{"id":178740,"date":"2022-07-27T16:48:00","date_gmt":"2022-07-27T19:48:00","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=178740"},"modified":"2022-07-27T16:48:13","modified_gmt":"2022-07-27T19:48:13","slug":"praticas-agricolas-regenerativas-podem-contribuir-para-o-sequestro-de-co2","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/07\/27\/178740-praticas-agricolas-regenerativas-podem-contribuir-para-o-sequestro-de-co2.html","title":{"rendered":"Pr\u00e1ticas agr\u00edcolas regenerativas podem contribuir para o sequestro de CO2"},"content":{"rendered":"\n
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A agricultura regenerativa \u00e9 proposta como uma solu\u00e7\u00e3o para a produ\u00e7\u00e3o sustent\u00e1vel de alimentos na busca por seguran\u00e7a alimentar (Foto: Unsplash\/Jake Gard)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Com a popula\u00e7\u00e3o mundial beirando oito bilh\u00f5es de habitantes e projetada para dez bilh\u00f5es em 2050, a press\u00e3o pela\u00a0produ\u00e7\u00e3o de alimentos\u00a0\u00e9 cada vez maior. Neste contexto, a\u00a0agricultura\u00a0tradicionalmente praticada em todo o mundo \u2013 baseada na expans\u00e3o sobre \u00e1reas de vegeta\u00e7\u00e3o nativa, levando \u00e0 degrada\u00e7\u00e3o de solos e corpos h\u00eddricos, \u00e0\u00a0fragmenta\u00e7\u00e3o de habitats\u00a0e \u00e0\u00a0perda de biodiversidade\u00a0e de\u00a0servi\u00e7os ambientais\u00a0\u2013 precisa ser substitu\u00edda urgentemente por pr\u00e1ticas sustent\u00e1veis. Al\u00e9m disso, \u00e1reas potencialmente produtivas abandonadas ou subutilizadas, se restauradas, podem contribuir significativamente para a\u00a0seguran\u00e7a alimentar\u00a0mundial. Apenas no Brasil,\u00a0cerca de 100 milh\u00f5es de hectares de pastos, uma \u00e1rea quatro vezes maior que o estado de S\u00e3o Paulo, encontram-se com algum grau de\u00a0degrada\u00e7\u00e3o\u00a0e poderiam ser beneficiados pela ado\u00e7\u00e3o dessas pr\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

Entre as v\u00e1rias pr\u00e1ticas agr\u00edcolas alternativas, a agricultura regenerativa (AR) \u00e9 uma das que mais v\u00eam recebendo aten\u00e7\u00e3o significativa e crescente de produtores de alimentos, empresas, acad\u00eamicos, ONGs e consumidores, bem como de tomadores de decis\u00e3o e da grande m\u00eddia. Embora seu conceito e abrang\u00eancia ainda n\u00e3o estejam claramente definidos, a AR \u00e9 proposta como uma solu\u00e7\u00e3o para a produ\u00e7\u00e3o sustent\u00e1vel de alimentos na busca por seguran\u00e7a alimentar. Isso inclui atividades que resultem na melhoria da sa\u00fade do solo bem como da qualidade e disponibilidade de \u00e1gua, otimiza\u00e7\u00e3o da gest\u00e3o de recursos e maior ciclagem de nutrientes, entre outras.<\/p>\n\n\n\n

Segundo a\u00a0FAO, para ser sustent\u00e1vel, a agricultura deve atender \u00e0s necessidades das gera\u00e7\u00f5es presentes e futuras, garantindo rentabilidade, sa\u00fade ambiental e equidade social e econ\u00f4mica de acordo com cinco princ\u00edpios: 1) aumentar a produtividade, o emprego e a agrega\u00e7\u00e3o de valor nos sistemas alimentares; 2) conservar, proteger e melhorar os recursos naturais; 3) proteger e melhorar os meios de subsist\u00eancia e promover um crescimento econ\u00f4mico inclusivo; 4) aumentar a resili\u00eancia das pessoas, comunidades e ecossistemas; e 5) desenvolver mecanismos de governan\u00e7a respons\u00e1veis e efetivos. Esses princ\u00edpios s\u00e3o a chave para uma agricultura do futuro alinhada com os objetivos do desenvolvimento sustent\u00e1vel (ODS).<\/p>\n\n\n\n

