{"id":178872,"date":"2022-08-02T18:38:11","date_gmt":"2022-08-02T21:38:11","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=178872"},"modified":"2022-08-02T18:38:17","modified_gmt":"2022-08-02T21:38:17","slug":"por-que-o-gas-dos-eua-nao-vai-resolver-a-crise-na-europa","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/08\/02\/178872-por-que-o-gas-dos-eua-nao-vai-resolver-a-crise-na-europa.html","title":{"rendered":"Por que o g\u00e1s dos EUA n\u00e3o vai resolver a crise na Europa"},"content":{"rendered":"\n
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Guerra na Ucr\u00e2nia provocou boom na exporta\u00e7\u00e3o de g\u00e1s liquefeito produzido nos EUA, mas gargalos impedem que o pa\u00eds compense a perda do fornecimento da R\u00fassia. Al\u00e9m disso, metas clim\u00e1ticas ficaram em segundo plano.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto a Uni\u00e3o Europeia (UE) diminuiu suas compras de g\u00e1s russo em rea\u00e7\u00e3o \u00e0\u00a0invas\u00e3o da Ucr\u00e2nia, a demanda do bloco por g\u00e1s natural liquefeito (GNL) vem subindo a n\u00edveis jamais vistos.<\/p>\n\n\n\n

Os EUA s\u00e3o agora o maior exportador mundial de g\u00e1s natural, mas limites pol\u00edticos, econ\u00f4micos e t\u00e9cnicos impedem que o pa\u00eds possa correr ao resgate da Europa. Ainda que o setor esteja em plena expans\u00e3o, a falta de capacidade de exporta\u00e7\u00e3o continua sendo um gargalo para o abastecimento da Europa e do resto do mundo.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto isso, ambientalistas insistem que o r\u00e1pido crescimento das exporta\u00e7\u00f5es de GNL \u00e9 uma forma destrutiva de lidar com a crise energ\u00e9tica e apontam que existem outras solu\u00e7\u00f5es que poderiam contemplar o cumprimento das metas clim\u00e1ticas globais.<\/p>\n\n\n\n

“Este \u00e9 um caminho arriscado em termos de nossas necessidades energ\u00e9ticas e do nosso clima”, afirma Robin Schneider, diretora-executiva da ONG Campanha do Texas para o Meio Ambiente, sediada nos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

Crise energ\u00e9tica na Europa<\/h2>\n\n\n\n

Os pre\u00e7os do g\u00e1s natural dispararam desde que Moscou\u00a0restringiu o fluxo dos gasodutos\u00a0e\u00a0a UE passou a agir para diminuir sua depend\u00eancia do g\u00e1s russo.<\/p>\n\n\n\n

Os pre\u00e7os saltaram 25% na semana passada, quando a R\u00fassia anunciou que seu gasoduto Nord Stream 1 para a Alemanha forneceria\u00a0apenas 20% de sua capacidade normal. Em maio, o pa\u00eds j\u00e1 havia respondido \u00e0s san\u00e7\u00f5es europeias interrompendo completamente o fluxo de g\u00e1s para a Europa atrav\u00e9s do gasoduto Yamal.<\/p>\n\n\n\n

As na\u00e7\u00f5es europeias est\u00e3o se esfor\u00e7ando para armazenar g\u00e1s suficiente \u00e0 medida que o inverno se aproxima. H\u00e1 receio da imposi\u00e7\u00e3o de um\u00a0eventual racionamento\u00a0para o aquecimento de resid\u00eancias e o uso pela ind\u00fastria e empresas, al\u00e9m do temor de que a crise energ\u00e9tica possa provocar uma recess\u00e3o. O continente depende do g\u00e1s natural para o aquecimento dom\u00e9stico, bem como para a produ\u00e7\u00e3o de eletricidade e funcionamento da ind\u00fastria.<\/p>\n\n\n\n

V\u00e1rios pa\u00edses est\u00e3o adotando uma s\u00e9rie de iniciativas para ajudar as fam\u00edlias e as empresas a pagar a conta, como a Alemanha, que est\u00e1 aumentando os subs\u00eddios para os servi\u00e7os p\u00fablicos de g\u00e1s, e a Fran\u00e7a, que anunciou a estatiza\u00e7\u00e3o total da empresa de energia EDF.<\/p>\n\n\n\n

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Pa\u00edses como a Alemanha correm contra o tempo para construir terminais com o objetivo de receber g\u00e1s de fora da Europa<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

