{"id":179413,"date":"2022-09-05T20:10:26","date_gmt":"2022-09-05T23:10:26","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=179413"},"modified":"2022-09-05T20:10:32","modified_gmt":"2022-09-05T23:10:32","slug":"por-que-preservar-mananciais-e-importante-para-a-seguranca-hidrica","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/09\/05\/179413-por-que-preservar-mananciais-e-importante-para-a-seguranca-hidrica.html","title":{"rendered":"Por que preservar mananciais \u00e9 importante para a seguran\u00e7a h\u00eddrica"},"content":{"rendered":"\n
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Sistema Cantareira na regi\u00e3o de Bragan\u00e7a Paulista, no interior de S\u00e3o Paulo (Foto: Fernando Stankuns\/Flickr)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Entre 23 de agosto e 1\u00ba de setembro, ocorreu a Semana Mundial da \u00c1gua de 2022, cujo tema central foi o papel da\u00a0\u00e1gua\u00a0sob diferentes perspectivas, como valora\u00e7\u00e3o, conhecimento tradicional e\u00a0direitos humanos. As \u00e1guas invis\u00edveis ou despercebidas, como as de aqu\u00edferos ou do solo, tamb\u00e9m foram foco do evento, na busca por solu\u00e7\u00f5es para os grandes desafios relacionados \u00e0 disponibilidade e \u00e0 qualidade de \u00e1gua, num momento em que as\u00a0crises h\u00eddricas\u00a0se tornam cada vez mais frequentes n\u00e3o apenas no Brasil, mas globalmente.<\/p>\n\n\n\n

Apenas neste ver\u00e3o no Hemisf\u00e9rio Norte os exemplos catastr\u00f3ficos s\u00e3o in\u00fameros. A seca na China, que reduziu o canal \u00famido de um dos maiores rios do mundo, o Yangtze, a cerca da metade de sua largura normal; a pior seca na Europa nos \u00faltimos 500 anos, assolando a metade do continente e afetando\u00a0produ\u00e7\u00e3o agr\u00edcola, abastecimento e gera\u00e7\u00e3o de\u00a0energia el\u00e9trica; e as secas extremas no M\u00e9xico, na Calif\u00f3rnia, no Texas, na Som\u00e1lia, na Eti\u00f3pia s\u00e3o indica\u00e7\u00f5es da urg\u00eancia de mudar a forma como o uso e manuten\u00e7\u00e3o dos recursos h\u00eddricos s\u00e3o pensados.<\/p>\n\n\n\n

Nesse contexto, as Solu\u00e7\u00f5es baseadas na Natureza (SbN) podem ser uma contribui\u00e7\u00e3o importante para a regula\u00e7\u00e3o h\u00eddrica, diminuindo os impactos de per\u00edodos de\u00a0estiagem\u00a0severa na disponibilidade de \u00e1gua. As SbN podem ser definidas como a gest\u00e3o e uso sustent\u00e1vel da natureza para enfrentar desafios como\u00a0mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, seguran\u00e7a h\u00eddrica e alimentar, prote\u00e7\u00e3o da\u00a0biodiversidade,\u00a0sa\u00fade humana\u00a0e gest\u00e3o de risco de desastres. Um exemplo \u00e9 a\u00a0 restaura\u00e7\u00e3o de \u00e1reas \u00famidas ou da vegeta\u00e7\u00e3o nativa, sobretudo em \u00e1reas estrat\u00e9gicas para a recarga de aqu\u00edferos e para prote\u00e7\u00e3o de nascentes e sistemas aqu\u00e1ticos em geral, que pode contribuir para a reten\u00e7\u00e3o da \u00e1gua na escala de bacia hidrogr\u00e1fica.<\/p>\n\n\n\n

Embora a\u00a0rela\u00e7\u00e3o entre a floresta e a disponibilidade h\u00eddrica\u00a0seja um tema muito discutido, gerando diversas hip\u00f3teses sobre como a cobertura vegetal pode impactar a quantidade e qualidade de \u00e1gua das bacias, estudos indicam a contribui\u00e7\u00e3o da vegeta\u00e7\u00e3o para a sa\u00fade dos corpos de \u00e1gua. A redistribui\u00e7\u00e3o de \u00e1gua da chuva dentro de uma bacia hidrogr\u00e1fica \u00e9 influenciada pela cobertura de vegeta\u00e7\u00e3o nativa e uso da terra, conforme ilustrado abaixo.<\/p>\n\n\n\n

Na\u00a0\u00e9poca de chuvas, a quantidade de \u00e1gua superficial, ou seja, em rios, riachos, lagos e outros corpos de \u00e1gua, tende a ser muito maior numa\u00a0bacia hidrogr\u00e1fica desmatada, e com maior risco de provocar eros\u00e3o e inunda\u00e7\u00f5es, em compara\u00e7\u00e3o com outra que mant\u00e9m sua floresta original. Por outro lado, na \u00e9poca de estiagem, o volume de \u00e1gua superficial tende a ser maior nos corpos de \u00e1gua da bacia com cobertura florestal, por\u00e9m escasso na bacia com supress\u00e3o da floresta.<\/p>\n\n\n\n

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Como as solu\u00e7\u00f5es baseadas na natureza, como a restaura\u00e7\u00e3o da vegeta\u00e7\u00e3o, contribuem para a manuten\u00e7\u00e3o das \u00e1guas dos rios. (Foto: The Nature Conservancy)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Isso acontece porque a cobertura florestal aumenta a intercepta\u00e7\u00e3o da \u00e1gua das chuvas, facilita a infiltra\u00e7\u00e3o dessa \u00e1gua no solo e diminui a velocidade do escoamento superficial, ou seja, da \u00e1gua que escorre na\u00a0superf\u00edcie do solo. Todos esses fatores contribuem para o armazenamento da \u00e1gua e sua libera\u00e7\u00e3o gradual no per\u00edodo de seca, num processo de regula\u00e7\u00e3o da vaz\u00e3o de rios.<\/p>\n\n\n\n

