{"id":179609,"date":"2022-09-16T18:06:05","date_gmt":"2022-09-16T21:06:05","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=179609"},"modified":"2022-09-16T18:06:08","modified_gmt":"2022-09-16T21:06:08","slug":"desmatamento-ameaca-cultivo-milenar-de-mandioca-na-amazonia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/09\/16\/179609-desmatamento-ameaca-cultivo-milenar-de-mandioca-na-amazonia.html","title":{"rendered":"Desmatamento amea\u00e7a cultivo milenar de mandioca na Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"\n
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Casa de farinha na Amaz\u00f4nia \u2014 Foto: Nilmar Lage\/Greenpeace<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Quem navega pelas \u00e1guas do rio Manicor\u00e9, no sul do Amazonas, consegue sentir o cheiro defumado vindo da floresta densa que cerca o rio. Nas margens, \u00e9 poss\u00edvel ver canoas submersas na \u00e1gua, carregadas com mandioca descascada. Uma dessas canoas \u00e9 de Dona Eliane, moradora da floresta e produtora da tradicional farinha de mandioca da Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

“As mandiocas ficam fermentando a\u00ed [dentro da canoa submersa] por tr\u00eas dias. Depois, a gente tira elas do rio, traz ‘para cima’, amassa e deixa a massa secar, at\u00e9 passar na peneira e ser torrada”, explica J\u00e9ssica, filha de Dona Eliane, no topo do barranco entre o rio e a casa de madeira onde a fam\u00edlia vive.<\/p>\n\n\n\n

Trabalhando desde manh\u00e3 na casa de farinha, a poucos metros da resid\u00eancia da fam\u00edlia, Dona Eliane est\u00e1 envolta em uma fuma\u00e7a cinza, torrando gr\u00e3os de mandioca que se espalham sob um tacho preto de mais de um metro de di\u00e2metro aquecido por fogo \u00e0 lenha \u2013 da\u00ed o cheiro defumado.<\/p>\n\n\n\n

Todas as quinze comunidades ao longo do rio Manicor\u00e9 t\u00eam casas de farinha, constru\u00e7\u00f5es r\u00fasticas onde os ribeirinhos fazem o beneficiamento da mandioca e a produ\u00e7\u00e3o artesanal da farinha e dos demais subprodutos da mandioca, como o tucupi (caldo azedo usado na prepara\u00e7\u00e3o do tacac\u00e1), a goma de tapioca e o beiju.<\/p>\n\n\n\n

“Hoje eu j\u00e1 fiz beiju seco e p\u00e9 de moleque. Agora, estou terminando de torrar a farinha”, conta Dona Eliane.<\/p>\n\n\n\n

O p\u00e9 de moleque local n\u00e3o \u00e9 o mesmo doce de amendoim que \u00e9 comum nas regi\u00f5es Sul e Sudeste. No Amazonas, trata-se de uma massa salgada de mandioca feita com castanha e enrolada na folha de bananeira. J\u00e1 o beiju seco \u00e9 uma casquinha dura feita de farinha de mandioca.<\/p>\n\n\n\n

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Ribeirinhos deixam a mandioca descascada fermentando por tr\u00eas dias dentro do rio \u2014 Foto: Lais Modelli\/DW<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Formada por tradicionais extrativistas produtores do a\u00e7a\u00ed, a fam\u00edlia de Dona Eliane tem uma ro\u00e7a pequena de mandioca no meio da floresta somente para consumo pr\u00f3prio, diferente de outras casas de farinha espalhadas pelas quinze comunidades ribeirinhas do rio Manicor\u00e9.<\/p>\n\n\n\n

O engenheiro florestal Beto Mesquita, da Coaliz\u00e3o Brasil Clima, Florestas e Agricultura, uma iniciativa que re\u00fane 300 entidades que atuam em prol do uso sustent\u00e1vel das florestas, afirma que a mandioca \u00e9 a cultura agr\u00edcola mais importante para os povos amaz\u00f4nicos h\u00e1 milhares de anos.<\/p>\n\n\n\n

“Existe uma rela\u00e7\u00e3o cultural e social da mandioca com essas popula\u00e7\u00f5es associada a um fator important\u00edssimo, que \u00e9 a seguran\u00e7a alimentar”, explica Mesquita. “Da mandioca, eles fazem uma s\u00e9rie de alimentos, sendo que a farinha \u00e9 consumida diariamente com o peixe, pescado no ‘quintal’, fornecendo uma quantidade ideal de carboidrato e prote\u00edna.”<\/p>\n\n\n\n

