{"id":179240,"date":"2022-08-25T21:47:47","date_gmt":"2022-08-26T00:47:47","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=179240"},"modified":"2022-08-25T21:47:50","modified_gmt":"2022-08-26T00:47:50","slug":"amazonia-se-tornou-uma-terra-sem-lei-apontam-especialistas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/08\/25\/179240-amazonia-se-tornou-uma-terra-sem-lei-apontam-especialistas.html","title":{"rendered":"Amaz\u00f4nia se tornou uma terra sem lei, apontam especialistas"},"content":{"rendered":"\n
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Para entrevistados, assassinato de Phillips e Pereira exp\u00f5e aus\u00eancia do Estado na regi\u00e3o. Discurso e a\u00e7\u00f5es do governo Bolsonaro teriam agravado desmonte da fiscaliza\u00e7\u00e3o e estariam por tr\u00e1s de clima de “liberou geral”<\/p>\n\n\n\n

O desaparecimento e a\u00a0revela\u00e7\u00e3o posterior dos assassinatos\u00a0do jornalista brit\u00e2nico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira no Vale do Javari expuseram ao mundo a realidade de que a Amaz\u00f4nia, a maior floresta tropical do planeta, \u00e9 hoje uma terra sem lei, apontam especialistas ouvidos pela DW Brasil.<\/p>\n\n\n\n

“As regras que valem ali s\u00e3o as do crime organizado”, atesta o delegado da Pol\u00edcia Federal (PF) Alexandre Saraiva. “Ali atuam organiza\u00e7\u00f5es criminosas com apoio dos pol\u00edticos locais, estaduais, e tent\u00e1culos at\u00e9 nas altas esferas do governo brasileiro.”<\/p>\n\n\n\n

Saraiva conhece bem a regi\u00e3o. O delegado atuou em diferentes estados da Amaz\u00f4nia por dez anos, entre 2011 e 2021, quando deixou a chefia da Superintend\u00eancia da PF no Amazonas. Ele foi respons\u00e1vel por comandar a\u00a0maior apreens\u00e3o de madeira ilegal da hist\u00f3ria\u00a0do Brasil. Em dezembro de 2020, a opera\u00e7\u00e3o Handroanthus confiscou 226 mil metros c\u00fabicos de toras na divisa do Amazonas com o Par\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

O resultado expressivo da a\u00e7\u00e3o n\u00e3o rendeu elogios, mas repres\u00e1lias do governo federal. Ap\u00f3s o ent\u00e3o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ter se deslocado \u00e0 regi\u00e3o para prestar apoio aos madeireiros, o delegado apresentou not\u00edcia-crime contra Salles no Supremo Tribunal Federal (STF).<\/p>\n\n\n\n

Saraiva foi exonerado e afastado da Amaz\u00f4nia. Atualmente, ele est\u00e1 alocado em Volta Redonda, no Rio de Janeiro. Para o delegado da PF, as a\u00e7\u00f5es e discursos do governo sinalizam uma coniv\u00eancia com a atua\u00e7\u00e3o de grupos criminosos na regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00f3s t\u00ednhamos o Sistema de Documento de Origem Florestal (SISDOF), que monitorava o tr\u00e2nsito da madeira nativa pelo Brasil, e era p\u00fablico. Em maio do ano passado, foi retirado do ar e nunca mais voltou. \u00c9 a mesma coisa que tirar da PM a possibilidade de consultar o site do Detran para ver se um carro \u00e9 furtado ou n\u00e3o. Medidas como esta mostram que n\u00e3o existe nenhuma inten\u00e7\u00e3o de combater o crime na Amaz\u00f4nia”, afirma Saraiva.<\/p>\n\n\n\n

O fim da “ind\u00fastria da multa”<\/h2>\n\n\n\n

Ap\u00f3s prometer acabar com a “ind\u00fastria da multa” durante a campanha eleitoral, Bolsonaro desautorizou publicamente a\u00e7\u00f5es de combate ao crime ambiental na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

Em abril de 2019, primeiro ano de seu governo, o presidente desautorizou uma opera\u00e7\u00e3o do Ibama em andamento contra o roubo de madeira dentro da Floresta Nacional (Flona) do Jamari, em Rond\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o \u00e9 para queimar nada”, afirmou Bolsonaro, em refer\u00eancia \u00e0 destrui\u00e7\u00e3o de maquin\u00e1rio das atividades criminosas conduzidas por agentes do \u00f3rg\u00e3o. A medida, que tem previs\u00e3o legal, foi repetidamente criticada pelo presidente.<\/p>\n\n\n\n

Naquele mesmo ano, Bolsonaro insinuou que poderia repreender agentes que aplicassem esse tipo de pena contra infratores, durante encontro com garimpeiros.<\/p>\n\n\n\n

“Quem \u00e9 o cara do Ibama que est\u00e1 fazendo isso no estado l\u00e1?”, questionou o presidente. “Se me derem as informa\u00e7\u00f5es, eu tenho como\u2026”, disse, sem completar a frase.<\/p>\n\n\n\n

Clima de “liberou geral” na Amaz\u00f4nia<\/h2>\n\n\n\n

\u00c9 recorrente ouvir de agentes da fiscaliza\u00e7\u00e3o ambiental que os discursos do presidente da Rep\u00fablica criaram um clima de “liberou geral” na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c0s vezes, estamos 200 km dentro da mata e tem gente l\u00e1 dizendo que n\u00e3o dever\u00edamos estar l\u00e1 porque o presidente falou que iria acabar com a fiscaliza\u00e7\u00e3o”, relata Wallace Lopes, diretor da Associa\u00e7\u00e3o Nacional dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema Nacional).<\/p>\n\n\n\n

Na avalia\u00e7\u00e3o de Lopes, que \u00e9 servidor do Ibama desde 2009, o discurso antiambiental do governo \u00e9 um dos principais motivos para a\u00a0escalada do desmatamento na Amaz\u00f4nia desde 2019.<\/p>\n\n\n\n

“O que o presidente fala n\u00e3o muda a lei, mas as pessoas que est\u00e3o dentro da floresta n\u00e3o entendem dessa forma. Quando o presidente critica a atua\u00e7\u00e3o do Ibama dentro de um\u00a0garimpo, as pessoas l\u00e1 dentro sentem que t\u00eam apoio do presidente para praticar atividades irregulares. \u00c9 um incentivo”, diz.<\/p>\n\n\n\n

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