{"id":180558,"date":"2022-11-08T18:41:05","date_gmt":"2022-11-08T21:41:05","guid":{"rendered":"https:\/\/noticias.ambientebrasil.com.br\/?p=180558"},"modified":"2022-11-08T18:41:11","modified_gmt":"2022-11-08T21:41:11","slug":"quem-paga-pelas-perdas-e-danos-da-mudanca-climatica","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/clipping\/2022\/11\/08\/180558-quem-paga-pelas-perdas-e-danos-da-mudanca-climatica.html","title":{"rendered":"Quem paga pelas perdas e danos da mudan\u00e7a clim\u00e1tica?"},"content":{"rendered":"\n
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O aumento da temperatura global tem causado eventos naturais cada vez mais extremos. Pa\u00edses em desenvolvimento exigem compensa\u00e7\u00e3o pelos danos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, causadas em grande parte pelas na\u00e7\u00f5es mais ricas.<\/p>\n\n\n\n

Eric Njuguna est\u00e1 furioso. O ativista ambiental de 20 anos testemunha as mudan\u00e7as devastadoras causadas pelo aquecimento do planeta no Qu\u00eania. A popula\u00e7\u00e3o est\u00e1 perdendo seus meios de subsist\u00eancia, suas casas e at\u00e9 mesmo suas vidas, em meio \u00e0 pior seca que a regi\u00e3o viu nos \u00faltimos 40 anos.<\/p>\n\n\n\n

“Os impactos nos deixam com sede. Nos deixam famintos por comida. Sinto que a raiva vem de saber que fizemos o m\u00ednimo para causar isso, mas s\u00e3o nossos pa\u00edses e nossas comunidades que sofrem com o impacto”, disse Njuguna \u00e0 DW a partir da capital do Qu\u00eania, Nair\u00f3bi.<\/p>\n\n\n\n

O Qu\u00eania \u00e9 um dos pa\u00edses do Sul Global mais atingidos pela mudan\u00e7a clim\u00e1tica. Mas n\u00e3o \u00e9 o \u00fanico. A seca extrema tem deixado milh\u00f5es de pessoas no Chifre da \u00c1frica \u00e0 beira da fome, enquanto tempestades cada vez mais destrutivas atingem as Filipinas. Nos \u00faltimos meses, cerca de 1.500 pessoas morreram depois que mudan\u00e7as de vento extremas, as chamadas mon\u00e7\u00f5es, inundaram grandes \u00e1reas do Paquist\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

“Existe aquilo a que podemos nos adaptar, contudo, com a gravidade crescente da crise clim\u00e1tica, h\u00e1 tamb\u00e9m aquilo a que n\u00e3o podemos”, afirma Njuguna. “Isso precisa ser financiado.”<\/p>\n\n\n\n

Os apelos est\u00e3o cada vez mais fortes para que na\u00e7\u00f5es mais ricas forne\u00e7am compensa\u00e7\u00e3o na forma de um fundo dedicado para cobrir os custos de perdas e danos graves.<\/p>\n\n\n\n

A quest\u00e3o controversa deve desempenhar um papel importante nas discuss\u00f5es durante a 27\u00aa Confer\u00eancia das Na\u00e7\u00f5es Unidas sobre as Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas (COP27), que ocorre em\u00a0Sharm El-Sheikh, no Egito. No \u00faltimo domingo, representantes concordaram em abordar o financiamento de perdas e danos, adicionando o tema \u00e0 agenda da c\u00fapula pela primeira vez.<\/p>\n\n\n\n

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“Os impactos nos deixam com sede. Nos deixam famintos por comida”, diz Eric Njuguna. Na foto, ativista discursa na COP26<\/span><\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O que s\u00e3o perdas e danos?<\/h2>\n\n\n\n

O termo\u00a0perdas e danos \u00e9 usado para se referir aos danos gerados \u200b\u200bpelas mudan\u00e7as clim\u00e1ticas causadas pelo homem. O conceito\u00a0foi introduzido pela Alian\u00e7a dos Pequenos Estados Insulares nas negocia\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas internacionais em Genebra, em 1991, com a proposta de um esquema de seguro contra a eleva\u00e7\u00e3o do n\u00edvel do mar, com custos a serem cobertos pelos pa\u00edses industrializados. Mas n\u00e3o foi seriamente considerado novamente at\u00e9 2013 na COP19 em Vars\u00f3via, Pol\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

