{"id":180549,"date":"2022-11-08T18:33:20","date_gmt":"2022-11-08T21:33:20","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=180549"},"modified":"2022-11-08T18:33:27","modified_gmt":"2022-11-08T21:33:27","slug":"mudancas-climaticas-as-dramaticas-fotos-de-cidade-devastada-pelo-aumento-do-nivel-do-mar","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/11\/08\/180549-mudancas-climaticas-as-dramaticas-fotos-de-cidade-devastada-pelo-aumento-do-nivel-do-mar.html","title":{"rendered":"Mudan\u00e7as clim\u00e1ticas: as dram\u00e1ticas fotos de cidade devastada pelo aumento do n\u00edvel do mar"},"content":{"rendered":"\n
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Na cidade de Chittagong, em Bangladesh, os efeitos do aumento do n\u00edvel do mar j\u00e1 s\u00e3o evidentes – JASHIM SALAM<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

A localiza\u00e7\u00e3o geogr\u00e1fica e a topografia fazem de Bangladesh um dos pa\u00edses mais propensos a inunda\u00e7\u00f5es do mundo.<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Isso tamb\u00e9m significa que o pa\u00eds \u00e9 particularmente vulner\u00e1vel ao aumento do n\u00edvel dos mares, uma das consequ\u00eancias mais graves das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas.<\/p>\n\n\n\n

Para milh\u00f5es de habitantes do pa\u00eds, o avan\u00e7o do oceano j\u00e1 \u00e9 uma realidade.<\/p>\n\n\n\n

Jashim Salam viu inunda\u00e7\u00f5es durante toda a sua vida, mas o que o fot\u00f3grafo independente estava testemunhando em 2009 parecia estranhamente diferente.<\/p>\n\n\n\n

As \u00e1guas invadindo Chaktai, o bairro da cidade de Chittagong em que ele nasceu e cresceu, continuaram subindo mesmo depois que a chuva passou.<\/p>\n\n\n\n

“Est\u00e1vamos acostumados a inunda\u00e7\u00f5es provocadas por fortes chuvas ou furac\u00f5es”, diz Salam \u00e0 BBC.<\/p>\n\n\n\n

“Mas, naquele dia, vi muitas casas sendo inundadas e n\u00e3o havia chuva \u2014 o sol estava brilhando.”<\/p>\n\n\n\n

A inunda\u00e7\u00e3o havia sido causada por uma ressaca da mar\u00e9 nas \u00e1guas da Ba\u00eda de Bengala, e a costa de Chittagong, um dos portos mais antigos do mundo, estava particularmente em risco.<\/p>\n\n\n\n

Com a c\u00e2mera na m\u00e3o, Salam come\u00e7ou a tirar fotos da situa\u00e7\u00e3o nas ruas de Chaktai.<\/p>\n\n\n\n

Pa\u00eds de baixa altitude<\/h2>\n\n\n\n

Documentar o aumento das \u00e1guas consumiria muito mais tempo de Salam: as inunda\u00e7\u00f5es eram um sinal de que o aumento do n\u00edvel do mar estava se tornando uma preocupa\u00e7\u00e3o constante para Chittagong e o resto de Bangladesh.<\/p>\n\n\n\n

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Entre junho e outubro, Chittagong costuma enfrentar inunda\u00e7\u00f5es duas vezes por dia – JASHIM SALAM<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Bangladesh \u00e9 um pa\u00eds de baixa altitude, o que significa que a maior parte de suas terras est\u00e1 pr\u00f3xima ou at\u00e9 mesmo abaixo do n\u00edvel do mar.<\/p>\n\n\n\n

Isso o torna particularmente vulner\u00e1vel ao processo no qual as temperaturas globais mais quentes provocam um aumento no n\u00edvel do mar ao adicionar \u00e1gua do derretimento das camadas de gelo e geleiras, e pela expans\u00e3o da \u00e1gua do mar \u00e0 medida que esquenta.<\/p>\n\n\n\n

No caso de Chittagong, h\u00e1 um complicador a mais: a cidade costeira est\u00e1 afundando.<\/p>\n\n\n\n

Cidades afundando<\/h2>\n\n\n\n

Em mar\u00e7o deste ano, a revista Geophysical Research Letters publicou uma an\u00e1lise de dados de sat\u00e9lite de 99 cidades costeiras ao redor do mundo.<\/p>\n\n\n\n

