{"id":179658,"date":"2022-09-19T18:09:05","date_gmt":"2022-09-19T21:09:05","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=179658"},"modified":"2022-09-19T18:09:13","modified_gmt":"2022-09-19T21:09:13","slug":"as-vesperas-de-discurso-de-bolsonaro-na-onu-amazonia-tem-alta-em-queimadas-e-desmatamento","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/09\/19\/179658-as-vesperas-de-discurso-de-bolsonaro-na-onu-amazonia-tem-alta-em-queimadas-e-desmatamento.html","title":{"rendered":"\u00c0s v\u00e9speras de discurso de Bolsonaro na ONU, Amaz\u00f4nia tem alta em queimadas e desmatamento"},"content":{"rendered":"\n
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EDUARDO MUNOZ-POOL\/GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Qual pa\u00eds do mundo tem uma pol\u00edtica de preserva\u00e7\u00e3o ambiental como a nossa? Os senhores est\u00e3o convidados a conhecer a nossa Amaz\u00f4nia”.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A pergunta seguida de convite foi feita diante de chefes de Estado do mundo todo pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) em seu discurso na Assembleia-Geral da Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas (ONU) no ano passado.<\/p>\n\n\n\n

A Amaz\u00f4nia fez parte de todos os tr\u00eas discursos de Bolsonaro na ONU e poder\u00e1 ser citada no pronunciamento deste ano, previsto para a ter\u00e7a-feira (20\/9).<\/p>\n\n\n\n

Bolsonaro dever\u00e1 chegar a Nova York na noite de segunda-feira (19\/9), ap\u00f3s\u00a0passar pelo funeral da Rainha Elizabeth 2\u00aa, em Londres. Como de praxe, o chefe de Estado brasileiro ser\u00e1 o primeiro a discursar na sess\u00e3o de debates da Assembleia-Geral da ONU.<\/p>\n\n\n\n

Mas no momento em que Bolsonaro se direcionar\u00e1 a l\u00edderes do mundo inteiro, os dados registram altas no n\u00famero de queimadas e no desmatamento da regi\u00e3o, colocando em xeque a ret\u00f3rica do governo.<\/p>\n\n\n\n

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Inpe indica que o n\u00famero de queimadas na Amaz\u00f4nia j\u00e1 \u00e9 o maior desde 2010 – MICHAEL DANTAS\/AFP VIA GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O sistema que monitora queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe) detectou 74,7 mil focos de inc\u00eandio no bioma amaz\u00f4nico entre 1\u00ba de janeiro ano e 17 de setembro deste ano (os dados s\u00e3o disponibilizados com um atraso de dois dias).<\/p>\n\n\n\n

Comparado ao mesmo per\u00edodo do ano passado, o aumento \u00e9 de 51%. Analisando a s\u00e9rie hist\u00f3rica, \u00e9 o maior n\u00famero de queimadas na Amaz\u00f4nia neste per\u00edodo desde 2010.<\/p>\n\n\n\n

A situa\u00e7\u00e3o \u00e9 t\u00e3o grave que, segundo portal G1, os sat\u00e9lites do Inpe registraram, no in\u00edcio de setembro, uma nuvem de fuma\u00e7a espalhada por uma \u00e1rea de 5 milh\u00f5es de quil\u00f4metros quadrados, o equivalente a 58% de toda a \u00e1rea do Brasil, que \u00e9 de 8,5 milh\u00f5es de quil\u00f4metros quadrados.<\/p>\n\n\n\n

Desmatamento em alta<\/h2>\n\n\n\n

No quesito desmatamento, o cen\u00e1rio tamb\u00e9m \u00e9 de alta. Segundo o sistema Prodes, do Inpe, que mede o desmatamento na Amaz\u00f4nia anualmente, nos tr\u00eas primeiros anos do governo Bolsonaro, a taxa de destrui\u00e7\u00e3o da floresta foi superior a 10 mil quil\u00f4metros por ano.<\/p>\n\n\n\n

