{"id":179094,"date":"2022-08-16T18:29:42","date_gmt":"2022-08-16T21:29:42","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=179094"},"modified":"2022-08-16T18:29:45","modified_gmt":"2022-08-16T21:29:45","slug":"calor-pressiona-dependencia-de-energia-nuclear-na-franca","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/08\/16\/179094-calor-pressiona-dependencia-de-energia-nuclear-na-franca.html","title":{"rendered":"Calor pressiona depend\u00eancia de energia nuclear na Fran\u00e7a"},"content":{"rendered":"\n
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Altas temperaturas t\u00eam pressionado matriz energ\u00e9tica do pa\u00eds e levado \u00e0 flexibiliza\u00e7\u00e3o de regras ambientais. Ainda assim, dificuldades n\u00e3o despertam questionamentos sobre modelo nuclear franc\u00eas.<\/p>\n\n\n\n

Como outros pa\u00edses europeus, a Fran\u00e7a tem registrado temperaturas de at\u00e9 40 \u00b0C por v\u00e1rias semanas durante\u00a0o ver\u00e3o do hemisf\u00e9rio norte. Embora essas condi\u00e7\u00f5es estejam colocando os reatores nucleares franceses sob press\u00e3o, o pa\u00eds tem evitado debater sua estrat\u00e9gia energ\u00e9tica.<\/p>\n\n\n\n

As usinas nucleares normalmente geram mais de 70% da eletricidade na Fran\u00e7a \u2013 a porcentagem de participa\u00e7\u00e3o das fontes nucleares na matriz energ\u00e9tica do pa\u00eds \u00e9 a maior\u00a0entre todas as na\u00e7\u00f5es do mundo.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, mais da metade dos 56 reatores do pa\u00eds permanece fechada h\u00e1 v\u00e1rios meses para manuten\u00e7\u00e3o preventiva ou corretiva.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, nas atuais condi\u00e7\u00f5es, um quinto desses reatores deveria estar com as atividades interrompidas ou pelo menos reduzidas ao m\u00ednimo para impedir que a temperatura da \u00e1gua usada no resfriamento dos reatores n\u00e3o seja devolvida aos rios acima de um certo limite de temperatura. Mas o governo franc\u00eas suspendeu essa regra at\u00e9 pelo menos 11 de setembro, como forma de manter v\u00e1rias usinas em funcionamento.<\/p>\n\n\n\n

“Efeitos em toda a cadeia alimentar”<\/h2>\n\n\n\n

Para Jean-Pierre Delfau, ativista ambiental do grupo FNE86, essa foi uma decis\u00e3o exasperante.<\/p>\n\n\n\n

“Eu simplesmente n\u00e3o consigo entender como eles podem manter os reatores funcionando embora isso tenha um impacto desastroso no ecossistema”, disse Delfau \u00e0 DW, enquanto ele e dois outros ambientalistas atravessavam a grama alta na margem do rio Garonne para colher uma amostra de \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

O rio Garonne fornece \u00e1gua de resfriamento para a usina nuclear de Golfech, no sudoeste da Fran\u00e7a. Um dos dois reatores da usina est\u00e1 parado h\u00e1 meses, depois que as autoridades detectaram corros\u00e3o e pequenas rachaduras em tubula\u00e7\u00f5es da usina. O segundo reator ainda est\u00e1 funcionando.<\/p>\n\n\n\n

“Devido ao calor, a vaz\u00e3o de \u00e1gua do Garonne j\u00e1 caiu de v\u00e1rios milhares em tempos normais para 50 metros c\u00fabicos por segundo”, diz Delfau. “A usina Golfech piora o cen\u00e1rio ainda mais, pois utiliza 8 metros c\u00fabicos para seu sistema de refrigera\u00e7\u00e3o, mas s\u00f3 descarrega 6 metros c\u00fabicos de volta ao rio, pois parte da \u00e1gua evapora durante o processo”, apontou.<\/p>\n\n\n\n

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O ambientalista Jean-Pierre Delfau em frente \u00e0 usina nuclear de Golfech<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Ele acrescentou que os processos de resfriamento da usina aumentaram a temperatura da \u00e1gua do rio em 6 \u00b0C, o que tem provocado efeitos em toda a cadeia alimentar.<\/p>\n\n\n\n