Os pesquisadores calcularam o quanto essas cidades foram afetadas pela chamada subsid\u00eancia de terras \u2014 um processo no qual a terra se assenta e compacta por conta de atividades como extra\u00e7\u00e3o de \u00e1gua subterr\u00e2nea, que est\u00e1 ligada ao crescimento populacional e \u00e0 r\u00e1pida urbaniza\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Eles descobriram que 33 cidades afundaram mais de um cent\u00edmetro por ano entre 2015 e 2020, cinco vezes a taxa global de aumento do n\u00edvel do mar estimada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas da ONU (IPCC, na sigla em ingl\u00eas).<\/p>\n\n\n\n

Chittagong est\u00e1 entre as 10 primeiras da lista.<\/p>\n\n\n\n

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‘As pessoas basicamente tiveram que aprender a conviver com o aumento das \u00e1guas. Voc\u00ea evita ao m\u00e1ximo sair na mar\u00e9 alta’, explica Salam – JASHIM SALAM<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Os pesquisadores observaram que “a subsid\u00eancia mais r\u00e1pida” estava ocorrendo no sul, sudeste e leste da \u00c1sia. \u00c9 uma realidade que j\u00e1\u00a0causou um problema grave na Indon\u00e9sia: devido aos altos n\u00edveis de subsid\u00eancia de terras, Jacarta deve ser substitu\u00edda como capital do pa\u00eds por uma nova constru\u00edda do zero em uma ilha diferente, a 1.300 quil\u00f4metros de dist\u00e2ncia.<\/p>\n\n\n\n

“Chittagong \u00e9 conhecida como a capital financeira de Bangladesh. H\u00e1 mais de 1,2 mil empresas da ind\u00fastria pesada que dependem muito das \u00e1guas subterr\u00e2neas”, explica Shamsuddin Illius, jornalista ambiental de Bangladesh, \u00e0 BBC.<\/p>\n\n\n\n

“A terra est\u00e1 afundando ao mesmo tempo em que o n\u00edvel do mar est\u00e1 subindo. E a cada ano as inunda\u00e7\u00f5es est\u00e3o piorando”, acrescenta Illius.<\/p>\n\n\n\n

De acordo com Salam e Illius, entre junho e outubro as ruas e casas de v\u00e1rias \u00e1reas de Chittagong s\u00e3o frequentemente inundadas duas vezes por dia, uma situa\u00e7\u00e3o que piora durante a esta\u00e7\u00e3o das mon\u00e7\u00f5es em julho e agosto.<\/p>\n\n\n\n

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Jashim Salam come\u00e7ou a documentar os efeitos das inunda\u00e7\u00f5es em seu bairro, em Chittagong, em 2009 – JASHIM SALAM<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Uma pesquisa de 2020 do Departamento de Obras P\u00fablicas de Bangladesh estimou que 69% da cidade \u00e9 afetada pelas mar\u00e9s altas em diferentes graus.<\/p>\n\n\n\n

As \u00e1reas inundadas incluem Agrabad, um bairro outrora habitado por moradores abastados de Chittagong, de pol\u00edticos a empres\u00e1rios.<\/p>\n\n\n\n

“Agora est\u00e1 quase abandonado”, conta Illius.<\/p>\n\n\n\n

“Quem pode se dar ao luxo de se mudar para regi\u00f5es mais altas j\u00e1 fez isso.”<\/p>\n\n\n\n

Jashim Salam e seus irm\u00e3os n\u00e3o tinham condi\u00e7\u00f5es de deixar Chaktai, ent\u00e3o recorreram a adapta\u00e7\u00f5es como elevar o piso da casa que suas fam\u00edlias compartilham. Mas a \u00e1gua continuou entrando.<\/p>\n\n\n\n

O fot\u00f3grafo diz que n\u00e3o s\u00e3o apenas os pescadores de Chittagong que precisam estudar as t\u00e1buas de mar\u00e9.<\/p>\n\n\n\n

“As pessoas basicamente tiveram que aprender a conviver com o aumento das \u00e1guas. Voc\u00ea evita ao m\u00e1ximo sair na mar\u00e9 alta”, explica Salam.<\/p>\n\n\n\n