No per\u00edodo compreendido entre agosto de 2020 e julho de 2021, o desmatamento acumulado chegou a 13 mil quil\u00f4metros quadrados, o equivalente a quase nove vezes a cidade de S\u00e3o Paulo.<\/p>\n\n\n\n

Em 2022, os dados mostram que a tend\u00eancia segue de alta. De acordo com o sistema de Detec\u00e7\u00e3o em Tempo Real (Deter), tamb\u00e9m do Inpe, foram desmatados 1,6 mil quil\u00f4metros de floresta na Amaz\u00f4nia em agosto deste ano, um aumento de 81% em rela\u00e7\u00e3o ao mesmo m\u00eas de 2022. \u00c9 a segunda maior taxa desde 2015.<\/p>\n\n\n\n

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Desmatamento tamb\u00e9m segue em alta na regi\u00e3o – MICHAEL DANTAS\/AFP VIA GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Al\u00e9m do aumento nas queimadas e no desmatamento, a gest\u00e3o Bolsonaro tamb\u00e9m \u00e9 marcada pelo apoio \u00e0s atividades do garimpo e a minera\u00e7\u00e3o em \u00e1reas hoje protegidas (o Executivo enviou um projeto de lei ao Congresso Nacional para regulamentar a minera\u00e7\u00e3o em terras ind\u00edgenas) e pelas dificuldades na cobran\u00e7a de multas ambientais.<\/p>\n\n\n\n

Durante sua campanha eleitoral, em 2018, Bolsonaro prometeu acabar com o que classificava como “ind\u00fastria da multa” na \u00e1rea ambiental.<\/p>\n\n\n\n

Em 2019, o governo promoveu mudan\u00e7as nas regras de fiscaliza\u00e7\u00e3o ambiental como a cria\u00e7\u00e3o de n\u00facleos de concilia\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

A partir de ent\u00e3o, os infratores ambientais tiveram a possibilidade de aguardar uma audi\u00eancia de concilia\u00e7\u00e3o com o Ibama antes de as multas passarem a valer, de fato.<\/p>\n\n\n\n

Ambientalistas criticaram a medida sob o argumento de que ela poderia atrasar a puni\u00e7\u00e3o a crimes ambientais e levar boa parte das multas \u00e0 prescri\u00e7\u00e3o, quando o Estado n\u00e3o tem mais condi\u00e7\u00f5es de cobrar a multa ou punir o infrator.<\/p>\n\n\n\n

O governo defendeu a medida alegando que ela aceleraria o recebimento de valores devidos e evitar a morosidade do processo burocr\u00e1tico.<\/p>\n\n\n\n

Em agosto deste ano, a BBC News Brasil publicou uma reportagem mostrando que R$ 300 milh\u00f5es em multas ambientais podem prescrever em 2022. Especialistas ouvidos alegam que a cria\u00e7\u00e3o dos n\u00facleos de concilia\u00e7\u00e3o pode ter rela\u00e7\u00e3o com esse n\u00famero.<\/p>\n\n\n\n

\u00c0 \u00e9poca, o Ibama n\u00e3o se manifestou sobre o assunto.<\/p>\n\n\n\n

Na semana passada, a BBC News Brasil tamb\u00e9m questionou o Ibama, os minist\u00e9rios do Meio Ambiente, a Presid\u00eancia e a Vice-Presid\u00eancia da Rep\u00fablica sobre a pol\u00edtica ambiental do pa\u00eds e os dados apresentados pelo Inpe, mas n\u00e3o houve resposta.<\/p>\n\n\n\n

Amaz\u00f4nia e soberania<\/h2>\n\n\n\n

O hist\u00f3rico dos discursos de Bolsonaro na ONU mostra que a Amaz\u00f4nia foi um dos temas mais fortemente mencionados por ele ao longo dos anos.<\/p>\n\n\n\n

No primeiro discurso, em 2019, o termo “Amaz\u00f4nia” apareceu seis vezes. O tom misturava a defesa da soberania nacional e da pol\u00edtica ambiental do pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

