{"id":179504,"date":"2022-09-12T18:48:47","date_gmt":"2022-09-12T21:48:47","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=179504"},"modified":"2022-09-12T18:48:53","modified_gmt":"2022-09-12T21:48:53","slug":"microplastico-suspenso-no-ar-pode-favorecer-disseminacao-da-covid-19","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/09\/12\/179504-microplastico-suspenso-no-ar-pode-favorecer-disseminacao-da-covid-19.html","title":{"rendered":"Micropl\u00e1stico suspenso no ar pode favorecer dissemina\u00e7\u00e3o da Covid-19"},"content":{"rendered":"\n
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Dados sugerem que o SARS-CoV-2 se liga ao micropl\u00e1stico, o que facilitaria sua entrada no organismo humano (Foto: PIRO\/Pixabay)<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Existe uma correla\u00e7\u00e3o entre a quantidade de\u00a0micropl\u00e1stico\u00a0presente no ar e do v\u00edrus causador da\u00a0Covid-19. Pesquisadores da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP) coletaram amostras de ar nos arredores do Hospital das Cl\u00ednicas (HC) no in\u00edcio deste ano e observaram que os filtros com mais quantidade de micropl\u00e1stico tamb\u00e9m apresentavam uma carga maior de part\u00edculas gen\u00f4micas de\u00a0Sars-CoV-2.<\/p>\n\n\n\n

Os resultados do estudo,\u00a0publicado na revista\u00a0Environmental Pollution<\/em>, sugerem que o v\u00edrus pode se ligar ao micropl\u00e1stico suspenso no ar, o que facilitaria sua entrada no corpo humano.<\/p>\n\n\n\n

Para chegar a essa conclus\u00e3o, os pesquisadores dispuseram filtros para captar a\u00a0polui\u00e7\u00e3o\u00a0do ar em tr\u00eas locais pr\u00f3ximos ao maior hospital da Am\u00e9rica Latina (ambiente externo). Ao analisar as amostras, quantificaram as\u00a0part\u00edculas de RNA viral\u00a0e de polui\u00e7\u00e3o suspensas no ar.<\/p>\n\n\n\n

\u201cSabemos que o pl\u00e1stico \u00e9 um carreador de pat\u00f3genos e isso n\u00e3o \u00e9 diferente no caso do Sars-CoV-2. Esse material particulado em suspens\u00e3o atrai ou \u00e9 atra\u00eddo pelo v\u00edrus e eles podem permanecer \u2018grudados\u2019. Nosso estudo n\u00e3o demonstrou molecularmente essa aproxima\u00e7\u00e3o, mas provamos que existe uma correla\u00e7\u00e3o\u00a0matem\u00e1tica: onde tinha mais micropl\u00e1stico, tinha mais v\u00edrus\u201d, disse Thais Mauad , professora do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina (FM-USP) e coordenadora da investiga\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

O estudo foi desenvolvido durante o p\u00f3s-doutorado de Lu\u00eds Fernando Amato-Louren\u00e7o e recebeu financiamento da FAPESP por meio de dois projetos (19\/03397-5 e 19\/02898-0).<\/p>\n\n\n\n

Como explicam os pesquisadores, o micropl\u00e1stico \u00e9 gerado durante o longo processo de decomposi\u00e7\u00e3o do pl\u00e1stico, que pode durar mais de cem anos. Ao longo do tempo, micropart\u00edculas se desprendem de cortinas, m\u00f3veis ou qualquer outro objeto feito de pl\u00e1stico. Por serem muito pequenas, elas ficam em suspens\u00e3o no ar, onde podem se juntar a outras micropart\u00edculas (de polui\u00e7\u00e3o e pat\u00f3genos, por exemplo), podendo ser inaladas.<\/p>\n\n\n\n

