{"id":180286,"date":"2022-10-25T18:02:39","date_gmt":"2022-10-25T21:02:39","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=180286"},"modified":"2022-10-25T18:02:42","modified_gmt":"2022-10-25T21:02:42","slug":"os-segredos-revelados-pelas-ilhas-de-lixo-formadas-nos-oceanos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/10\/25\/180286-os-segredos-revelados-pelas-ilhas-de-lixo-formadas-nos-oceanos.html","title":{"rendered":"Os segredos revelados pelas ilhas de lixo formadas nos oceanos"},"content":{"rendered":"\n
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Boa parte do lixo que chega aos oceanos fica perto da costa e acaba sendo trazida de volta para terra – MLADEN ANTONOV\/AFP\/GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Reach Penaflor tem uma miss\u00e3o.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Desde 2009, ele trabalha em conjunto com o grupo River Warriors (“Guerreiros do Rio”, em tradu\u00e7\u00e3o livre), que se dedica a limpar os estu\u00e1rios que des\u00e1guam no rio Pasig, que atravessa a maior \u00e1rea urbana das Filipinas – a regi\u00e3o metropolitana da capital do pa\u00eds, Manila, conhecida pelos seus odores nocivos. Os cientistas afirmam que o Pasig \u00e9 o rio que mais contribui para a polui\u00e7\u00e3o do ambiente marinho.<\/p>\n\n\n\n

Quando a limpeza come\u00e7ou, havia tanto lixo s\u00f3lido na \u00e1gua que ele precisou ser removido manualmente. Mulheres volunt\u00e1rias percorriam as \u00e1guas polu\u00eddas, quase sem roupas de prote\u00e7\u00e3o, antes que pudesse come\u00e7ar a dragagem.<\/p>\n\n\n\n

“Elas precisavam cavar fundo para retirar as coisas, usando apenas luvas para sua prote\u00e7\u00e3o”, relembra Penaflor. “Eu decidi ir trabalhar com elas e s\u00f3 consegui por meio dia. N\u00e3o parava de me co\u00e7ar e n\u00e3o conseguia me livrar daquele mau cheiro.”<\/p>\n\n\n\n

Penaflor e seus colegas conhecem a reputa\u00e7\u00e3o duvidosa do rio Pasig e a tarefa herc\u00falea de tentar mudar essa situa\u00e7\u00e3o. As Filipinas s\u00e3o um dos maiores geradores de polui\u00e7\u00e3o marinha da \u00c1sia – e, de forma talvez surpreendente, a maior parte desse lixo acaba perto do litoral.<\/p>\n\n\n\n

Britta Denise Hardesty, principal cientista de pesquisa dos oceanos e da atmosfera da Organiza\u00e7\u00e3o de Pesquisa Industrial e Cient\u00edfica da Comunidade Brit\u00e2nica (CSIRO, na sigla em ingl\u00eas – o organismo nacional de pesquisa da Austr\u00e1lia), afirma que existem muitos conceitos err\u00f4neos envolvendo o lixo que vemos no oceano.<\/p>\n\n\n\n

Existem lugares onde podemos ver o lixo flutuando na nossa linha de vis\u00e3o, mas, em outros, as correntes oce\u00e2nicas podem carregar o material para o mar e fazer com que ele se acumule em sopas de pl\u00e1stico em locais distantes, como a Grande Mancha de Lixo do Pac\u00edfico, entre o Hava\u00ed e a costa oeste dos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

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Fragmentos pl\u00e1sticos que n\u00e3o chegam ao mar aberto podem boiar vagando por anos, servindo de abrigo para a vida marinha – ALAMY<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Muito j\u00e1 se falou sobre a Mancha do Pac\u00edfico, mas ela \u00e9 apenas um dos giros – correntes oce\u00e2nicas em circula\u00e7\u00e3o – que se movem ao longo dos oceanos do planeta em um c\u00edrculo sem fim.<\/p>\n\n\n\n

Os giros s\u00e3o parte de uma “esteira transportadora oce\u00e2nica” dirigida pelas correntes que se movem ao longo da superf\u00edcie dos oceanos, fluindo no sentido hor\u00e1rio, no norte, e anti-hor\u00e1rio, no sul. E, como as correntes tamb\u00e9m se comportam como imensas banheiras de hidromassagem, elas acabam empurrando fragmentos para mais perto do centro, onde podem acumular-se em concentra\u00e7\u00f5es mais altas, devido \u00e0 redu\u00e7\u00e3o da a\u00e7\u00e3o dos ventos e das ondas.<\/p>\n\n\n\n