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Inpe detectou 74,7 mil focos de inc\u00eandio no bioma amaz\u00f4nico neste ano – MICHAEL DANTAS\/AFP VIA GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Na \u00e9poca, o Brasil vinha sendo alvo de cr\u00edticas da comunidade internacional por conta do aumento no n\u00famero de queimadas na regi\u00e3o. Em agosto daquele ano, o presidente franc\u00eas, Emmanuel Macron, fez uma postagem em seu perfil no Twitter com uma foto de queimada da Amaz\u00f4nia e dizendo: “Nossa casa est\u00e1 queimando. A floresta Amaz\u00f4nia”.<\/p>\n\n\n\n

Em seu discurso, Bolsonaro reagiu e chegou a dizer, sem apresentar evid\u00eancias, de que parte das queimadas seriam realizadas por povos ind\u00edgenas.<\/p>\n\n\n\n

Ele tamb\u00e9m Bolsonaro reconheceu que o Brasil tinha problemas, mas criticou o que classificou como “ataques sensacionalistas” movidos por um “esp\u00edrito colonialista”.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 uma fal\u00e1cia dizer que a Amaz\u00f4nia \u00e9 patrim\u00f4nio da humanidade e um equ\u00edvoco, como atestam os cientistas, afirmar que a nossa floresta \u00e9 o pulm\u00e3o do mundo. Valendo-se dessas fal\u00e1cias, um ou outro pa\u00eds, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da m\u00eddia e se portou de forma desrespeitosa, com esp\u00edrito colonialista”, disse Bolsonaro \u00e0 \u00e9poca.<\/p>\n\n\n\n

Em 2020, mesmo em meio \u00e0 pandemia de covid-19, a pauta ambiental tomou mais espa\u00e7o no discurso de Bolsonaro do que a pauta da sa\u00fade.<\/p>\n\n\n\n

O trecho dedicado inteiramente \u00e0 covid-19 teve 418 palavras. J\u00e1 o trecho sobre meio ambiente teve 518.<\/p>\n\n\n\n

Naquele ano, Bolsonaro voltou a atribuir parte das queimadas aos povos ind\u00edgenas e a rebater as cr\u00edticas de outros pa\u00edses \u00e0 pol\u00edtica ambiental brasileira.<\/p>\n\n\n\n

“Somos v\u00edtimas de uma das mais brutais campanhas de desinforma\u00e7\u00e3o sobre a Amaz\u00f4nia e o Pantanal. A Amaz\u00f4nia brasileira \u00e9 sabidamente riqu\u00edssima. Isso explica o apoio de institui\u00e7\u00f5es internacionais a essa campanha, escorada em interesses escusos que se unem a associa\u00e7\u00f5es brasileiras, aproveitadoras e impatri\u00f3ticas, com o objetivo de prejudicar o Governo e o pr\u00f3prio Brasil”, afirmou.<\/p>\n\n\n\n

Em 2021, a pauta ambientou tamb\u00e9m esteve presente no discurso de Bolsonaro, mas ficou em segundo plano. Foram apenas duas men\u00e7\u00f5es ao termo “Amaz\u00f4nia”.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m de defender a pol\u00edtica ambiental do governo, Bolsonaro enfatizou que 83% da matriz energ\u00e9tica do pa\u00eds \u00e9 de origem renov\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n

‘Calcanhar de Aquiles’ e ‘ant\u00eddoto’<\/h2>\n\n\n\n

Fontes do Itamaraty com quem a BBC News Brasil conversou avaliam que o desmatamento na Amaz\u00f4nia \u00e9, de fato, o “Calcanhar de Aquiles” da gest\u00e3o ambiental do governo brasileiro.<\/p>\n\n\n\n

Para contrabalancear e criar uma esp\u00e9cie de “ant\u00eddoto” discursivo, os diplomatas recomendaram que o presidente inclu\u00edsse em seu pronunciamento deste ano as realiza\u00e7\u00f5es na \u00e1rea ambiental de seu governo. Entre elas est\u00e1 a apresenta\u00e7\u00e3o da Contribui\u00e7\u00e3o Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil na Confer\u00eancia das Na\u00e7\u00f5es Unidas para o Clima de 2021, a COP26.<\/p>\n\n\n\n