No Brasil, a despeito da grande press\u00e3o da expans\u00e3o da agricultura sobre a vegeta\u00e7\u00e3o nativa, as pr\u00e1ticas regenerativas e sustent\u00e1veis pautadas em ci\u00eancia e inova\u00e7\u00e3o v\u00eam sendo consideradas h\u00e1 d\u00e9cadas. Nos anos 70, pesquisas com fixa\u00e7\u00e3o biol\u00f3gica de nitrog\u00eanio iniciadas pela cientista Johanna D\u00f6bereiner permitiram a redu\u00e7\u00e3o no uso intensivo de adubos nitrogenados. O pa\u00eds foi pioneiro ao lan\u00e7ar em 2012 o plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono), uma iniciativa que fomenta v\u00e1rias t\u00e9cnicas regenerativas como o plantio direto, que protege e melhora o solo; a recupera\u00e7\u00e3o de pastagens degradadas, que gera um efeito poupa-terra, contribuindo para evitar o desmatamento; e a integra\u00e7\u00e3o lavoura-pecu\u00e1ria-floresta, que integra e diversifica em um s\u00f3 lugar pr\u00e1ticas agr\u00edcolas, pecu\u00e1rias e florestais.<\/p>\n\n\n\n

A\u00a0 ado\u00e7\u00e3o da AR tem tamb\u00e9m um papel muito importante na regula\u00e7\u00e3o clim\u00e1tica. O sistema alimentar global atualmente libera cerca de 25% das emiss\u00f5es antropog\u00eanicas anuais de\u00a0gases de efeito estufa\u00a0(GEE). Estima-se que as plantas e animais do mundo contenham 560 bilh\u00f5es de toneladas de carbono e que haja outros 800 bilh\u00f5es de toneladas na atmosfera. O solo cont\u00e9m quase o dobro de carbono desses dois compartimentos juntos: 2.500 bilh\u00f5es de toneladas. Consequentemente, atividades que aumentem o sequestro e a reten\u00e7\u00e3o do carbono no solo, mesmo em pequena porcentagem, contribuem consideravelmente com a redu\u00e7\u00e3o da concentra\u00e7\u00e3o de GEE na atmosfera.<\/p>\n\n\n\n

O plantio direto, a transi\u00e7\u00e3o de cultivos intensivos em carbono, como\u00a0arroz, para esp\u00e9cies de emiss\u00f5es mais baixas, como trigo ou o cultivo de soja em \u00e1reas de pastagem de gado abandonadas s\u00e3o alguns exemplos de atividades que podem trazer grandes benef\u00edcios de carbono. Embora f\u00e1ceis de rastrear, algumas dessas pr\u00e1ticas s\u00e3o, no entanto, de dif\u00edcil implementa\u00e7\u00e3o, visto que requerem mudan\u00e7as de h\u00e1bitos alimentares ou culturais.<\/p>\n\n\n\n

Numa perspectiva moderna da agricultura regenerativa, al\u00e9m da sele\u00e7\u00e3o de novas culturas e de pr\u00e1ticas de manejo do solo, pesquisadores t\u00eam trabalhado na bioengenharia de novas plantas e micr\u00f3bios para que a agricultura possa rivalizar com as florestas como sumidouro de carbono. Cientistas do Instituto Salk para Estudos Biol\u00f3gicos, na Calif\u00f3rnia, criaram o\u00a0Programa de Remo\u00e7\u00e3o de CO2 em Escala Planet\u00e1ria (CroPS). Esse programa integra a Iniciativa de Aproveitamento de Plantas e desenvolve estudos sobre plantas cultivadas visando desenvolver ra\u00edzes maiores e mais profundas que contenham pol\u00edmeros naturais, como a suberina, com alto potencial para capturar CO2 e resistente \u00e0 decomposi\u00e7\u00e3o, contribuindo para a manuten\u00e7\u00e3o do carbono no solo. Milho, soja, arroz, canola, sorgo e alfafa est\u00e3o entre as plantas estudadas.<\/p>\n\n\n\n

Outras tecnologias buscando maior efetividade das pr\u00e1ticas agr\u00edcolas em termos de sequestro e reten\u00e7\u00e3o de carbono est\u00e3o sendo desenvolvidas, incluindo a\u00a0aplica\u00e7\u00e3o de rochas alcalinas esmagadas sobre terras produtivas\u00a0com o uso de equipamentos agr\u00edcolas. O processo de intemperismo dessas rochas liberaria nutrientes necess\u00e1rios ao crescimento das plantas, como magn\u00e9sio, c\u00e1lcio, al\u00e9m de pequenas quantidades de zinco e cobre, possivelmente restaurando solos e aumentando a produtividade, al\u00e9m de capturar CO2.<\/p>\n\n\n\n

Acredita-se que com as pr\u00e1ticas regenerativas tradicionais ou baseadas em novas tecnologias\u00a0 os agricultores possam aumentar os rendimentos, sequestrar carbono e se beneficiar da venda de cr\u00e9ditos para compensa\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es de GEE geradas pela ind\u00fastria. Esse processo possibilitaria tamb\u00e9m uma transforma\u00e7\u00e3o gradual, global e realista do sistema de financiamento do setor agr\u00edcola, que se tornaria mais autofinanciado e menos dependente de subs\u00eddios governamentais.<\/p>\n\n\n\n