Britta Baechler, gerente s\u00eanior de pesquisas sobre pl\u00e1sticos nos oceanos da organiza\u00e7\u00e3o ambiental Ocean Conservancy, afirma que “ao todo, existem cinco grandes giros oce\u00e2nicos”.<\/p>\n\n\n\n

“Todos os cinco giros s\u00e3o grandes sistemas de correntes oce\u00e2nicas circulares que acumulam objetos flutuantes, incluindo pl\u00e1sticos”, explica ela, mas “o Giro do Pac\u00edfico norte \u00e9 o giro oce\u00e2nico mais pesquisado e sabemos menos sobre os outros quatro”. Os outros giros ficam no Pac\u00edfico Sul, no Atl\u00e2ntico Norte e Sul e no Oceano \u00cdndico, al\u00e9m de diversos outros giros menores.<\/p>\n\n\n\n

“O que \u00e9 importante saber ou observar \u00e9 que a maior parte do pl\u00e1stico ou do lixo perdido no meio ambiente n\u00e3o vai para esses bols\u00f5es”, afirma Hardesty. “Ele n\u00e3o vai para o meio do oceano. A maioria dos nossos fragmentos, na verdade, fica presa na vegeta\u00e7\u00e3o litor\u00e2nea em terra.”<\/p>\n\n\n\n

De fato, a maior parte dos fragmentos que podem ser encontrados no oceano j\u00e1 est\u00e1 por l\u00e1. Pelo menos a metade vem de navios pesqueiros que entram e saem de \u00e1guas internacionais e inclui redes e equipamento de pesca perdido ou abandonado. Em seguida, vem o material que era transportado pelo oceano e acabou sendo perdido no mar.<\/p>\n\n\n\n

O Conselho Mundial de Transporte Mar\u00edtimo estima que, em m\u00e9dia, 1.382 cont\u00eaineres sejam perdidos todos os anos, devido a fortes ventos e mar\u00e9s altas. Mas esse n\u00famero pode ser muito maior, pois as perdas de cont\u00eaineres varridos dos navios somente s\u00e3o relatadas quando se sabe que eles est\u00e3o transportando materiais perigosos.<\/p>\n\n\n\n

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O pl\u00e1stico que fica \u00e0 deriva decomp\u00f5e-se em micropl\u00e1sticos menores, que j\u00e1 foram encontrados na areia da praia em todo o mundo – ALAMY<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Uma das perdas de cont\u00eaineres mais conhecidas do s\u00e9culo 20 envolveu mais de 29 mil brinquedos de banho, incluindo patos, tartarugas, sapos e castores de brinquedo, embarcados da China para os Estados Unidos em 1992. Esses patos depois chegaram ao notici\u00e1rio, quando come\u00e7aram a aparecer em praias nos Estados Unidos – e continuaram a ser encontrados por mais de duas d\u00e9cadas depois do incidente.<\/p>\n\n\n\n

Pode parecer que se trata de uma boa not\u00edcia, mas nem tudo \u00e9 positivo.<\/p>\n\n\n\n

Hardesty explica que, se existirem centenas de toneladas de lixo caminhando pelo oceano, outros produtos flutuantes podem ainda chegar \u00e0 zona do litoral, que se estende at\u00e9 cerca de 8 km da costa. E, dali, uma combina\u00e7\u00e3o de ventos, correntes e ondas pode destruir o lixo e levar os fragmentos at\u00e9 milhares de quil\u00f4metros de dist\u00e2ncia do seu ponto de origem.<\/p>\n\n\n\n

“Sabemos [por exemplo] que existem objetos que viajaram do Jap\u00e3o at\u00e9 a costa oeste dos Estados Unidos em menos de um ano depois que o tsunami [de 2011] carregou objetos grandes, como motocicletas e atracadouros flutuantes atrav\u00e9s do Oceano Pac\u00edfico em um ou dois anos”, relembra ela.<\/p>\n\n\n\n

S\u00e3o principalmente os objetos flutuantes levados pelas correntes oce\u00e2nicas que podem acabar fazendo parte da Grande Mancha de Lixo do Pac\u00edfico, que foi apresentada pela primeira vez pelo ocean\u00f3grafo americano Curtis Ebbesmeyer, em 1997. Ele passou d\u00e9cadas estudando e rastreando fragmentos no oceano, at\u00e9 descrever a mancha como um dos “pontos geol\u00f3gicos mais importantes” do planeta.<\/p>\n\n\n\n

