\u00e3o concentrados nas bacias hidrogr\u00e1ficas com maior risco de entrada no oceano, com potencial \u201cmuito alto\u201d de chegar ao mar pelas regi\u00f5es de foz dos rios Amazonas (AP e PA), Tocantins (PA) e Para\u00edba do Sul (RJ), a Ba\u00eda de Guanabara (RJ) e a Lagoa dos Patos (RS). Ou seja, pelo menos 2,3 milh\u00f5es de toneladas de pl\u00e1stico podem alcan\u00e7ar o oceano pelo Brasil por ano.<\/p>\n\n\n\n

Anualmente, um brasileiro descarta em m\u00e9dia 16 quilos de lixo pl\u00e1stico com potencial de escape para o ambiente e, consequentemente, para o mar. A situa\u00e7\u00e3o se agrava em pequenas cidades costeiras.<\/p>\n\n\n\n

Os dados s\u00e3o fruto de um estudo do projeto Blue Keepers, do Pacto Global da ONU no Brasil, e foram divulgados no final de junho durante a Confer\u00eancia dos Oceanos da ONU, em Lisboa, Portugal. Em agosto, um sum\u00e1rio-executivo ser\u00e1 lan\u00e7ado com as informa\u00e7\u00f5es completas da fase diagn\u00f3stica, que visa dar a dimens\u00e3o territorial do problema. <\/p>\n\n\n\n

Com esse diagn\u00f3stico, a segunda etapa do projeto consiste em ir a campo, para identificar os tipos de pl\u00e1sticos que mais param no mar e seus estados de decomposi\u00e7\u00e3o. A princ\u00edpio, alguns j\u00e1 se destacam, como hastes flex\u00edveis, fragmentos de pl\u00e1stico e tampas de garrafa.<\/p>\n\n\n\n

Ao mesmo tempo, os pesquisadores almejam realizar inicialmente acordos de coopera\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica com 10 munic\u00edpios mais cr\u00edticos, tendo em vista o desenvolvimento de a\u00e7\u00f5es executivas em torno do pl\u00e1stico, visitas t\u00e9cnicas para entender a infraestrutura de esgotamento sanit\u00e1rio e a identifica\u00e7\u00e3o de pontos de escape dos res\u00edduos para o oceano. <\/p>\n\n\n\n

\u201cO lixo que est\u00e1 no mar n\u00e3o necessariamente vem da costa. Quando olhamos para dentro, percebemos que \u00e9 algo muito maior do que um canudinho ou uma bituca de cigarro. S\u00e3o problemas enraizados de cobertura de coleta de lixo, saneamento b\u00e1sico, seguran\u00e7a e sa\u00fade\u201d, reflete Gabriela Otero, coordenadora do Blue Keepers.\u00a0\u00a0<\/p>\n\n\n\n

\u201cFalamos de lixo no mar h\u00e1 dez anos e parece que s\u00f3 piora. Ent\u00e3o, estamos criando ci\u00eancia. Precisamos achar formas inteligentes, mais descentralizadas e com os poderes p\u00fablico e privado, al\u00e9m de recursos.\u201d<\/p>POR\u00a0GABRIELA OTERO<\/strong>
COORDENADORA DA BLUE KEEPERS<\/cite><\/blockquote>\n\n\n\n

A meta do Blue Keepers \u00e9 reduzir em 30% o lixo pl\u00e1stico que entra no oceano pelo Brasil at\u00e9 2030. Para isso, o projeto pretende estabelecer nesse per\u00edodo parcerias com as 100 principais cidades do pa\u00eds na quest\u00e3o do lixo pl\u00e1stico, a fim de desenvolver solu\u00e7\u00f5es preventivas por meio de parcerias p\u00fablico-privadas, al\u00e9m de estimular que as empresas respons\u00e1veis pela produ\u00e7\u00e3o dos itens mais encontrados os redesenhem ou os sujeitem a sistemas circulares.<\/p>\n\n\n\n

\u201cSe olharmos com dedica\u00e7\u00e3o para cada material que aparece na costa, pouco a pouco vamos elimin\u00e1-los da lista do que vai para o mar, e a\u00ed deixamos outros problemas que exigem grandes solu\u00e7\u00f5es, como infraestrutura e habita\u00e7\u00e3o\u201d, acredita Otero. \u201cFalamos de lixo no mar h\u00e1 dez anos e parece que s\u00f3 piora. Ent\u00e3o, estamos criando ci\u00eancia. Precisamos achar formas inteligentes, mais descentralizadas e com os poderes p\u00fablico e privado, al\u00e9m de recursos.\u201d <\/p>\n\n\n\n