O Mecanismo Internacional de Vars\u00f3via para Perdas e Danos foi criado com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre o tema e encontrar formas de abord\u00e1-lo. Houve pouco movimento desde ent\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Naconfer\u00eancia clim\u00e1tica da ONU do ano passado, realizada na cidade escocesa de Glasgow, os negociadores rejeitaram uma proposta de mecanismo financeiro formal para perdas e danos feita por membros do Grupo dos 77 (G77), que re\u00fane mais de cem pa\u00edses em desenvolvimento e a China. Em vez disso, foi estabelecido o chamado Di\u00e1logo de Glasgow, a fim de permitir uma discuss\u00e3o mais aprofundada sobre o financiamento de uma “maneira aberta, inclusiva e n\u00e3o prescritiva”.<\/p>\n\n\n\n

Contudo, Zoha Shawoo, cientista associada que pesquisa perdas e danos no Instituto do Meio Ambiente de Estocolmo, diz que alguns pa\u00edses criticaram o di\u00e1logo como “uma desculpa para adiar novas a\u00e7\u00f5es”.<\/p>\n\n\n\n

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Negociadores rejeitaram uma proposta de mecanismo financeiro formal para perdas e danos feita por membros do grupo G77 de pa\u00edses em desenvolvimento<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

O dever dos pa\u00edses ricos<\/h2>\n\n\n\n

Historicamente, os pa\u00edses desenvolvidos t\u00eam a maior responsabilidade pelas emiss\u00f5es que levam ao aumento da temperatura global. Entre 1751 e 2017, os Estados Unidos, a Uni\u00e3o Europeia e o Reino Unido foram respons\u00e1veis \u200b\u200bpor 47% das emiss\u00f5es cumulativas de di\u00f3xido de carbono, em compara\u00e7\u00e3o com apenas 6% dos continentes africano e sul-americano. Ainda assim, eles t\u00eam sido lentos em fazer contribui\u00e7\u00f5es financeiras para aliviar o impacto nos pa\u00edses mais afetados.<\/p>\n\n\n\n

Em 2010, as na\u00e7\u00f5es do Norte Global concordaram em destinar 100 bilh\u00f5es de d\u00f3lares (mais de R$ 500 bilh\u00f5es) anuais at\u00e9 2020 para ajudar os pa\u00edses em desenvolvimento a se adaptarem aos impactos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas, por exemplo, fornecendo aos agricultores planta\u00e7\u00f5es resistentes \u00e0 seca ou pagando por melhores defesas contra inunda\u00e7\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n

Contudo, de acordo com a Organiza\u00e7\u00e3o para Coopera\u00e7\u00e3o e Desenvolvimento Econ\u00f4mico (OCDE), que monitora o financiamento, em 2020 os pa\u00edses ricos empenharam pouco mais de 83 bilh\u00f5es de d\u00f3lares. O valor representou um aumento de 4% em rela\u00e7\u00e3o ao ano anterior, mas ainda ficou aqu\u00e9m do valor acordado.<\/p>\n\n\n\n

Marlene Achoki, col\u00edder de pol\u00edtica global sobre justi\u00e7a clim\u00e1tica da ONG CARE International, diz que os pa\u00edses desenvolvidos, que criaram o problema da mudan\u00e7a clim\u00e1tica, devem “fornecer o financiamento necess\u00e1rio”, uma vez que o financiamento inadequado tem um efeito desestabilizador nos pa\u00edses que j\u00e1 est\u00e3o com dificuldades.<\/p>\n\n\n\n

“Em vez de abordar quest\u00f5es de pobreza e educa\u00e7\u00e3o,eles precisam tomar medidas para lidar com as quest\u00f5es das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas”, afirma Achoki. “Eles precisam buscar recursos, finan\u00e7as para tentar construir a resili\u00eancia das comunidades.”<\/p>\n\n\n\n

Perdas n\u00e3o s\u00e3o apenas financeiras<\/h2>\n\n\n\n

De acordo com um relat\u00f3rio elaborado pela Loss and Damage Collaboration (grupo global de pesquisadores, ativistas, advogados e tomadores de decis\u00e3o), 55 das 58 na\u00e7\u00f5es inclu\u00eddas no Vulnerable 20 (grupo de na\u00e7\u00f5es em desenvolvimento que inclui, entre outros pa\u00edses, Qu\u00eania, Filipinas e Col\u00f4mbia) sofreram perdas econ\u00f4micas de mais de meio trilh\u00e3o de d\u00f3lares nas duas primeiras d\u00e9cadas deste s\u00e9culo, em decorr\u00eancia da mudan\u00e7a clim\u00e1tica.<\/p>\n\n\n\n