EUA ao resgate?<\/h2>\n\n\n\n

Os EUA solidificaram sua posi\u00e7\u00e3o como o maior exportador mundial de GNL no primeiro semestre de 2022, de acordo com a Administra\u00e7\u00e3o de Informa\u00e7\u00f5es sobre Energia dos EUA (EIA). A exporta\u00e7\u00e3o m\u00e9dia di\u00e1ria do pa\u00eds aumentou 12% nos \u00faltimos seis meses, para 11,2 bilh\u00f5es de p\u00e9s c\u00fabicos (bcf) por dia.<\/p>\n\n\n\n

Substituindo a \u00c1sia como o principal importador de GNL dos EUA, o Reino Unido e a UE receberam 71% dessas exporta\u00e7\u00f5es \u2013 e est\u00e3o pagando mais pelo combust\u00edvel. Pa\u00edses como o Brasil e Bangladesh n\u00e3o conseguem competir com a Europa na disputa pela compra. Alguns exportadores at\u00e9 quebraram contratos com pa\u00edses em desenvolvimento para redirecionar o combust\u00edvel para a Europa, obtendo lucros maiores apesar das penalidades.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com Eugene Kim, diretor de pesquisa da consultoria Wood Mackenzie, os EUA emergiram como um dos \u00fanicos fornecedores confi\u00e1veis de GNL. Consideradas \u00e1reas de potencial de crescimento antes da invas\u00e3o russa da Ucr\u00e2nia, as ind\u00fastrias de g\u00e1s da Austr\u00e1lia e da \u00c1frica Ocidental enfrentam problemas pol\u00edticos e econ\u00f4micos.<\/p>\n\n\n\n

“O Catar e a Am\u00e9rica do Norte s\u00e3o as \u00fanicas \u00e1reas que v\u00e3o crescer no fornecimento de GNL no futuro”, disse Kim \u00e0 DW. Mas os problemas log\u00edsticos em ambos os lados do Atl\u00e2ntico est\u00e3o limitando a capacidade de os EUA suprirem a demanda europeia.<\/p>\n\n\n\n

O presidente americano, Joe Biden, prometeu em mar\u00e7o exportar mais GNL para a Europa, mas o setor dos EUA j\u00e1 est\u00e1 no limite. Al\u00e9m disso, devido \u00e0 depend\u00eancia de oleodutos da R\u00fassia, grande parte da Europa carece de infraestrutura de importa\u00e7\u00e3o suficiente, mesmo que os EUA se mostrassem capazes de exportar mais GNL.<\/p>\n\n\n\n

No curto prazo, as exporta\u00e7\u00f5es de GNL a partir dos EUA devem cair significativamente devido a uma explos\u00e3o que danificou em junho o terminal Freeport LNG, no Texas, por onde passam 20% do g\u00e1s exportados pelos EUA. De qualquer forma, os EUA n\u00e3o tinham capacidade para abastecer a Europa mesmo antes do incidente na planta do Texas. “Antes da explos\u00e3o do Freeport LNG no in\u00edcio de junho, a exporta\u00e7\u00e3o de GNL dos EUA j\u00e1 estava atingindo a capacidade m\u00e1xima”, avaliou Kim.<\/p>\n\n\n\n

“Supondo que tudo esteja funcionamento nos conformes em 2023, ainda estaremos com volume m\u00e1ximo de 12 bcf por dia. N\u00e3o h\u00e1 nenhum novo projeto no curto prazo que possa aumentar substancialmente nossas exporta\u00e7\u00f5es de GNL”, acrescentou.<\/p>\n\n\n\n

A capacidade existente est\u00e1 em boa medida vinculada a contratos de longo prazo com na\u00e7\u00f5es n\u00e3o europeias, e a pr\u00f3xima rodada de constru\u00e7\u00e3o de infraestrutura de exporta\u00e7\u00e3o n\u00e3o deve estar pronta at\u00e9 2024 ou at\u00e9 mesmo depois. Ainda assim, Kim aponta que n\u00e3o haveria capacidade suficiente para abastecer a Europa.<\/p>\n\n\n\n

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A explos\u00e3o no terminal de Freeport afetou 20% das exporta\u00e7\u00f5es de g\u00e1s dos EUA<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Al\u00e9m das limita\u00e7\u00f5es de capacidade, grupos empresariais e de consumidores dos EUA est\u00e3o impacientes com os pre\u00e7os mais altos, puxados pelo aumento das exporta\u00e7\u00f5es de GNL dos EUA. Paul Cicio, diretor-executivo da associa\u00e7\u00e3o Industrial Energy Consumers of America, disse ao Wall Street Journal<\/em> que “o consumidor americano, a economia americana, a seguran\u00e7a nacional americana est\u00e3o em risco, a menos que mantenhamos estoques excedentes”.<\/p>\n\n\n\n