O Pacto Global da ONU tem como foco engajar o setor privado a mudar seus modelos de neg\u00f3cios e reduzir os impactos de suas atividades, para alcan\u00e7ar os objetivos de desenvolvimento sustent\u00e1vel at\u00e9 2030.<\/p>\n\n\n\n

Em 2021, o Blue Keepers surgiu como um projeto do Pacto Global da ONU no Brasil, com o objetivo inicial de realizar um diagn\u00f3stico sobre o pl\u00e1stico no pa\u00eds. A miss\u00e3o central \u00e9 consolidar dados dispon\u00edveis e analis\u00e1-los por meio de uma ferramenta de modelagem, a fim de tra\u00e7ar um cen\u00e1rio dos munic\u00edpios e auxiliar no desenvolvimento de estrat\u00e9gias de preven\u00e7\u00e3o \u00e0 chegada do lixo no mar, especialmente o pl\u00e1stico.<\/p>\n\n\n\n

\u201cA ideia \u00e9 entender o caminho do lixo e identificar solu\u00e7\u00f5es necess\u00e1rias para cada localidade, nas esferas de infraestrutura, saneamento, barragens, concentra\u00e7\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o, redesenho de produtos\u201d, explica Mait\u00ea Leite, gerente de \u00c1gua e Oceano do Pacto Global da ONU no Brasil. A identifica\u00e7\u00e3o dos dez itens mais encontrados nas praias tem como objetivo discutir com representantes da ind\u00fastria os modelos de produ\u00e7\u00e3o, consumo e circula\u00e7\u00e3o desses materiais.<\/p>\n\n\n\n

\u201cSabendo quais s\u00e3o os hotspots, as cidades e quais os caminhos que o lixo leva para chegar ao mar \u2013 ou seja, quais os principais rios, bacias hidrogr\u00e1ficas e ba\u00edas do Brasil est\u00e3o mais propensos a levar lixo para o mar \u2013, podemos agir de forma preventiva, atuando de forma estrat\u00e9gica no trabalho com os munic\u00edpios\u201d, observa Leite.<\/p>\n\n\n\n

Na Confer\u00eancia dos Oceanos, descarboniza\u00e7\u00e3o da frota mar\u00edtima, grandes inova\u00e7\u00f5es e biotecnologia foram temas abordados para tratar da polui\u00e7\u00e3o marinha. \u201cO Brasil tem um potencial gigante para tudo isso\u201d, observa Leite. \u201cMas, como pa\u00eds em desenvolvimento, ainda precisa falar dos impactos diretos da falta de infraestrutura.\u201d <\/p>\n\n\n\n

Leite elenca tr\u00eas focos de trabalho para endere\u00e7ar a polui\u00e7\u00e3o de pl\u00e1stico no mar no Brasil. Primeiro, investimento pesado em infraestrutura, especialmente em saneamento b\u00e1sico e coleta de lixo. Depois, educar a popula\u00e7\u00e3o sobre consumo e descarte conscientes, al\u00e9m de viabilizar os meios para que os cidad\u00e3os fa\u00e7am boas escolhas. Por fim, a ind\u00fastria precisa adotar produtos a base de materiais recicl\u00e1veis, bem como desenvolver alternativas para substituir os materiais mais encontrados em praias e rios.<\/p>\n\n\n\n

Entre a dezena de munic\u00edpios iniciais da etapa de campo, o projeto Blue Keepers j\u00e1 resultou em um primeiro acordo concreto. A cidade do Rio de Janeiro aderiu \u00e0 segunda fase em parceria com o Programa de Pl\u00e1sticos Circulares nas Am\u00e9ricas \u2013 uma iniciativa liderada pela Uni\u00e3o Europeia, focada em colabora\u00e7\u00f5es com Brasil, Chile, Col\u00f4mbia e Canad\u00e1. Os munic\u00edpios de Fortaleza, no Cear\u00e1, e Santos, em S\u00e3o Paulo, tamb\u00e9m demonstraram interesse.<\/p>\n\n\n\n