Mas as perdas n\u00e3o s\u00e3o apenas econ\u00f4micas. A mudan\u00e7a clim\u00e1tica tamb\u00e9m causa, por exemplo, o desaparecimento de \u00e1reas de import\u00e2ncia cultural e tradicional.<\/p>\n\n\n\n

“Se voc\u00ea tem uma \u00e1rea onde se realiza rituais religiosos ou culturais, como uma praia ou algo assim, e ela \u00e9 inundada e removida, isso traz uma perda associada ao desaparecimento da \u00e1rea. Muitas das comunidades mais vulner\u00e1veis \u200b\u200b\u00e0s mudan\u00e7as clim\u00e1ticas tamb\u00e9m s\u00e3o comunidades ind\u00edgenas ou locais e est\u00e3o enfrentando a maioria dessas perdas”, afirma a cientista Shawoo.<\/p>\n\n\n\n

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A Uni\u00e3o Europeia disse estar aberta a discutir perdas e danos como um t\u00f3pico, mas hesitante em criar um fundo dedicado a ele<\/figcaption><\/figure>\n\n\n\n

Qual \u00e9 o ponto de atrito?<\/h2>\n\n\n\n

Embora os pa\u00edses desenvolvidos reconhe\u00e7am amplamente a necessidade de lidar com as perdas e danos, alguns defendem o financiamento por meio de fundos clim\u00e1ticos j\u00e1 existentes, esquemas de seguro e ajuda humanit\u00e1ria. A Uni\u00e3o Europeia, por exemplo, disse que estava “aberta a discutir perdas e danos como um t\u00f3pico, mas hesitante em criar um fundo dedicado a ele”.<\/p>\n\n\n\n

“Acho que h\u00e1 um medo de que, se eles reconhecerem a necessidade de financiamento adicional para perdas e danos, isso abra espa\u00e7o para reivindica\u00e7\u00f5es de responsabilidade e compensa\u00e7\u00e3o, o que teria um custo enorme”, pondera Shawoo.<\/p>\n\n\n\n

Se uma ponte desabou por causa de uma inunda\u00e7\u00e3o, ou casas foram destru\u00eddas como resultado de um tuf\u00e3o em um pa\u00eds em desenvolvimento, por exemplo, existe o medo entre os pa\u00edses desenvolvidos de que “eles seriam responsabilizados por pagar por isso”, acrescenta.<\/p>\n\n\n\n

Alguns pa\u00edses decidiram seguir seu pr\u00f3prio caminho. No in\u00edcio deste ano, a Dinamarca prometeu mais de 13 milh\u00f5es de d\u00f3lares em compensa\u00e7\u00e3o de perdas e danos aos pa\u00edses em desenvolvimento, incluindo a regi\u00e3o do Sahel, no noroeste da \u00c1frica. Na COP26 no ano passado, a Esc\u00f3cia tamb\u00e9m se comprometeu com pelo menos 1 milh\u00e3o de d\u00f3lares.<\/p>\n\n\n\n

A a\u00e7\u00e3o individual de pa\u00edses \u00e9 uma boa maneira de atender \u00e0 urg\u00eancia das perdas enfrentadas pelas na\u00e7\u00f5es em desenvolvimento, diz Shawoo. “\u00c9 uma maneira f\u00e1cil para os pa\u00edses mostrarem que est\u00e3o fazendo algo sem se comprometer com algo que os responsabilize, como um mecanismo financeiro.”<\/p>\n\n\n\n

Mas com as temperaturas subindo e as na\u00e7\u00f5es ricas falhando em reduzir significativamente as emiss\u00f5es de di\u00f3xido de carbono, os impactos das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas continuar\u00e3o afetando as comunidades mais pobres.<\/p>\n\n\n\n

“A janela para a\u00e7\u00e3o est\u00e1 se fechando. Os impactos que estamos enfrentando com 1,2 graus de aquecimento s\u00e3o bastante severos e ainda n\u00e3o h\u00e1 nenhuma a\u00e7\u00e3o s\u00e9ria \u00e0 vista”, conclui o ativista Eric\u00a0Njuguna.<\/p>\n\n\n\n

Fonte: Deutsche Welle<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"