{"id":179862,"date":"2022-09-29T19:07:41","date_gmt":"2022-09-29T22:07:41","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=179862"},"modified":"2022-09-29T19:07:46","modified_gmt":"2022-09-29T22:07:46","slug":"brasil-e-lider-em-mortes-de-ambientalistas-na-ultima-decada","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/09\/29\/179862-brasil-e-lider-em-mortes-de-ambientalistas-na-ultima-decada.html","title":{"rendered":"Brasil \u00e9 l\u00edder em mortes de ambientalistas na \u00faltima d\u00e9cada"},"content":{"rendered":"\n

O Brasil \u00e9 o l\u00edder em assassinatos de ambientalistas no mundo na \u00faltima d\u00e9cada. Das 1.733 mortes de defensores e defensoras do meio ambiente registradas no globo no per\u00edodo de 2012 a 2021,\u00a0342 ocorreram no pa\u00eds \u2212 quase 20% do total.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Os dados s\u00e3o da Global Witness, ONG sediada no Reino Unido que monitora a situa\u00e7\u00e3o de pessoas que s\u00e3o mortas por protegerem seus territ\u00f3rios e recursos naturais. O balan\u00e7o, divulgado nesta quinta-feira (29), faz parte do relat\u00f3rio anual publicado desde 2012.<\/p>\n\n\n\n

Segundo o levantamento,\u00a0mais de 85% dos assassinatos no per\u00edodo aconteceram na Amaz\u00f4nia<\/strong>. A maior parte das v\u00edtimas eram ind\u00edgenas ou negros.<\/p>\n\n\n\n

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Brigadistas do Ibama tentam controlar fotos de queimada durante inc\u00eandio na Amaz\u00f4nia, em Apu\u00ed, no estado do Amazonas (foto de setembro de 2021). \u2014 Foto: REUTERS\/Bruno Kelly\/File Photo\/File Photo\/File Photo<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Isso diz muito sobre a situa\u00e7\u00e3o dos defensores ambientais no Brasil, sobre a situa\u00e7\u00e3o de viol\u00eancia \u00e0 qual est\u00e3o expostos”, comenta Marina Comandulli, brasileira que integra a equipe da Global Witness, em entrevista \u00e0 DW Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Ao longo da d\u00e9cada, o aumento da press\u00e3o sobre os recursos naturais e o desmantelamento de institui\u00e7\u00f5es brasileiras que atuam na \u00e1rea de direitos humanos podem ter influenciado o pa\u00eds a obter essa triste marca internacional, acrescenta.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Depois do Brasil, Col\u00f4mbia (com 322 mortes), Filipinas (270) e M\u00e9xico (154) s\u00e3o os pa\u00edses considerados mais violentos para ambientalistas na \u00faltima d\u00e9cada.<\/p>\n\n\n\n

A situa\u00e7\u00e3o, no entanto, pode ser pior do que a relatada. “Os dados sobre assassinatos n\u00e3o captam a verdadeira escala do problema. Dentro de alguns pa\u00edses, a situa\u00e7\u00e3o dos defensores \u00e9 dif\u00edcil de avaliar, com restri\u00e7\u00f5es \u00e0 liberdade de imprensa e a falta de monitoramento independente que geralmente leva \u00e0 subnotifica\u00e7\u00e3o”, alerta a ONG.<\/p>\n\n\n\n

Tarefa que custa vidas no Brasil<\/h2>\n\n\n\n

No Brasil, a principal fonte de informa\u00e7\u00e3o \u00e9 a Comiss\u00e3o Pastoral da Terra (CPT). O \u00f3rg\u00e3o monitora a viol\u00eancia no campo h\u00e1 d\u00e9cadas e, desde 1985, divulga seu levantamento anual ao grande p\u00fablico.<\/p>\n\n\n\n

Ronilson Costa, da coordena\u00e7\u00e3o nacional da CPT, v\u00ea rela\u00e7\u00f5es da grave situa\u00e7\u00e3o brasileira com um contexto mais global. “A l\u00f3gica internacional da divis\u00e3o do trabalho colocou o pa\u00eds na posi\u00e7\u00e3o de um mero produtor de commodities, principalmente agr\u00edcolas e miner\u00e1rias. S\u00e3o setores que exigem cont\u00ednua expans\u00e3o de terras. E essa expans\u00e3o ocorre sobre territ\u00f3rios que j\u00e1 est\u00e3o ocupados h\u00e1 s\u00e9culos”, analisa Costa.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 em nome dessa disputa de terras que, de repente, comunidades tradicionais como ind\u00edgenas e quilombolas passam a ser seriamente amea\u00e7adas, como demonstram diversos casos coletados ao longo dos anos pela CPT.<\/p>\n\n\n\n

Entre eles est\u00e3o as mortes de Maria Jos\u00e9 Rodrigues, de 78 anos, e do filho, Jos\u00e9 do Carmo Correa Junior. Eles foram esmagados por uma palmeira derrubada por um trator enquanto coletavam coco de baba\u00e7u em Penalva, Maranh\u00e3o, em novembro de 2021<\/strong>. O tratorista desmatava uma \u00e1rea j\u00e1 assegurada para a comunidade tradicional, mas que sofria invas\u00e3o a mando de um fazendeiro que, conforme den\u00fancia dos moradores, pretendia plantar capim no terreno.<\/p>\n\n\n\n