Uma crise global mal dimensionada<\/strong><\/h2>\n\n\n\n

O estudo brasileiro traz \u00e0 tona qu\u00e3o subestimada \u00e9 a realidade da polui\u00e7\u00e3o marinha. Segundo estimativa do Programa das Na\u00e7\u00f5es Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), em torno de\u00a011 milh\u00f5es de toneladas de pl\u00e1stico\u00a0entram no oceano anualmente \u2013 n\u00famero que deve triplicar nos pr\u00f3ximos 20 anos. Essa quantidade atual implica um preju\u00edzo econ\u00f4mico da ordem de US$ 13 bilh\u00f5es (R$ 71 bilh\u00f5es), entre custos para limpezas de praia e perdas financeiras na pesca e em outras atividades industriais.<\/p>\n\n\n\n

Os n\u00fameros do Brasil, obtidos com uma nova modelagem do Pnuma, s\u00e3o impressionantes por serem elevados, mas n\u00e3o surpreendem diante do consenso sobre a gravidade do problema, disse Henrik Enevoldsen, da Comiss\u00e3o Oceanogr\u00e1fica Intergovernamental das Na\u00e7\u00f5es Unidas para a Educa\u00e7\u00e3o, a Ci\u00eancia e a Cultura (Unesco). Isso porque, conforme o conhecimento cient\u00edfico avan\u00e7a, \u00e9 esperado que dados mais precisos revelem uma realidade ainda mais dram\u00e1tica.\u00a0<\/p>\n\n\n\n

\u201cPrecisamos trabalhar de forma ordenada e sistem\u00e1tica para identificar hotspots de gera\u00e7\u00e3o de res\u00edduos, para que possamos, de forma bastante estrat\u00e9gica, atacar essas fontes e resolver o problema. Como fazemos isso? Com dados.\u201d<\/p>POR\u00a0ALEXANDER TURRA<\/strong>
INSTITUTO OCEANOGR\u00c1FICO DA UNIVERSIDADE DE S\u00c3O PAULO<\/cite><\/blockquote>\n\n\n\n

\u201c\u00c9 de estudos como esse que precisamos para for\u00e7ar os tomadores de decis\u00e3o a fazer algo sobre isso, caso contr\u00e1rio \u00e9 muito f\u00e1cil para eles simplesmente n\u00e3o monitorarem\u201d, observou Enevoldsen \u00e0 National Geographic<\/em>. \u201cEu penso que isso ir\u00e1 transformar as negocia\u00e7\u00f5es, porque de outra maneira passar\u00edamos mais 10 anos apenas concordando que este \u00e9 um grande problema. Essa \u00e9 a base para estabelecer metas.\u201d <\/p>\n\n\n\n

Enevoldsen \u00e9 editor do relat\u00f3rio Estado do Oceano, da Unesco, que foi lan\u00e7ado no \u00faltimo dia da Confer\u00eancia dos Oceanos da ONU, em Lisboa, Portugal. O documento piloto agregou os principais dados a respeito da sa\u00fade dos ambientes marinhos. No cap\u00edtulo de polui\u00e7\u00e3o marinha, enfatiza a lacuna de conhecimento que existe sobre o lixo pl\u00e1stico no oceano e a necessidade da cria\u00e7\u00e3o de monitoramentos globais. A pr\u00f3xima edi\u00e7\u00e3o do relat\u00f3rio da Unesco, com previs\u00e3o de lan\u00e7amento em <\/strong>junho de 2023, deve absorver os dados da iniciativa do Pacto Global da ONU, al\u00e9m dos indicadores produzidos pelo Pnuma sobre o lixo marinho, afirmou o cientista dinamarqu\u00eas.<\/p>\n\n\n\n

\u201cExistem muitas iniciativas boas e adequadas acontecendo, e a que mencionou \u00e9 definitivamente uma que contribui para isso, com todos seus detalhes e complexidade\u201d, observa Enevoldsen, em refer\u00eancia ao estudo do Blue Keepers. \u201c\u00c9 dif\u00edcil alcan\u00e7ar um grande p\u00fablico, mas com o relat\u00f3rio Estado do Oceano gostar\u00edamos de juntar todos esses dados para dar uma vis\u00e3o mais ampla e simplificada. \u00c9 um projeto de comunica\u00e7\u00e3o.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Se s\u00e3o necess\u00e1rios dados mais realistas para entender a dimens\u00e3o da polui\u00e7\u00e3o marinha, informa\u00e7\u00f5es importantes j\u00e1 est\u00e3o dispon\u00edveis para desenvolver solu\u00e7\u00f5es. De acordo com o Pnuma,\u00a0cerca de 80% da polui\u00e7\u00e3o marinha e costeira tem origem terrestre, por meio do escoamento de rejeitos agr\u00edcolas, como agrot\u00f3xicos e fertilizantes (f\u00f3sforo e nitrog\u00eanio),\u00a0<\/strong>descarte irregular de pl\u00e1stico e esgoto sem tratamento, por exemplo.<\/p>\n\n\n\n