Espalhadas por toda a Amaz\u00f4nia brasileira, as casas de farinha tamb\u00e9m s\u00e3o chamadas de “retiro” em algumas partes da floresta e de “casa de forno” no Par\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

Apesar da variedade de nomes, a edifica\u00e7\u00e3o costuma ter a mesma estrutura em toda a floresta: possui entre cinco e seis metros quadrados, n\u00e3o tem paredes e \u00e9 sustentada por pilares geralmente feitos da palmeira de tucum\u00e3. O ch\u00e3o \u00e9 de terra batida, e o telhado \u00e9 de palha.<\/p>\n\n\n\n

O saber aplicado nas casas de farinha e os repert\u00f3rios alimentares oriundos da mandioca \u2013 farinha, beiju, bolo, tapioca, tucupi etc. \u2013 foram desenvolvidos pelos povos ancestrais da Amaz\u00f4nia, afirma o antrop\u00f3logo da alimenta\u00e7\u00e3o Miguel Pican\u00e7o, refer\u00eancia nos estudos sociais das casas de farinha.<\/p>\n\n\n\n

“Se atentarmos para a arquitetura singular das casas de forno, tais como as palhas \u2013 oriundas das palmeiras nativas \u2013 que cobrem os tetos, assim como o ch\u00e3o batido e os utens\u00edlios que ‘habitam’ na casa: os tipitis (esp\u00e9cie de espremedor de palha tran\u00e7ada usado para escorrer e secar a mandioca), as peneiras, o forno, as canoas etc., vemos que a origem das casas de forno reside na cultura ancestral da floresta”, explica Pican\u00e7o.<\/p>\n\n\n\n

“As vidas nas Amaz\u00f4nias brasileiras s\u00e3o atravessadas pela cultura alimentar que deriva da mandioca, fortalecendo e garantindo a perman\u00eancia dos costumes alimentares, religiosos e econ\u00f4micos dos povos amaz\u00f4nidas”, continua o antrop\u00f3logo.<\/p>\n\n\n\n

Fator social<\/h2>\n\n\n\n

Na casa de farinha da fam\u00edlia de Raimunda, localizada a duas horas de voadeira (um barco veloz de pequeno porte) da casa de Dona Eliane, quase tudo o que \u00e9 produzido \u00e9 vendido em Manicor\u00e9, cidade mais pr\u00f3xima dali, a seis horas de barco \u2013 a regi\u00e3o n\u00e3o tem estradas; o transporte \u00e9 por rio, e a dist\u00e2ncia \u00e9 medida pelo tempo de viagem das embarca\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

“O saco com 80 kg de farinha, a gente tem vendido a R$ 180, mas, no come\u00e7o da safra, valia R$ 200. O pre\u00e7o vai variando”, conta Raimunda.<\/p>\n\n\n\n

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Produtor de mandioca carrega 80 kg de mandioca no paneiro. \u2014 Foto: Nilmar Lage\/Greenpeace<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A ribeirinha explica que s\u00e3o necess\u00e1rios tr\u00eas paneiros de mandioca para a fabrica\u00e7\u00e3o de um saco de farinha \u2013 paneiro \u00e9 um cesto de palha tran\u00e7ada capaz de armazenar at\u00e9 80 kg de mandioca; transportado nas costas, ele \u00e9 usado para levar a raiz da ro\u00e7a at\u00e9 a casa de farinha.<\/p>\n\n\n\n

O terreno onde a fam\u00edlia tem a casa de farinha e a ro\u00e7a de mandioca pertence ao sogro de Raimunda e vem sendo repassado de pai para filho h\u00e1 gera\u00e7\u00f5es. Toda a fam\u00edlia participa do plantio, colheita e produ\u00e7\u00e3o da farinha.<\/p>\n\n\n\n

“A gente planta a mandioca em setembro e volta para colher em maio e junho. Ficamos uns quatro meses aqui para fazer a farinha e depois voltamos para Barro Alto”, conta Weston, primo de Raimunda.<\/p>\n\n\n\n

Barro Alto \u00e9 o nome da comunidade onde a fam\u00edlia mora, localizada a um dia de voadeira da casa de farinha. Durante a safra da mandioca, tios, primos, filhos e irm\u00e3os se revezam no local para produzir a farinha. No dia da visita da DW Brasil, dez membros da fam\u00edlia trabalhavam na casa de farinha, enquanto as crian\u00e7as brincavam em volta.<\/p>\n\n\n\n