“No geral, as comunidades resistem a essas invas\u00f5es porque veem seus modos de vida, a rela\u00e7\u00e3o com o meio ambiente e seus territ\u00f3rios amea\u00e7ados. \u00c9 terr\u00edvel pensar que seja t\u00e3o perigoso defender a terra, a vida, o meio ambiente, que isso se torna uma tarefa que custa a vida de algu\u00e9m”, lamenta Costa.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

O enfraquecimento pelo governo de Jair Bolsonaro dos \u00f3rg\u00e3os de fiscaliza\u00e7\u00e3o ambiental e defesa de direitos humanos nos \u00faltimos quatro anos, como Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conserva\u00e7\u00e3o da Biodiversidade (ICMBio) e Funda\u00e7\u00e3o Nacional do \u00cdndio (Funai), aponta a CPT, agravou o cen\u00e1rio.\u00a0“A aus\u00eancia do Estado virou um prato cheio para os criminosos”<\/strong>, adiciona.<\/p>\n\n\n\n

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ONGs elaboram diagn\u00f3stico sobre a criminalidade na Amaz\u00f4nia<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Am\u00e9rica Latina violenta<\/h2>\n\n\n\n

O relat\u00f3rio anual de 2021 mostra que o M\u00e9xico foi o pa\u00eds mais letal, com 54 mortes. Segundo o monitoramento, a viol\u00eancia tem aumentado na regi\u00e3o nos \u00faltimos anos com desaparecimentos for\u00e7ados e chacinas, principalmente vitimando popula\u00e7\u00f5es ind\u00edgenas.<\/p>\n\n\n\n

A Col\u00f4mbia, segunda colocada do ano passado, registrou 33 assassinatos e se manteve como um dos pa\u00edses mais violentos do globo na \u00faltima d\u00e9cada. O cen\u00e1rio persiste mesmo depois da assinatura do acordo de paz com as For\u00e7as Revolucion\u00e1rias da Col\u00f4mbia, Farc, em 2016, que p\u00f4s fim a 50 anos de conflitos.<\/p>\n\n\n\n

No Brasil, terceiro no ranking em 2021, os registros mostram aumento das mortes de 20 para 26 em rela\u00e7\u00e3o ao ano anterior.<\/p>\n\n\n\n

“A Am\u00e9rica Latina tem n\u00fameros assustadores. A regi\u00e3o \u00e9 respons\u00e1vel por tr\u00eas quartos dos n\u00fameros que comp\u00f5em o relat\u00f3rio. Isso mostra que \u00e9 uma regi\u00e3o problem\u00e1tica”, analisa Comandulli.<\/p><\/blockquote>\n\n\n\n

Dentre as hip\u00f3teses que poderiam explicar essa caracter\u00edstica, est\u00e3o o fato de que na regi\u00e3o, rica em recursos naturais, reservas de interesse de grandes empresas est\u00e3o em terras ind\u00edgenas, territ\u00f3rios ocupados por comunidades tradicionais e agricultores familiares.<\/p>\n\n\n\n

“N\u00f3s vemos que as empresas tentam expulsar essas pessoas. H\u00e1 ainda a corrup\u00e7\u00e3o nos pa\u00edses, em que empresas acabam se beneficiando por desenvolverem v\u00ednculos com pol\u00edticos. E, claro, a impunidade. Isso manda uma mensagem para os criminosos de que podem continuar atuando porque n\u00e3o tem puni\u00e7\u00e3o”, comenta Comandulli.<\/p>\n\n\n\n

Um levantamento da CPT ainda em fase de apura\u00e7\u00e3o mostra que, desde 1985, dos 1.536 assassinatos no campo registrados pela entidade, apenas 47 foram a julgamento. Desses, 39 mandantes e 139 executores foram condenados. “A impunidade \u00e9 um pr\u00eamio para executores”, lamenta Costa.<\/p>\n\n\n\n

Empresas devem adotar medidas<\/h2>\n\n\n\n

Para a Global Witness, empresas em todo o mundo devem agir para coibir as mortes e amea\u00e7as a defensores do meio ambiente<\/strong>. Dentre as recomenda\u00e7\u00f5es est\u00e3o a implementa\u00e7\u00e3o de mecanismos que previnam a viola\u00e7\u00e3o de direitos humanos e ambientais.<\/p>\n\n\n\n

“As pol\u00edticas das empresas devem incluir explicitamente protocolos para salvaguardar os direitos dos defensores da terra e do meio ambiente”, pontua o relat\u00f3rio.<\/p>\n\n\n\n

Nessa dire\u00e7\u00e3o, um projeto de lei em discuss\u00e3o na Uni\u00e3o Europeia (UE) quer que as companhias que atuam no continente sejam mais rigorosas ao avaliar os impactos de suas atividades nas pessoas e no planeta. Se aprovada, a legisla\u00e7\u00e3o exigir\u00e1 que as empresas operando na UE identifiquem e previnam tais viola\u00e7\u00f5es, com possibilidade de elas serem penalizadas pelos tribunais em caso de descumprimento.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: G1<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"