O Programa das Na\u00e7\u00f5es Unidas para o Desenvolvimento, por sua vez, aponta que\u00a089% do lixo pl\u00e1stico\u00a0encontrado no leito do oceano s\u00e3o materiais de uso \u00fanico, a exemplo de sacolas pl\u00e1sticas. Na Grande Por\u00e7\u00e3o de Lixo do Pac\u00edfico, uma regi\u00e3o do oceano entre o Hava\u00ed e a Calif\u00f3rnia onde h\u00e1 uma imensa concentra\u00e7\u00e3o de res\u00edduos na superf\u00edcie, encontrou-se\u00a01,8 trilh\u00e3o de fragmentos de pl\u00e1stico, que somaram 80 mil toneladas em uma \u00e1rea de 1,6 milh\u00e3o de quil\u00f4metros quadrados.<\/p>\n\n\n\n

O custo da polui\u00e7\u00e3o recai sobre a biodiversidade.\u00a0Mais de 800 esp\u00e9cies marinhas e costeiras\u00a0s\u00e3o afetadas pelos pl\u00e1sticos, pela ingest\u00e3o, enrosco ou mudan\u00e7as de habitat, conforme o Pnuma. Anualmente, a Unesco estima que mais de um milh\u00e3o de aves marinhas e 100 mil mam\u00edferos, tartarugas marinhas e peixes s\u00e3o mortos por res\u00edduos pl\u00e1sticos.<\/p>\n\n\n\n

Metodologia inovadora<\/strong><\/h2>\n\n\n\n

O Pnuma desenvolveu uma metodologia chamada hotspotting,<\/em> em 2020, para aprimorar o conhecimento sobre a polui\u00e7\u00e3o marinha de pl\u00e1stico, que est\u00e1 sendo implementada em diversos pa\u00edses \u2013 a equipe brasileira foi a primeira a apresentar os resultados. A an\u00e1lise envolve, primeiro, a apura\u00e7\u00e3o de bases de dados populacionais, socioecon\u00f4micos, territoriais e de gera\u00e7\u00e3o e gest\u00e3o de res\u00edduos, bem como uma filtragem das informa\u00e7\u00f5es com confiabilidade e escalas temporal e espacial adequadas.<\/p>\n\n\n\n

As informa\u00e7\u00f5es coletadas passam por uma an\u00e1lise de balan\u00e7o de massa, uma equa\u00e7\u00e3o em que a quantidade de pl\u00e1stico consumido \u00e9 subtra\u00edda ao pl\u00e1stico enviado \u00e0 reciclagem ou disposto adequadamente, para se chegar ao estoque potencial de pl\u00e1stico com tend\u00eancia a escapar para o oceano.<\/p>\n\n\n\n

Em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s fontes de consumo de pl\u00e1stico, avalia-se a produ\u00e7\u00e3o industrial dom\u00e9stica, considerando importa\u00e7\u00e3o e excluindo exporta\u00e7\u00e3o; os ciclos de vida de diferentes tipos de material; e a distribui\u00e7\u00e3o do consumo, conforme varia\u00e7\u00f5es sazonais na popula\u00e7\u00e3o e uso ocasional (turistas incrementam o n\u00famero de pessoas nas cidades litor\u00e2neas em finais de semana ou feriados, por exemplo); e dados socioecon\u00f4micos, como renda familiar, renda per capita e o coeficiente de Gini (\u00edndice de desigualdade social). <\/p>\n\n\n\n

O c\u00e1lculo tamb\u00e9m leva em conta fatores ambientais em torno da produ\u00e7\u00e3o e do consumo, para identificar a probabilidade de o pl\u00e1stico alcan\u00e7ar rios e mares em determinadas condi\u00e7\u00f5es. Para isso, a equipe acrescentou dados sobre pluviosidade, correntes de vento, declividade, assentamentos informais, urbaniza\u00e7\u00e3o, dist\u00e2ncia para rios e oceano, descarga de rios e presen\u00e7a de barragens ao longo dos cursos d\u2019\u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