“Aprendi a mexer com a mandioca assim, brincando em volta da casa de farinha”, conta Raimunda.<\/p>\n\n\n\n

Apesar de trabalhar na casa de farinha do sogro, a fam\u00edlia de Raimunda tamb\u00e9m \u00e9 produtora de mandioca: dos cinco irm\u00e3os, quatro s\u00e3o mandiocultores. “Minha irm\u00e3 mais velha e o esposo foram trabalhar em Porto Velho. Tem gente aqui que vai para l\u00e1. Eu nunca quis sair da comunidade, nunca quis ir para a cidade”, diz a ribeirinha.<\/p>\n\n\n\n

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Weston, primo de Raimunda, faz a prensa da massa de mandioca. \u2014 Foto: Nilmar Lage\/Greenpeace<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Frequentar a casa de farinha, seja ela de uma \u00fanica fam\u00edlia ou comunit\u00e1ria, \u00e9 uma a\u00e7\u00e3o social. Ali se d\u00e3o as conversas, se conhece a comunidade, se criam as articula\u00e7\u00f5es locais. Fazer a farinha \u00e9 um trabalho comunit\u00e1rio que refor\u00e7a os la\u00e7os sociais”, afirma o engenheiro florestal Beto Mesquita.<\/p>\n\n\n\n

O antrop\u00f3logo Miguel Pican\u00e7o acrescenta que a casa de farinha \u00e9 um fator identit\u00e1rio aos povos ribeirinhos e ind\u00edgenas. “Ao mesmo tempo que as casas de farinha funcionam como linguagens das identidades coletivas dos povos amaz\u00f4nidas, tamb\u00e9m agu\u00e7am neles sentimentos de pertencimento a essas territorialidades amaz\u00f4nidas.”<\/p>\n\n\n\n

Lugar de resist\u00eancia<\/h2>\n\n\n\n

Em outra casa de farinha na regi\u00e3o do rio Manicor\u00e9, a uma hora da fam\u00edlia de Raimunda, uma fam\u00edlia tamb\u00e9m trabalha na produ\u00e7\u00e3o do item aliment\u00edcio. Diferente das safras passadas, neste ano a matriarca n\u00e3o quis ir at\u00e9 o local.<\/p>\n\n\n\n

“Mam\u00e3e est\u00e1 com medo dos madeireiros, ela n\u00e3o vem mais na casa de farinha desde que come\u00e7amos a ouvir o barulho das motosserras mais perto”, conta o filho, que, por seguran\u00e7a, n\u00e3o ser\u00e1 identificado.<\/p>\n\n\n\n

“A gente tem escutado eles derrubarem a mata nos \u00faltimos meses, a gente escuta a motosserra daqui. Nossos ca\u00e7adores reclamam que, com o barulho da motosserra, n\u00e3o conseguem ‘escutar a mata’ e isso espanta os bichos. Temos medo que eles venham aqui, tamb\u00e9m n\u00e3o gosto deles”, confirma a cunhada, que tamb\u00e9m n\u00e3o ser\u00e1 identificada.<\/p>\n\n\n\n

Por outro lado, tamb\u00e9m h\u00e1 jovens que abandonam as casas de farinha para trabalhar para os madeireiros e garimpeiros da regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Outro dia faltou farinha no com\u00e9rcio do meu sogro porque seus fornecedores tinham ido trabalhar no garimpo do rio Madeira. Ele foi at\u00e9 a casa de farinha deles e ouviu: ‘D\u00e1 muito trabalho fazer farinha. O ouro d\u00e1 mais dinheiro'”, conta uma moradora de Manicor\u00e9.<\/p>\n\n\n\n

“O desmatamento tem colocado os povos da floresta em risco de desaparecerem, amea\u00e7ando toda uma cultura e um modo de vida ancestral”, alerta Mesquita.<\/p>\n\n\n\n

O bi\u00f3logo Alessandro Alves Pereira, do Instituto Tecnol\u00f3gico Vale de Desenvolvimento Sustent\u00e1vel, afirma que tamb\u00e9m h\u00e1 casos em que ribeirinhos arrendam as terras para desmatadores implementarem \u00e1reas de monocultura.<\/p>\n\n\n\n

