{"id":179988,"date":"2022-10-06T18:01:26","date_gmt":"2022-10-06T21:01:26","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=179988"},"modified":"2022-10-06T18:01:30","modified_gmt":"2022-10-06T21:01:30","slug":"indigenas-querem-bancada-da-terra-para-enfrentar-ruralistas","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/10\/06\/179988-indigenas-querem-bancada-da-terra-para-enfrentar-ruralistas.html","title":{"rendered":"Ind\u00edgenas querem Bancada da Terra para enfrentar ruralistas"},"content":{"rendered":"\n
\"\"<\/a><\/figure>\n\n\n\n

Ativistas ind\u00edgenas S\u00f4nia Guajajara e C\u00e9lia Xabriab\u00e1, eleitas para o Congresso, querem pautar demarca\u00e7\u00e3o de terras e frear avan\u00e7o da minera\u00e7\u00e3o, uma tarefa dif\u00edcil num parlamento com forte presen\u00e7a da extrema direita.<\/p>\n\n\n\n

“Vamos enfrentar, contrapor, passar de frente. Mesmo que um retrocesso seja aprovado na C\u00e2mara, n\u00e3o vai passar de gra\u00e7a. Vamos pintar o Congresso com a nossa for\u00e7a”, afirma a parlamentar eleita S\u00f4nia Guajajara, a primeira deputada federal ind\u00edgena (PSOL-SP) j\u00e1 eleita pelo estado de S\u00e3o Paulo. Ela garante que “toda e qualquer medida que represente retrocesso aos povos ind\u00edgenas e viole direitos” ter\u00e1 antes que passar pela resist\u00eancia da futura Bancada da Terra, no Congresso Nacional.<\/p>\n\n\n\n

“Vamos lutar ao som do marac\u00e1 [instrumento musical ind\u00edgena], com a for\u00e7a do cocar, com urucum e jenipapo [elementos naturais usados em pinturas corporais ind\u00edgenas]”, diz Guajajara, ativista ind\u00edgena na lista das cem pessoas mais influentes no mundo da revista Forbes<\/em> e que disputou em 2018 as elei\u00e7\u00f5es presidenciais como vice de Guilherme Boulos pelo PSOL.<\/p>\n\n\n\n

Guajajara foi eleita deputada federal com 156.963 votos, ao lado de C\u00e9lia Xakriab\u00e1 (PSOL-MG), primeira deputada federal ind\u00edgena eleita por Minas Gerais, com 101.154 votos. Juntas, Guajajara e Xabriab\u00e1 estreiam no Congresso com duas pautas priorit\u00e1rias: a defesa do meio ambiente e a retomada da demarca\u00e7\u00e3o de terras ind\u00edgenas que j\u00e1 t\u00eam estudo conclu\u00eddo.<\/p>\n\n\n\n

“Embora n\u00e3o sejamos nem 1% da popula\u00e7\u00e3o brasileira, somos 5% da popula\u00e7\u00e3o mundial que protege cerca de 80% da biodiversidade do planeta [dados da revista Nature<\/em>]. N\u00f3s apresentamos a solu\u00e7\u00e3o n\u00famero um para barrar a crise clim\u00e1tica. E se as pessoas est\u00e3o realmente preocupadas com a economia, o crime de ecoc\u00eddio vai custar muito mais caro para o Brasil e a humanidade”, afirma Xakriab\u00e1, mestre em desenvolvimento sustent\u00e1vel pela Universidade de Bras\u00edlia (UnB) e doutoranda em antropologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).<\/p>\n\n\n\n

Aldear a Pol\u00edtica<\/h2>\n\n\n\n

A chegada ao Congresso das duas ativistas pelos direitos dos povos ind\u00edgenas e tradicionais \u00e9 resultado do processo de mobiliza\u00e7\u00e3o e organiza\u00e7\u00e3o desses povos por mais representa\u00e7\u00e3o pol\u00edtica, diante de pautas cruciais que est\u00e3o sendo atacadas, comenta o assessor legislativo do Instituto Socioambiental (ISA), Kenzo Juc\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

O movimento denominado Aldear a Pol\u00edtica foi orquestrado por organiza\u00e7\u00f5es como a Articula\u00e7\u00e3o dos Povos Ind\u00edgenas do Brasil (Apib) para viabilizar a elei\u00e7\u00e3o de mais candidaturas ind\u00edgenas e implementar uma bancada em Bras\u00edlia. “A representa\u00e7\u00e3o ind\u00edgena \u00e9 mais do que urgente, \u00e9 uma quest\u00e3o de vida e resist\u00eancia num contexto em que est\u00e3o claros os interesses pela elimina\u00e7\u00e3o dos povos origin\u00e1rios por meio dos ataques aos seus territ\u00f3rios. \u00c9 uma articula\u00e7\u00e3o por uma repara\u00e7\u00e3o hist\u00f3rica que vem para romper com o avan\u00e7o do projeto genocida e de privil\u00e9gio de lucros e explora\u00e7\u00e3o da natureza em detrimento da vida”, afirma Kleber Karipuna, coordenador executivo da Apib.<\/p>\n\n\n\n