“\u00c9 frustrante e surreal.”<\/p>\n\n\n\n

Mais que um inconveniente<\/h2>\n\n\n\n

Surreal \u00e9 um adjetivo que tamb\u00e9m pode ser usado para descrever sua obra: as fotos de Salam mostram pessoas e fam\u00edlias \u2014 incluindo a sua pr\u00f3pria \u2014 tentando mostrar normalidade.<\/p>\n\n\n\n

Em uma das imagens, crian\u00e7as veem televis\u00e3o em uma sala inundada.<\/p>\n\n\n\n

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As fotos de Salam mostram como as pessoas em Chittagong tentam viver dentro da maior normalidade poss\u00edvel quando as \u00e1guas sobem – JASHIM SALAM<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Tive que documentar o que estava acontecendo para mostrar \u00e0s pessoas em Bangladesh e no exterior que a mudan\u00e7a clim\u00e1tica \u00e9 real.”<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 mais que um inconveniente, \u00e9 um risco para a sa\u00fade. A \u00e1gua que vem do mar se mistura \u00e0s \u00e1guas do polu\u00eddo Rio Karnaphuli e do esgoto antes de chegar \u00e0s casas. Salam diz que infec\u00e7\u00f5es de pele s\u00e3o comuns em sua vizinhan\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Os hospitais locais em \u00e1reas mais baixas tamb\u00e9m sofrem inunda\u00e7\u00f5es. Uma das imagens mais comoventes do fot\u00f3grafo mostra um homem idoso sendo empurrado pela \u00e1gua em uma cadeira de rodas no Hospital Geral Materno Infantil, um centro m\u00e9dico local.<\/p>\n\n\n\n

“Todos os anos ouvimos dizer que outra parte da cidade agora fica inundada. Tenho uma irm\u00e3 que mora a 32 quil\u00f4metros do nosso bairro e nunca havia enfrentado o aumento das \u00e1guas. Agora, est\u00e1 enfrentando”, acrescenta o fot\u00f3grafo.<\/p>\n\n\n\n

As autoridades locais est\u00e3o tentando mitigar o problema com uma s\u00e9rie de projetos de infraestrutura para evitar a invas\u00e3o da \u00e1gua do mar, desde barreiras contra enchentes at\u00e9 melhorias no controle de drenagem, como dragagem de canais. O trabalho come\u00e7ou em 2017, mas foi seriamente atrasado pela pandemia de covid-19.<\/p>\n\n\n\n

No entanto, nada consegue conter o avan\u00e7o da \u00e1gua do mar e da chuva, observa Salam com um suspiro.<\/p>\n\n\n\n

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Centros m\u00e9dicos em Chittagong tamb\u00e9m lutam contra o aumento das \u00e1guas – JASHIM SALAM<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Bangladesh costuma ser classificado como um dos pa\u00edses mais vulner\u00e1veis \u200b\u200bdo mundo a desastres relacionados ao clima.<\/p>\n\n\n\n

Um relat\u00f3rio do Banco Mundial mostrou que 4,1 milh\u00f5es de pessoas no pa\u00eds foram deslocadas internamente em 2019 como resultado de eventos desse tipo \u2014 e que pelo menos 13 milh\u00f5es podem enfrentar a mesma situa\u00e7\u00e3o at\u00e9 2050.<\/p>\n\n\n\n

‘Me considero um refugiado clim\u00e1tico’<\/h2>\n\n\n\n

Salam fez isso voluntariamente. Desde o in\u00edcio do ano, ele est\u00e1 trabalhando em Nova York na tentativa de economizar dinheiro para que sua esposa e filha possam se juntar a ele nos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

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Jashim Salam sonha com um futuro melhor para sua fam\u00edlia, mesmo que isso signifique deixar sua terra natal – JASHIM SALAM<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

“Eu me considero um refugiado clim\u00e1tico. E farei o que puder para alertar as pessoas de que as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas n\u00e3o est\u00e3o afetando apenas Bangladesh. Basta olhar para as ondas de calor e as tempestades na Europa neste ano”, adverte.<\/p>\n\n\n\n

“Mas preciso oferecer \u00e0 minha filha a chance de uma vida melhor. Quero que ela v\u00e1 para a escola sem se preocupar com sua sa\u00fade ou sua seguran\u00e7a.”<\/p>\n\n\n\n

Enquanto isso, a fam\u00edlia de Salam \u2014 e muitos outros moradores de Chaktai e Chittagong \u2014 v\u00e3o ter que ficar atentos \u00e0s t\u00e1buas de mar\u00e9 antes de sair de casa.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: BBC<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"