Por que o pl\u00e1stico?<\/h2>\n\n\n\n

A polui\u00e7\u00e3o dos oceanos fez com que os giros se tornassem massas flutuantes em forma de sopa de micropl\u00e1sticos, resultantes da decomposi\u00e7\u00e3o f\u00edsica que come\u00e7a assim que o pl\u00e1stico escapa para o mar.<\/p>\n\n\n\n

Materiais org\u00e2nicos mais pesados, como madeira e metais, podem degradar-se ou afundar at\u00e9 o fundo do mar. Mas o pl\u00e1stico se decomp\u00f5e perto da superf\u00edcie, como rea\u00e7\u00e3o f\u00edsica \u00e0 abras\u00e3o, exposi\u00e7\u00e3o prolongada aos raios ultravioleta e degrada\u00e7\u00e3o pelo contato prolongado com a \u00e1gua.<\/p>\n\n\n\n

A decomposi\u00e7\u00e3o dos peda\u00e7os de pl\u00e1stico maiores em fragmentos ou peda\u00e7os menores, devido \u00e0 sua exposi\u00e7\u00e3o \u00e0s for\u00e7as f\u00edsicas, como o vento ou as ondas, cria os micropl\u00e1sticos que infestam nossos oceanos hoje em dia.<\/p>\n\n\n\n

Estudos demonstraram que esses peda\u00e7os podem medir menos de um ter\u00e7o de mil\u00edmetro e comp\u00f5em at\u00e9 60% dos fragmentos pl\u00e1sticos flutuantes no Giro do Pac\u00edfico Norte. Mas n\u00e3o se sabe exatamente quanto pl\u00e1stico acaba se acumulando no centro dos giros.<\/p>\n\n\n\n

Entre 2016 e 2017, a Funda\u00e7\u00e3o de Pesquisas Marinhas Algalita, com sede nos Estados Unidos, explorou o Pac\u00edfico Sul. Ela recolheu amostras do Giro Subtropical do Pac\u00edfico Sul e encontrou o que eles acreditavam serem altas concentra\u00e7\u00f5es de fragmentos pl\u00e1sticos, mas suas quantidades n\u00e3o foram reveladas.<\/p>\n\n\n\n

A funda\u00e7\u00e3o n\u00e3o tinha certeza se aquelas concentra\u00e7\u00f5es estavam acima dos n\u00edveis normais. Por isso, eles procuraram obter mais dados para estudar o que poderia ser um grande erro de estimativa da quantidade de pl\u00e1stico encontrada atualmente nos oceanos do planeta.<\/p>\n\n\n\n

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O lixo pl\u00e1stico pode ser perigoso para animais marinhos amea\u00e7ados, como as tartarugas – SEBNEM COSKUN\/ANADOLU AGENCY\/GETTY IMAGES<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Antes daquele estudo, em 2014, acreditava-se que os giros tivessem apenas 200 a 600 g de res\u00edduos pl\u00e1sticos por quil\u00f4metro quadrado. Mas, atualmente, Baechler afirma que “as pesquisas existentes indicam que outros giros podem acumular muito menos res\u00edduos pl\u00e1sticos em compara\u00e7\u00e3o com o Giro do Pac\u00edfico Norte”.<\/p>\n\n\n\n

Amostragens conclu\u00edram, por exemplo, que a quantidade m\u00e9dia de pl\u00e1stico no Giro do Pac\u00edfico Sul \u00e9 de 26.898 part\u00edculas por quil\u00f4metro quadrado. E, em m\u00e9dia, existem 20.328 itens por quil\u00f4metro quadrado no giro subtropical do Atl\u00e2ntico Norte, em compara\u00e7\u00e3o com mais de 700 mil part\u00edculas por quil\u00f4metro quadrado encontradas no Pac\u00edfico Norte.<\/p>\n\n\n\n

Enquanto o Programa Ambiental das Na\u00e7\u00f5es Unidas estima que existem hoje de 75 a 199 milh\u00f5es de toneladas de pl\u00e1stico nos oceanos, n\u00e3o h\u00e1 como ter certeza de quanto desse pl\u00e1stico est\u00e1 chegando aos giros, j\u00e1 que um grande percentual fica preso perto do litoral.<\/p>\n\n\n\n

Hardesty afirma que a quantidade de pl\u00e1stico encontrada nos oceanos vem acompanhando a produ\u00e7\u00e3o mundial de pl\u00e1stico e aumenta em 1,5 a 2% todos os anos.<\/p>\n\n\n\n