De fato, os pre\u00e7os subiram \u00e0 medida que o uso de ar-condicionado aumentou durante as recentes ondas de calor, contrariando a perda de demanda pela explos\u00e3o da instala\u00e7\u00e3o do Freeport, que manteve nos EUA g\u00e1s que seria destinado \u00e0 exporta\u00e7\u00e3o. A EIA informou recentemente que os estoques dos EUA est\u00e3o 12% abaixo da m\u00e9dia dos cinco anos anteriores para esta \u00e9poca do ano.<\/p>\n\n\n\n

Metas clim\u00e1ticas deixadas de lado<\/h2>\n\n\n\n

O g\u00e1s proveniente dos EUA tamb\u00e9m provoca oposi\u00e7\u00e3o de ambientalistas. Grupos de defesa do clima argumentam que a expans\u00e3o da infraestrutura de GNL necess\u00e1ria para aumentar as exporta\u00e7\u00f5es significa abandonar as metas de redu\u00e7\u00e3o das emiss\u00f5es de combust\u00edveis f\u00f3sseis.<\/p>\n\n\n\n

“Uma grande preocupa\u00e7\u00e3o \u00e9 que as empresas exportadoras de GNL est\u00e3o usando [a crise energ\u00e9tica da Europa] como desculpa para tentar apressar o licenciamento para a constru\u00e7\u00e3o de novos terminais de exporta\u00e7\u00e3o e tamb\u00e9m evitar leis de polui\u00e7\u00e3o do ar”, disse Schneider, da Campanha do Texas pelo Meio Ambiente.<\/p>\n\n\n\n

Os ativistas apontam que o GNL \u00e9 respons\u00e1vel por um ter\u00e7o das emiss\u00f5es de carbono dos EUA e quase metade das de metano. O Painel Intergovernamental sobre Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas da ONU (IPCC) rotula o metano, um g\u00e1s de efeito estufa especialmente potente liberado pelo processo de fracking, como um dos grandes vil\u00f5es da crise clim\u00e1tica.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, pesquisas mostram que os processos de extra\u00e7\u00e3o e liquefa\u00e7\u00e3o de g\u00e1s natural podem ser extremamente perigosos e poluentes. Al\u00e9m do metano, o fracking pode liberar produtos qu\u00edmicos cancer\u00edgenos e nocivos no ambiente ao redor das instala\u00e7\u00f5es. O processo de liquefa\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m est\u00e1 sujeito a inc\u00eandios e explos\u00f5es, como se viu nas instala\u00e7\u00f5es do\u00a0Freeport, no Texas.<\/p>\n\n\n\n

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Empresas de combust\u00edveis f\u00f3sseis est\u00e3o enquadrando o GNL como de baixa emiss\u00e3o de carbono, rotulando seus produtos como “g\u00e1s de origem respons\u00e1vel”<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Schneider disse \u00e0 DW que a explos\u00e3o do terminal de Freeport \u00e9 “um exemplo de por que tudo isso \u00e9 perigoso”. “Estamos assustados. Poderia ter sido muito pior.”<\/p>\n\n\n\n

Apesar dos riscos clim\u00e1ticos, a UE passou a incluir o g\u00e1s natural em sua lista de energias sustent\u00e1veis, e os exportadores de g\u00e1s dos EUA assinaram muitos contratos para atender parte da demanda europeia.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com Kim, houve uma mudan\u00e7a nas prioridades energ\u00e9ticas da Europa. “A transi\u00e7\u00e3o energ\u00e9tica costumava ser o tema dominante, mas agora a seguran\u00e7a energ\u00e9tica entrou em cena para substitu\u00ed-la.”<\/p>\n\n\n\n

Schneider avalia que a Europa poderia buscar um caminho mais limpo, investindo mais fortemente em energia renov\u00e1vel, por exemplo. As novas instala\u00e7\u00f5es de exporta\u00e7\u00e3o de GNL dos EUA n\u00e3o ajudariam a situa\u00e7\u00e3o por mais tr\u00eas anos, disse, acrescentando que a Europa poderia “usar esta crise para implementar a transi\u00e7\u00e3o para combust\u00edveis mais sustent\u00e1veis”.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"