“A maior parte do desmatamento na Amaz\u00f4nia \u00e9 destinada \u00e0 cria\u00e7\u00e3o de pastagens ou implanta\u00e7\u00e3o de \u00e1reas de monocultivo, como a soja. Assim, o desmatamento est\u00e1 associado com o abandono da agricultura familiar pelos povos tradicionais, que passam a arrendar suas terras para outras finalidades. Isso ultimamente tem causado o abandono do cultivo de variedades tradicionais”, explica Alves Pereira.<\/p>\n\n\n\n

Diante desse cen\u00e1rio, para Pican\u00e7o, a perman\u00eancia das casas de farinha na Amaz\u00f4nia \u00e9 tamb\u00e9m um ato pol\u00edtico.<\/p>\n\n\n\n

“A casa de forno no contexto amaz\u00f4nida \u00e9, antes de tudo, um ato de resist\u00eancia ao agroneg\u00f3cio, \u00e0 grilagem das terras e a toda mazela que amea\u00e7a a vida da floresta e dos povos que nela vivem, ajudando a manter a floresta em p\u00e9”, afirma o antrop\u00f3logo.<\/p>\n\n\n\n

Saber popular<\/h2>\n\n\n\n

A professora da Universidade Federal do Oeste do Par\u00e1 Patr\u00edcia Chaves de Oliveira, especialista em recursos naturais da Amaz\u00f4nia, explica que a maneira como a mandioca \u00e9 manejada pelas popula\u00e7\u00f5es tradicionais tamb\u00e9m ajuda a preservar a floresta.<\/p>\n\n\n\n

“A cultura da mandioca \u00e9 feita pelos ribeirinhos em \u00e1reas pequenas, de um a cinco hectares, baseada na for\u00e7a de trabalho de uma fam\u00edlia ou comunidade”, diz Oliveira.<\/p>\n\n\n\n

Por meio de uma agricultura itinerante, os ribeirinhos nunca plantam no mesmo local mais de quatro ou cinco vezes seguidas.<\/p>\n\n\n\n

“A mandioca extrai muito pot\u00e1ssio da terra. Por isso, as fam\u00edlias ribeirinhas produtoras ficam, no m\u00e1ximo, cinco anos no mesmo solo. Depois, elas migram para uma nova \u00e1rea de mata, derrubam a floresta prim\u00e1ria, limpam o terreno com fogo, preparam a terra com a enxada e plantam a mandioca”, explica a especialista.<\/p>\n\n\n\n

Os mandiocultores retornam para a primeira ro\u00e7a somente depois que a floresta se regenera por completo, cerca de cinco anos depois.<\/p>\n\n\n\n

“Eles abandonam a \u00e1rea atual para deixar a terra descansar e voltam para a \u00e1rea inicial, onde cresceu a floresta secund\u00e1ria. Eles voltam e fazem o mesmo processo: derrubam as \u00e1rvores, limpam o terreno e plantam novamente ali.”<\/p>\n\n\n\n

Apesar de r\u00fastica, a t\u00e9cnica do pousio da terra, como \u00e9 chamada pelos ribeirinhos, tem sido eficiente ao longo da hist\u00f3ria da Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

“Os terrenos da Amaz\u00f4nia sustentam muito bem h\u00e1 s\u00e9culos esse tipo de t\u00e9cnica. Tem fam\u00edlias ribeirinhas que est\u00e3o ali desde a primeira bandeira seringueira, h\u00e1 200, 300 anos, e sempre nesse sistema de rota\u00e7\u00e3o dos ro\u00e7ados no meio da mata”, aponta Mesquita.<\/p>\n\n\n\n

Contudo, para Oliveira, faltam pol\u00edticas p\u00fablicas para apoiar e capacitar os ribeirinhos produtores da mandioca. “A Amaz\u00f4nia, rica em mandioca, n\u00e3o produz a f\u00e9cula, o polvilho. Temos que import\u00e1-lo da regi\u00e3o Sul, mesmo tendo a mandioca”, diz a professora.<\/p>\n\n\n\n

Oliveira tamb\u00e9m afirma que a t\u00e9cnica do pousio pode ser melhorada do ponto de vista ambiental e econ\u00f4mico se os ribeirinhos praticarem a rota\u00e7\u00e3o de cultura.<\/p>\n\n\n\n