“A \u00e1gua mais quente destr\u00f3i microalgas que servem de alimento para certos peixes pequenos, dos quais peixes maiores se alimentam”, explica Delfau, de 79 anos, que atua como ativista antinuclear h\u00e1 mais de 50 anos.<\/p>\n\n\n\n

“Al\u00e9m disso, a \u00e1gua mais quente cont\u00e9m mais bact\u00e9rias. Para torn\u00e1-la pot\u00e1vel, temos que adicionar muitos produtos qu\u00edmicos, que as pessoas depois bebem.”<\/p>\n\n\n\n

Sem crise existencial para a energia nuclear francesa<\/h2>\n\n\n\n

A empresa de energia EDF, que administra todas as usinas nucleares da Fran\u00e7a, recusou um pedido de entrevista da DW. Uma porta-voz respondeu por e-mail que a situa\u00e7\u00e3o atual \u00e9 “extraordin\u00e1ria” e que, at\u00e9 agora, sondas ambientais n\u00e3o revelaram nenhum impacto negativo sobre a flora e a fauna em torno dos reatores.<\/p>\n\n\n\n

Apesar das preocupa\u00e7\u00f5es ambientais, o cen\u00e1rio atual n\u00e3o est\u00e1 provocando uma crise existencial para a ind\u00fastria nuclear francesa. No momento, o governo est\u00e1 at\u00e9 mesmo planejando nacionalizar completamente a EDF e construir novas usinas nucleares.<\/p>\n\n\n\n

Esses planos despertam d\u00favidas em Anna Creti, diretora de economia clim\u00e1tica da Universidade de Paris Dauphine.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o est\u00e1 muito claro como essa estrat\u00e9gia deve funcionar em n\u00edvel tecnol\u00f3gico, especialmente a curto prazo”, disse ela \u00e0 DW.<\/p>\n\n\n\n

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\u00c1gua muito quente devolvida aos rios prejudica o equil\u00edbrio ecol\u00f3gico<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A tecnologia n\u00e3o est\u00e1 pronta<\/h2>\n\n\n\n

“A Fran\u00e7a est\u00e1 apostando nos chamados pequenos reatores modulares (SMR), para os quais existem cerca de 40 tecnologias diferentes, todas em fase de testes”, afirma Creti. “Prepar\u00e1-los para a implanta\u00e7\u00e3o pode levar at\u00e9 dez anos”, acrescenta.<\/p>\n\n\n\n

“O governo tamb\u00e9m planeja construir reatores de \u00e1gua pressurizada, os chamados reatores EPR \u2013 um modelo que enfrenta in\u00fameros problemas.”<\/p>\n\n\n\n

De acordo com as previs\u00f5es atuais, a primeira usina do tipo EPR do pa\u00eds dever\u00e1 entrar em funcionamento no pr\u00f3ximo ano em Flamanville, no norte do pa\u00eds. De acordo com a companhia EDF, os custos de constru\u00e7\u00e3o j\u00e1 passam de 13 bilh\u00f5es de euros.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 o Tribunal de Contas Europeu calcula que esse valor pode chegar a 19 bilh\u00f5es de euros \u2013 com a constru\u00e7\u00e3o levando dez anos acima do planejado. Outras usinas do tipo EPR no Reino Unido, China e Finl\u00e2ndia tamb\u00e9m registram problemas de constru\u00e7\u00e3o, design ou produ\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“No entanto, o governo destinou 150 bilh\u00f5es de euros para a reforma de usinas nucleares existentes e a constru\u00e7\u00e3o de novas”, relata Creti, acrescentando que ao mesmo tempo o governo n\u00e3o anunciou nenhuma nova facilidade de financiamento para formas de energias renov\u00e1veis, embora Paris esteja elaborando novas regras para reduzir a burocracia e favorecer a implanta\u00e7\u00e3o de fontes mais limpas.<\/p>\n\n\n\n

“Colocar mais dinheiro em energias renov\u00e1veis faria sentido, pois elas se tornaram mais baratas nos \u00faltimos anos, e sua tecnologia est\u00e1 suficientemente avan\u00e7ada para que possam ser implantadas imediatamente em todo o pa\u00eds”,  enfatiza a especialista.<\/p>\n\n\n\n