O governo prometeu reduzir as emiss\u00f5es de gases do efeito estufa em 37% at\u00e9 2025 (tendo como base os dados de 2005), redu\u00e7\u00e3o de 43% at\u00e9 2030 e neutralidade nas emiss\u00f5es at\u00e9 2050. Diplomatas avaliam a meta brasileira como mais ousada do que a de alguns pa\u00edses desenvolvidos, como os Estados Unidos. Apesar disso, no Brasil, ela \u00e9 alvo de cr\u00edticas de ambientalistas.<\/p>\n\n\n\n

Eles ponderam que antes de anunciar a nova NDC, o governo fez uma revis\u00e3o t\u00e9cnica no total de emiss\u00f5es do pa\u00eds em 2005. Essa revis\u00e3o permitiria que o Brasil emitisse de 200 milh\u00f5es a 400 milh\u00f5es de toneladas a mais de g\u00e1s carb\u00f4nico at\u00e9 2030.<\/p>\n\n\n\n

Legado controverso<\/h2>\n\n\n\n

A ex-presidente do Ibama e atual especialista s\u00eanior em pol\u00edticas p\u00fablicas da organiza\u00e7\u00e3o n\u00e3o-governamental Observat\u00f3rio do Clima, Suely Ara\u00fajo, afirma que Bolsonaro chegar\u00e1 a Nova York com um legado de “implos\u00e3o completa da pol\u00edtica ambiental” do Brasil.<\/p>\n\n\n\n

“O governo Bolsonaro deixa um legado de implos\u00e3o completa da pol\u00edtica ambiental, praticamente desconstru\u00edram quarenta anos em quatro nesse campo de pol\u00edticas p\u00fablicas. Al\u00e9m de perderem o controle do desmatamento na Amaz\u00f4nia e nos outros biomas, estimularam invas\u00e3o de terras ind\u00edgenas, deram respaldo para o garimpo irregular, deslegitimaram os \u00f3rg\u00e3os ambientais e seus agentes”, disse.<\/p>\n\n\n\n

Na avalia\u00e7\u00e3o de Suely Ara\u00fajo, Bolsonaro ter\u00e1 dificuldade para convencer a comunidade internacional sobre o sucesso de sua pol\u00edtica ambiental.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 imposs\u00edvel convencer qualquer um de que o governo atual teve aten\u00e7\u00e3o com a Amaz\u00f4nia ou outros biomas […] A realidade \u00e9 de muita destrui\u00e7\u00e3o. Narrativas falsas e simulacros de a\u00e7\u00f5es governamentais t\u00eam chance zero de se sustentar junto \u00e0 comunidade internacional”, afirmou a especialista.<\/p>\n\n\n\n

A coordenadora de Pol\u00edtica e Direito do Instituto Socioambiental, Adriana Ramos, disse que Bolsonaro teria sido “coerente” em sua gest\u00e3o ambiental com aquilo que prometeu durante a campanha.<\/p>\n\n\n\n

“Estamos chegando ao fim do primeiro mandato de Bolsonaro com uma pol\u00edtica para a Amaz\u00f4nia coerente com tudo o que ele defendeu. Uma pol\u00edtica que n\u00e3o combateu a criminalidade, que negou o desmatamento, as queimadas e que teve a defesa de atividades ilegais como o garimpo”, avaliou Adriana Ramos.<\/p>\n\n\n\n

Assim como Suely Ara\u00fajo, Adriana Ramos diz que seria imposs\u00edvel convencer a comunidade internacional diante dos dados atuais da Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00e3o tem como defender a gest\u00e3o da Amaz\u00f4nia diante de tudo o que ele disse e dos dados que temos dispon\u00edveis. Ele nunca vai conseguir convencer a comunidade internacional de que cuidou bem da Amaz\u00f4nia”, disse.<\/p>\n\n\n\n

A BBC News Brasil enviou questionamentos sobre o assunto para os minist\u00e9rios do Meio Ambiente, das Rela\u00e7\u00f5es Internacionais, para a Presid\u00eancia e para Vice-Presid\u00eancia da Rep\u00fablica, mas nenhum deles respondeu.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"