Assim, a \u00e1gua observada nos rios na \u00e9poca de estiagem \u00e9 na realidade \u00e1gua que foi retida no solo e nos aqu\u00edferos livres durante as chuvas. Numa bacia sem vegeta\u00e7\u00e3o, onde a maior parte da \u00e1gua precipitada foi escoada pela superf\u00edcie e o armazenamento de \u00e1gua n\u00e3o ocorreu ou foi m\u00ednimo, rios ou reservat\u00f3rios tendem a apresentar baixos n\u00edveis ou, em casos extremos, secam no per\u00edodo de estiagem.<\/p>\n\n\n\n

A escassez de \u00e1gua \u00e9 um problema que vem afetando todos os continentes e depende n\u00e3o apenas da disponibilidade de \u00e1gua numa regi\u00e3o num determinado momento. Os eventos clim\u00e1ticos extremos, a urbaniza\u00e7\u00e3o, o\u00a0desmatamento, a polui\u00e7\u00e3o das \u00e1guas e o crescimento populacional gerando aumento da demanda e consumo s\u00e3o as principais causas de escassez h\u00eddrica.<\/p>\n\n\n\n

O\u00a0relat\u00f3rio sobre mudan\u00e7as clim\u00e1ticas do IPCC (2022)\u00a0comenta que os eventos extremos ocorrer\u00e3o com maior frequ\u00eancia e o impacto sobre a \u00e1gua poder\u00e1 ser superior ao esperado, dado que haver\u00e1 menos tempo para recupera\u00e7\u00e3o dos mananciais, afetando n\u00e3o apenas as pessoas, mas tamb\u00e9m os sistemas produtivos e ecol\u00f3gicos.<\/p>\n\n\n\n

Segundo a Unesco (2021), o uso da \u00e1gua aumentou em seis vezes nos \u00faltimos 100 anos a uma taxa que supera mais de duas vezes a taxa de aumento populacional. Ainda que o Brasil apresente uma das maiores\u00a0reservas de \u00e1gua doce\u00a0do mundo, a demanda concentra-se em \u00e1reas de menor disponibilidade relativa. Aproximadamente 70% da \u00e1gua doce dispon\u00edvel no pa\u00eds se encontra na\u00a0bacia amaz\u00f4nica, onde menos de 5% da popula\u00e7\u00e3o est\u00e1 concentrada, ao passo que as cidades mais populosas est\u00e3o em bacias menores cujos mananciais enfrentam fortes press\u00f5es de ocupa\u00e7\u00e3o e s\u00e3o altamente dependentes das chuvas.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m do impacto no abastecimento humano, outro setor que vem sendo altamente afetado por eventos de escassez h\u00eddrica \u00e9 o el\u00e9trico. Segundo a Operadora Nacional do Sistema El\u00e9trico, nos \u00faltimos sete anos os reservat\u00f3rios das hidrel\u00e9tricas receberam um volume de \u00e1gua inferior \u00e0 m\u00e9dia hist\u00f3rica e, em 2021, registraram a pior m\u00e9dia mensal de toda a s\u00e9rie hist\u00f3rica de medi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Os subsistemas do Centro-Oeste e Sudeste, respons\u00e1veis por cerca de 70% da gera\u00e7\u00e3o de energia do pa\u00eds, atingiram n\u00edveis inferiores a 20% de sua capacidade de armazenamento nos \u00faltimos anos.<\/p>\n\n\n\n

Um caso emblem\u00e1tico foi a estiagem ocorrida de 2014 a 2015 no\u00a0Sistema Cantareira, que atende 7,5 milh\u00f5es de pessoas da\u00a0Regi\u00e3o Metropolitana de S\u00e3o Paulo\u00a0e cujas bacias hidrogr\u00e1ficas apresentam um alto grau de perda de sua vegeta\u00e7\u00e3o original. Essa estiagem resultou na redu\u00e7\u00e3o do n\u00edvel de \u00e1gua do reservat\u00f3rio para menos de 5% de sua capacidade e gerou a t\u00e3o mencionada crise h\u00eddrica em S\u00e3o Paulo.<\/p>\n\n\n\n

Dada a evid\u00eancia crescente de que eventos clim\u00e1ticos extremos imp\u00f5em um desafio de adapta\u00e7\u00e3o para cidades em todo o mundo, garantir seguran\u00e7a h\u00eddrica para o bem-estar das pessoas e para o desenvolvimento econ\u00f4mico torna-se cada vez mais urgente. As Solu\u00e7\u00f5es baseadas na Natureza podem contribuir para a seguran\u00e7a h\u00eddrica como medida complementar aos investimentos em infraestrutura convencional j\u00e1 realizados.<\/p>\n\n\n\n

Assim sendo, face a um problema complexo de gest\u00e3o territorial,\u00a0econ\u00f4mica,\u00a0social\u00a0e\u00a0pol\u00edtica, \u00e9 necess\u00e1ria a aloca\u00e7\u00e3o de investimentos em SbN nos processos de planejamento territorial das bacias hidrogr\u00e1ficas\u00a0 e de defini\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas p\u00fablicas e instrumentos de gest\u00e3o ambiental.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Galileu<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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