“A vit\u00f3ria ind\u00edgena \u00e9 um momento hist\u00f3rico. A democracia n\u00e3o \u00e9 ouvir a maioria, \u00e9 ouvir todos. A nossa luta \u00e9 um ‘quarto poder’. Vamos enfrentar a bancada ruralista. Os processos de luta mudam decis\u00f5es e podemos revert\u00ea-las”, diz Xakriab\u00e1 ao se referir a projetos de lei, como o PL 191\/20, sobre a minera\u00e7\u00e3o em terras ind\u00edgenas. <\/p>\n\n\n\n

Candidaturas de mulheres ind\u00edgenas aumentaram 189% em 2022, passando para 84. “Sempre quis representar melhor o meu povo nos espa\u00e7os de decis\u00e3o. A  nega\u00e7\u00e3o de direitos mostrou a necessidade de aumentarmos a representatividade dos povos ind\u00edgenas, como parte de um ideal coletivo”, explica Guajajara.<\/p>\n\n\n\n

Xakriab\u00e1 complementa: “\u00c9 contradit\u00f3rio ver que o Brasil come\u00e7ou por n\u00f3s, mas h\u00e1 uma aus\u00eancia hist\u00f3rica [nas decis\u00f5es], e precisamos superar essa d\u00edvida com os povos ind\u00edgenas”.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 preciso dar um basta a essa viol\u00eancia”<\/h2>\n\n\n\n

Em 2018, Jo\u00eania Wapichana (Rede-RR) teve uma conquista hist\u00f3rica como a primeira ind\u00edgena eleita para a C\u00e2mara dos Deputados. A advogada foi respons\u00e1vel por articular a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Ind\u00edgenas, com 237 parlamentares, como contraponto \u00e0 Frente Parlamentar da Agropecu\u00e1ria.<\/p>\n\n\n\n

Agora, as novas eleitas querem recompor a frente que representa os povos ind\u00edgenas para ser mais atuante e tamb\u00e9m pautar a forma\u00e7\u00e3o da Bancada da Terra, que, al\u00e9m de ind\u00edgenas, dever\u00e1 reunir representantes de grupos como Movimento dos Sem Terra (MST), Movimentos dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e ambientalistas, para se contrapor \u00e0 bancada ruralista.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 preciso dar um basta a essa viol\u00eancia contra a demarca\u00e7\u00e3o de terras ind\u00edgenas e a regulariza\u00e7\u00e3o fundi\u00e1ria, que provocam aumento de conflitos. Faremos frente \u00e0 qualquer proposta que preveja a minera\u00e7\u00e3o em terras ind\u00edgenas e vamos evidenciar as consequ\u00eancias dos garimpos. Queremos uma pol\u00edtica de prote\u00e7\u00e3o e fiscaliza\u00e7\u00e3o ambiental para garantir a seguran\u00e7a da popula\u00e7\u00e3o ind\u00edgena e das lideran\u00e7as nos seus territ\u00f3rios”, detalha Guajajara.<\/p>\n\n\n\n

Um s\u00e9rie de projetos na pauta de prioridade de setores e bancadas com alto n\u00famero de parlamentares, como a bancada ruralista, atacam direitos assegurados para os povos ind\u00edgenas. “Diante desses retrocessos, a elei\u00e7\u00e3o de duas deputadas do movimento ind\u00edgena d\u00e1 alento e perspectiva de que teremos capacidade de resist\u00eancia no Congresso, bem maior do que havia at\u00e9 ent\u00e3o. O trabalho conjunto com outras frentes parlamentares, como a da Agricultura Familiar e a Ambientalista, ser\u00e1 fortalecido”, projeta Juc\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

Para o assessor legislativo do ISA, a correla\u00e7\u00e3o de for\u00e7as n\u00e3o muda significativamente com a nova configura\u00e7\u00e3o do Congresso. “Entraram figuras novas que devem servir como animadores de bancada. \u00c9 um baixo clero que prega o retrocesso socioambiental, mas tem capacidade de influ\u00eancia reduzida por representar interesses ligados ao crime organizado e \u00e0\u00a0ilegalidade e que tem pend\u00eancias judiciais, como Salles [Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente do governo Bolsonaro e eleito deputado federal pelo Partido Liberal (PL)]”, opina. “E no Senado v\u00e3o mais fazer pol\u00edtica do que legislar.”<\/p>\n\n\n\n

Xakriab\u00e1 destaca que a futura Bancada da\u00a0Terra ir\u00e1 “assinar e n\u00e3o assassinar direitos, porque a caneta tem sido a arma do s\u00e9culo 21\u201d. “N\u00f3s estamos preparadas para reflorestar e mulherizar a pol\u00edtica. Vamos fazer do Sal\u00e3o Verde [da C\u00e2mara] um reflorestar da pol\u00edtica com nossos corpos, porque ali \u00e9 um sal\u00e3o verde desmatado. Nosso jeito de fazer pol\u00edtica \u00e9 inspirado na nossa sabedoria ancestral. N\u00e3o ser\u00e1 f\u00e1cil, mas para n\u00f3s, povos ind\u00edgenas que sabemos o que \u00e9 o Brasil de 522 anos, estamos mais que preparadas para estar neste lugar.”<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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