“Os ribeirinhos s\u00e3o povos agroextrativistas que sobrevivem da extra\u00e7\u00e3o da castanha e plantam uma \u00fanica cultura, a mandioca. Eles precisam praticar a agricultura itinerante porque n\u00e3o fazem a rota\u00e7\u00e3o de culturas, t\u00e9cnica em que uma outra cultura \u00e9 plantada entre a safra da mandioca para repor os nutrientes do solo”, explica Oliveira.<\/p>\n\n\n\n

A professora defende que, com uma “atualiza\u00e7\u00e3o tecnol\u00f3gica, que melhore as condi\u00e7\u00f5es de trabalho desses povos, \u00e9 poss\u00edvel aumentar a sua produ\u00e7\u00e3o e adequ\u00e1-la ao mercado, valorizando o produto no mercado regional e internacional”.<\/p>\n\n\n\n

Mesquita tamb\u00e9m defende a participa\u00e7\u00e3o do governo no aumento da renda dos ribeirinhos com a produ\u00e7\u00e3o tradicional da farinha.<\/p>\n\n\n\n

“Cabe ao governo investir no sistema de aquisi\u00e7\u00e3o direta com os produtores locais, por meio dos programas de compra p\u00fablica da farinha dos ribeirinhos para a alimenta\u00e7\u00e3o escolar, nas merendas das escolas p\u00fablicas, por exemplo. Isso criaria uma economia circular local”, diz.<\/p>\n\n\n\n

O alimento de 9 mil anos<\/h2>\n\n\n\n

Estima-se que a mandioca foi domesticada na Amaz\u00f4nia brasileira pelos povos ind\u00edgenas ancestrais h\u00e1 pelo menos 9 mil anos, de acordo com Alves Pereira. O termo “domesticada” se refere aos saberes desenvolvidos pelos ind\u00edgenas para consumir a mandioca de maneira segura, uma vez que a raiz continha toxinas t\u00f3xicas.<\/p>\n\n\n\n

“Especula-se que a domestica\u00e7\u00e3o inicial da mandioca tenha sido para criar variedades menos t\u00f3xicas, chamadas hoje de mandioca mansa, de mesa, macaxeira ou aipim, e que pudessem ser consumidas ap\u00f3s processamento simples de descascar e cozinhar”, explica Alves Pereira.<\/p>\n\n\n\n

Inicialmente domesticada na regi\u00e3o em que hoje fica o estado de Rond\u00f4nia, estudos apontam que a dispers\u00e3o da mandioca para todo o resto da Amaz\u00f4nia provavelmente acompanhou as migra\u00e7\u00f5es ind\u00edgenas durante a pr\u00e9-hist\u00f3ria amaz\u00f4nica. Devido a seu f\u00e1cil cultivo, a planta se espalhou de maneira r\u00e1pida para as Am\u00e9ricas do Sul e Central.<\/p>\n\n\n\n

“A mandioca \u00e9 uma planta bem adaptada ao cultivo em \u00e1reas marginais com solos de baixa fertilidade, caracter\u00edsticos da maior parte da Amaz\u00f4nia. Al\u00e9m disso, ela pode ser consumida em uma grande variedade de formas”, diz o bi\u00f3logo.<\/p>\n\n\n\n

J\u00e1 a mandioca brava, tamb\u00e9m conhecida como venenosa ou amarga por ter toxinas letais, teria sido domesticada h\u00e1 cerca de 4 mil anos, quando os povos amaz\u00f4nicos pr\u00e9-hist\u00f3ricos desenvolveram t\u00e9cnicas como deixar a raiz de molho na \u00e1gua, ralar, torrar etc. \u2013 as mesmas t\u00e9cnicas usadas atualmente nas casas de farinha.<\/p>\n\n\n\n

Ap\u00f3s a chegada dos europeus nas Am\u00e9ricas, a planta foi levada para outras regi\u00f5es tropicais. “A mandioca \u00e9 o cultivo aliment\u00edcio originado na Amaz\u00f4nia mais importante no mundo. Estima-se que ela seja a principal fonte de energia para mais de 800 milh\u00f5es de pessoas”, afirma Alves Pereira.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: G1<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Todas as quinze comunidades ao longo do rio Manicor\u00e9 t\u00eam casas de farinha, constru\u00e7\u00f5es r\u00fasticas onde os ribeirinhos fazem o beneficiamento da mandioca. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":3,"featured_media":179610,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[4],"tags":[313,32,54],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/179609"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/3"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=179609"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/179609\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":179614,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/179609\/revisions\/179614"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/179610"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=179609"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=179609"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=179609"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}