Alexander Turra, professor do Instituto Oceanogr\u00e1fico da Universidade de S\u00e3o Paulo, trabalhou no desenvolvimento desta metodologia e no estudo do Blue Keepers. Ele, que \u00e9 membro da C\u00e1tedra da Unesco para Sustentabilidade dos Oceanos, destaca diferenciais da aplica\u00e7\u00e3o desta modelagem no Brasil: a inclus\u00e3o da reciclagem informal, desconsiderada at\u00e9 ent\u00e3o na literatura cient\u00edfica, e an\u00e1lises detalhadas de aterros sanit\u00e1rios e lix\u00f5es. Para Turra, esses elementos podem ser adotados no c\u00e1lculo de outros pa\u00edses do sul global.<\/p>\n\n\n\n

O que est\u00e1 sendo perdido? Onde essa perda ocorre? Por que isso est\u00e1 acontecendo? Essas s\u00e3o tr\u00eas quest\u00f5es fundamentais para enfrentar o problema do lixo no mar, ressaltou Turra no evento de lan\u00e7amento do estudo, na Confer\u00eancia dos Oceanos da ONU. \u201cPrecisamos trabalhar de forma ordenada e sistem\u00e1tica para identificar hotspots<\/em> de gera\u00e7\u00e3o de res\u00edduos, para que possamos, de forma bastante estrat\u00e9gica, atacar essas fontes e resolver o problema. Como fazemos isso? Com dados.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Em termos absolutos, as capitais estaduais e grandes cidades metropolitanas apresentaram maior potencial de perda de pl\u00e1stico para o ambiente, analisou Turra. Mas os valores per capita indicaram que o escape do lixo para o mar tem maior predomin\u00e2ncia nas cidades costeiras. \u201cIsso mostra que o problema \u00e9 muito mais dilu\u00eddo do que os dados absolutos mostram.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Turra observou que em algumas regi\u00f5es, especialmente nas cidades populosas, os rios geralmente s\u00e3o interceptados por barragens, que podem interromper o caminho do res\u00edduo. Se isto n\u00e3o fosse considerado, o resultado seria um valor superestimado da quantidade de lixo que chega ao oceano. Assim, as zonas costeiras t\u00eam um papel mais relevante nesse sentido, bem como a regi\u00e3o da foz do Amazonas (Amap\u00e1 e Par\u00e1), enquanto no Sudeste as barreiras dos cursos d’\u00e1gua e a drenagem dos rios para o interior reduzem a contribui\u00e7\u00e3o do escape para o mar.<\/p>\n\n\n\n

\u201cO Blue Keepers tem um diagn\u00f3stico amplo, ent\u00e3o possibilita uma s\u00e9rie de caminhos e usos. Por exemplo, podemos identificar munic\u00edpios que precisam aumentar sua capacidade de reciclagem, com suporte \u00e0 reciclagem informal\u201d, concluiu o pesquisador. \u201cO grande trunfo \u00e9 que, com todos esses dados em m\u00e3os, os di\u00e1logos com os munic\u00edpios se estabelecem de forma robusta e transparente, para que consigam validar a informa\u00e7\u00e3o, j\u00e1 que temos muitos ru\u00eddos nos dados.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Preocupa\u00e7\u00e3o internacional<\/strong><\/h2>\n\n\n\n

Na 5\u00aa Sess\u00e3o da Assembleia das Na\u00e7\u00f5es Unidas para o Meio Ambiente (Unea 5), realizada em mar\u00e7o passado, 175 pa\u00edses concordaram com a cria\u00e7\u00e3o de um instrumento global para acabar com a polui\u00e7\u00e3o do pl\u00e1stico, al\u00e9m da cria\u00e7\u00e3o de um painel cient\u00edfico sobre qu\u00edmicos e res\u00edduos e a preven\u00e7\u00e3o da polui\u00e7\u00e3o. Espera-se que a ferramenta solucione os problemas de todo o ciclo de vida dos pl\u00e1sticos \u2013 produ\u00e7\u00e3o, design e disposi\u00e7\u00e3o final. <\/p>\n\n\n\n