“Estamos encontrando cada vez mais pl\u00e1stico nos oceanos”, afirma ela. “E, como esses giros ou \u00e1reas de ac\u00famulo est\u00e3o onde os agregados de pl\u00e1stico est\u00e3o se reunindo, \u00e9 bem razo\u00e1vel observar, pensar e esperar que, sim, estamos vendo um aumento do pl\u00e1stico tamb\u00e9m nessas \u00e1reas de ac\u00famulo, os principais giros.”<\/p>\n\n\n\n

A superf\u00edcie desses giros de lixo pode ser uma vis\u00e3o desagrad\u00e1vel, mas o que mais preocupa os pesquisadores \u00e9 o que acontece embaixo.<\/p>\n\n\n\n

“Um estudo coletou amostras da superf\u00edcie do Giro do Pac\u00edfico Norte ao longo de um per\u00edodo de 22 anos (1986-2008) e concluiu que, apesar do aumento cont\u00ednuo da produ\u00e7\u00e3o e do descarte mundial de pl\u00e1stico, a concentra\u00e7\u00e3o de fragmentos de pl\u00e1stico naquela regi\u00e3o n\u00e3o havia aumentado”, afirma Baechler.<\/p>\n\n\n\n

“Isso pode ocorrer porque o pl\u00e1stico flutuante n\u00e3o fica na superf\u00edcie para sempre. Descobriu-se que os fragmentos de pl\u00e1stico flutuantes que se re\u00fanem no giro tamb\u00e9m afundam pela coluna de \u00e1gua, at\u00e9 o fundo do mar”, explica ela.<\/p>\n\n\n\n

\u00c0 medida que isso acontece, diversos estudos agora demonstram que esses pl\u00e1sticos est\u00e3o entrando no ecossistema marinho, onde n\u00e3o s\u00f3 s\u00e3o ingeridos, mas tamb\u00e9m inalados pelos animais, incluindo aves marinhas, peixes e tartarugas.<\/p>\n\n\n\n

‘Impactos imensos’<\/h2>\n\n\n\n

Pl\u00e1sticos vagueando pelos oceanos que n\u00e3o se decomp\u00f5em tamb\u00e9m t\u00eam a capacidade de viajar pelo mundo como os patos de brinquedo. E tamb\u00e9m permitem que micr\u00f3bios e outros organismos marinhos movam-se de uma regi\u00e3o para outra, inadvertidamente transportando esp\u00e9cies para regi\u00f5es onde podem tornar-se invasoras.<\/p>\n\n\n\n

Existem tamb\u00e9m as amea\u00e7as representadas pelas redes de pesca perdidas, que podem capturar a vida marinha.<\/p>\n\n\n\n

“Diversos objetos causam danos enormes \u00e0 vida selvagem”, afirma Hardesty. “Pl\u00e1sticos moles s\u00e3o facilmente ingeridos pelos animais e t\u00eam imenso impacto negativo sobre os mam\u00edferos marinhos, aves mar\u00edtimas e tartarugas.”<\/p>\n\n\n\n

“Mas as redes de pesca perdidas ou abandonadas s\u00e3o realmente problem\u00e1ticas, porque elas capturam a vida selvagem e continuam pescando indiscriminadamente. Os animais nadam para essas redes perdidas, ficam presos e morrem”, acrescenta ela. E, como os fragmentos agora est\u00e3o muito interligados \u00e0 vida marinha, \u00e9 dif\u00edcil remov\u00ea-los dos giros.<\/p>\n\n\n\n

“Limpar o lixo pl\u00e1stico diretamente do Giro do Pac\u00edfico Norte \u00e9 uma tarefa muito dif\u00edcil”, segundo Baechler. “O mais r\u00e1pido e econ\u00f4mico \u00e9 reduzir ou remover o fluxo de lixo [na fonte, em terra] bem antes que ele atinja o oceano e entre nos giros.”<\/p>\n\n\n\n

Isso aumenta a import\u00e2ncia do trabalho de Reach Penaflor e seus Guerreiros do Rio, al\u00e9m da organiza\u00e7\u00e3o Ocean Conservancy, de Baechler.<\/p>\n\n\n\n

“Embora seja dif\u00edcil medir diretamente o impacto dos nossos esfor\u00e7os em terra sobre a quantidade de pl\u00e1stico em alto mar e, mais especificamente, nos giros, o que sabemos \u00e9 que a redu\u00e7\u00e3o da polui\u00e7\u00e3o pl\u00e1stica no litoral e em terra significa que menos polui\u00e7\u00e3o est\u00e1 atingindo nossos cursos d’\u00e1gua e, por fim, entrando no oceano”, conclui Baechler.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"