A Fran\u00e7a \u00e9 o \u00fanico pa\u00eds europeu que n\u00e3o atingiu suas metas de energias renov\u00e1veis da Uni\u00e3o Europeia (UE) para 2020. No momento, fontes de energias renov\u00e1veis representam apenas cerca de 19% da matriz do pa\u00eds, em vez dos 23% previstos.<\/p>\n\n\n\n

V\u00e1rias raz\u00f5es para a abordagem da Fran\u00e7a<\/h2>\n\n\n\n

Para Christian Egenhofer, pesquisador do Centro de Pesquisas para Pol\u00edticas Europeias, com sede em Bruxelas, a chamada autonomia estrat\u00e9gica da UE \u00e9 uma das raz\u00f5es pelas quais a Fran\u00e7a continua apostando na energia nuclear. No momento, a UE est\u00e1 visando a independ\u00eancia n\u00e3o apenas em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 defesa, mas tamb\u00e9m em quest\u00f5es energ\u00e9ticas.<\/p>\n\n\n\n

“Temos cerca de cem usinas nucleares na Europa. Precisamos de cientistas e engenheiros nucleares para cuidar de seu trabalho de manuten\u00e7\u00e3o \u2013 ou teremos que delegar essas tarefas para os Estados Unidos, China ou Coreia do Sul, o que levantaria questionamentos sobre seguran\u00e7a”, disse ele \u00e0 DW.<\/p>\n\n\n\n

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Usina nuclear de Flamanville<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Egenhofer acrescentou que a infraestrutura existente na Fran\u00e7a \u00e9, al\u00e9m disso, um obst\u00e1culo para uma implanta\u00e7\u00e3o maci\u00e7a de fontes renov\u00e1veis de energia.<\/p>\n\n\n\n

“A rede el\u00e9trica do pa\u00eds est\u00e1 centralizada em torno de Paris, onde a maior parte da eletricidade \u00e9 consumida. Toda a energia \u00e9 levada para l\u00e1 e depois redespachada para o resto do pa\u00eds. Isso n\u00e3o \u00e9 adequado para projetos descentralizados de energias renov\u00e1veis, e a adapta\u00e7\u00e3o da rede levar\u00e1 anos”, diz Egenhofer.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, ele acredita que a Fran\u00e7a deve adotar mais fontes de energias renov\u00e1veis a longo prazo.<\/p>\n\n\n\n

Escassez de energia prevista para o inverno<\/h2>\n\n\n\n

Philippe Mante tem esperan\u00e7a de que a Fran\u00e7a se volte mais para energias renov\u00e1veis no futuro. Ele \u00e9 o encarregado de assuntos clim\u00e1ticos do Partido Verde da Fran\u00e7a, que se op\u00f5e \u00e0 constru\u00e7\u00e3o de novas usinas nucleares. Por outro lado, para assegurar a seguran\u00e7a energ\u00e9tica, o partido n\u00e3o se mostra favor\u00e1vel no momento ao desmantelamento imediato das usinas de energia nuclear existentes.<\/p>\n\n\n\n

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Constru\u00e7\u00e3o do reator EPR na usina nuclear de Flamanville<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Mesmo os defensores da energia nuclear devem saber, dada a situa\u00e7\u00e3o atual, que precisamos implantar maci\u00e7a e imediatamente projetos de energia renov\u00e1vel”, disse ele em entrevista \u00e0 DW.<\/p>\n\n\n\n

Mas mesmo Mante tem pouca expectativa de que isso aconte\u00e7a imediatamente.<\/p>\n\n\n\n

“Acho que todos n\u00f3s devemos comprar rapidamente pul\u00f4veres mais quentes, j\u00e1 que \u00e9 prov\u00e1vel que enfrentemos escassez de eletricidade neste inverno”, disse.<\/p>\n\n\n\n

Os pa\u00edses vizinhos estar\u00e3o de olho. At\u00e9 agora, a Fran\u00e7a tem sido o maior exportador l\u00edquido de energia da Uni\u00e3o Europeia. Neste ano, entretanto, o pa\u00eds ter\u00e1 que importar mais eletricidade do que est\u00e1 exportando.<\/p>\n\n\n\n

Isso provavelmente adicionar\u00e1 ainda mais press\u00e3o aos pre\u00e7os da energia, que j\u00e1 enfrentam alta, devido, entre outras coisas, \u00e0 Guerra na Ucr\u00e2nia e \u00e0 redu\u00e7\u00e3o do fornecimento de g\u00e1s russo.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"