Na resolu\u00e7\u00e3o, a Assembleia aprovou a cria\u00e7\u00e3o de um Comit\u00ea Intergovernamental de Negocia\u00e7\u00e3o, para desenhar um acordo juridicamente vinculante at\u00e9 2024. A ades\u00e3o dos Estados n\u00e3o \u00e9 obrigat\u00f3ria, mas quem se vincular ter\u00e1 de cumprir o acordo de reduzir a polui\u00e7\u00e3o do pl\u00e1stico em todos os ambientes (terrestres e marinhos) e adotar medidas que repensem o uso de recursos naturais, dispensando combust\u00edveis f\u00f3sseis. As a\u00e7\u00f5es devem se fundamentar em solu\u00e7\u00f5es baseadas na natureza, no bem-estar animal, na economia circular, na infraestrutura resiliente e sustent\u00e1vel, entre outros aspectos. <\/p>\n\n\n\n

Durante a confer\u00eancia, o Minist\u00e9rio do Meio Ambiente (MMA) defendeu a resolu\u00e7\u00e3o e tamb\u00e9m divulgou os resultados do programa Combate ao Lixo no Mar. Desde 2019 at\u00e9 a segunda quinzena de julho de 2022, o painel registrou 464 mutir\u00f5es que coletaram 308 toneladas de res\u00edduos, sendo que 55% dos itens s\u00e3o materiais pl\u00e1sticos \u2013 uma pequena fra\u00e7\u00e3o perto dos 3,44 milh\u00f5es de toneladas que potencialmente escapam ao ambiente todo ano, identificada no trabalho do Blue Keepers.<\/p>\n\n\n\n

Dos mutir\u00f5es registrados, 244 foram realizados por organiza\u00e7\u00f5es da sociedade civil, 191 pelo poder p\u00fablico, 21 pela iniciativa privada e seis por institui\u00e7\u00f5es de ensino e pesquisa. Na esfera federal, a Marinha do Brasil organizou 144 campanhas, que coletaram 45,9 toneladas. O MMA, por sua vez, realizou oito, nas quais coletou 7 toneladas.<\/p>\n\n\n\n

Gabriela Otero, do Blue Keepers, considera que as falas das autoridades se assemelham na Unea 5 e na Confer\u00eancia dos Oceanos. Os discursos exaltam a preocupa\u00e7\u00e3o com os impactos da polui\u00e7\u00e3o marinha no turismo, na popula\u00e7\u00e3o, na vida marinha, na economia, e est\u00e3o comprometidos em solucion\u00e1-la. Mas ainda n\u00e3o se concretizaram regulamenta\u00e7\u00f5es, resolu\u00e7\u00f5es, di\u00e1logos ou quadros regulat\u00f3rios que, de fato, previnam essa polui\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“O lixo n\u00e3o pertence ao mar. Ele \u00e9 um erro de gest\u00e3o, um escape que aconteceu por essas frentes. Lixo no mar \u00e9 um tema social, de educa\u00e7\u00e3o, seguran\u00e7a, infraestrutura, neg\u00f3cios\u201d, reflete Otero, mestre em Gest\u00e3o e Pol\u00edtica Ambiental pela Universidade de S\u00e3o Paulo. Para a ge\u00f3grafa, as empresas precisam evitar que suas embalagens alcancem o mar e se fragmentem, al\u00e9m de cooperar com o poder p\u00fablico e a sociedade civil para estabelecer solu\u00e7\u00f5es efetivas.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAs prefeituras gastam milh\u00f5es em or\u00e7amento de servi\u00e7o de limpeza urbana para resolver o problema. As pessoas est\u00e3o muito focadas em cleanups, em mutir\u00f5es, e no dia seguinte a situa\u00e7\u00e3o est\u00e1 do mesmo jeito ou pior\u201d, diz Otero. \u201cEnt\u00e3o, queremos ser esse mediador para direcionar os esfor\u00e7os do setor privado para a preven\u00e7\u00e3o.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Esta reportagem foi produzida no \u00e2mbito da 2022 UN Ocean Conference Fellowship, organizada pela Earth Journalism Network da Internews com o apoio da Funda\u00e7\u00e3o Calouste Gulbenkian (Reino Unido).<\/em><\/p>\n\n\n\n

Fonte: National Geographic Brasil<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

A bi\u00f3loga marinha Diva Amon, de Trinidad e Tobago, embarcou em uma expedi\u00e7\u00e3o de 20 dias para o arquip\u00e9lago de S\u00e3o Paulo e S\u00e3o Pedro. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":178681,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[330,1298,2269],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/178680"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=178680"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/178680\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":178682,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/178680\/revisions\/178682"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/178681"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=178680"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=178680"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=178680"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}