Em trabalhos anteriores, o grupo j\u00e1 havia demonstrado que \u00e9 na superf\u00edcie pl\u00e1stica que os v\u00edrus duram mais tempo: 72 horas, no caso do Sars-CoV-2. \u201cO pat\u00f3geno causador da Covid-19 \u00e9 altamente transmiss\u00edvel. Nosso estudo sugere que part\u00edculas virais podem se ligar ao micropl\u00e1stico suspenso no ar, fazendo com que permane\u00e7a mais tempo vi\u00e1vel e, por consequ\u00eancia, tenha mais chance de entrar no corpo humano\u201d, explica Mauad.<\/p>\n\n\n\n

O material particulado encontrado no ar foi analisado em microsc\u00f3pio de fluoresc\u00eancia. A composi\u00e7\u00e3o polim\u00e9rica (diferentes tipos de pl\u00e1stico) foi caracterizada por microespectroscopia de infravermelho. E a carga viral foi quantificada por\u00a0teste de PCR\u00a0em tempo real \u2013 o mesmo usado no diagn\u00f3stico da Covid-19.<\/p>\n\n\n\n

Houve resultado positivo para Sars-CoV-2 em 22 das 38 amostras coletadas (57,8%) nos tr\u00eas locais pr\u00f3ximos ao Hospital das Cl\u00ednicas. O poli\u00e9ster foi o pol\u00edmero mais frequente, presente em 80% dos casos.<\/p>\n\n\n\n

Onipresente<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O grupo coordenado por Mauad tamb\u00e9m j\u00e1 havia demonstrado que, na capital paulista, h\u00e1 mais micropl\u00e1stico em suspens\u00e3o em ambientes fechados do que em locais abertos. O trabalho, publicado\u00a0no peri\u00f3dico\u00a0Science of The Total Environment<\/em>, foi o primeiro a investigar a quantidade, a composi\u00e7\u00e3o qu\u00edmica e as caracter\u00edsticas morfol\u00f3gicas de micropl\u00e1sticos no ar externo e interno na megacidade de S\u00e3o Paulo.<\/p>\n\n\n\n

Ao disponibilizar 20 coletas de ar na \u00e1rea externa da FM-USP (pr\u00f3xima \u00e0 movimentada avenida Dr. En\u00e9as Carvalho de Aguiar, na zona oeste da capital) e 20 amostras retiradas de escrit\u00f3rios no interior do edif\u00edcio, os pesquisadores constataram que havia maior concentra\u00e7\u00e3o de micropl\u00e1stico no ambiente interno do que no externo. Vale ressaltar, no entanto, que todas as amostras captadas tinham a presen\u00e7a desse material.<\/p>\n\n\n\n

Os pesquisadores tamb\u00e9m verificaram diferen\u00e7as na composi\u00e7\u00e3o das amostras retiradas nos dois ambientes: as fibras de poli\u00e9ster (100% das amostras), polietileno (59%) e polipropileno (26%) foram os pol\u00edmeros dominantes em ambientes internos. J\u00e1 nas \u00e1reas ao ar livre as mais presentes foram fibras de poli\u00e9ster (76%), polietileno (67%) e part\u00edculas de polietileno tereftalato (25%).<\/p>\n\n\n\n

\u201cEsse resultado j\u00e1 era esperado, pois estudos feitos em outras cidades j\u00e1 mostravam que existe pl\u00e1stico no ar e que ele \u00e9 mais comum nas \u00e1reas internas. Isso acontece porque vivemos em um mundo plastificado. H\u00e1\u00a0pl\u00e1stico\u00a0dentro de casa nas embalagens, nos m\u00f3veis, tapetes, cortinas e na roupa. Tudo \u00e9 sint\u00e9tico e \u00e9 nesses ambientes onde h\u00e1 menos ventila\u00e7\u00e3o\u201d, afirma Amato-Louren\u00e7o, atualmente pesquisador da Freie Universit\u00e4t em Berlim (Alemanha).<\/p>\n\n\n\n