Por\u00e9m, h\u00e1 controv\u00e9rsias sobre o real potencial de mitiga\u00e7\u00e3o das\u00a0mudan\u00e7as clim\u00e1ticas\u00a0associado \u00e0 AR que precisam ser consideradas:<\/p>\n\n\n\n

1. O uso de pr\u00e1ticas de armazenamento de carbono em \u00e1reas de agricultura pode resultar em produtividade mais baixa, o que, por sua vez, pode incentivar os agricultores a expandirem sua produ\u00e7\u00e3o sobre \u00e1reas de vegeta\u00e7\u00e3o nativa para compensar a diferen\u00e7a. Como as \u00e1reas naturais armazenam mais carbono acima do solo que as agr\u00edcolas, essa expans\u00e3o levaria a emiss\u00f5es l\u00edquidas de CO2, mesmo com a ado\u00e7\u00e3o de AR.<\/p>\n\n\n\n

2. Pesquisas recentes sugerem que\u00a0processos naturais no solo reciclam carbono para a atmosfera mais r\u00e1pido do que se acreditava. Novos e poderosos microsc\u00f3pios e t\u00e9cnicas como resson\u00e2ncia magn\u00e9tica nuclear e espectrocospia de raio X permitiram aos cientistas do solo identificar que a maioria das mol\u00e9culas no solo podem ser decompostas, mesmo as de h\u00famus, que eram at\u00e9 pouco tempo consideradas recalcitrantes; ou seja, micr\u00f3bios parecem ter aprendido a quebrar qualquer coisa. Al\u00e9m disso, a quantidade de carbono que pode ser liberado do solo em condi\u00e7\u00f5es de aumento de temperatura \u00e9 muito maior que o que se pensava.<\/p>\n\n\n\n

3. Os avan\u00e7os no setor agr\u00edcola ocorrem lentamente e a implementa\u00e7\u00e3o de pr\u00e1ticas regenerativas em escala pode ser dificultada pela avers\u00e3o dos produtores a novas pr\u00e1ticas, assist\u00eancia t\u00e9cnica de dif\u00edcil acesso ou custos de ado\u00e7\u00e3o impeditivos.<\/p>\n\n\n\n

4. Para que as fazendas ofere\u00e7am compensa\u00e7\u00f5es de carbono atreladas \u00e0s pr\u00e1ticas agr\u00edcolas, \u00e9 necess\u00e1rio certificar que o armazenamento de carbono \u00e9 real e permanente. Para tanto, al\u00e9m de uma defini\u00e7\u00e3o uniforme, indicadores e benchmarks devem ser criados para avaliar os impactos da AR. No final de 2021, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)\u00a0destinou US$ 10 milh\u00f5es para a primeira fase do monitoramento de carbono no solo, focada em \u00e1reas de vegeta\u00e7\u00e3o nativa. Esse monitoramento servir\u00e1 para preencher lacunas de conhecimento, mas ainda ser\u00e1 necess\u00e1rio esperar alguns anos para que um monitoramento extensivo em terras agr\u00edcolas seja realizado.<\/p>\n\n\n\n

As incertezas e desafios associados \u00e0 quantifica\u00e7\u00e3o de carbono no solo levaram um\u00a0 grupo de cientistas a manifestar sua preocupa\u00e7\u00e3o numa\u00a0carta aberta\u00a0enviada \u00e0\u00a0Climate Action Reserve, que realiza o registro de compensa\u00e7\u00f5es de emiss\u00f5es de GEE para o mercado de carbono e que est\u00e1 desenvolvendo o Protocolo de Enriquecimento de Carbono a ser aplicado a projetos envolvendo a remo\u00e7\u00e3o de carbono por manejo do solo. Entre as quest\u00f5es t\u00e9cnicas levantadas, as principais estavam relacionadas \u00e0 amostragem e verifica\u00e7\u00e3o, adicionalidade e perman\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

Finalmente, na situa\u00e7\u00e3o global atual, com uma pandemia mal resolvida e uma guerra que afeta a produ\u00e7\u00e3o e distribui\u00e7\u00e3o de alimentos e o suprimento de energia, mesmo pa\u00edses desenvolvidos fazem face \u00e0 inseguran\u00e7a alimentar e energ\u00e9tica. Neste cen\u00e1rio,\u00a0 os desafios da produ\u00e7\u00e3o de alimentos nutritivos e suficientes para uma popula\u00e7\u00e3o crescente s\u00e3o ainda maiores. Entretanto, face aos eventos clim\u00e1ticos extremos cada vez mais comuns, n\u00e3o h\u00e1 tempo para colocar em espera pr\u00e1ticas produtivas sustent\u00e1veis e de baixo carbono como as preconizadas pela AR. Da mesma forma, estudos sobre alternativas para o sequestro de carbono associados \u00e0 agricultura n\u00e3o podem parar. Afinal, para frear as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, s\u00e3o necess\u00e1rias estrat\u00e9gias m\u00faltiplas e diversas.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Galileu<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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