Materiais pl\u00e1sticos s\u00e3o amplamente utilizados em todo o mundo. No entanto, a sua degrada\u00e7\u00e3o em fragmentos milim\u00e9tricos \u2013 os micropl\u00e1sticos \u2013 tornou-se uma amea\u00e7a ambiental global por contaminar o ar, o solo, os ecossistemas aqu\u00e1ticos e tamb\u00e9m a\u00a0sa\u00fade\u00a0humana.<\/p>\n\n\n\n

Mauad ressalta que os estudos sobre os efeitos do micropl\u00e1stico no organismo ainda s\u00e3o incipientes, pois uma das maiores dificuldades da pesquisa est\u00e1 em evitar o problema de contamina\u00e7\u00e3o das amostras. \u201cAinda estamos engatinhando nesse assunto. Como tem pl\u00e1stico no ar e em todo o lugar, \u00e9 preciso se certificar de que a amostra n\u00e3o est\u00e1 contaminada\u201d, conta.<\/p>\n\n\n\n

Pl\u00e1stico no pulm\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Em artigo publicado ano passado no\u00a0Journal of Hazardous Materials<\/em>, o grupo da FM-USP demonstrou de forma in\u00e9dita que\u00a0part\u00edculas de micropl\u00e1stico presentes no ar podem ser inaladas por humanos. Os cientistas identificaram e caracterizaram 33 part\u00edculas e quatro tipos de fibras de pol\u00edmeros em 13 de 20 amostras de tecido pulmonar.<\/p>\n\n\n\n

O estudo foi feito em colabora\u00e7\u00e3o com o Instituto de Qu\u00edmica da USP e o Instituto de Pesquisas Tecnol\u00f3gicas (IPT). \u201cConseguimos provar que existe pl\u00e1stico dentro do pulm\u00e3o. Estamos inalando pl\u00e1stico. Outros grupos j\u00e1 haviam encontrado micropl\u00e1stico no sangue e\u00a0na placenta. E, na natureza, tem sido observado pl\u00e1stico em aves marinhas, baleias e at\u00e9 nos locais mais profundos do oceano. O pl\u00e1stico est\u00e1 deixando de ser considerado um res\u00edduo e come\u00e7a a ser visto como um contaminante\u201d, afirma Amato-Louren\u00e7o.<\/p>\n\n\n\n

Outro ponto que precisa avan\u00e7ar, segundo Mauad, \u00e9 a cria\u00e7\u00e3o de \u00edndices que indiquem a partir de que n\u00edvel a inala\u00e7\u00e3o de micropl\u00e1stico pode ser danosa \u00e0 sa\u00fade humana.<\/p>\n\n\n\n

\u201cO micropl\u00e1stico tem um impacto muito grande na pr\u00f3pria Covid-19, como vimos mais recentemente. E n\u00f3s estamos inalando pl\u00e1stico. \u00c9 claro que isso traz consequ\u00eancias para a biologia das c\u00e9lulas pulmonares, pois se trata de um material persistente. Ele n\u00e3o degrada nem na natureza, nem no organismo. S\u00f3 que a gente n\u00e3o sabe ainda dizer exatamente qual a quantidade inalada \u00e9 perigosa para a sa\u00fade, nem quais os tipos de pl\u00e1stico representam maior risco\u201d, pontua a pesquisadora.<\/p>\n\n\n\n

A degrada\u00e7\u00e3o do pl\u00e1stico e a maneira como ele interage com outros compostos tamb\u00e9m tornam a an\u00e1lise toxicol\u00f3gica uma equa\u00e7\u00e3o complexa. \u201cO pl\u00e1stico degrada e vira um pol\u00edmero secund\u00e1rio, que vai ter um comportamento e uma composi\u00e7\u00e3o diferentes se est\u00e1 no solo, no ar, na \u00e1gua ou nos organismos. Ainda n\u00e3o sabemos se a quantidade encontrada representa muito ou pouco. Temos\u00a0tecnologia\u00a0para quantificar isso, mas ainda n\u00e3o sabemos o real impacto\u201d, afirma Mauad.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Galileu<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"